sábado, 15 de fevereiro de 2025

Sara York: A inquietante interação de conservadores e as "criancinhas"

O comportamento infantil e as percepções sociais em foco traduzem as intenções que pairam sobre a Casa Branca. Em poucos segundos, X Æ A-Xii (pronunciado como x em inglês, mas surpreendentemente está associado a representação de variáveis desconhecidas, tipo gente "não binária"- mas isso é para outra matéria), o filho de Elon Musk, nos deu mais elementos sobre dois homens adultos que eles próprios! Mas o que podemos aprender sobre líderes poderosos e suas aparições e interações com crianças? Este artigo investiga o papel da criança como instrumento político, uma questão que se reflete claramente na recente interação pública de X Æ A-Xii / EX com Donald Trump.

·      A criança como instrumento político

Além da análise do comportamento infantil, o episódio envolvendo EX também toca uma questão relevante: como as crianças podem ser utilizadas em contextos políticos para gerar efeitos desejados. Exemplos históricos de uso político de crianças não faltam, e a interação de EX com a coletiva de Trump nos lembra como figuras públicas podem, consciente ou inconscientemente, expor crianças a situações de grande visibilidade, muitas vezes utilizando-as para reforçar suas mensagens ideológicas.

Um exemplo notável dessa utilização política de crianças vem da figura da jurista e ex-deputada Janaina Paschoal durante a defesa do impeachment de Dilma Rousseff. Em uma apresentação ao vivo na TV Senado, Paschoal usou uma retórica carregada de emoção, afirmando ter chorado ao ouvir que Dilma queria ser bailarina, mas “a bailarina se perdeu”. O ápice de sua performance ocorreu quando empunhou a Constituição, um “livro sagrado”, e usou a frase “em nome das criancinhas”, buscando provocar uma resposta emocional do público. Ao utilizar a imagem das crianças de forma simbólica, Paschoal fortaleceu seu argumento com uma carga emocional intensa, desviando o foco da argumentação política objetiva.

Outro exemplo é o discurso de Donald Trump, que, apesar de saber que não há cirurgia de mudança de sexo para crianças, insistentemente utiliza a palavra “criança” em seus pronunciamentos. Ao fazer isso, ele explora uma percepção pública profundamente enraizada sobre a proteção da infância, reforçando sua agenda contra políticas inclusivas de gênero. Nesse contexto, a ideia de “proteger as crianças” se torna um apelo emocional direcionado a eleitores preocupados com questões de identidade de gênero, criando uma imagem de defesa moral, mesmo que a questão seja manipulada politicamente para gerar divisões.

A sociedade, portanto, deve reconsiderar suas reações diante dos comportamentos infantis, reconhecendo que o que é visto como inadequado pode ser, na realidade, uma parte essencial do processo de crescimento e aprendizagem. Contudo, também é crucial refletirmos sobre os riscos de instrumentalizar crianças em discursos políticos, utilizando-as como símbolos emocionais para reforçar determinadas agendas. Essas situações não apenas afetam a maneira como vemos o comportamento infantil, mas também como as crianças são usadas para fortalecer narrativas ideológicas.

·      A interação de XÆA-Xii / EX e Trump no Salão Oval

No dia 11 de fevereiro, uma cena inusitada capturou a atenção do público durante uma coletiva de imprensa no Salão Oval, envolvendo Elon Musk, seu filho EX (de apenas quatro anos), e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Durante a coletiva, o pequeno interrompeu o evento de forma surpreendente, aparentemente dizendo à multidão: “cale a boca”. Esse gesto gerou discussões sobre as influências familiares, o comportamento infantil e como as atitudes de uma criança, especialmente em um ambiente público tão visível, são analisadas pela sociedade.

Mas o que está por trás dessa interação? Como a sociedade percebe o comportamento infantil, principalmente quando figuras públicas, como o presidente e um empresário de renome mundial, estão envolvidos? Vamos explorar essas questões sob a perspectiva da psicologia do desenvolvimento infantil e as normas sociais que regem nossas expectativas sobre o comportamento de crianças pequenas.

·      O comportamento infantil e a imitação de figuras autoritárias

Aos quatro anos de idade, as crianças estão em pleno processo de desenvolvimento cognitivo e motor, e também começam a ser mais influenciadas pelo que veem ao seu redor. XÆ A-Xii, que estava acompanhando seu pai em um momento altamente simbólico — a assinatura de uma ordem executiva por Donald Trump — provavelmente foi exposto a comportamentos e atitudes de figuras de autoridade, como seu pai e o presidente. A imitação de gestos de Musk, como mexer no nariz, pode ser vista como um reflexo típico dessa fase de desenvolvimento. As crianças, nesta idade, adoram imitar as ações dos adultos e começam a explorar a relação entre suas ações e as respostas dos outros.

Além disso, o uso de palavras como “cale a boca” pode ser interpretado dentro desse contexto de imitação. A linguagem nesta fase se expande rapidamente, e as crianças começam a usar palavras que ouviram em casa ou em interações sociais, muitas vezes sem compreender completamente o significado ou as repercussões de tais palavras. Essa fase de experimentação com a linguagem, muitas vezes vista como “provocação”, é, na realidade, uma etapa natural de aprendizagem e descoberta.

Quando crianças pequenas adotam comportamentos normalmente associados aos adultos, como mexer no nariz ou fazer observações desconcertantes em público, esses gestos podem ser vistos como constrangedores. As normas sociais que moldam o que é considerado adequado ou inadequado em público frequentemente interpretam esses comportamentos como reflexos de uma educação inadequada ou de um desrespeito às regras de etiqueta social.

O episódio de EX / XÆ A-Xii no Salão Oval traz à tona uma reflexão não apenas sobre a reação pública a comportamentos típicos da infância, mas também sobre as expectativas sociais sobre o que é “apropriado” para crianças tão pequenas. A presunção de que as crianças devem agir de maneira “educada” e “controlada” coloca-nos frente a um paradoxo: como podemos exigir de uma criança tão pequena comportamentos que, na realidade, demandam um nível significativo de autocontrole, algo que ainda está longe de ser alcançado nessa fase do desenvolvimento?

·      A influência do ambiente familiar

Crianças, especialmente aos quatro anos, começam a absorver os comportamentos, valores e atitudes de seus pais. A interação de EX com Trump e Musk pode ser vista como uma continuação do ambiente familiar em que ele está inserido. A convivência com figuras de liderança e poder pode influenciar diretamente a maneira como ele reage em situações sociais.

O fato de EX imitar gestos do pai e até adotar uma postura confrontadora — ao dizer “cale a boca” — pode ser uma forma de expressar o que observa como normal em seu ambiente. Os pais desempenham um papel crucial no desenvolvimento de valores e comportamentos em seus filhos, e crianças em fase de desenvolvimento são como esponjas, absorvendo tudo ao seu redor. Nesse contexto, podemos nos perguntar: que tipo de mensagem ele está recebendo sobre respeito e autoridade?

·      A criança como reflexo do mundo em que vive

Aos quatro anos, uma criança já começa a compreender, de forma limitada, a dinâmica de causa e efeito e a formular suas primeiras ideias sobre o mundo. No entanto, o entendimento de conceitos mais complexos, como respeito e educação, ainda está em formação. EX, ao interromper a coletiva de imprensa, age de acordo com o que percebe em seu entorno, sem entender completamente o impacto de suas ações.

Esse episódio não é apenas uma reflexão sobre o comportamento de uma criança, mas também sobre o que ele revela sobre o mundo que ela está começando a entender. Ao presenciar o comportamento de adultos em posições de poder — como Musk e Trump — EX está em contato com um ambiente em que gestos e palavras de autoridade são constantemente exibidos. Esse tipo de ambiente pode influenciar as primeiras concepções que a criança tem sobre poder, respeito e até sobre como lidar com situações de tensão.

As interações de crianças com figuras de poder não são apenas um reflexo da sua fase de aprendizado e desenvolvimento, mas também um campo fértil para manipulação política. Ao utilizarem as crianças como instrumentos de suas agendas, figuras públicas podem distorcer a inocência infantil para criar narrativas ideológicas, gerando efeitos emocionais profundos na sociedade. A reflexão sobre o comportamento infantil, portanto, deve ser cuidadosamente analisada, não apenas como uma fase de crescimento, mas também como um campo potencial para a instrumentalização política.

 

¨      Trump matou a OMC e seus princípios, e o mundo se tornará mais desigual. Por Marcelo Zero

A OMC, que estava moribunda há bastante tempo, principalmente desde 2017, quando os EUA paralisaram intencionalmente seu sistema de solução de controvérsias, morreu.

O “tarifaço” de Trump a sepultou de vez. Agora, é cada um por si, em negociações bilaterais com a maior potência do planeta. Nessas condições, nessa nova ordem hobbesiana, predominarão os mais fortes.

A “reciprocidade” exigida por Trump parte de uma falsa equivalência. Segundo sua política, as tarifas de um país em desenvolvimento têm de ser iguais ou similares às tarifas dos EUA.

Ora, um país como o Brasil precisa de ter tarifas um pouco mais elevadas, enquanto um país como os EUA, que se tornaram desenvolvidos e industrializados há muito tempo, pode se dar ao luxo de ter tarifas médias mais baixas.

O Brasil, junto com o Mercosul, tem, por exemplo, tarifas médias de 13%. Os EUA, por outro lado, têm tarifas médias de 2%.

Na realidade, quanto menor for o nível de desenvolvimento de um país maiores tendem a ser suas tarifas médias, por motivos óbvios. São países mais frágeis, com economias menos competitivas, principalmente no que tange a produtos manufaturados de média e alta tecnologia e serviços avançados. Ou seja, bens e serviços de maior valor agregado, que dão maior lucro no comércio internacional.

No mapa a continuação pode-se visualizar facilmente essa correlação entre nível de desenvolvimento e tarifas.

Há de se destacar que, na Rodada Uruguai, na qual foi criada a OMC, essa organização internacional adotou o princípio fundamental do Tratamento Especial e Diferenciado (TED).

Esse é um dos princípios mais importantes da OMC, o qual busca a concessão, por parte dos países desenvolvidos, de condições mais favoráveis a países em desenvolvimento, visando integrar estes últimos ao sistema multilateral de comércio.

Há TED em quase todos os acordos firmados no âmbito da OMC, buscando ampliar, para os países de menor nível relativo de desenvolvimento, suas oportunidades de comércio, salvaguardar seus interesses, conceder maior flexibilidade em relação às obrigações e prover assistência técnica, além de regras especiais a Países de Menor Desenvolvimento.

Nos acordos da Rodada Uruguai, os países em desenvolvimento puderam manter tarifas mais elevadas e dispor de um prazo maior para se adaptar às novas regras, entre outras vantagens. Os EUA aceitaram essas regras fundamentais para um maior equilíbrio comercial e econômico do planeta.

Enfim, esse princípio da OMC tratava os desiguais de forma diferenciada, de forma a intentar reduzir as assimetrias e as injustiças no comércio global.

Ora, a “reciprocidade linear” exigida por Trump acaba, na maior parte dos casos, com esse princípio tão importante do comércio global, ao igualar países desiguais.

A consequência principal da morte da OMC e dos seus princípios multilateralmente acordados será um protecionismo sem regras, que fortalecerá os mais fortes, principalmente os EUA, e enfraquecerá os mais fracos, ampliando as assimetrias internacionais.

Será como obrigar um lutador “peso pena” a lutar, nas mesmas condições e sob as mesmas regras, com um “peso pesado”.

Nem tudo está perdido. Resta negociar. Mas essas negociações, ao contrário das negociações multilaterais feitas ao abrigo da OMC, serão feitas, na maior parte dos casos, em condições muito desiguais, com a “faca no pescoço”.

Na OMC, os países em desenvolvimento, muitas vezes sob a liderança do Brasil, se organizavam para não serem atropelados pelos “grandes”.

Agora, isso acabou. Voltamos a uma barbárie unilateralista e brutal.

Será que o asteroide chega antes?

 

Fonte: Brasil 247

 

Nenhum comentário: