Sara York: A
inquietante interação de conservadores e as "criancinhas"
O
comportamento infantil e as percepções sociais em foco traduzem as intenções
que pairam sobre a Casa Branca. Em poucos segundos, X Æ A-Xii (pronunciado como
x em inglês, mas surpreendentemente está associado a representação de variáveis
desconhecidas, tipo gente "não binária"- mas isso é para outra
matéria), o filho de Elon Musk, nos deu mais elementos sobre dois homens
adultos que eles próprios! Mas o que podemos aprender sobre líderes poderosos e
suas aparições e interações com crianças? Este artigo investiga o papel da
criança como instrumento político, uma questão que se reflete claramente na
recente interação pública de X Æ A-Xii / EX com Donald Trump.
· A
criança como instrumento político
Além
da análise do comportamento infantil, o episódio envolvendo EX também toca uma
questão relevante: como as crianças podem ser utilizadas em contextos políticos
para gerar efeitos desejados. Exemplos históricos de uso político de crianças
não faltam, e a interação de EX com a coletiva de Trump nos lembra como figuras
públicas podem, consciente ou inconscientemente, expor crianças a situações de
grande visibilidade, muitas vezes utilizando-as para reforçar suas mensagens
ideológicas.
Um
exemplo notável dessa utilização política de crianças vem da figura da jurista
e ex-deputada Janaina Paschoal durante a defesa do impeachment de Dilma
Rousseff. Em uma apresentação ao vivo na TV Senado, Paschoal usou uma retórica
carregada de emoção, afirmando ter chorado ao ouvir que Dilma queria ser
bailarina, mas “a bailarina se perdeu”. O ápice de sua performance ocorreu
quando empunhou a Constituição, um “livro sagrado”, e usou a frase “em nome das
criancinhas”, buscando provocar uma resposta emocional do público. Ao utilizar
a imagem das crianças de forma simbólica, Paschoal fortaleceu seu argumento com
uma carga emocional intensa, desviando o foco da argumentação política
objetiva.
Outro
exemplo é o discurso de Donald Trump, que, apesar de saber que não há cirurgia
de mudança de sexo para crianças, insistentemente utiliza a palavra “criança”
em seus pronunciamentos. Ao fazer isso, ele explora uma percepção pública
profundamente enraizada sobre a proteção da infância, reforçando sua agenda
contra políticas inclusivas de gênero. Nesse contexto, a ideia de “proteger as
crianças” se torna um apelo emocional direcionado a eleitores preocupados com
questões de identidade de gênero, criando uma imagem de defesa moral, mesmo que
a questão seja manipulada politicamente para gerar divisões.
A
sociedade, portanto, deve reconsiderar suas reações diante dos comportamentos
infantis, reconhecendo que o que é visto como inadequado pode ser, na
realidade, uma parte essencial do processo de crescimento e aprendizagem.
Contudo, também é crucial refletirmos sobre os riscos de instrumentalizar
crianças em discursos políticos, utilizando-as como símbolos emocionais para
reforçar determinadas agendas. Essas situações não apenas afetam a maneira como
vemos o comportamento infantil, mas também como as crianças são usadas para
fortalecer narrativas ideológicas.
· A
interação de XÆA-Xii / EX e Trump no Salão Oval
No dia
11 de fevereiro, uma cena inusitada capturou a atenção do público durante uma
coletiva de imprensa no Salão Oval, envolvendo Elon Musk, seu filho EX (de
apenas quatro anos), e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Durante a
coletiva, o pequeno interrompeu o evento de forma surpreendente, aparentemente
dizendo à multidão: “cale a boca”. Esse gesto gerou discussões sobre as
influências familiares, o comportamento infantil e como as atitudes de uma
criança, especialmente em um ambiente público tão visível, são analisadas pela
sociedade.
Mas o
que está por trás dessa interação? Como a sociedade percebe o comportamento
infantil, principalmente quando figuras públicas, como o presidente e um
empresário de renome mundial, estão envolvidos? Vamos explorar essas questões
sob a perspectiva da psicologia do desenvolvimento infantil e as normas sociais
que regem nossas expectativas sobre o comportamento de crianças pequenas.
· O
comportamento infantil e a imitação de figuras autoritárias
Aos
quatro anos de idade, as crianças estão em pleno processo de desenvolvimento
cognitivo e motor, e também começam a ser mais influenciadas pelo que veem ao
seu redor. XÆ A-Xii, que estava acompanhando seu pai em um momento altamente
simbólico — a assinatura de uma ordem executiva por Donald Trump —
provavelmente foi exposto a comportamentos e atitudes de figuras de autoridade,
como seu pai e o presidente. A imitação de gestos de Musk, como mexer no nariz,
pode ser vista como um reflexo típico dessa fase de desenvolvimento. As
crianças, nesta idade, adoram imitar as ações dos adultos e começam a explorar
a relação entre suas ações e as respostas dos outros.
Além
disso, o uso de palavras como “cale a boca” pode ser interpretado dentro desse
contexto de imitação. A linguagem nesta fase se expande rapidamente, e as
crianças começam a usar palavras que ouviram em casa ou em interações sociais,
muitas vezes sem compreender completamente o significado ou as repercussões de
tais palavras. Essa fase de experimentação com a linguagem, muitas vezes vista
como “provocação”, é, na realidade, uma etapa natural de aprendizagem e
descoberta.
Quando
crianças pequenas adotam comportamentos normalmente associados aos adultos,
como mexer no nariz ou fazer observações desconcertantes em público, esses
gestos podem ser vistos como constrangedores. As normas sociais que moldam o
que é considerado adequado ou inadequado em público frequentemente interpretam
esses comportamentos como reflexos de uma educação inadequada ou de um
desrespeito às regras de etiqueta social.
O
episódio de EX / XÆ A-Xii no Salão Oval traz à tona uma reflexão não apenas
sobre a reação pública a comportamentos típicos da infância, mas também sobre
as expectativas sociais sobre o que é “apropriado” para crianças tão pequenas.
A presunção de que as crianças devem agir de maneira “educada” e “controlada”
coloca-nos frente a um paradoxo: como podemos exigir de uma criança tão pequena
comportamentos que, na realidade, demandam um nível significativo de
autocontrole, algo que ainda está longe de ser alcançado nessa fase do
desenvolvimento?
· A
influência do ambiente familiar
Crianças,
especialmente aos quatro anos, começam a absorver os comportamentos, valores e
atitudes de seus pais. A interação de EX com Trump e Musk pode ser vista como
uma continuação do ambiente familiar em que ele está inserido. A convivência
com figuras de liderança e poder pode influenciar diretamente a maneira como
ele reage em situações sociais.
O fato
de EX imitar gestos do pai e até adotar uma postura confrontadora — ao dizer
“cale a boca” — pode ser uma forma de expressar o que observa como normal em
seu ambiente. Os pais desempenham um papel crucial no desenvolvimento de
valores e comportamentos em seus filhos, e crianças em fase de desenvolvimento
são como esponjas, absorvendo tudo ao seu redor. Nesse contexto, podemos nos
perguntar: que tipo de mensagem ele está recebendo sobre respeito e autoridade?
· A
criança como reflexo do mundo em que vive
Aos
quatro anos, uma criança já começa a compreender, de forma limitada, a dinâmica
de causa e efeito e a formular suas primeiras ideias sobre o mundo. No entanto,
o entendimento de conceitos mais complexos, como respeito e educação, ainda
está em formação. EX, ao interromper a coletiva de imprensa, age de acordo com
o que percebe em seu entorno, sem entender completamente o impacto de suas
ações.
Esse
episódio não é apenas uma reflexão sobre o comportamento de uma criança, mas
também sobre o que ele revela sobre o mundo que ela está começando a entender.
Ao presenciar o comportamento de adultos em posições de poder — como Musk e
Trump — EX está em contato com um ambiente em que gestos e palavras de
autoridade são constantemente exibidos. Esse tipo de ambiente pode influenciar
as primeiras concepções que a criança tem sobre poder, respeito e até sobre
como lidar com situações de tensão.
As
interações de crianças com figuras de poder não são apenas um reflexo da sua
fase de aprendizado e desenvolvimento, mas também um campo fértil para
manipulação política. Ao utilizarem as crianças como instrumentos de suas
agendas, figuras públicas podem distorcer a inocência infantil para criar narrativas
ideológicas, gerando efeitos emocionais profundos na sociedade. A reflexão
sobre o comportamento infantil, portanto, deve ser cuidadosamente analisada,
não apenas como uma fase de crescimento, mas também como um campo potencial
para a instrumentalização política.
¨ Trump matou
a OMC e seus princípios, e o mundo se tornará mais desigual. Por Marcelo Zero
A OMC,
que estava moribunda há bastante tempo, principalmente desde 2017, quando os
EUA paralisaram intencionalmente seu sistema de solução de controvérsias,
morreu.
O
“tarifaço” de Trump a sepultou de vez. Agora, é cada um por si, em negociações
bilaterais com a maior potência do planeta. Nessas condições, nessa nova ordem
hobbesiana, predominarão os mais fortes.
A
“reciprocidade” exigida por Trump parte de uma falsa equivalência. Segundo sua
política, as tarifas de um país em desenvolvimento têm de ser iguais ou
similares às tarifas dos EUA.
Ora,
um país como o Brasil precisa de ter tarifas um pouco mais elevadas, enquanto
um país como os EUA, que se tornaram desenvolvidos e industrializados há muito
tempo, pode se dar ao luxo de ter tarifas médias mais baixas.
O
Brasil, junto com o Mercosul, tem, por exemplo, tarifas médias de 13%. Os EUA,
por outro lado, têm tarifas médias de 2%.
Na
realidade, quanto menor for o nível de desenvolvimento de um país maiores
tendem a ser suas tarifas médias, por motivos óbvios. São países mais frágeis,
com economias menos competitivas, principalmente no que tange a produtos
manufaturados de média e alta tecnologia e serviços avançados. Ou seja, bens e
serviços de maior valor agregado, que dão maior lucro no comércio
internacional.
No
mapa a continuação pode-se visualizar facilmente essa correlação entre nível de
desenvolvimento e tarifas.
Há de
se destacar que, na Rodada Uruguai, na qual foi criada a OMC, essa organização
internacional adotou o princípio
fundamental do Tratamento Especial e Diferenciado (TED).
Esse é um dos princípios mais importantes da OMC, o
qual busca a concessão, por parte dos países desenvolvidos, de condições mais
favoráveis a países em desenvolvimento, visando integrar estes últimos ao
sistema multilateral de comércio.
Há TED
em quase todos os acordos firmados no âmbito da OMC, buscando ampliar, para os
países de menor nível relativo de desenvolvimento, suas oportunidades de
comércio, salvaguardar seus interesses, conceder maior flexibilidade em relação
às obrigações e prover assistência técnica, além de regras especiais a Países
de Menor Desenvolvimento.
Nos acordos da Rodada Uruguai, os países em desenvolvimento
puderam manter tarifas mais elevadas e dispor de um prazo maior para se adaptar
às novas regras, entre outras vantagens. Os EUA aceitaram essas regras
fundamentais para um maior equilíbrio comercial e econômico do planeta.
Enfim, esse princípio da OMC tratava os desiguais de
forma diferenciada, de forma a intentar reduzir as assimetrias e as injustiças
no comércio global.
Ora, a
“reciprocidade linear” exigida por Trump acaba, na maior parte dos casos, com
esse princípio tão importante do comércio global, ao igualar países desiguais.
A
consequência principal da morte da OMC e dos seus princípios multilateralmente
acordados será um protecionismo sem regras, que fortalecerá os mais fortes,
principalmente os EUA, e enfraquecerá os mais fracos, ampliando as assimetrias
internacionais.
Será
como obrigar um lutador “peso pena” a lutar, nas mesmas condições e sob as
mesmas regras, com um “peso pesado”.
Nem
tudo está perdido. Resta negociar. Mas essas negociações, ao contrário das
negociações multilaterais feitas ao abrigo da OMC, serão feitas, na maior parte
dos casos, em condições muito desiguais, com a “faca no pescoço”.
Na
OMC, os países em desenvolvimento, muitas vezes sob a liderança do Brasil, se
organizavam para não serem atropelados pelos “grandes”.
Agora,
isso acabou. Voltamos a uma barbárie unilateralista e brutal.
Será
que o asteroide chega antes?
Fonte: Brasil 247
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