sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Fazenda vê 'impacto limitado' de tarifaço dos EUA sobre aço, alta menor do PIB e inflação próxima de 5% em 2025

A Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda divulgou nesta quinta-feira (13) o documento que traz perspectivas para o ano de 2025, no qual avalia que a economia brasileira deverá desacelerar e que a inflação continuará estável — próxima de 5% neste ano.

Além disso, avalia que as tarifas de importação sobre ferro, aço e alumínio, dos Estados Unidos, "devem exercer impacto limitado nas exportações brasileiras, se efetivamente implementadas".

Nesta semana, o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou decreto que impõe tarifas de 25% para todas as importações de aço e alumínio para o país a partir de 12 de março, o que gerou preocupações do setor produtivo e do governo brasileiro.

"As exportações brasileiras de produtos de ferro, aço e alumínio para os Estados Unidos corresponderam a apenas 1,9% do valor total exportado pelo Brasil em 2024, mas a cerca de 40,8% do valor total de ferro, aço e alumínio exportado", detalha o documento.

Além disso, a secretaria prevê que "tarifas de 25% sobre importações de produtos de ferro, aço e alumínio devem ter impactos relevantes na indústria de metalurgia, porém limitados no total das exportações e no PIB brasileiro".

O governo avalia, ainda, que a adoção de "práticas protecionistas" pelos Estados Unidos traz riscos para o "cenário de atividade global resiliente e para o processo de desinflação [desaceleração do ritmo de alta dos preços]".

"A imposição de tarifas comerciais pelos Estados Unidos tende a elevar a aversão global ao risco, contribuindo para o fortalecimento do dólar. Se o saldo líquido das medidas de proteção tarifária levarem à alta na curva de juros americana e a maior inflação nos Estados Unidos, a perspectiva de flexibilização monetária e resiliência do crescimento global em 2024 tende a ser prejudicada, com potencial de afetar principalmente economias emergentes", acrescentou.

Outro risco para a economia global, na visão da área econômica, é o cenário projetado de uma desaceleração mais acentuada da economia chinesa. O Ministério da Fazenda explicou que isso pode impactar a economia brasileira, exportadora de produtos básicos para a economia asiática.

"A imposição de tarifas comerciais pelos Estados Unidos tem potencial de afetar de maneira mais relevante as exportações chinesas, reduzindo a demanda do país por 'commodities' [produtos básicos]", avaliou.

<><> Desaceleração da economia e inflação ainda alta

Para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, o Ministério da Fazenda reduziu sua projeção de 2,5% para 2,3%.

Em 2024, a expectativa do mercado financeiro é de que a economia brasileira tenha crescido cerca de 3,5%. O resultado do PIB do ano passado será divulgado no começo de março pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"Em 2025, projeta-se desaceleração do crescimento, repercutindo o ciclo contracionista da política monetária [alta do juro] e fiscal [queda de gastos]. Atividades cíclicas, mais dependentes da dinâmica do crédito, da massa de rendimentos e de transferências, tendem a ser especialmente afetadas pelo aumento nos juros e por menores estímulos fiscais", informou o Ministério da Fazenda.

Já para o crescimento da inflação, o Ministério da Fazenda revisou sua projeção de 3,6% para 4,8% em 2025.

Com isso, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, deve registrar estabilidade frente ao ano passado, quando avançou 4,83%.

O governo avaliou que a inflação continuará pressionada por "efeitos defasados" da alta do dólar e pela inércia (repasse da inflação passada), acima do teto de 4,5% do sistema de metas.

"O comportamento esperado é distinto entre categorias da inflação. O prognóstico inicial é de desaceleração nos preços de alimentação no domicílio e de estabilidade da inflação de serviços", informou o governo.

"Em contrapartida, a inflação de monitorados e de bens industriais deverá subir. A inflação de livres deverá cair de 4,9% em 2024 para 4,7% em 2025, compensando o avanço da inflação de monitorados, de 4,6% para cerca de 5%", prossegue o texto.

Nas contas públicas, a equipe econômica estima que haverá "continuidade do processo de busca por sustentabilidade fiscal, com foco no controle da dinâmica de crescimento das despesas de acordo com os limites do arcabouço fiscal e no atingimento da meta de resultado primário" (déficit zero).

¨      Trump anuncia criação de tarifas recíprocas aos países que cobram taxas dos EUA

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um memorando nesta quinta-feira (13) que determina a cobrança de tarifas recíprocas a países que cobram taxas de importação de produtos americanos.

Os memorandos são menos formais que os decretos que Trump tem usado para regulamentar seu "tarifaço" contra parceiros comerciais, mas ainda direcionam ações governamentais.

Desta vez não há uma tarifa específica para países específicos, mas uma orientação geral de reciprocidade aos países que impõem dificuldades ao comércio com os EUA.

"Os outros países podem reduzir ou eliminar suas tarifas. Queremos um sistema nivelado", disse Trump, em coletiva de imprensa na Casa Branca.

A imposição de tarifas pelos EUA está alinhada com as promessas do presidente Trump de taxar seus parceiros comerciais. Os principais alvos são países que os EUA têm déficit na balança comercial — ou seja, gastam mais com importações do que recebem com exportações.

Chamado de "Plano Justo e Recíproco", o memorando buscará "corrigir desequilíbrios de longa data no comércio internacional e garantir justiça em todos os aspectos".

Entre os exemplos para a política de tarifas recíprocas, o governo dos EUA cita o etanol brasileiro:

"A tarifa dos EUA sobre o etanol é de apenas 2,5%. No entanto, o Brasil cobra uma tarifa de 18% sobre as exportações de etanol dos EUA. Como resultado, em 2024, os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil, enquanto exportaram apenas US$ 52 milhões em etanol para o Brasil."

Durante o anúncio feito na tarde desta quinta-feira, Trump também afirmou que os países do BRICS — grupo de coordenação econômica formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — podem sofrer uma taxa de no mínimo 100% se quiserem "brincar com o dólar".

O presidente republicano já havia feito uma ameaça semelhante no ano passado, após o bloco sinalizar que discutia a possibilidade de substituir o dólar norte-americano por outra moeda em suas transações.

O tema tem sido defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e outros líderes do bloco. Em documento divulgado nesta quinta-feira, o governo brasileiro reiterou que, durante sua presidência no BRICS, defenderá a discussão sobre o uso de moedas locais nas transações comerciais entre os países do bloco.

Além do Brasil, o comunicado da Casa Branca diz que a União Europeia pode exportar mariscos aos EUA, mas proíbe exportações de mariscos de 48 estados americanos. E afirma também que a UE impõe uma tarifa de 10% sobre carros importados, enquanto os EUA cobram apenas 2,5%.

As tarifas não entram em vigor imediatamente, pois a equipe de comércio de Trump ainda estuda as relações bilaterais dos EUA.

Desde a campanha, o presidente tem indicado que quer favorecer e dar prioridade à atividade doméstica dos EUA, limitando a concorrência estrangeira.

Na segunda-feira (10), o presidente americano assinou um decreto que impõe tarifas de 25% para todas as importações de aço e alumínio para o país a partir de 12 de março.

“Este é o primeiro de muitos. E você sabe o que quero dizer com isso? Outros assuntos, tópicos, proteger nossas indústrias de aço e alumínio é essencial”, disse Trump.

Também na segunda, ele prometeu o anúncio de tarifas recíprocas ao longo da semana e adicionou que estuda taxas separadas para carros, semicondutores e produtos farmacêuticos.

Antes, ele fixou tarifas de 25% para todos os produtos do México e Canadá no início do mês. Essas taxas foram suspensas por 30 dias, após acordos firmados entre as partes.

Trump também elevou as tarifas cobradas da China em mais 10%. Neste caso, os chineses retaliaram a medida, impondo novas taxas de 10% a 15% para produtos americanos.

O presidente ainda ameaçou atingir a União Europeia, que já reclamou das tarifas ao aço e alumínio. Em resposta, a UE prepara medidas contra produtos americanos, como o Bourbon, jeans e motocicletas.

“Tarifas injustificadas sobre a UE não ficarão sem resposta, elas desencadearão contramedidas firmes e proporcionais”, disse a chefe da UE, Ursula von der Leyen.

Economistas estão preocupados que o “tarifaço” de Trump possa causar uma guerra comercial de grande escala, desajustando a economia global. O principal impacto seria na inflação americana, já que as tarifas aumentam o preço dos insumos básicos e espalham reajustes ao longo da cadeia produtiva.

Com a inflação mais alta, o Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, pode ter mais dificuldade de levar a inflação para a meta de 2%. O índice de preços ao consumidor, inclusive, voltou para a casa dos 3% em janeiro, com alta mensal de 0,5%.

Esse resultado diminui as chances de um novo corte nos juros dos EUA neste ano, que estão na faixa de 4,25% a 4,50%. O cenário afeta o Brasil (e o mundo) porque uma taxa mais alta faz os títulos públicos americanos renderem mais. Isso atrai investidores, que levam recursos para os EUA, valorizando o dólar frente a outras moedas.

Em seu primeiro mandato, o republicano costumava ameaçar parceiros comerciais para colocá-los em desvantagem em acordos bilaterais. É uma estratégia antiga de ameaça tarifária.

Por isso, apesar do potencial inflacionário, parte do mercado entende que as medidas de Trump podem ser revertidas antes que algo pior aconteça.

"A retórica superagressiva de Trump parece ser, de fato, o que todos suspeitavam desde o início: uma grande alavanca para negociar acordos comerciais e atender outros objetivos políticos", disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank, à agência Reuters em entrevista recente.

<><> Tarifaço de Trump

Segundo Trump, a aplicação de tarifas visa lidar com déficits comerciais e problemas nas fronteiras, como a travessia de migrantes sem documentos e o tráfico de fentanil. Ele também afirmou que irá impor taxas sobre a União Europeia, mas não detalhou a alíquota ou quando isso acontecerá.

Enquanto Trump não havia adotado medidas concretas de taxação, os reflexos eram positivos nos mercados emergentes, incluindo o Brasil.

Medidas como o aumento de tarifas de importação e a política anti-imigração de Trump podem gerar mais inflação nos EUA. Além disso, a renúncia de impostos para favorecer as empresas norte-americanas é vista como um risco para as contas públicas do país.

Esses fatores indicam que o Fed terá mais dificuldade de controlar os preços, mantendo os juros elevados no país. As taxas mais altas mudam todo o fluxo de investimentos no mundo, já que os agentes econômicos priorizam os títulos públicos americanos (Treasuries) e o dólar.

No Brasil, a fuga de capital e a consequente valorização da moeda americana podem levar o Banco Central (BC) a elevar a taxa Selic, impactando negativamente a atividade econômica brasileira. Além disso, o Brasil também pode ser afetado por uma desaceleração da economia chinesa caso Trump confirme taxações elevadas contra os asiáticos.

Outro reflexo para o Brasil é o aumento de oferta de produtos chineses. Com os EUA importando menos do país, itens manufaturados asiáticos (com preços muito mais baixos) tendem a buscar outros mercados.

¨      Como Trump, governo brasileiro anunciou medidas protecionistas para a indústria do aço há menos de um ano

O governo brasileiro tem adotado uma postura de minimizar o aumento do imposto de importação sobre aço e alumínio anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pontuando que busca o diálogo para tentar reverter, pelo menos em parte, o tarifaço.

A estratégia é tentar o estabelecimento de cotas, um montante de exportações sobre as quais não incidiria a sobretaxa norte-americana. Isso é algo que já foi obtido em 2018, em uma rodada anterior de aumentso do imposto de importação pelos EUA.

"Olha, [a taxação] não foi contra o Brasil. A alíquota que foi imposta foi para o mundo inteiro. Não foi discriminatória. Os EUA são um importante parceiro comercial do Brasil. [...] Isso é do cotidiano. Todo o dia você tem essas questões de alteração tarifária. O caminho é diálogo, nós vamos procurar o governo norte-americano para buscar a melhor solução", disse o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin .

Trump tem dito que o aumento das tarifas sobre aço e alumínio busca revitalizar indústria americana, que perdeu projeção global.

"Nossa nação precisa que o aço e o alumínio permaneçam na América, não em terras estrangeiras. Precisamos criar para proteger o futuro ressurgimento da manufatura e produção dos EUA, algo que não se vê há muitas décadas", declarou o presidente norte-americano.

📈 Em 2024, o Brasil foi o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, em volume, segundo dados do Departamento de Comércio americano, atrás apenas do Canadá.

📈 Em 2023, os EUA compraram 18% de todas as exportações brasileiras de ferro fundido, ferro ou aço, segundo o governo brasileiro.

<>< Aumento da tarifa brasileira em 2024

Em abril do ano passado, ou seja, há menos de um ano, o governo brasileiro também adotou uma medida protecionista semelhante, com validade de junho de 2024 em diante.

Na ocasião, o Comitê da Câmara de Comércio Exterior (Camex) decidiu aumentar o imposto de importação para 25% para alguns produtos de aço. A medida ainda segue em vigor, valendo até o fim de maio deste ano.

De acordo com o MDIC, depois de aprovada pelo Comitê da Camex, a medida foi encaminhada para os sócios do Mercosul, que não fizeram nenhuma objeção na época da consulta.

Mas, ao contrário dos Estados Unidos, o governo fixou cotas para a importação de aço no ano passado. Somente o que excedesse as cotas fixadas seria sobretaxado.

O aumento do imposto está sendo aplicado a cada classificação de produto de aço cujas compras externas tenham superado, em 2023, 30% da média das aquisições no período de 2020 a 2022.

O aumento do imposto de importação está valendo 15 desses produtos  -- que eram tributados no intervalo de 10% a 14%.

No ano passado, Alckmin informou que a medida atendia a um pedido de entidades siderúrgicas e buscava reduzir a ociosidade da indústria nacional.

"Você tem uma indústria que está com uma ociosidade muito grande, mais de 40% de ociosidade em algumas áreas, uma indústria importante, uma indústria de base, essencial para o país", declarou o vice-presidente, em abril do ano passado.

O ministro afirmou ainda, no ano passado, que a medida serve para preservação da indústria nacional.

"Diria que foi uma medida de preservação do emprego e preservação de estímulo até a novos investimentos, modernização, mas que na realidade é extremamente cuidadosa", avaliou Alckmin, naquele momento.

A medida, que ainda está em vigor, vale para produtos como:

# laminados planos, de ferro ou aço não ligado, com medidas e espessuras determinadas;

# fios-máquinas de ferro ou aço não ligado, com medidas e espessuras determinadas;

# barras de ferro ou aço não ligado;

# tubos e perfis ocos utilizados em oleodutos ou gasodutos;

tubos de ligas de aços, não revestidos, sem costura, para revestimento de poços, etc.;

# tubos soldados de outras seções.

De acordo com o MDIC, as importações que estão sob o amparo de regimes aduaneiros suspensivos, ou de acordos comerciais previamente negociados pelo Mercosul que estabeleçam preferências tarifárias para a entrada dos produtos no Brasil, não são afetadas pela sobretaxa.

 

Fonte: g1

 

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