sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

'Café fake': saiba diferenciar café e pó sabor café na prateleira, para não errar nas compras

Com o café a quase R$ 50, um novo produto tem se espalhado pelos supermercados: o "pó sabor café", que acabou ganhando o apelido de "café fake" ou "cafake".

O item, que não é o mesmo que o pó de café, pode confundir consumidores porque tenta imitar as embalagens de marcas famosas — a descrição "pó para preparo de bebida sabor café" fica em letras pequenas, na parte de baixo dos pacotes. Além disso, ele é mais barato.

Em janeiro, um pacote de 500 g de uma marca de pó saborizado poderia ser encontrado nos supermercados por R$ 13,99, informou a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic).

Apesar do apelido "café fake", o governo ainda investiga se ele pode ser considerado uma fraude, informou o diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal do Ministério da Agricultura, Hugo Caruso.

O ministério apura quais seriam os ingredientes utilizados. Para ser considerado café, o produto pode ter apenas o grão. Mas nem toda embalagem do "café fake" menciona a receita ou até mesmo contém o grão, algumas apontam que ele é feito de cevada ou milho, por exemplo.

A legislação brasileira de alimentos tem algumas categorias que poderiam, caso o ministério assim entenda, enquadrar casos como o pó sabor café.

Por exemplo, a "mistura para preparo de alimentos ou bebidas", que abrange os alimentos compostos por mistura de ingredientes que são adicionados de outros itens, como água, para o consumo, segundo a Resolução da Diretoria Colegiada RDC nº 719/2022, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Alguns exemplos de produtos inclusos nessa legislação são cappuccino e massa para bolo.

Existe ainda a categoria dos "preparados sólidos", que regulamenta as chamadas bebidas saborizadas, por meio da portaria nº 123, do Ministério da Agricultura. É o caso de chás e refrescos.

"O problema desses produtos é que eles utilizam no rótulo elementos visuais dando a entender que se trata de café, quando, na verdade, o que tem dentro da embalagem é outro componente", diz Mariana Ribeiro, nutricionista do programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Instituto de Defesa de Consumidores (Idec).

Apesar de informar na embalagem que se trata de um "pó sabor café", as marcas trazem fotos de uma xícara de café, acompanhada por grãos — além de imitar cores, fontes e terem nomes similares às marcas populares.

Segundo a nutricionista, há uma confusão parecida que envolve o iogurte e a bebida láctea.

"Os dois produtos são permitidos. A questão é que a composição deles é diferente, por mais que, às vezes, algumas estratégias publicitárias te façam acreditar que você está levando uma coisa, enquanto na verdade é outra", afirma a nutricionista.

Produto pode não ter café

Nem todos os produtos conhecidos como "café fake" deixam claro o que foi usado na sua composição.

Alguns deles informam na parte de trás da embalagem que utilizam a "polpa do café". Contudo, a Abic esclarece que a polpa, na verdade, é colada à casca do fruto, ou seja, não pode ser completamente separada dela. A casca, por sua vez, é considerada uma impureza.

A legislação brasileira permite que o produto possua até 1% de impurezas naturais do café (como galhos, folhas e cascas) e matérias estranhas (por exemplo, grãos ou sementes de outras espécies vegetais, pedras e areia).

A Abic também alerta que esses produtos não especificam o quanto de café é utilizado na receita, bem como a quantidade de impurezas presentes.

Há ainda os produtos que não contêm café entre os ingredientes. Eles podem ser feitos de cevada ou milho, por exemplo.

E em muitos casos há a presença de aromatizantes, o que transforma o item em um ultraprocessado, diferente do pó de café que o brasileiro costuma consumir.

Segundo a Anvisa, por se tratar de uma categoria que abrange uma variedade de alimentos, não há requisitos específicos de composição, e a regularização desses produtos é realizada diretamente na Vigilância Sanitária local.

"O que a gente vê na maioria desses casos é que o produto não é café. Ele tem uma estratégia que está levando o consumidor ao engano", diz Mariana Ribeiro, do Idec.

¨      Contrabando, falsificações e pirataria produzem prejuízo de R$ 500 bilhões para a economia brasileira em 2024

Em 2024, o contrabando, as falsificações e a pirataria produziram um prejuízo de meio trilhão de reais para a economia brasileira.

É pelas estradas que quase todo produto falsificado ou contrabandeado é distribuído pelo Brasil. Em 2024, o item apreendido em maior quantidade foi cigarro. Só a Polícia Rodoviária Federal recolheu 58 milhões de maços e mais de 600 mil cigarros eletrônicos - que são proibidos pela Anvisa.

"Por diversas outras rotas, ele vai entrando no território nacional, tanto para abastecer mercados internos, grandes centros, grandes polos urbanos do país, como também para ser importado para outros locais”, diz Allyson Simensato, coordenador-geral de Combate ao Crime da PRF.

O setor da economia mais atingido é o de roupas. O prejuízo foi de R$ 87 bilhões. Em seguida vêm os setores de bebidas alcoólicas, combustíveis, material esportivo, perfumaria e cosméticos, defensivos agrícolas, ouro e TV por assinatura, por exemplo. O setor audiovisual teve um prejuízo de R$ 4 bilhões. É a pirataria digital de softwares, cursos online, vídeos, músicas e filmes, vendidos sem autorização dos donos.

O Fórum Nacional Contra a Pirataria estima que o prejuízo total para a economia brasileira em 2024 foi de R$ 468 bilhões, entre o que fábricas e lojas deixaram de vender e os impostos que não foram recolhidos - mais do que quatro vezes o valor de 2014, quando o levantamento começou.

Segundo o Fórum Nacional Combate à Pirataria, esse crime precisa ser combatido em duas frentes: na demanda, com campanhas para desestimular a compra desses produtos pela população, e na oferta, com a inteligência policial para combater as quadrilhas, que estão se sofisticando.

O presidente do fórum diz que as apreensões de produtos ilegais têm crescido apesar de dificuldades - como o tamanho das fronteiras do país - e que, por isso, é essencial a integração entre as forças policiais.

"Imagina esse dinheiro sendo movimentado pelas empresas legais, o investimento que isso representaria, geração de novos empregos, a inovação que seria intensificada. De outro lado, o consumidor é prejudicado. Esse produto afeta sua saúde, a sua segurança, é um produto que não tem durabilidade porque ele não respeita norma técnica, não respeita nenhum órgão regulador. Perde a indústria, o comércio que pagam impostos, perde o consumidor, perde o erário com a brutal sonegação decorrente e cada vez mais a segurança pública é afetada, porque nós estamos fortalecendo elos criminosos que atuam no nosso país”, afirma Edson Vismona, presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública afirmou que intensificou esforços contra o comércio ilegal em parceria com órgãos de fiscalização, forças de segurança e o setor produtivo.

Receita Federal declarou que tem investido nas estruturas de controle; que, todos os dias, apreende mercadorias nas fronteiras terrestres, portos e aeroportos; e que, só no em 2024, recolheu mais de R$ 3,7 bilhões em produtos ilegais.

 

Fonte: g1

 

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