Vida e obra de
Augusto Ruschi, patrono da Ecolologia Brasileira
em 12 de dezembro de 1915,
nascia o naturalista Augusto Ruschi, Patrono da Ecologia no Brasil.
Pioneiro do movimento ecológico
brasileiro, Ruschi liderou esforços pela criação de parques e reservas e
denunciou o desmatamento da Amazônia e da Mata Atlântica durante a ditadura
militar (1964-1985)
Além disso, Ruschi enfrentou
projetos nocivos ao meio ambiente conduzidos por autoridades públicas e grandes
corporações.
·
Quem
foi Augusto Ruschi
Augusto Ruschi nasceu em Santa
Teresa, na região serrana do Espírito Santo, como um dos 12 filhos do casal de
imigrantes italianos Giuseppe Ruschi e Maria Roatti.
Cursou as primeiras letras no
Seminário Capuchinho, prosseguindo com o ensino básico no Colégio
Ítalo-Brasileiro.
Ingressou posteriormente no
Ginásio Espiritosantense, em Vitória, onde foi aluno da pesquisadora Maria
Stella de Novaes, que incentivou o interesse pelas ciências naturais.
Desde a infância, Ruschi
gostava de observar e coletar plantas e insetos. Na adolescência, começou a
organizar cientificamente suas coleções e manteve contato com os pesquisadores
do Museu Nacional.
As observações de Ruschi acerca
de uma espécie de lagarta que atacava os laranjais do Espírito Santo chegaram a
ser incorporadas a uma pesquisa internacional desenvolvida pelo entomologista
italiano Filippo Silvestri.
Impressionado, o professor
Cândido Firmino de Mello Leitão, diretor da Seção de zoologia do Museu
Nacional, passou a tutelá-lo.
Aos 17 anos, Ruschi aceitou o
convite de Mello Leitão e tornou-se colaborador do Museu Nacional, com a
incumbência de coletar exemplares de fauna e flora para a instituição.
Desenvolveu um importante
trabalho como taxonomista autodidata, ajudando a identificar e classificar
novas espécies de plantas e vegetais.
Em 1934, Ruschi ingressou no
curso de Engenharia Agronômica da Escola Superior de Agricultura e Veterinária
de Viçosa, onde estudou agricultura racional, silvicultura, reflorestamento e
pragas agrícolas.
Transferiu-se posteriormente
para a Escola Superior de Agricultura de Campos, onde se graduou em 1938.
No ano seguinte, ingressou nos
quadros do Museu Nacional, na condição de assistente voluntário.
Especializou-se em botânica nessa instituição, onde foi aluno de Frederico
Carlos Hoehne e Alexander Curt Brade.
·
Augusto
Ruschi e a fauna brasileira
De volta ao Espírito Santo,
Ruschi prosseguiu com seu trabalho de identificação e catalogação de espécies
da flora e fauna do Brasil, dando enormes contribuições aos estudos sobre
orquídeas, bromélias, beija-flores, morcegos e macacos.
O naturalista foi responsável
por catalogar mais de 600 espécies de orquídeas e identificar 50 espécies
novas.
Fascinado por beija-flores,
Ruschi se tornou a maior autoridade mundial no assunto, respondendo pela
catalogação de 80% das espécies de beija-flor existentes no Brasil e
descobrindo duas espécies novas.
Ele foi o primeiro cientista a
conseguir obter a reprodução de beija-flores em cativeiro e tornou-se uma
referência internacional em técnicas inovadoras de captura, transporte e
criação dessas aves.
Em 1963, Ruschi foi objeto de
uma extensa matéria publicada pela National Geographic, versando
sobre sua alegada capacidade de se comunicar com os beija-flores, escrita pelo
pesquisador norte-americano Luis Marden.
Ruschi notabilizou-se ainda
como pioneiro do preservacionismo no Brasil. Em Santa Teresa, ele dirigiu
por décadas a Estação Biológica de Santa Lúcia.
Vinculada ao Museu Nacional, a
reserva ambiental abrange 440 hectares de Mata Atlântica e é considerada uma
das regiões mais ricas em vegetação epífita do mundo.
Em 1949, Ruschi fundou o Museu
de Biologia Professor Mello Leitão, batizado em homenagem ao seu antigo mentor.
O museu é hoje uma das
principais instituições científicas do Espírito Santo, preservando um valioso
acervo zoobotânico, com mais de 40.000 itens.
O “Boletim do Museu de Biologia
Professor Mello Leitão” se destacaria pelo pioneirismo na publicação de
trabalhos sobre desenvolvimento agrícola autossustentável.
Um ano depois, em 1950, Ruschi
graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do
Espírito Santo.
Três anos depois, foi efetivado
como professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Prestou consultoria em temas
ambientais e agrícolas para o governo do Espírito Santo e para os Ministérios
da Agricultura e da Educação e organizou os primeiros cursos de educação
ambiental instituídos no Brasil.
Em 1951, ganhou ampla
notoriedade ao defender a criação de reservas ecológicas como bancos genéticos
durante um congresso florestal da ONU.
Ruschi liderou o movimento em
prol da preservação dos biomas no Brasil, articulando a criação de inúmeras
reservas ambientais e parques — nomeadamente o Parque Nacional de Caparaó, unidade
de conservação com 32 mil hectares, localizada na divisa dos estados de
Espírito Santo e Minas Gerais.
O naturalista fundou, em 1970,
com seus próprios recursos uma reserva de biologia marinha no município de
Aracruz — a Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi.
Suas ações em prol da
preservação ambiental tiveram grande repercussão internacional.
O artigo “O Éden de Augusto
Ruschi”, publicado em 1960 pela Reader’s Digest, por exemplo,
serviu de inspiração para o estabelecimento de reservas ecológicas no continente
africano.
·
Oposição
à ditadura
Ruschi foi um dos principais
opositores da política de exploração predatória e desmatamento desenfreado
implementada pela ditadura militar na Amazônia.
Em 1971, Ruschi denunciou as
ações ilegais da empresa Aracruz Celulose, que havia expulsado 700 famílias
indígenas e se apoderado de suas terras para o plantio de eucaliptos.
Ele também impediu que a Vale
do Rio Doce adquirisse as terras da Reserva Biológica de Sooretama e derrubasse
a mata nativa para produzir dormentes.
Por fim, em 1975, Ruschi
conseguiu impedir que Vale e Aracruz se apropriassem da Reserva Biológica de
Comboios, logrando a federalização do território.
As ações de Ruschi lhe
granjearam enorme respeito e admiração, mas também despertaram o ódio de latifundiários,
madeireiros, empresários e políticos, que usaram de difamação, ataques e
ameaças para intimidá-lo.
Em 1977, Ruschi se envolveria
em uma nova contenda, dessa vez com o governador do Espírito Santo, Élcio
Álvares, que pretendia desapropriar a Estação Biológica de Santa Lúcia e
transformá-la em uma fábrica de palmitos enlatados.
Ruschi recebeu os emissários do
governador com uma espingarda na mão e mandou um recado: “avisem ao governador
que ou ele muda de ideia, ou amanhã cedo eu vou lá matar ele pessoalmente, no
Palácio”.
O governador acionou a Polícia
Federal e denunciou a ameaça à imprensa, mas a polêmica acabou favorecendo
Ruschi, que ganhou a simpatia da opinião pública, sensibilizada por sua defesa
apaixonada da reserva.
O projeto foi descartado após
Ruschi apresentar documentos desmentido a alegação do governo de que as terras
da reserva eram devolutas.
·
Morte
de Augusto Ruschi
Nos anos 80, Ruschi viu-se
obrigado a diminuir o ritmo de suas atividades, em função da saúde declinante.
Seus problemas de saúde
começaram após o naturalista ter sido acidentalmente envenenado por sapos
durante uma viagem ao Amapá.
O quadro se agravou em função
da hepatite e das sequelas deixadas por doenças como malária e esquistossomose,
contraídas durante as expedições.
Gravemente enfermo e
desenganado por seus médicos, Ruschi se submeteu a um ritual de cura indígena
conduzido pelo Cacique Raoni e pelo Pajé Sapaim em 1986.
O tratamento trouxe alívio
temporário ao paciente e estimulou a discussão sobre a efetividade das plantas
medicinais indígenas.
Ruschi faleceu alguns meses
depois, em 3 de junho de 1986, aos 70 anos. Seu corpo foi sepultado na Estação
Biológica de Santa Lúcia, conforme ele havia requisitado.
Ao longo de sua vida, Augusto
Ruschi publicou 20 livros e quase 500 artigos científicos abordando os biomas
brasileiros e a importância da preservação ambiental.
Sua obra constitui um dos mais
completos registros documentais sobre a fauna e a flora da Mata Atlântica e
seus trabalhos sobre orquídeas e beija-flores seguem até hoje como referências
basilares.
Em reconhecimento ao seu papel
como pioneiro da causa preservacionista, às suas ações em prol da criação de
reservas ambientais e à sua luta contra a agricultura predatória e o
desmatamento, Ruschi recebeu em 1994 o título de Patrono da Ecologia no Brasil.
Fonte: Opera Mundi
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