João Renato
Paulon: Atentado, Armas Químicas e Narrativas - a Morte de Igor Kirillov
O conflito na Ucrânia
reacendeu o debate sobre armas biológicas. A Rússia em 2022 acusou os Estados
Unidos e o Pentágono de financiar laboratórios biológicos na Ucrânia com o
objetivo de desenvolver armas biológicas. Em resposta, os Estados Unidos
negaram categoricamente as acusações, classificando os laboratórios como
centros de pesquisa biológica voltados para a saúde pública.
Por sua vez, a China reforçou
as acusações russas, declarando que os EUA controlam 336 laboratórios em mais
de 30 países, sendo 26 na Ucrânia, e exigiu transparência total sobre suas
atividades biológicas militares, sugerindo uma verificação multilateral
independente. A disputa acentuou ainda mais as divergências, intensificando a
narrativa de ambos os lados. A mídia norte-americana, como a CNN, relatou que
os laboratórios na Ucrânia são utilizados para pesquisas biológicas, mas isso
não significa necessariamente que se trata de armas químicas. Moscou, por sua
vez, acusa o Pentágono de envolvimento em programas biológicos sigilosos.
O chefe das tropas de defesa
radiológica, biológica e química russas, General Igor Kirillov, morto em um
atentado em Moscou nesta terça-feira (17) tornou-se uma figura central nessas
denúncias. Kirillov, com uma carreira militar de destaque, era amplamente
reconhecido por sua expertise em defesa química e biológica. Ele apresentou
relatórios detalhados sobre os laboratórios biológicos dos EUA na Ucrânia, e
denunciou o papel no financiamento dessas instalações. Em janeiro de 2024,
Kirillov afirmou que autoridades norte-americanas estariam obstruindo
investigações sobre a origem da pandemia de COVID-19 e manipulando a opinião
pública.
A Ucrânia assumiu a responsabilidade
pelo ataque , classificando-o como uma operação especial planejada pelo Serviço
de Segurança da Ucrânia (SBU). Segundo O atentado é visto pela Rússia como uma
tentativa de desestabilizar ainda mais a sua liderança militar e de enviar um recado
direto sobre a capacidade operacional da Ucrânia de atingir alvos fora do campo
de batalha. Para a Ucrânia, a ação simboliza um avanço significativo em sua
estratégia de guerra assimétrica, minando a moral das forças russas e
projetando uma imagem de resiliência. A resposta russa, no entanto, reflete um
conhecido ditado popular: 'Os russos demoram para selar o cavalo, mas depois
que montam, andam depressa.' Dmitry Medvedev, vice-chefe do Conselho de
Segurança da Rússia, prometeu 'retribuição inevitável' contra os líderes
políticos e militares ucranianos.
Os três casos apresentados
revelam um padrão de manipulação geopolítica em que armas químicas e biológicas
são usadas como justificativa para intervenções e para construir narrativas
políticas. A guerra das versões, amplamente difundida pela mídia, esconde
interesses mais profundos e enfraquece a busca pela verdade. A interconexão
entre esses eventos reflete um padrão perigoso onde a informação se torna uma
arma tão letal quanto as próprias armas em disputa. A resistência da Ucrânia em
permitir investigações independentes sobre os supostos armamentos biológicos e
químicos, aliada à relutância dos Estados Unidos em fornecer esclarecimentos
públicos convincentes, intensifica a percepção de que as denúncias russas podem
conter elementos que merecem uma análise mais cuidadosa, denunciam fissuras na
mídia e alimentam dúvidas sobre a transparência das potências envolvidas e
aprofundando a polarização geopolítica.
Diante de um cenário de
desinformação e manipulação, torna-se urgente que governos, organizações
internacionais e cidadãos exijam transparência e responsabilidade. A busca pela
verdade não é apenas um exercício político, mas uma necessidade para impedir
que narrativas manipuladas se tornem a base de conflitos devastadores. Se o
mundo contemporâneo deve ser moldado pela verdade, é preciso resistir à
instrumentalização da informação e questionar, com seriedade, os interesses que
se escondem por trás de cada discurso e decisão.
¨ Como assassinato de general pela Ucrânia furou 'bolha'
de normalidade em Moscou durante a guerra
Há uma batalha
constante em Moscou entre dois
polos: a aparência e a realidade.
Apesar de
quase três anos de guerra, a vida aqui pode
parecer normal, com as multidões de passageiros no metrô e os bares e clubes
lotados de jovens.
Mas, de repente,
algo acontece para lembrar que não há nada normal na Rússia de hoje.
Esse
"algo" pode ser um drone ucraniano que
evade as defesas aéreas de Moscou.
Ou — ainda mais
dramático — o que aconteceu na manhã de terça-feira (17/12): o assassinato de um
general russo de alto escalão na saída de um bloco de apartamentos.
Quando o
tenente-general Igor Kirillov e seu assistente Ilya Polikarpov foram mortos por
uma bomba escondida em um patinete elétrico, a realidade da
guerra da Rússia na Ucrânia bateu à porta - pelo menos para os russos que
estavam próximos à cena do crime.
"Uma coisa é
ler sobre isso nas notícias, parece algo distante. Mas quando algo acontece ao
lado de você, é completamente diferente e assustador", diz Liza, que mora
em um prédio perto do local da explosão.
"Até então, [a
guerra] parecia acontecer muito longe. Agora que alguém está morto, aqui, é
possível sentir as consequências."
"Minha
ansiedade foi às alturas. Cada som me deixa nervosa e me faz pensar se vem de
um drone ou apenas algum barulho em um canteiro de obras", complementa
ela.
Já ouvi muitas
vezes em Moscou essa percepção da guerra da Rússia na Ucrânia como algo distante.
Tenho a sensação de
que, para uma parcela considerável da população, esta é uma guerra que eles só
vivenciam na tela da TV ou do smartphone.
De muitas maneiras,
trata-se de uma guerra virtual.
Algo que não deixa
de ser espantoso, se levarmos em conta o grande número de mortos e feridos.
Mas o assassinato
de um general russo na capital do país representa um sinal de alerta
definitivo, uma prova de que a guerra é muito real e está muito próxima de
casa.
Isso servirá como
um sinal de alerta para as autoridades russas? Provavelmente não.
Há poucos sinais de
uma reviravolta da política do Kremlin na Ucrânia. É muito mais provável que
Moscou intensifique o conflito.
Basta olhar os
sinais.
Ao reagir às
notícias do assassinato de Kirillov, o apresentador de um programa sobre
política na TV estatal russa culpou a Ucrânia e afirmou que, "com este
ataque, o presidente Zelensky assinou sua própria sentença de morte".
O ex-presidente
russo Dmitry Medvedev declarou que "os investigadores devem encontrar os
assassinos que estão na Rússia".
"Devemos fazer
de tudo para destruir os clientes deles, que estão em Kiev", emendou ele.
Até o momento, o
presidente Vladimir Putin não deu nenhuma declaração pública sobre o
assassinato do general e do assistente.
Mas o líder russo disse
muitas vezes antes que, diante de ameaças à segurança, a Rússia "sempre
responderá".
Com base nessa
promessa, uma retaliação é provável.
Na quinta-feira
(19/12), Putin deve realizar sua coletiva de imprensa anual de fim de ano.
Normalmente trata-se de uma maratona transmitida ao vivo por todos os
principais canais de TV.
Me pergunto: o
líder russo usará o evento para comentar sobre o dramático assassinato de
Kirillov? Ele quebrará o silêncio sobre o que aconteceu na Síria?
O presidente russo
até agora também não declarou nada sobre a queda de Bashar
al-Assad,
o principal aliado de Moscou no Oriente Médio.
E o que ele dirá
aos russos sobre para onde seu país avança, enquanto a guerra na Ucrânia — que
Putin ainda chama de "operação militar especial" — se aproxima da
marca de três anos?
¨ Rússia prende suspeito de matar general em ataque em
Moscou
O Serviço Federal
de Segurança da Rússia (FSB) prendeu um homem de 29 anos nesta
quarta-feira (18/12), suspeito de assassinar o
general russo Igor Kirillov e seu assistente, Ilya Polikarpov, mortos em uma
explosão em Moscou na manhã de terça-feira.
Segundo as
autoridades do país, o suspeito é um cidadão do Uzbequistão, que admitiu ter
sido recrutado pela Ucrânia para assassinar o general. Ele teria recebido os
explosivos que usou na ação diretamente da agência de inteligência ucraniana
SBU. A Rússia investiga o assassinato como um ataque terrorista.
Em Kiev, um oficial
da SBU confirmou de forma extraoficial que a Ucrânia está por trás do
assassinato, segundo diversos veículos de comunicação, incluindo agências de
notícias como a Associated Press e DPA. Kirillov havia sido formalmente acusado
de crimes de guerra na Ucrânia no dia anterior à sua morte, ele era o
chefe da defesa
radiológica, química e biológica da Rússia.
Como o assassinato
aconteceu
O serviço secreto
russo afirmou que, seguindo instruções da Ucrânia, o suspeito viajou para
Moscou, onde recebeu um dispositivo explosivo caseiro. Ele então colocou a
bomba em um patinete elétrico e o estacionou na entrada do prédio residencial
onde Kirillov morava.
Em seguida, alugou
um carro para monitorar o local e instalou uma câmera que transmitia ao vivo as
imagens para os oficiais ucranianos, situados na cidade ucraniana de Dnipro.
Quando Kirillov foi visto saindo do prédio, a bomba foi detonada por um
dispositivo remoto.
De acordo com a
declaração do FSB, a Ucrânia teria prometido 100 mil dólares (R$ 616,7 mil) ao
suspeito. Ele também seria levado a um país da União Europeia após o crime.
O uzbeque foi
identificado por meio do carro que utilizou na ação, captado pelas imagens de
câmeras de segurança na rua. Ele pode pegar "uma sentença de prisão
perpétua".
<><> Quem
era Igor Kirillov
Embora vários
assassinatos de oficiais russos tenham sido atribuídos a agentes do governo
ucraniano, matar um general em Moscou e reconhecer o ato é algo incomum.
Kirillov é o oficial militar de mais alto escalão a ser morto dentro do
território da Rússia.
Kirillov, de 54
anos, chefiava desde maio de 2017 uma unidade russa responsável por lidar com
proteção contra armas químicas, biológicas e radiológicas – conhecidas como
"bombas sujas". Ele também se notabilizou por aparecer regularmente
na imprensa espalhando desinformação sobre supostos "laboratórios
biológicos dos EUA" na Ucrânia e por defender o ex-ditador sírio Bashar
al-Assad.
Os ucranianos
afirmam que a unidade chefiada por Kirillov faz uso de armas biológicas durante o
conflito. O país alega que os russos usaram armas químicas mais de 4,8 mil
vezes desde o início da guerra. A Rússia nega as acusações.
¨ O que se sabe sobre prisão de homem do Uzbequistão pelo
assassinato de general em Moscou
Autoridades russas
informaram nesta na quarta-feira (18/12) que um homem de 29 anos foi detido
pelo assassinato do tenente-general Igor Kirillov e seu assistente, em Moscou.
O general de alto
escalão das Forças Armadas russas e seu assistente foram mortos em uma explosão
em Moscou,
na terça-feira (17/12).
Kirillov, chefe das
Forças de Defesa Nuclear, Biológica e Química (NBC), estava na entrada de um
complexo residencial quando um dispositivo escondido em uma scooter explodiu,
informou o Comitê de Investigação da Rússia.
O Comitê de
Investigação da Rússia (SK) afirmou que o suspeito — cuja identidade ainda não
foi divulgada — admitiu que foi recrutado pelos serviços secretos ucranianos.
No entanto, o SK não apresentou evidências que comprovassem essa alegação.
O SK informou que o
homem detido — nascido em 1995 — é cidadão do Uzbequistão.
A nota acrescentou
que ele é "suspeito de cometer um ato terrorista" e que, durante o
interrogatório, "ele explicou que foi recrutado pelos serviços secretos
ucranianos".
A agência de
segurança ucraniana SBU já havia assumido a autoria do assassinato, conforme
informou uma fonte à BBC na terça-feira.
A fonte ucraniana
disse que Kirillov, de 54 anos, era "um alvo legítimo" e acusou o
general de ter cometido crimes de guerra.
Na segunda-feira,
um dia antes do assassinato, a Ucrânia havia acusado Kirillov, à revelia,
afirmando que ele era "responsável pelo uso massivo de armas químicas
proibidas". Moscou nega as acusações.
O Serviço Federal
de Segurança da Rússia (FSB) divulgou um vídeo do interrogatório do suspeito.
Nas imagens, um
homem algemado e de cabelos escuros aparece falando diretamente para a câmera.
Ele é ouvido
dizendo em russo que receberia uma recompensa de US$ 100 mil e um passaporte
europeu em troca do assassinato de Kirillov.
O FSB acrescentou
que, sob instruções da Ucrânia, o homem detido chegou a Moscou e recebeu um
dispositivo explosivo caseiro.
Não está claro se a
confissão do suspeito foi feita sob coação.
O dispositivo
explosivo foi colocado no patinete estacionado perto da entrada do prédio
residencial onde Kirillov morava, afirmou o SK.
Para monitorar o
local, o suspeito havia alugado um carro, onde instalou uma câmera de vídeo que
transmitia ao vivo para os organizadores do ataque na cidade de Dnipro, na
Ucrânia, acrescentou o comitê de investigação.
Quando Kirillov e
seu assistente, Ilya Polikarpov, saíram do edifício, o dispositivo explosivo
foi ativado remotamente, de acordo com a declaração.
Um porta-voz do
Kremlin afirmou que o presidente russo, Vladimir Putin, "expressou
profundas condolências" pela morte de Kirillov, conforme relatado pela
agência de notícias estatal russa Tass.
<><> Quem
era Kirillov
Kirillov é
considerado a figura militar de mais alto escalão assassinada dentro da Rússia
desde que o presidente Putin iniciou a invasão em larga escala da Ucrânia, em
fevereiro de 2024.
Além de ser acusado
pela Ucrânia, Kirillov já havia sido sancionado pelo Reino Unido devido ao
suposto uso de armas químicas na Ucrânia.
O serviço de
segurança ucraniano SBU afirmou que a Rússia usou armas químicas mais de 4,8
mil vezes sob a liderança do general.
Moscou nega as
alegações e afirma que destruiu o último remanescente de seu vasto estoque de
armas químicas em 2017.
Imagens da cena
fora do prédio de apartamentos de Kirillov, no sudeste de Moscou, na
terça-feira, mostraram a entrada fortemente danificada, com marcas de
queimaduras nas paredes e várias janelas quebradas. Também era possível ver
dois sacos de cadáveres na rua.
Na quarta-feira, o
Ministério das Relações Exteriores da Rússia informou que o país levaria o
assassinato de Kirillov à reunião do Conselho de Segurança da ONU na
sexta-feira (20/12).
Oficiais russos
prometeram encontrar e punir os responsáveis pelo crime.
¨ Assassinato do general Kirillov 'é definitivamente um
ato de terror', diz ex-analista do Pentágono
O assassinato do
tenente-general Igor Kirillov, chefe das Tropas de Defesa Radiológica, Química
e Biológica russas, é, definitivamente, um ato de terrorismo, disse à Sputnik
Michael Maloof, ex-analista sênior de políticas de segurança do Gabinete do
secretário de Defesa dos EUA.
"[Os
criminosos] colocaram a bomba em um patinete elétrico, do lado de fora do
apartamento e a detonaram. Isso é terrorismo", disse ele.
O fato de o ataque
ter ocorrido em Moscou e de os criminosos saberem onde Kirillov morava sugere
planejamento e coordenação significativos, levantando questões sobre o
possível envolvimento de agentes ucranianos ou indivíduos russos
trabalhando para a Ucrânia.
Maloof disse que o
papel de Kirillov em revelar o envolvimento da Ucrânia em pesquisas
químicas e biológicas apoiadas pelos EUA fez dele um alvo.
"O que ele tinha
feito foi revelar até que ponto a Ucrânia está envolvida em pesquisas químicas
e biológicas ilegais nos EUA", explicou Maloof, observando a natureza
sensível das revelações.
"O que os
Estados Unidos estão fazendo nesses laboratórios de pesquisa que ela,
quando era membro do governo Biden, não queria que fosse revelado?",
perguntou Maloof. "Kirillov foi quem expôs que nesses laboratórios estavam
em andamento pesquisas químicas e biológicas", finalizou.
O chefe das Tropas
de Defesa Radiológica, Química e Biológica russas, tenente-general Igor
Kirillov,
e seu assistente foram mortos em resultado da explosão de uma
bomba junto a um bloco residencial em Moscou na manhã de terça-feira (17).
Fonte: Brasil
247/BBC News Mundo/DW Brasil/Sputnik Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário