Grace Blakeley: O apartheid climático
Em dezembro de 2023, Ndileka Mandela, neta de Nelson
Mandela, condenou os mais ricos por apoiarem um sistema global de “apartheid
climático”. Falando na cúpula da COP28 nos Emirados Árabes Unidos, Mandela
declarou que o termo “apartheid” era apropriado para descrever o impacto do
colapso climático porque “o Norte Global está usando seu poder econômico e
legal para subjugar nações pobres”.
Vários anos antes, o relator especial das Nações Unidas
sobre pobreza extrema, Philip Alston, também se referiu aos perigos do
“apartheid climático” em um relatório sobre mudança climática e pobreza. Alston
alertou: “A mudança climática ameaça desfazer os últimos 50 anos de progresso
no desenvolvimento, na saúde global e na redução da pobreza.”
A cada ano que passa sem uma ação coordenada, a escala
da crise climática se amplia. Cerca de 80% dos principais cientistas climáticos
do mundo agora esperam que as temperaturas globais atinjam 2,5 graus acima dos
níveis pré-industriais — muito acima da meta de 1,5 grau acordada em Paris em
2015. Esses níveis de colapso climático trariam um mundo “semidistópico” de
eventos climáticos extremos, quebra de safra, conflitos geopolíticos e migrações
em massa.
Mas esses desastres não afetariam a todos igualmente.
Um mundo de apartheid climático é aquele em que os ricos conseguem se isolar
dos piores efeitos do colapso climático, enquanto os pobres são forçados a
arcar com os custos de uma crise que eles não causaram.
Os setenta e quatro países mais pobres são responsáveis
por apenas 10% das
emissões de gases de efeito estufa do mundo, mas esses países viram os
desastres naturais aumentarem oito vezes desde a década de 1980. Os países em
desenvolvimento como um todo arcarão com 75% dos custos do colapso climático,
apesar de serem responsáveis por
apenas 10% das emissões globais de dióxido de carbono.
O Fórum Econômico Mundial relata que um aumento no
aquecimento de 2–3 graus Celsius pode levar a 150 milhões de casos extras de
malária a cada ano. A escassez de água já está se tornando um problema sério em
muitas partes do mundo: no ano que vem, haverá cinco bilhões de pessoas
afetadas pela escassez hídrica. E os cidadãos em países pobres têm mais
probabilidade de depender de atividades — como agricultura e pesca — que serão
significativamente afetadas pelo colapso climático.
Particularmente ameaçadas estão as nações insulares
baixas e pequenas e as nações em risco de desertificação, que estão
concentradas no mundo pobre. Milhões de pessoas provavelmente serão deslocadas
nessas áreas devido ao impacto nos meios de subsistência e habitabilidade. O
Banco Mundial estima que haverá 216 milhões de refugiados climáticos até 2050,
concentrados na África Subsaariana (86 milhões), Leste Asiático e Pacífico (49
milhões) e Sul da Ásia (40 milhões).
No geral, de acordo com o Banco Mundial, um adicional
de 68 milhões a 135 milhões de pessoas podem ser empurradas para a pobreza até
2030 como resultado do colapso climático. As previsões do Fundo Monetário
Internacional sugerem que, se os piores prognósticos em relação ao impacto do
colapso climático forem confirmados, então as reduções na desigualdade entre o
mundo rico e pobre que foram vistas nas últimas décadas podem ser completamente
eliminadas. Um estudo descobriu que o colapso climático já aumentou a
desigualdade econômica entre países ricos e pobres em 25% desde 1990.
Mas a questão não é apenas que o colapso climático
provavelmente terá um impacto maior nos países pobres do que nos ricos; é
também que os países pobres não têm recursos para mitigar esses impactos.
·
Regra
corporativa
As desigualdades de riqueza entre países
ricos e pobres não são apenas fatos dados da vida — elas são o resultado do
imperialismo capitalista. Primeiro veio o tráfico de escravizados, cuja
violência inimaginável deixou cicatrizes profundas e permanentes nas economias
e sociedades de todos os países que tocou, inclusive impedindo permanentemente
o desenvolvimento na África Subsaariana. Depois veio o colonialismo, que se
baseou na exploração de populações coloniais e na extração de recursos em
benefício dos colonizadores em detrimento dos colonizados. A violência e o
racismo nos quais o colonialismo foi baseado continuam a marcar muitos países
até hoje.
Junto com a escravidão e o colonialismo veio o
imperialismo econômico. Os países ricos, que se industrializaram antes dos
países pobres, impediram que estes os alcançassem, deixando-os em uma posição
de subdesenvolvimento permanente. O mundo rico fechou e protegeu suas próprias
economias até que poderosas corporações multinacionais surgiram, as quais foram
facilmente capazes de vencer a competição internacional. Esses países então
aplicaram políticas de livre comércio quando isso era conveniente para os
interesses dessas corporações e mantiveram o protecionismo quando não era.
Grandes corporações multinacionais, sob a tutela de
poderosos Estados ocidentais, trataram a economia mundial como seu playground
por décadas. Elas facilmente superaram empresas menores no mundo pobre, usando
seu poder de mercado para explorar seus fornecedores, forçando-os a cortar
custos reduzindo salários e piorando as condições de trabalho. Elas exploraram
relações desiguais de poder para comprar terras e recursos naturais em Estados
pobres a preços baixos. Elas também terceirizaram a produção para países
pobres, aproveitando os baixos custos de mão de obra e repatriando os lucros
para suas nações de origem.
“A cada ano que passa sem uma ação
coordenada, a escala da crise climática se amplia.”
Para movimentar seu dinheiro sem problemas pelo mundo,
essas empresas fizeram uso de um sistema financeiro dominado por bancos do
Ocidente que, com o apoio de governos ocidentais, facilita a evasão e a
sonegação fiscal — sem mencionar fraude e lavagem de dinheiro — em grande
escala. Mas enquanto o dinheiro é livre para se movimentar para onde quiser, as
pessoas não são. Os Estados capitalistas consolidam a desigualdade ao impedir
que as pessoas se movam para encontrar empregos mais bem pagos. Eles também
mantêm seu domínio ao impedir que os Estados do Sul Global acessem recursos e
tecnologia que os ajudariam a se industrializar.
E caso algum governo tente desafiar esse sistema
internacional extremamente injusto, os países ricos criaram a arquitetura legal
para os impedir de fazê-lo. Quando a Texaco derramou óleo por toda a floresta
tropical equatoriana, impactando severamente a saúde daqueles que viviam na
área nos anos seguintes, um grupo de cidadãos equatorianos levou a empresa ao
tribunal em uma tentativa de forçá-la a limpar o vazamento. Ao ouvir o veredito,
a Chevron — os novos donos da Texaco — fugiu do país com todos os seus ativos e
imediatamente iniciou uma ação legal contra o governo do Equador.
A empresa fez uso de um sistema legal paralelo e
secreto que permite que as corporações processem governos se eles implementarem
uma legislação que prejudique seus lucros. Os chamados acordos de disputas
entre investidores e Estados (ISDSs) são litigados em “tribunais corporativos”
criados por nações ocidentais e impostos ao resto do mundo por meio de acordos
comerciais injustos. A empresa de tabaco Philip Morris, por exemplo, tentou
processar o governo australiano quando introduziu embalagens simples em
cigarros. O governo venceu neste caso, mas na maioria das vezes os países
pobres perdem — como o Equador fez em seu caso contra a Chevron. A Chevron
conseguiu evitar a responsabilidade de limpar o que foi sujo por ela mesma; e
recuperou milhões de dólares em custos legais da nação em desenvolvimento.
Não pode haver dúvidas de que o colapso climático terá
um impacto desproporcional no Sul Global. Também está claro que o Sul Global
não terá os recursos para responder às ameaças climáticas de forma eficaz por
causa dos preconceitos profundos em relação aos países ricos que existem no
sistema internacional — preconceitos que são implacavelmente policiados pelos
próprios países ricos. Tudo isso soa muito profundamente injusto, mas pode
realmente ser descrito como “apartheid”?
·
Limitando
a democracia
Na África do Sul, o sistema de apartheid
era baseado na divisão da sociedade em quatro grupos raciais principais:
branco, preto, mestiço e indiano. Apartheid — que literalmente significa
“separação” em africâner — envolvia a imposição de regras rígidas sobre as
interações entre membros de cada um desses grupos, incluindo proibições de
casamento inter-racial e a realocação de sul-africanos negros para “townships”
ou “locais” para impor sua segregação. O acesso à infraestrutura social — de
banheiros públicos a praias — era restrito com base na raça.
Este sistema era supervisionado por um governo
autoritário composto por políticos brancos. O direito de voto era restrito a
brancos, e as regras eram rigidamente aplicadas por uma força policial brutal.
Por fim, o governo do apartheid buscou realocar os sul-africanos negros para
bantustões (terras natais separadas) para impor a separação através das
fronteiras nacionais.
O sistema durou de 1948 até 1994, quando foi
desmantelado graças a décadas de luta. Ativistas antiapartheid, liderados pelo
Congresso Nacional Africano (ANC), se envolveram em manifestações,
desobediência civil e greves e foram recebidos com uma surpreendente violência
policial. Essa violência culminou em massacres: no Massacre de Sharpeville de
1960, sessenta e nove pessoas foram mortas pela polícia sul-africana por protestarem
contra as leis de passe do país; na Revolta de Soweto de 1976, centenas de
crianças em idade escolar foram assassinadas por protestarem contra a imposição
do africâner nas escolas.
Apesar de pedir condenação e sanções internacionais, os
ativistas antiapartheid sul-africanos puderam contar com apoio internacional
muito limitado. A maioria dos países condenou o apartheid sul-africano, mas
muitos governos ocidentais continuaram a cooperar com o regime e se opuseram
aos pedidos de sanções. A África do Sul era tanto a fonte de recursos naturais
críticos — extraídos por trabalhadores negros grosseiramente explorados —
quanto uma aliada na luta contra o comunismo.
Nos Estados Unidos, na década de 1980, Ronald Reagan
buscou aprofundar os laços com a África do Sul. Ele se opôs consistentemente às
sanções contra o regime do apartheid, violou um embargo de armas da ONU à
África do Sul e aprovou um empréstimo de bilhões de dólares do FMI para o país.
Reagan descreveu o CNA como uma “organização terrorista”, e Nelson Mandela foi
considerado um terrorista pelo governo dos EUA até 2008.
Ao mesmo tempo em que condenava o regime do apartheid,
o Reino Unido também manteve laços estreitos com a África do Sul durante todo o
período do apartheid. A África do Sul era uma fonte crítica de recursos
naturais como ouro, e as empresas do Reino Unido tinham uma presença
significativa no país, lucrando com a exploração de trabalhadores negros.
Durante os primeiros anos do apartheid, o Reino Unido liderou a resistência aos
apelos por sanções internacionais — e o Reino Unido continuou a se recusar a
apoiar um programa completo de sanções até a década de 1990.
O governo do Reino Unido também se recusou a interagir
com o CNA até 1986, acreditando que a instituição era parte da ameaça comunista
contra o mundo livre. Em 1987, Margaret Thatcher descreveu o CNA como uma
“organização terrorista típica”. Thatcher estava preocupada que qualquer
reaproximação com o CNA pudesse ter implicações para sua posição “em relação ao
contato com o IRA [o Exército Republicano Irlandês]”.
“O sistema de apartheid era uma
proteção crucial contra a ameaça do populismo econômico. Mas essa ameaça
permaneceu presente no nível da economia mundial.”
Em suma, Estados ocidentais como os Estados Unidos e o
Reino Unido não ajudaram — e às vezes atrapalharam ativamente — a luta contra o
apartheid na África do Sul. Somente quando ficou claro que o apartheid não era
mais sustentável, e uma vez que a ameaça comunista foi neutralizada, os líderes
ocidentais começaram a apoiar a imposição total de sanções e a tentar facilitar
um fim negociado para o regime.
As razões para esse apoio foram além de considerações
de interesse econômico próprio e estratégia política. Como Quinn Slobodian
aponta em seu livro Globalists: The End of Empire and the Birth
of Neoliberalism [Globalistas: O fim do império e o nascimento do
neoliberalismo], muitos pensadores proeminentes dentro do movimento neoliberal
— o movimento ao qual políticos como Thatcher e Reagan estavam alinhados — eram
apoiadores ativos do apartheid sul-africano. As razões para seu apoio dependiam
da maneira como o apartheid servisse como proteção contra o “populismo
econômico”.
Um princípio central do movimento neoliberal era que o
mundo tinha que ser protegido da democracia irrestrita. As massas incivilizadas
e sem educação não podiam ser confiáveis com o voto, pois não tinham sido
disciplinadas para respeitar de modo suficiente “o mercado”. Se os movimentos
populares fossem capazes de exercer as alavancas do poder econômico, eles
introduziriam políticas econômicas “populistas” como nacionalização,
assistência médica gratuita e direitos mais fortes para os trabalhadores. A
ideia era, como Slobodian coloca, que “a democracia pode ter que ser
restringida para certos povos a fim de preservar a estabilidade e a
prosperidade”.
O sistema de apartheid era uma proteção crucial contra
a ameaça do populismo econômico. Mas essa ameaça permaneceu presente no nível
da economia mundial. Então, os neoliberais desenvolveram um projeto para “encapsular”
a democracia em todo o mundo. Eles começaram a criar uma vasta gama de regras e
normas internacionais projetadas para impedir o surgimento da verdadeira
democracia econômica e consolidar o poder dos países ricos sobre os pobres —
regras que continuam a facilitar o domínio do mundo pobre pelo mundo rico até
hoje.
·
A
ordem baseada em regras
Oapartheid sul-africano foi, como vimos,
único. Mas o apartheid em si, infelizmente, não é.
O Estado israelense foi acusado por vários Estados,
grupos de direitos humanos e organizações internacionais de supervisionar um
sistema de apartheid nos territórios ocupados — um sistema tão grosseiramente
injusto que exigiu níveis desumanos de violência para ser aplicado. O governo
do CNA na África do Sul — o mesmo CNA que liderou a luta contra o apartheid na
África do Sul — condenou o apartheid israelense. Nelson Mandela certa vez
observou que “nossa liberdade é incompleta sem a liberdade dos palestinos”.
Acusações de apartheid foram feitas contra muitos
Estados que usam seu poder legal e policial para subjugar certos grupos. Esses
sistemas — sejam ou não classificados formalmente como apartheid — tendem a ter
várias coisas em comum. Tais sistemas visam manter grupos subjugados separados
dos dominantes, concentrar a propriedade de recursos entre os grupos dominantes
e permitir que eles mantenham um domínio absoluto sobre o poder político.
O primeiro ponto é a imposição da separação. Os países
ricos passaram décadas construindo mecanismos legais e violentos cada vez mais
elaborados — desde o fechamento da fronteira EUA-México pelo presidente Joe
Biden, limitando as travessias dos que pediam asilo, até os campos de detenção
não oficiais da União Europeia — para impedir que pessoas de países pobres
entrem no mundo rico. O plano de Rishi Sunak de deportar aqueles que buscam
refúgio no Reino Unido para Ruanda foi apenas um dos exemplos mais extremos de
tal tendência. É bastante claro que, à medida que o colapso climático força
mais pessoas a saírem de seus países natais, esses esforços para policiar a
separação de ricos e pobres aumentarão.
A representação física mais óbvia dessa tentativa de
impor a separação é o crescimento surpreendente no número de muros de fronteira
ao redor do mundo, que aumentou de doze no final da Guerra Fria para setenta e
quatro em 2022. Na Europa, há agora 1.800 quilômetros de muros e cercas
construídos ou em construção nas fronteiras do bloco — o equivalente a doze
Muros de Berlim.
Fanáticos de direita como Marine Le Pen mudaram de uma
posição de negação climática para a afirmação de que os migrantes “não se
importam com o meio ambiente” porque “eles não têm pátria”. Em todas as
democracias ocidentais, o crescente consenso entre partidos sobre a demonização
dos refugiados, combinado com a recusa em conter as causas básicas de seu
deslocamento, provavelmente só fortalecerá a retórica anti-migrante da extrema
direita.
“O apartheid sul-africano foi único.
Mas o apartheid em si, infelizmente, não é.”
O segundo ponto é a propriedade desigual de recursos.
Já vimos como as maiores corporações multinacionais e instituições financeiras
do mundo estão sediadas no Norte Global e lucram com um sistema de imperialismo
que mantém os países pobres em uma posição de subdesenvolvimento. Mas a questão
da propriedade desigual é ainda mais aguda quando falamos de colapso climático.
As maiores empresas privadas de combustíveis fósseis do
mundo estão sediadas no Norte Global e geram lucros enormes para investidores
ocidentais. Essas empresas obtiveram um total de US$ 281 bilhões em lucros
desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, de acordo com a Global Witness. BP,
Shell, Chevron, ExxonMobil e Total obtiveram lucros recordes em 2022 graças ao
aumento dos preços globais de energia, extraindo combustíveis fósseis a custos
baixos — geralmente de países pobres — e vendendo-os aos consumidores a preços
inflacionados. Muitas dessas empresas também recebem enormes subsídios de
governos ocidentais.
No entanto, muitos dos maiores extratores de
combustíveis fósseis não são empresas ocidentais privadas, mas empresas
estatais de energia como a Aramco da Arábia Saudita ou a National Petroleum
Corporation da China. O Ocidente há muito tempo faz vista grossa ao regime
islâmico autoritário brutal da Arábia Saudita (que também foi acusado de
“apartheid de gênero”), vendendo armas ao país em troca de acesso às suas
abundantes reservas de petróleo. Na esteira da devastadora Guerra do Iraque, os
Estados Unidos pressionaram pela privatização do petróleo iraquiano, permitindo
que multinacionais ocidentais entrassem no país e explorassem seus recursos.
Outros grandes produtores de combustíveis fósseis, como
Rússia e China, não são aliados ocidentais — mas seus governantes
irresponsáveis ainda conseguem se
beneficiar do sistema de apartheid climático construído pelo Ocidente. A
máquina de guerra russa, por exemplo, é financiada por receitas de gás natural,
e as emissões causadas pelo conflito são, de acordo com um think tank,
equivalentes às emissões anuais de um país como a Bélgica. Enquanto as elites
extraem riqueza e poder dos recursos naturais de seus países, as pessoas comuns
recebem poucos benefícios e, em vez disso, são forçadas a arcar com os custos
da guerra e do colapso climático.
Finalmente, há a questão do poder político. Já vimos
como o “sistema internacional liberal baseado em regras” é ponderado em favor
de corporações multinacionais e Estados do Norte Global. Os fundamentos legais
desse sistema estão ligados ao projeto neoliberal de encapsular a democracia e
minar a ameaça do populismo econômico. Mas essas desigualdades são ainda mais
significativas quando se trata de colapso climático.
Mia Mottley, a primeira-ministra de Barbados,
argumentou que o atual sistema internacional está impedindo os países pobres de
mitigar os impactos do colapso climático. Esses países enfrentam custos de
empréstimos mais altos, o que significa que são forçados a gastar mais dinheiro
para investir em descarbonização e mitigação das mudanças climáticas, apesar de
terem economias menores. Na verdade, os países pobres já enfrentam o que um
ministro de São Vicente e Granadinas chamou de “escolha de Sofia” entre o
desenvolvimento sustentável e a reconstrução dos estragos dos desastres
naturais. Mottley descreve esse sistema como “a injustiça do mundo
pós-independência”.
Mottley, juntamente com muitos outros acadêmicos,
ativistas e formuladores de políticas no Sul Global, pediu o cancelamento da
dívida para países pobres, juntamente com uma reforma nas instituições de
Bretton Woods para facilitar maiores fluxos de capital para o mundo pobre para
facilitar a descarbonização e a mitigação das mudanças climáticas. A Bridgetown
Initiative defende um aumento nos empréstimos para países pobres por
meio do FMI e bancos multilaterais de desenvolvimento, a transformação da
governança de instituições financeiras internacionais para torná-las mais
equitativas e inclusivas, e a criação de um sistema de comércio internacional
que apoie a transformação verde.
Mas os líderes mundiais falharam em atender a esses
apelos. Mottley criticou os líderes mundiais reunidos na COP26, observando que
sua “falha em fornecer financiamento crítico suficiente para pequenas nações
insulares é medida em vidas e meios de subsistência em nossas comunidades”.
Essas falhas foram, ela argumentou, “imorais e… injustas”. Na ausência de uma
transformação fundamental nas regras que regem o comércio e o investimento
internacionais, os países pobres serão deixados sozinhos para lidar com o
impacto do colapso climático — uma crise que eles não causaram.
Fonte:
Tradução Pedro Silva, na Jacobin Brasil
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