quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Gênero não binário: o que isso quer dizer?

Não binário é um termo “guarda-chuva” para definir um indivíduo que não se reconhece nem como homem, nem como mulher. A identidade de gênero não binária pode incluir diversas outras identidades, como gênero fluido (que “flui” entre dois ou mais gêneros), agênero (sem gênero), nonpuer ou nonpuellaqueer, andrógine – e a lista continua.

Em outras palavras, pessoas trans não binárias são aquelas que não se encaixam em nenhum dos dois gêneros socialmente aceitos. Pessoas que se reconhecem no gênero feminino ou masculino, portanto, seriam binárias, em oposição às pessoas não binárias. Pode parecer confuso no começo, mas basta pensar que os não binários se veem à margem da dualidade homem versus mulher, que constitui a norma de gênero na nossa sociedade.

Em 2016, a Comissão dos Direitos Humanos da cidade de Nova York passou a reconhecer 31 diferentes nomenclaturas que poderiam ser usadas em âmbito profissional e oficial, em uma medida histórica de reconhecimento à diversidade de gênero. No entanto, algumas pessoas não binárias defendem que cada identidade diz respeito ao indivíduo, que é o único com autonomia para designar o próprio gênero.

O movimento Orientando.org, por exemplo, disponibiliza uma lista com mais de 300 identidades não binárias possíveis, oferecendo uma orientação às pessoas que ainda não estão tão familiarizadas com os termos. Mas a regra é clara: não há regra. É você quem sabe qual é seu próprio gênero – e é você quem escolhe seus pronomes.

Linguagem não binária ou neutra

A língua portuguesa não possui gênero neutro – ou seja, os gêneros masculino e feminino são marcados na nossa linguagem cotidiana, inclusive na nomeação de substantivos como “a cadeira” (substantivo feminino) ou “o armário” (substantivo masculino).

Uma vez que o idioma pátrio é, por natureza, binário, as pessoas não binárias podem encontrar dificuldade para se autonomear adequadamente – daí a importância de adaptar a linguagem para essa realidade.

As primeiras tentativas de inserir a neutralidade no discurso cotidiano em língua portuguesa foram marcadas pela inclusão do símbolo @ e, posteriormente, da letra x para substituir a marcação de gênero feminino ou masculino, representada, respectivamente, pelas letras a e o. Essas primeiras alternativas esbarraram em duas questões: acessibilidade e dificuldade de transmitir a neutralidade na linguagem oral.

Isso porque softwares de leitura desenvolvidos para pessoas com deficiência visual não conseguem reconhecer palavras como “todxs” ou “tod@s”, emitindo sons confusos ao tentarem decifrar as marcações de neutralidade. Pessoas com dislexia e surdez também manifestaram dificuldade para compreender textos que se utilizavam desse tipo de recurso para manter a neutralidade de gênero.

Além disso, havia ainda a impossibilidade de pronunciar palavras como “todxs” ou “tod@s” numa palestra, aula ou conversa informal. Para resolver o problema, as desinências indicadoras de gênero (a e o) seriam substituídas por e. Assim, as palavras “todas” e “todos”, por exemplo, tornam-se “todes” na linguagem neutra.

Os pronomes neutros

Além das desinências indicadoras de gênero, a linguagem neutra também pressupõe adaptações nos pronomes relativos às pessoas. 

Para se referir a pessoa que se identifica exclusivamente como mulher, por exemplo, é usado: “Ela é bonita”.

Para se referir a uma pessoa não binária é usado o pronome neutro elu/delu: “Elu é bonite”. A escolha do u marca a neutralidade nos casos em que a letra e já é utilizada para marcar o gênero nos pronomes (como no pronome masculino “ele”). Para pronomes possessivos, a regra é a mesma: “A bolsa é dela” se tornaria “A bolsa é delu”, em linguagem não binária.

Não binários são transgêneros?

Uma pessoa transgênero é aquela que não é cisgênero, ou seja, que não se identifica com o gênero que lhe foi atribuído no nascimento. Simplificando: existem dois tipos de transgênero – os binários (como as mulheres trans, que foram designadas homens no nascimento, mas não se identificam como tal) e os indivíduos não binários (como os genderfluid, que podem ter sido designados como menina ou menino no nascimento, mas não se identificam nem com um gênero, nem com o outro).

O ideal é sempre perguntar e falar sobre quais nomes e pronomes a pessoa gostaria de ser chamada. No entanto, basicamente, você pode utilizar os pronomes “ele” e “dele” para indivíduos que se identificam como homens trans, e “elu” e “delu” para aqueles que se identificam como não binários.

Adicionalmente, a bandeira do orgulho não binário é diferente da bandeira trans. Enquanto a bandeira trans é composta por listras brancas, rosas e amarelas, a bandeira que representa quem se identifica como não binário é composta por quatro faixas horizontais, nas cores: amarelo, branco, roxo e preto e foi criada em 2014, por Kye Rowan.

O que é identidade de gênero?

identidade de gênero diz respeito à maneira como uma pessoa pode se reconhecer e se identificar: como mulher, homem ou não binária. Pessoas cis, ou cisgêneras, são aquelas cuja identidade de gênero corresponde ao sexo que lhes foi atribuído no nascimento.

Por outro lado, transgênero é um termo genérico usado para descrever “toda a gama de pessoas cuja identidade de gênero não está em conformidade com o que é tipicamente associado ao sexo atribuído no nascimento”.

A identidade de gênero é diferente da expressão de gênero. Enquanto a identidade de gênero é um senso interno de si, associado à subjetividade da pessoa, a expressão de gênero é como uma pessoa expressa externamente sua identidade de gênero. É importante notar que a expressão de gênero diz respeito à aparência, podendo ou não corresponder à identidade de gênero de uma pessoa.

O gênero também é diferente do sexo e da orientação sexual. Embora sexo se refira à biologia de uma pessoa – cromossômica, hormonal e anatômica –, gênero é um termo construído socialmente, culturalmente e ambientalmente.

Orientação sexual

A orientação sexual se refere ao interesse sexual e/ou romântico de uma pessoa por outras. É importante ressaltar que esse interesse (afetivo ou sexual) independe de gênero. Os conceitos são, portanto, autônomos – e vale o bom senso na hora de classificar as pessoas.

Uma mulher trans (ou seja, designada homem ao nascer) pode ser lésbica (caso se interesse por uma mulher cis e/ou trans). Da mesma forma, um homem trans pode ser heterossexual (se tiver interesse por mulheres cis e/ou trans) ou homossexual (caso seu afeto e/ou sexualidade estejam voltados para pessoas do gênero masculino).

Assim como existem diversos gêneros, também existem diversas orientações sexuais, que podem variar dependendo de cada indivíduo. Em ambos os casos, o respeito sana todas as dúvidas: perguntar como a pessoa deseja ser tratada e respeitar sua autodesignação é essencial.

 

Fonte: eCycle

 

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