terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Tariq Ali: O caminho para Damasco

Ninguém, exceto alguns comparsas corruptos, derramará lágrimas com a partida do tirano. Mas não deve haver dúvidas de que aquilo que estamos testemunhando na Síria hoje é uma grande derrota, um mini 1967 para o mundo árabe. Enquanto escrevo, as forças terrestres israelenses entraram neste país maltratado. Ainda não há um acordo definitivo, mas algumas coisas estão claras.

Bashar al-Assad tornou-se um refugiado em Moscou. O seu aparato baathista fez um acordo com o líder da OTAN Oriental, Recep Tayyip Erdoğan (cujas brutalidades em Idlib avultam), oferecendo o país de bandeja. Os rebeldes concordaram que o primeiro-ministro de Bashar al-Assad, Mohammed Ghazi al-Jalali, deve continuar a supervisionar o Estado por enquanto. Será essa uma forma de “assadismo” sem Bashar al-Assad? Ou seja, um regime brutal mesmo que o país esteja prestes a se afastar geopoliticamente da Rússia e do que resta do “Eixo da Resistência”?

Tal como o Iraque e a Líbia, onde os EUA têm possessões petrolíferas, a Síria agora se tornará uma colônia compartilhada americana e turca. A política imperial dos EUA, globalmente, consiste em dividir países quando eles não podem ser engolidos por inteiro.

O objetivo é remover toda soberania significativa para afirmar a sua hegemonia econômica e política. Isso pode ter começado “acidentalmente” na antiga Iugoslávia, mas desde então se tornou um padrão. Os satélites da União Europeia usam métodos semelhantes para garantir que nações menores (Geórgia, Romênia) sejam mantidas sob controle. A democracia e os direitos humanos têm pouco a ver com isso. Trata-se de uma luta global para dominar o mundo.

Em 2003, depois que Bagdá caiu diante dos EUA, o exultante embaixador israelense em Washington parabenizou George W. Bush e o aconselhou a não parar por aí, mas a seguir para Damasco e Teerã. No entanto, a vitória dos EUA teve um efeito colateral não intencional, mas previsível: o Iraque se tornou um estado xiita remanescente, fortalecendo enormemente a posição do Irã na região. O desastre ocorrido nesse país, e posteriormente na Líbia, mostrou que Damasco deveria esperar por mais de uma década antes que recebesse a devida atenção imperial. Enquanto isso não acontecia, o apoio iraniano e russo a Assad impediu uma mudança rotineira de regime.

Agora, a expulsão de Bashar al-Assad criou um tipo diferente de vácuo – o qual, provavelmente, será preenchido pela Turquia da OTAN e pelos EUA por meio da “ex-al-Qaeda”, bem como por Israel. Ascenderá Hayat Tahrir al-Sham, uma reposição de Abu Mohammad al-Jolani; após a sua passagem por uma prisão dos EUA no Iraque, ele aparecerá agora, normalmente, como um lutador pela liberdade. A contribuição de Israel para que isso acontecesse foi enorme: destruiu parcialmente Beirute por meio de rodadas de bombardeios massivos; em adição, conseguiu enfraquecer e desativar o Hezbollah.

Na esteira desta vitória, é difícil imaginar que o Irã será deixado de lado. Embora o objetivo final tanto dos EUA quanto de Israel seja a mudança de regime, degradar e desarmar o país vem a ser a primeira prioridade. Este plano mais amplo para remodelar a região ajuda a explicar o apoio irrestrito dado por Washington e seus representantes europeus ao contínuo genocídio israelense na Palestina. Após mais de um ano de matança, o princípio kantiano de que as ações do Estado devem ser tais que possam se tornar uma lei universalmente respeitada parece uma piada de mau gosto.

Quem substituirá Bashar al-Assad? Antes de sua fuga, alguns relatos sugeriram que se o ditador fizesse uma reviravolta de 180 graus – rompendo com o Irã e a Rússia e restaurando boas relações com os EUA e Israel, como ele e seu pai fizeram antes – então os americanos poderiam se inclinar para mantê-lo. Agora é tarde demais, mas o aparato estatal que o abandonou declarou prontamente a sua disposição para colaborar com quem quer que seja. Recep Erdoğan fará o mesmo?

O Sultão dos Asnos certamente desejará que o seu próprio povo, criado em Idlib desde que eram crianças-soldados, esteja no comando; a Síria deve ficar sob o controle de Ancara. Se ele conseguir impor um regime fantoche turco, será outra versão do que aconteceu na Líbia. Mas é improvável que ele obtenha tudo como quer e de seu jeito. Recep Erdoğan é forte em demagogia, mas fraco em ações.

E, dada as circunstâncias, os EUA e Israel podem vetar um governo renovado da Al-Qaeda por razões que lhes são próprias. Eles o farão apesar de terem usado os jihadistas para lutar contra Assad. Independentemente disso, é improvável que o regime substituto abole a Mukhābarāt (polícia secreta), ilegalize a tortura ou ofereça um governo responsável.

Antes da Guerra dos Seis Dias, um dos componentes centrais do nacionalismo e da unidade árabe era o Partido Baath, que governava a Síria e tinha uma base forte no Iraque; o outro, mais poderoso, era o governo de Nasser no Egito. O baathismo sírio durante o período pré-Assad era relativamente esclarecido e radical. Quando conheci o primeiro-ministro Yusuf Zuayyin em Damasco, em 1967, ele explicou que a única maneira de seguir em frente era flanquear o nacionalismo conservador, tornando a Síria “a Cuba do Oriente Médio”.

No entanto, o ataque de Israel naquele ano levou à rápida destruição dos exércitos egípcio e sírio, o que abriu caminho para a morte do nacionalismo árabe nasserista. Yusuf Zuayyin foi derrubado e Hafez-al Assad foi impulsionado ao poder com apoio tácito dos EUA – algo muito parecido com o que ocorreu com Saddam Hussein no Iraque, a quem a CIA forneceu uma lista dos principais quadros do Partido Comunista Iraquiano. Os radicais baathistas em ambos os países foram descartados; o fundador do partido, Michel Aflaq, renunciou em desgosto quando viu para onde ele estava indo.

Essas novas ditaduras baathistas foram, no entanto, apoiadas por certas seções da população, desde que fornecessem uma rede de segurança básica. O Iraque sob Saddam e a Síria sob Assad do pai e do filho foram ditaduras brutais, mas sociais. O pai Hafez al-Assad veio da camada média do campesinato e aprovou várias reformas progressivas para garantir que sua classe fosse mantida feliz, reduzindo a carga tributária e abolindo a usura. Em 1970, a grande maioria das aldeias sírias tinha apenas luz natural; os camponeses acordavam e iam dormir com o sol. Algumas décadas depois, a construção da barragem do Eufrates permitiu a eletrificação de 95% delas, com energia fortemente subsidiada pelo Estado.

Foram essas políticas, e não apenas a repressão, que garantiram a estabilidade do regime. A maioria da população fez vista grossa à tortura e à prisão de cidadãos nas cidades. Bashar al-Assad e seu grupo acreditavam firmemente que o homem era pouco mais do que uma criatura econômica e que, se necessidades desse tipo fossem satisfeitas, então apenas uma pequena minoria se rebelaria: “uma ou duas centenas no máximo” – observou Assad certa vez – eram do tipo para os quais a prisão de Mezzeh havia sido originalmente planejada”).

A eventual revolta contra o jovem Bashar al-Assad em 2011 foi desencadeada por sua virada para o neoliberalismo e a exclusão do campesinato. Quando se calcificou em uma amarga guerra civil, uma opção teria sido um acordo de compromisso e um acordo de divisão de poder – mas os aparatchiks, que atualmente estão negociando com Recep Erdoğan – aconselharam-no a ser contra qualquer acordo desse tipo.

Durante uma das minhas visitas a Damasco, o intelectual palestino Faisal Darraj confidenciou que o agente do Mukhābarāt que lhe deu permissão para deixar o país para conferências no exterior sempre impôs uma condição: “Traga de volta o mais recente Baudrillard e Virilio”. É sempre bom ter torturadores educados, como o grande romancista árabe Abdelrahman Munif – um saudita de nascimento e intelectual líder do Partido Baath – poderia ter dito.

O romance de Abdelrahman Munif de 1975, Sharq al-Mutawassit (A leste do mediterrâneo), é um relato devastador de tortura e prisão política. O crítico literário egípcio Sabry Hafez descreveu esse livro dizendo que tratava de “poder e ambição excepcionais, aspirando a escrever a prisão política definitiva em todas as suas variações”. Quando falei com Abdelrahman Munif nos anos noventa, ele disse, com um olhar triste no rosto, que esses eram os temas que dominavam a literatura e a poesia árabes: um comentário trágico sobre o estado da nação árabe. Hoje, isso mostra poucos sinais de mudança. Mesmo que os rebeldes tenham libertado alguns dos prisioneiros de Bashar al-Assad, eles logo os substituirão pelos seus.

Os EUA e a maior parte da União Europeia passaram o último ano sustentando e defendendo com sucesso um genocídio em Gaza. Todos os estados clientes dos EUA na região permanecem intactos, enquanto três não clientes – Iraque, Líbia e Síria – foram decapitados. A queda deste último remove uma linha de suprimento crucial que liga várias facções antissionistas.

Do ponto de vista de estratégia geopolítica, é um triunfo para Washington e Israel. Isso deve ser reconhecido, mas o desespero não vale nada. Uma resistência eficaz se reconstituirá a depender do próximo confronto entre Israel e um Irã sitiado, que está envolvido em negociações subterrâneas diretas com os EUA e certos membros da comitiva de Donald Trump, ao mesmo tempo em que acelera o desenvolvimento de seus planos nucleares. A situação está repleta de perigos.

 

¨      Assad é derrubado na Síria, ofensiva turca, agressão israelense e os ianques levantam outra pedra

Derrubar o regime de Assad na Síria tem sido uma pedra fundamental no plano do imperialismo ianque para “um novo Oriente Médio” há mais de 20 anos. Por meio de sanções, subversão e agressão militar direta, usando representantes e potências regionais como Turquia e Israel, os ianques trabalharam duro para atingir esse objetivo. Agora, um ex-filiado da Al-Qaeda fez o trabalho.

Os notórios assassinos da Frente al-Nusra (um desdobramento da al-Qaeda), rebatizados como Hayat Tahrir al-Sham (HTS) e reestilizados pelo Exército turco, lideraram uma ofensiva blitzkrieg a partir de suas bases no protetorado turco no noroeste da Síria e conquistaram Damasco em pouco mais de uma semana. Bashar al-Assad foi levado de avião por seus patronos estrangeiros e agora desfruta do adorável inverno russo em Moscou.

Esse fim surpreendentemente abrupto do regime de Assad certamente tem muitos motivos. Sem dúvida, muitos comandantes receberam enormes subornos para capitular diante de um inimigo, em vários aspectos, inferior, mas eles só se arriscariam a virar casacas em uma situação em que o Hezbollah estivesse seriamente enfraquecido e o Irã tivesse que se concentrar na autodefesa. Ainda assim, o principal motivo do colapso do regime foi a falta de apoio popular. As massas não defenderam Assad e seu exército não tinha moral.

Agora, a luta para conquistar um pedaço da Síria, tão grande quanto possível, começou.

As hordas genocidas e sanguinárias dos sionistas estão ocupando uma extensa área ao sul de Damasco, fecharam a fronteira para isolar a Palestina e poder lançar um ataque terrestre à capital síria a qualquer momento. Simultaneamente, a força aérea israelense bombardeia indiscriminadamente todas as instituições e estruturas do país que eles consideram de importância militar, de modo a deixar o novo regime sem meios de se defender contra a ira dos “escolhidos”.

A Turquia deixou as tropas do chamado Exército Nacional Sírio (ENS) – que, como prova de seu caráter “nacional sírio”, tem o hábito de hastear a bandeira da República Turca onde quer que vá – soltas nas áreas controladas pelas SDF (dominadas pelo YPG). Bombardeios maciços, como sempre visando o máximo possível de infraestrutura civil, fazem parte da guerra neo-osmânica. O Estado turco se considera o vencedor dessa disputa perversa e quer ter controle sobre seu prêmio. Empurrar os curdos para trás na Síria, fortalecer sua aliança com os mercenários de Barsani e colocar as bases de Kandil do PKK sob forte pressão, tudo isso compõe uma excelente estrutura para as negociações em andamento com Öcalan sobre uma “solução pacífica para o problema curdo”. O que se obtém na mesa de negociação é apenas um reflexo dos resultados no campo de batalha – os estrategistas turcos sabem disso muito bem.

As forças da SDF cumpriram seu papel como “as botas no chão” que os ianques precisavam na Síria. Elas foram úteis para dividir o país. Elas jogaram junto, acreditando que poderiam usar a colaboração com a superpotência imperialista para atingir seus próprios objetivos. Agora, o futuro da região de Rojava está em jogo e não há dúvida de que os ianques sacrificarão os curdos quando considerarem oportuno. Com os aliados turcos no comando de Damasco, o ENS avançando e o exército turco intensificando seus ataques, as forças da SDF podem tentar se aproximar dos ianques e fazer uma aliança profana com os israelenses, ou fazer a única coisa que lhes daria uma perspectiva real de sucesso, ou seja, confiar apenas em suas próprias forças – um caminho que, obviamente, é difícil e torturante, mas ainda assim o único caminho que realmente atende aos interesses do Movimento Nacional Curdo.

Blinken apresentou três requisitos muito modestos que a Frente al-Nusra/HTS precisa aceitar para receber a bênção formal dos ianques: rejeitar o “terrorismo”, destruir as armas químicas (existentes ou não, os israelenses já cuidaram disso) e respeitar os direitos das mulheres e das minorias. Ou seja, simplesmente por atender às exigências dos imperialistas norte-americanos, os “terroristas” de ontem podem se tornar “estadistas” – o que só prova mais uma vez que o termo “terrorista” para os imperialistas não passa de um rótulo político que depende da conjuntura e não tem nada a ver com a prática de um partido, organização ou Estado. Ainda assim, se a liderança da Frente al-Nusra/HTS fizer um acordo com os ianques e os israelenses, eles perderão toda a credibilidade vista por suas fileiras. Se uma pessoa que adotou o nome al-Jolani como seu nome de guerra, uma referência direta às Colinas de Golã ocupadas, se curvar aos sionistas, obviamente terá um problema de imagem.

O colapso do regime de Assad no momento atual não é algo bom para a Frente de Resistência Nacional da Palestina. Entre outros, o próprio Yahya al-Sinwar elogiou o papel da Síria no fortalecimento dos laços entre o Hezbollah e a resistência palestina. Historicamente, importantes organizações palestinas mantiveram relações muito próximas com a Síria e, no que diz respeito à logística do chamado “Eixo da Resistência”, é claro que ela desempenhou um papel central. Mas, ao contrário do que os imperialistas pregam, a Frente de Resistência Nacional da Palestina não é “um tentáculo”, “proxy” de ninguém. Ela depende do povo da Palestina e de mais ninguém. Mesmo que as condições agora, momentaneamente, tenham se tornado mais difíceis, enquanto a resistência palestina mantiver um controle firme da arma, confiar no povo e mantiver a Frente Unida, nenhuma força no mundo será capaz de derrotá-la.

Atualmente, tudo parece indicar que a situação na Síria se tornará muito semelhante à do Iraque. Diferentes organizações armadas controlarão diferentes partes do país, com ocupantes estrangeiros em seu solo (russos, turcos, israelenses e ianques). Bush (o filho, o viciado) proclamou missão cumprida quando Saddam Hussein se escondeu, mas, apesar de tudo o que os ianques fizeram (genocídio, balcanização), o tiro saiu pela culatra. O mesmo acontecerá com a Síria. Os ianques levantaram outra pedra que cairá sobre seus próprios pés.

¨      Refúgio russo de Assad é mistério 7 dias após fuga da Síria

Há uma semana que o presidente deposto da SíriaBashar al-Assad, encontrou refúgio na Rússia. Desde então, não há notícias sobre sua condição e a de sua família, embora Moscou tenha mantido o mesmo sigilo no caso de outros líderes aos quais concedeu asilo.

Embora tenha sido o Kremlin que confirmou a presença de al-Assad em território russo no domingo passado, o porta-voz da presidência, Dmitry Peskov, se esquivou da questão durante toda a semana em suas coletivas de imprensa.

Uma palavra a mais poderia colocar em risco o futuro de suas bases militares no país árabe, portanto, os altos funcionários russos também se abstiveram de criticar abertamente aqueles que mais se beneficiaram com a queda do regime: Turquia, Israel e EUA.

<><> À espera de Putin

Diplomatas sírios e iranianos confirmaram que a família do ditador deposto está na Rússia, portanto, não há dúvidas sobre seu paradeiro. Mas eles não forneceram mais detalhes.

O filho mais velho dos Assad, Hafez, concluiu seu doutorado em uma universidade na capital russa, onde a família teria comprado vários apartamentos de luxo na chamada "Moscow City", que abriga alguns dos arranha-céus mais altos da Europa, de acordo com a mídia local.

Parece que todos estão esperando que o presidente russo, Vladimir Putin, faça uma declaração sobre o assunto, até porque foi ele quem apostou em sustentar o regime, enviando tropas para o país árabe em 2015.

Putin participou de vários eventos oficiais nesta semana, mas não fez alusão a essa questão, o que mostra que o revés geopolítico para o Kremlin tem sido notável.

Vão longe os tempos da encenação da vitória na Síria, com um concerto histórico realizado em maio de 2016 nas ruínas de Palmira, incluindo um discurso do chefe do Kremlin por videoconferência.

No entanto, a espera não será longa. Ele deve abordar a questão em sua coletiva de imprensa anual em 19 de dezembro.

No caso mais recente do ucraniano Viktor Yanukovych, que Moscou resgatou em fevereiro de 2014, o Kremlin o considerou diretamente responsável pelo seu destino por ter feito ouvidos moucos aos conselhos para reprimir duramente os protestos da oposição.

<><> "A culpa é de Assad"

A propaganda russa demonstrou claramente a mudança na maré em relação a Assad. Em poucos dias, a mídia deixou de rotular os rebeldes da Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham, HTS) como "terroristas" para chamá-los pura e simplesmente de "oposição armada", com a qual Moscou já entrou em contato, de acordo com uma declaração do Ministério das Relações Exteriores russo na quinta-feira.

Tudo para não constranger o Exército russo, incapaz de lutar em duas frentes ao mesmo tempo e atolado em sua atual ofensiva no Donbass.

Assad se tornou uma figura incômoda para a Rússia, já que, assim como os líderes depostos do Iraque, da Líbia e da Ucrânia, o Kremlin não quer que se espalhe a impressão de que seu regime autoritário também tem pés de barro.

Se alguém tinha alguma dúvida, o vice-chefe do Conselho de Segurança, Dmitry Medvedev, tratou de colocar os pontos nos is após sua viagem à China.

"A situação interna dependia da administração, do governo Assad. Infelizmente, o Exército sírio demonstrou ser incapaz, o que provavelmente é uma confirmação dos erros de cálculo cometidos durante a administração estatal", disse o ex-presidente russo.

Ele também expressou sérias dúvidas de que as futuras autoridades serão capazes de garantir a coexistência entre os diferentes grupos étnicos do país.

"No antigo modelo aplicado pelos Assad, pai e filho, (o consenso) foi alcançado por algum tempo. Não estou falando agora sobre a que custo e com que consequências", disse ele, de acordo com a agência de notícias Tass.

Página virada para sírios na Rússia

Seja como for, a grande comunidade síria na Rússia já virou a página. A embaixada em Moscou baixou a bandeira nacional na segunda-feira e hasteou a bandeira da oposição.

Grupos de sírios se reuniram em torno da embaixada nesta semana para mostrar seu apoio às novas autoridades em Damasco.

"A fuga vergonhosa e humilhante, na calada da noite e sem qualquer senso de responsabilidade nacional do chefe do sistema confirma a necessidade de mudança e desperta a esperança de um futuro melhor", disse Bashar Jaafari, embaixador sírio na Rússia e que foi representante na ONU entre 2006 e 2020.

Jaafari disse ao canal de língua árabe RT que a queda do regime em menos de duas semanas confirma sua "impopularidade e falta de apoio tanto na sociedade quanto nas fileiras das Forças Armadas".

 

Fonte:  A Terra é Redonda

 

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