Elvino Bohn
Gass: A direita e o mercado - mentira, desumanização e lucro
A propagação
de fake news em torno da internação do presidente Lula mostrou, de novo, a
morbidez que marca a atuação da extrema direita brasileira. Mas o comportamento
doentio se fez notar, também, no mercado financeiro. Houve um entrelaçamento
preocupante entre desinformação, interesses econômicos e um discurso que
instrumentaliza a fragilidade humana para avançar sua agenda.
Não é difícil
localizar a origem desse horror. Basta perguntar: a quem interessa espalhar
especulações infundadas sobre a capacidade de Lula liderar o país? Não é
propriamente novidade: o esterco político é o que alimenta a máquina de ódio da
direita e mantém sua base radical mobilizada.
Mas, e o
mercado financeiro? Como justificar que a eventual e temporária fragilidade de
um líder democrático, possa gerar oscilações nos preços de ações e no câmbio?
Como explicar que a internação hospitalar de um presidente seja motivo para
gerar especulações com potencial de gerar ganhos milionários?
Cabe
perguntar: se a direita se retroalimenta com o próprio estrume, que tipo de
dejeto nutre os operadores do mercado?
O uso
interesseiro de rumores sobre a saúde de um indivíduo reflete uma visão
desumanizadora da política, como também a morbidez de um modo de fazer
economia.
Para esses
grupos, a condição de debilidade física é vista não como um momento de
solidariedade ou preocupação, mas como uma oportunidade de explorar o medo e a
instabilidade para disso extrair ganhos políticos e, como se viu, lucros. É o
que explica o comportamento obsessivo de segmentos radicais em criar narrativas
que deslegitimem qualquer figura ou instituição que os contrarie e atrapalhe
seus objetivos sórdidos.
Lula, afinal,
sempre venceu eleitoralmente a direita e seus governos priorizam o povo, não o
mercado.
A aliança
perversa entre a propagação de fake news e os interesses econômicos que
alimentam tanto a máquina de ódio da extrema direita quanto o mecanismo da
especulação financeira têm um só objetivo: retirar de Lula qualquer poder de
decisão.
O episódio,
não é apenas um exemplo de manipulação política, mas também é revelador de um
comportamento que transforma a vulnerabilidade humana em moeda de lucro e
poder. É a face mais crua do capitalismo.
¨ O lícito e o ilícito. Por
Márcio dos Santos
Para Adam Smith, o nome por trás da celebre obra “a riqueza das nações”
o Estado deveria “(garantir) o sistema óbvio e simples da liberdade natural”,
de acordo com Eduardo Giannetti (p. 121). Além disso “o esforço uniforme,
constante e ininterrupto de cada homem a fim de melhorar a suas condições”.
Seriam essas duas questões fundamentais para o desenvolvimento da economia.
Adam Smith escreve A riqueza das nações em 1776, no
limiar da acumulação capitalista que veremos logo a seguir, com o decurso
natural da história e a exploração das nações ocidentais sobre o continente
afro-asiático e o latino americano. Esse esforço sim, me parece, muito mais
evidente quando falamos das riquezas dessas nações que hoje identificamos com o
Norte e sua influência com o Sul Global.
Em um excelente artigo publicado pelo portal Outras Palavras no
dia 27 de novembro de 2024, Grieve Chelwa fala do viés colonial no combate a
corrupção, mostrando como mega-corporações, o FMI e algumas ONGs usaram o
discurso da “transparência” para capturar recursos do Estado. A situação em
todo o continente africano continua a chamar a atenção pela exploração de
empresas ocidentais, como é o caso de uma empresa Suíça que atua na Zâmbia
extraindo minério a preços baixíssimos e exportando o mesmo minério para a
comercialização no mercado europeu a preços exorbitantes.
A lógica é antiga, o modos operandis, já conhecido. Instituições
como o FMI sangraram a América Latina durante boa parte do século XX,
concedendo empréstimos a países como o Brasil em troca de pacotes
liberalizantes como privatizações de bens públicos, que fica mais evidente nos
anos FHC. A relação exploratória do FMI com a América Latina fica bem
evidenciada no livro de Eduardo Galeano As veias abertas da América
Latina. Eduardo Galeano, como grande jornalista, dá a muito historiador,
uma aula de como se escreve a história, isto é, uma história denúncia. Uma
história que, que contextualiza, que fala direto com as pessoas e que abre
espaços para a discussão das questões por ele levantadas nessa obra, que em
certos aspectos, continua ainda muito atual.
De modo geral, de acordo com as observações do portal da agriq,
o tipo de agricultura que predomina no Brasil é a agricultura produzida em
larga escala, ou o agronegócio, como nos acostumamos a falar. Como expõe o
portal, a mais de 20 anos no mercado, a empresa auxilia agrônomos a emitir
receitas agronômicas de maneira inteligente.
Devemos olhar com grande interesse para um projeto do Padre João (PT-MG)
que é coordenador da frente parlamentar pela taxação de agrotóxicos no Brasil,
um projeto que valoriza a nossa agroecologia e a produção orgânica, o que, abre
espaço para que o Brasil consiga com essa taxação, aumentar suas receitas. Essa
situação, claro, incomodou bastante o agronegócio com a falácia de que a
taxação dos agrotóxicos aumentaria o preço do valor dos produtos da cesta
básica brasileira.
Está na hora de admitirmos que, embora, tenhamos uma tradição na
produção agrícola, a nossa produção de alimentos é infinitamente menor se
compararmos com o que produz o agronegócio, sempre com vistas ao mercado
externo e que políticas de segurança alimentar são de extrema importância em um
cenário em que, em 2022, observando os números da Rede Brasileira de Pesquisa
em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (REDE PESSAN), divulgada em
junho de 2022, um total de 33,1 milhão de pessoas não tem o que comer no
Brasil.
Não levantamos dados mais recentes, mas os indícios de retomada da
economia, pós-pandemia, nos levam a crer que o quadro não tenha mudado por
completo. Eric Hobsbawn, quando escreveu A era do extremos relata
que só depois da segunda guerra mundial a economia europeia conseguiu produzir
excedente de alimento, pela primeira vez na história daquele continente. A FAO
(Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), por meio do
Instituto Akatu, estimula que 1,3 bilhão de toneladas de alimentos por ano no
mundo, o que corresponde a 1/3 do que é produzido anualmente, são
desperdiçados.
Mais da metade das pessoas que passam fome no mundo estão na Ásia. Já a
prevalência da insegurança alimentar moderada ou grave permaneceu praticamente
inalterada na África, na Ásia, na América do Norte e na Europa entre os anos de
2022 e 2023 e se agravou na Oceania. Parece que a conta não tem fechado. Se
desperdiçamos tanta comida, porque tanta gente pelo mundo ainda passa fome?
Autores como Melhem Adas, continuam, como no século XIX, atribuindo a fome ao
crescimento populacional, o que não faz sentido tamanha a capacidade produtiva
observada no mundo hoje.
O livro de Eduardo Gianetti Vicios publicos, beneficios privados procura
traçar uma analise relacionando o desenvolvimento econômico, científico e
tecnológico com a moral humana que, em alguns momentos, como explicitado no
primeiro capítulo da obra, viveria em uma espécie de neolítico moral. É
evidente o progresso e o avanço que encontramos na ciência e na tecnologia dos últimos
cem anos, e é claro que, em parte, podemos atribuir esse avanço
tecno-científico as péssimas condições dos operários ingleses do século XIX, ao
imperialismo europeu sobre a Ásia e a África e as duas guerras. Hoje bombas
“inteligentes” bombardeiam a faixa de Gaza e o Líbano em uma guerra, não
necessariamente de Israel contra o Hamas, mas de Israel contra o povo
palestino, onde, estima-se que mais de 13,4 mil e 17,5 mil pessoas tenham
sofrido ferimentos graves nas extremidades e pelo menos 3,1 mil tiveram membros
amputados de acordo com o portal O globo.
Quando Thomas Hobbes falava do “Estado de natureza” apregoava que o medo
da morte violenta tornava necessário a ação de um soberano que tomaria para si
o monopólio da justiça e garantia da ordem. Mas, como falar de segurança,
quando crianças passam fome, são vítimas de ataques a bombas que as ferem ou as
matam, por ações orquestradas pelo próprio Estado que devia mantê-las em
segurança? Nesse aspecto, os governos do mundo, principalmente do Ocidente, são
como crianças brincando com brinquedinhos perigosos.
Não faço aqui um manifesto antitecnologia, muito menos anticiência, mas
a nossa capacidade de gerar danos salta aos nossos olhos, enquanto essas mesmas
tecnologia e ciência nos permitem produzir comida suficiente para alimentar a
todos, ainda falamos no século XXI de fome e insegurança alimentar. A lógica
pode ser aplicada a resolução de problemas diversos que se apresentam a nós no
dia-a-dia, mas não podemos imputar as pessoas a lógica, porque a lógica é fria.
Costumo conversar com meus alunos que abandonar um carro velho e
problemático que nos causa dor de cabeça e prejuízo financeiro é logicamente
aceitável, mas que de modo algum podemos aplicar essa mesma lógica a nossos
pais ou avós que, adoecidos, precisam de remédios caros para tratamentos caros,
porque a moral nos impede de agir assim com pessoas, pelo fato evidente de
pessoas não serem objetos materiais.
O que é visível é que o debate sobre os valores toleráveis do que é
licito ou ilícito dentro da sociedade não se desenvolveram junto com a ciência
e a tecnologia, e ao contrário do que acreditava Adam Smith no século XVIII, o
simples desejo do indivíduo em querer melhorar a sua própria condição não
garante que a sociedade atinja altos índices de desenvolvimento econômico e de
riqueza. A própria “mão invisível” do Estado foi responsável pela maior crise
do sistema capitalista já vista nos primeiros trinta anos do século XX.
Defendo que a sociedade civil, governo e ONGs, não só do Brasil, mas do
mundo todo, comece a discutir seriamente o que é lícito e o que é ilícito nesse
mundo cada vez mais tecnológico e automatizado. Que a humanidade venha antes de
qualquer assunto ou interesse, seja ele político, econômico ou militar. Que o
direito a vida possa valer como um direito inalienável antes de tudo.
Fonte: Brasil 247/A
Terra é Redonda
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