quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Política de taxação de importações anunciada por Trump pode custar caro à indústria estadunidense, alertam chineses

plano anunciado pelo presidente eleito Donald Trump dos EUA de aumentar tarifas para importações pode interromper a cadeia de abastecimentos nos Estados Unidos, afirmam especialistas chineses consultados pelo Brasil de Fato.  

Em 25 de novembro, poucas semanas após vencer as eleições presidenciais, Trump afirmou que vai impor – a partir do primeiro dia de seu mandato (20 de janeiro de 2025) –, novas tarifas de 25% a todos os produtos importados do Canadá e do México, e uma tarifa extra de 10% além das taxas já existentes sobre produtos da China. 

Desde 2002, esses são os três países que se mantêm como os principais parceiros comerciais dos Estados Unidos, quando a China substitui o Japão nessa tríade, logo em seu primeiro ano como membro da Organização Mundial do Comércio. 

No ano passado, o México substituiu a China como maior parceiro no comércio com os Estados Unidos, uma posição que o país asiático manteve por 17 anos. Isso ocorreu, em parte, como resultado das políticas de tarifas implementadas no primeiro governo Trump sobre produtos chineses, e que foram mantidas pelo governo de Joe Biden

Durante a campanha, Trump chegou a dizer que seu governo poderia impor tarifas de 60% aos produtos chineses e propor impostos de 20% à importação de produtos de todos os países.

A imposição de tarifas a todos os países, aumentará os preços em geral, e vai trazer problemas de inflação, explica, o pesquisador sênior do Instituto Taihe, Ding Yifang. 

Com a inflação, o Federal Reserve [banco central dos EUA] será forçado a aumentar a taxa de juros, continua. Para o pesquisador chinês, isso é "completamente contraditório com o que Donald Trump pretende fazer". 

Um dia antes do segundo turno das eleições que lhe deram a vitória sobre a democrata Kamala Harris, Trump prometeu em um comício na Carolina do Norte, um plano para cortar "drasticamente os impostos para trabalhadores e pequenas empresas". "Não teremos impostos sobre gorjetas, horas extras e benefícios da Previdência Social", disse o republicano.   

"Ele quer diminuir a taxa de juros para revigorar o setor industrial, mas se a inflação subir, ele não vai poder manter essas promessas sobre a baixa na taxa de juros. Então é completamente contraditório", diz Ding. 

"Se você começa uma guerra comercial, vai ter que arcar com os custos" 

Tanto o Ding Yifang, como o reitor do Instituto da China da Universidade de Fudan, Li Bo (ambos economistas), concordam em que Estados Unidos têm muito a perder com políticas de taxações às importações como as prometidas pelo próximo presidente estadunidense.

"Essas restrições, na verdade, também são direcionadas ao setor de alta tecnologia dos EUA", diz Li Bo, que é diretor geral do site de notícias chinês, Guancha. 

"Nessa guerra não é só a China que está perdendo, há empresas americanas, consumidores americanos, todos os fornecedores de terceiros. Se você iniciar uma guerra comercial, você tem que arcar com o custo", complementa. 

A embaixada chinesa nos Estados Unidos afirmou que a "cooperação econômica e comercial China-EUA é mutuamente benéfica por natureza" e que "ninguém vencerá uma guerra comercial ou uma guerra tarifária".

Ding Yifang explica que quase a metade das exportações chinesas para os Estados Unidos não são produtos de consumo final, e sim bens intermediários.

"Portanto, as empresas da última fase da cadeia produtiva nos EUA, precisam desses bens intermediários para montar e fazer seus produtos finais, se as tarifas adicionarem mais custo à produção, isso prejudicará a competitividade dessas empresas estadunidenses, tanto no mercado doméstico quanto no mercado internacional", complementa Ding. 

<><> Como a China atuará caso Trump cumpra as promessas

No começo de dezembro, o Ministério do Comércio da China anunciou medidas para reforçar o controle sobre a exportação de itens que podem ter uso duplo, ou seja, tanto civil como militar, para os Estados Unidos. As novas medidas fazem parte de esforços para defender a segurança e os interesses da China e cumprir a não proliferação de armas de destruição em massa, segundo comunicado do ministério. 

Concretamente, isso significou a proibição da exportação de gálio, germânio, antimônio e dos chamados materiais superduros para os Estados Unidos. Os minerais são utilizados na indústria de semicondutores e em outras de alta tecnologia. Desde 2014, mais de 90 por cento do gálio bruto foi produzido na China que também é o maior produtor mundial de germânio bruto.

Como outra restrição às exportações já havia ocorrido em 2021, o estudo calculou que uma proibição completa simultânea das exportações de gálio e germânio da China poderia reduzir o PIB estadunidense em US$ 3,4 bilhões (R$ 20 bilhões).

No ano passado, a China foi responsável por 48% do antimônio extraído no mundo. O metal é usado em munições, mísseis infravermelhos, armas nucleares, entre outros usos militares. Os especialistas chineses consideram que as medidas foram retaliatórias e que podem haver mais no futuro.

A retaliação não é apenas contra as tarifas dos EUA, "mas também contra a proibição da administração Biden sobre exportações para a China, de semicondutores, de equipamentos de produção de semicondutores, e também em relação às vendas de chips feitos nos EUA para a China", opina Ding Yifang

"No meu entender, o motivo pelo qual o governo chinês anunciou essas medidas de controle de exportação é apenas para mostrar nossa posição firme de que não temos medo de nenhum tipo de guerra comercial ou tecnológica", conclui Li Bo.

<><> Trump reclama do Brasil e ameaça impor tarifas

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira (16) que Brasil e Índia estariam impondo taxas sobre produtos estadunidenses, e ameaçou retaliar com a aplicação de tarifas contra esses países.

“A Índia taxa muito, o Brasil nos taxa muito. Se eles querem nos taxar, tudo bem, mas vamos taxa-los da mesma forma”, declarou Trump durante coletiva de imprensa realizada em Mar-a-Lago, no estado da Flórida. A declaração foi citada pela agência O Estado de São Paulo. 

Como candidato republicano à presidência, Trump declarou que elevaria as tarifas sobre produtos provenientes da China e de outros países. Além disso, no final de novembro, Trump ameaçou os países do Brics com a aplicação de tarifas de 100%, caso não desistissem de seus planos de criar uma moeda alternativa ao dólar estadunidense.

¨      Biden chama planos de tarifas de Trump de 'grande erro'

O presidente dos Estados Unidos em fim de mandato, Joe Biden, criticou nesta terça-feira (10) os planos de seu sucessor, Donald Trump, de impor tarifas, classificando-os como "um grande erro".

"Ele [Trump] parece determinado a impor tarifas universais elevadas sobre todos os bens importados para este país, na crença equivocada de que os países estrangeiros arcarão com o custo dessas tarifas, e não o consumidor americano. Acredito que essa abordagem é um grande erro", declarou Biden durante um evento no Brookings Institution, de acordo com a Sputnik. 

Como candidato republicano à presidência, Trump afirmou que, se eleito, aumentaria as tarifas sobre produtos da China e de outros países. Além disso, no final de novembro, Trump ameaçou os países do BRICS com a imposição de tarifas de 100% caso não abandonassem seus planos de criar uma moeda alternativa ao dólar americano.

As eleições presidenciais nos Estados Unidos ocorreram em 5 de novembro. Trump, que já havia sido presidente dos EUA de 2017 a 2021, foi declarado vencedor por todos os principais veículos e analistas. A candidata democrata Kamala Harris reconheceu a derrota. O Colégio Eleitoral votará de acordo com a vontade dos eleitores em 17 de dezembro, e o novo Congresso aprovará os resultados da votação em 6 de janeiro. A posse presidencial ocorrerá em 20 de janeiro.

¨      Norte-americanos rejeitam tarifas caso provoquem inflação, mostra pesquisa Reuters/Ipsos

Os norte-americanos não acreditam que as tarifas de importação sejam uma boa ideia se levarem a preços mais altos e estão céticos quanto à possibilidade de ajudar os trabalhadores dos Estados Unidos, segundo uma pesquisa da Reuters/Ipsos, ressaltando os riscos políticos do plano do presidente eleito Donald Trump de impor pesadas taxas sobre produtos de China, México e outros países.

Apenas 29% dos entrevistados na pesquisa de seis dias, encerrada na terça-feira, concordaram com a afirmação de que "é uma boa ideia os EUA cobrarem tarifas mais altas sobre produtos importados, mesmo que os preços aumentem", enquanto 42% discordaram. Outros 26% disseram que não sabiam e o restante não respondeu à pergunta.

Apenas 17% dos entrevistados concordaram com a afirmação de que "quando os EUA cobram tarifas sobre produtos importados, isso é bom para mim pessoalmente".

As opiniões dos norte-americanos sobre tarifas representam um problema em potencial para Trump quando o republicano retornar à Casa Branca em 20 de janeiro.

Os economistas dizem que seu plano tarifário, que é mais agressivo do que o que ele implementou durante seu primeiro mandato, de 2017 a 2021, provocará uma inflação mais alta, do mesmo tipo que enfraqueceu o presidente Joe Biden e ajudou a pavimentar o caminho de Trump de volta à Casa Branca.

"Acho que parte da opinião pública pode funcionar como um freio para os planos tarifários mais extremos de Trump, porque, claramente, eles aparecerão nos preços", disse Mary Lovely, economista comercial e membro sênior do Instituto Peterson para Economia Internacional, um think tank pró-comércio.

Trump tem prometido impulsionar a indústria norte-americana impondo uma tarifa de importação universal de 10% e uma tarifa de 60% sobre as importações chinesas. Ele também ameaçou impor tarifas de 25% sobre os produtos de México e Canadá, bem como tarifas adicionais de 10% sobre os produtos chineses, como uma forma de pressioná-los a conter o fluxo do fentanil e a imigração ilegal para os EUA.

Cerca de 10% dos gastos dos consumidores norte-americanos são destinados a importações, segundo estimativas do Federal Reserve de San Francisco, de modo que grandes tarifas poderiam afetar significativamente as finanças das famílias.

Em uma entrevista ao programa Meet the Press, da emissora NBC, que foi ao ar no domingo, Trump disse não acreditar que os consumidores acabem pagando o preço das tarifas, acrescentando: "Acho que elas são lindas... As tarifas vão enriquecer nosso país."

A pesquisa, que foi realizada online, entrevistou 4.183 adultos norte-americanos em todo o país e tem uma margem de erro de cerca de dois pontos percentuais em qualquer direção.

 

Fonte: Brasil de Fato/Brasil 247/Reuters

 

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