10 fatos climáticos
de 2024, um ano que que foi fogo e água
Um ano que começou
com o Chile pegando fogo e terminou com os americanos elegendo um
sociopata negacionista do clima dificilmente poderia ficar pior. Mas, infelizmente,
2024 coleciona outros predicados: vimos uma conferência do clima quase
naufragar por causa de dinheiro, uma conferência da biodiversidade ser suspensa
por falta de acordo sobre (adivinhe!) dinheiro, um estado brasileiro inteiro
debaixo d’água, o país coberto de fumaça, o fogo levando embora a parte
da Amazônia poupada do desmatamento e eventos
extremos de
todos os tipos e tamanhos em todas as regiões do planeta.
Esse foi um
gostinho do que é viver acima de 1,5ºC, que é o que aguarda a humanidade
caso cortes drásticos de emissões
de gases de efeito estufa não comecem a ser feitos anteontem. No ano mais
quente da história até aqui, o aquecimento global ultrapassou temporariamente
(esperemos) o limite do Acordo de Paris. A resposta dos líderes políticos
e dos eleitores desses líderes é o puro suco da dissonância cognitiva: quatro
países (Emirados Árabes, Brasil, Reino Unido e Canadá) publicaram nas últimas
semanas metas de corte de emissão para 2035, e nenhuma delas é alinhada com um
mundo de 1,5ºC (embora todas declarem sê-lo). E a Europa abdicou de
seu papel de líder climática ao decidir enterrar a discussão sobre
financiamento climático na COP29, no Azerbaijão.
Nos próximos anos,
com um negacionista presidindo a maior economia do mundo, a ambição do restante
da humanidade precisaria ser ainda maior, mas ninguém parece disposto a dar
esse primeiro passo. Por falta de líderes na maior crise planetária já
enfrentada pelo Homo sapiens, pode ser que 2024 seja lembrado no futuro
com saudades.
<><> 1-
O ano em que passamos de 1,5ºC
2024 supera 2023,
que por uma grande margem já era o mais quente da história
O ano que se
encerra entrará para a história como o primeiro no qual o aquecimento global de
1,5ºC, limite do Acordo de Paris, foi ultrapassado em seus 12 meses.
Segundo dados divulgados em dezembro pelo observatório europeu Copernicus,
somente as medições dos 11 primeiros meses do ano já permitem cravar que a
média global em 2024 será superior ao guard-rail geofísico a partir do qual,
afirma a ciência, os impactos climáticos ficam muito mais graves e a adaptação
a eles, mais cara.
Dois mil e vinte e
quatro realiza, assim, uma tarefa que um ano atrás parecia difícil: a de
superar 2023, que por uma larga margem já era o ano mais quente da história
desde o início das medições globais com termômetros, em 1880 (1,48ºC de
aquecimento em relação à era pré-industrial, 0,17ºC mais quente do que o
recordista até então, 2016).
De janeiro a
novembro, a anomalia da temperatura
média global ficou
0,72°C acima da média de 1991-2020, a mais alta já registrada para esse
período, superando em 0,14°C o mesmo intervalo em 2023. Desde julho de 2023, o
único mês no qual as médias globais mensais ficaram abaixo
de 1,5ºC foi julho deste ano (1,48ºC).
Nunca nos últimos
125 mil anos a Terra esteve tão quente; da última vez que o globo registrou
temperaturas semelhantes, o manto de gelo
da Groenlândia derreteu
quase completamente e o nível do mar subiu dez metros.
A manutenção da
elevação brutal de temperaturas mesmo na ausência do El
Niño,
que perdeu força no primeiro semestre, fez de 2024 mais um ano de eventos
climáticos extremos que
mataram, destruíram e empobreceram comunidades no mundo todo (leia abaixo).
Ninguém sabe ainda por que isso aconteceu neste ano, mas uma pista pode estar
numa redução na cobertura de nuvens de baixa altitude na Terra, que reduziu o
albedo (a capacidade do planeta de rebater a luz solar de volta ao espaço e
impedir que parte dela esquente a superfície terrestre) e respondeu por 0,2ºC
extra de aquecimento em 2023 e possivelmente também neste ano.
Por enquanto não há
nenhuma indicação de que essa ultrapassagem de 1,5ºC seja permanente.
Em outras palavras, o Acordo de Paris ainda não foi perdido. No
entanto, há indicações de que o chamado “overshoot” do 1,5 venha a acontecer em
algum momento do início da próxima década. Os últimos dois anos deram à
humanidade uma “avant-première” de como pode ser o mundo quando isso ocorrer.
Não será bonito.
<><> 2
– Rio Grande do Sul
Entre 28 de abril e
7 de maio, o estado do Rio Grande do Sul e parte de Santa
Catarina foram atingidos pelas chuvas mais volumosas já registradas
naquela região. Algumas cidades viram precipitações de até 700 milímetros em
menos de uma semana, um terço do esperado para o ano inteiro. As tempestades
provocaram o maior alagamento já visto na história gaúcha e, em extensão, a
maior enchente da história do Brasil: 85% dos 487 municípios gaúchos foram
atingidos, em especial a capital, Porto Alegre, onde a cheia ultrapassou a
cota de inundação
do rio Guaíba,
de 3 metros, atingindo 5,4 metros. O volume excepcional desaguando da parte
alta do estado e as falhas de manutenção nas bombas d’água feitas para manter a
cidade em segurança fizeram com que metade dos bairros de Porto Alegre
alagasse, afetando 160 mil pessoas e deixando o aeroporto Salgado Filho fechado
até o final do ano. No total, as enchentes atingiram 2,4 milhões de gaúchos e
deixaram cerca de 200 mortos.
Os prejuízos são
difíceis de calcular. O governo federal disponibilizou R$ 62 bilhões a partir
de maio para o atendimento à calamidade e a reconstrução do Rio Grande do
Sul. Alguns especialistas estimaram em R$ 90 bilhões o custo total da reconstrução.
Cidades inteiras, como Muçum
e Eldorado do Sul,
que já haviam sido atingidas por enchentes catastróficas oito meses antes, em
setembro de 2023, precisam ser refeitas; em várias regiões agrícolas, a chuva
levou toda a camada fértil do solo, inutilizando fazendas inteiras.
Há décadas os
climatologistas já vinham alertando para um aumento da precipitação média no sul
do Brasil num cenário de aquecimento global. O Rio Grande do Sul já está
em média 15% mais chuvoso nas últimas duas décadas do que entre 1979 e 2001. Em
2015, o governo federal engavetou dados de modelagem do Inpe que
mostravam que, até 2040, as precipitações na região Sul ficariam ainda mais
intensas. Pior fizeram os porto-alegrenses, que em outubro reelegeram o
prefeito Sebastião
Melo,
do MDB, que deixou a cidade alagar (e cujo vice no primeiro mandato era
ligado à produtora negacionista climática Brasil Paralelo).
<><> 3
– Mais uma pandemia de branqueamento de coral
Os corais
brasileiros enfrentaram mais uma onda de branqueamento. Dados do Coral
Reef Watch, da Administração Nacional Oceânica (Noaa) dos EUA,
mostram que, de sete áreas de recifes brasileiros monitoradas, seis atingiram
alerta de nível 2. Isso significa que há risco de branqueamento em todo o recife,
com mortalidade de corais sensíveis ao calor. As áreas
de Maracajaú, Costa dos Corais e Todos os
Santos chegaram ao nível 2 ainda em março, enquanto Fernando de
Noronha, Abrolhos e Trindade e Martim Vaz pioraram
em abril.
O fenômeno não foi
exclusividade do Brasil. Em 15 de abril, a Noaa confirmou que o
planeta enfrentava uma epidemia global de branqueamento de corais. Entre
janeiro de 2023 e agosto de 2024, 75% dos recifes de coral foram afetados por
algum tipo de estresse térmico. No Oceano Atlântico Equatorial Centro-Oeste,
recifes atingiram os níveis 4 (risco severo de mortalidade para pelo menos 50%
de múltiplas espécies) e 5 (risco de mortalidade completa, superior a 80%).
Segundo a Noaa, este é o quarto evento global de branqueamento de corais
registrado, após os episódios de 1998, 2010, 2014-2017.
O processo de
branqueamento ocorre quando a água do mar permanece aquecida de forma anormal,
o que faz com que as algas chamadas zooxantelas, que vivem em simbiose com os
corais, se desapeguem deles. A perda de corais prejudica a pesca, o turismo e
outros ecossistemas importantes para a nossa vida. Por exemplo, os
corais vivem em associação com manguezais, que desempenham um papel importante
para a absorção de carbono.
<><> 4
– Valência, Carolina do Norte, Valparaíso, Polônia
O ano de 2024 foi
marcado ainda por outros eventos extremos que vão desde fortes chuvas a ondas
de calor. Logo em fevereiro, incêndios
florestais mortíferos
atingiram a região de Valparaíso, no Chile, matando quase 140
pessoas. Ondas de calor varreram o hemisfério Norte, com 47ºC em Chipre, 44ºC
na Itália e 45ºC em Portugal no verão europeu. No México, bugios caíram
mortos das árvores no estado de Tabasco, numa onda de calor que levou os
termômetros acima de 45ºC em junho e afetou também o sul dos Estados
Unidos.
Fortes chuvas
mataram centenas no continente africano, principalmente na África
Oriental e no Sahel. Apenas no Chade, ao menos 341 pessoas
morreram por causa das chuvas. A Europa também enfrentou fortes temporais, que
atingiram sobretudo a Polônia e a República Tcheca no
outono. No fim de outubro, em Valência, na Espanha, choveu mais em
oito horas do que em 20 meses. Mais de 200 pessoas morreram. Segundo uma
análise rápida da Rede Mundial de Atribuição (WWA, na sigla em
inglês), o aquecimento
global intensificou
as chuvas na região.
No Atlântico,
a temporada de furacões deste ano (1° de junho a 30 de novembro) foi 28,5% mais
intensa do que a média, com 18 tempestades nomeadas (ventos a partir de 39
km/h). A Noaa mostra que, do total, onze se tornaram furacões (ventos a partir
de 119 km/h) e cinco evoluíram para grandes furacões (ventos a partir de 178
km/h).
No entanto, não
foram apenas os números que chamaram a atenção nesta temporada. O
furacão Beryl foi o primeiro da história a atingir a categoria 5
(ventos com velocidade superior a 252 km/h e com alto potencial de destruição)
já no início de julho. Beryl se tornou um furacão no fim de junho e, em um
processo rápido de intensificação, alcançou a categoria 5 no dia 1° de julho.
Em setembro, Helene se tornou o furacão mais mortífero
dos Estados Unidos desde o Maria, em 2017, causando a morte de mais
de 230 pessoas, a maioria na Carolina do Norte.
<><> 5
– Brasil em chamas
O Brasil
queimou inteiro em
2024 numa combinação da pior seca já vista desde o início dos registros, em
1950, e bandidagem pura. Até sexta-feira (13), foram registradas 272,6 mil
queimadas, o que representa um aumento de quase 50% em relação ao mesmo período
do ano passado. Ao analisarmos os biomas, apenas a Caatinga e
o Pampa não apresentaram números superiores aos de 2023.
A Amazônia viu sua segunda megaestiagem consecutiva, após a
catástrofe de 2023, com nível dos rios ainda mais baixo que no ano passado,
cidades inteiras sufocadas pela fumaça e comunidades isoladas. Os chamados rios
voadores, que normalmente transportam umidade para o centro-sul, tornaram-se
corredores de fumaça. O bioma registrou 138,1 mil incêndios, um aumento de 43%
em relação a 2023, mesmo com o desmatamento em queda. O Cerrado, com 80,5 mil
queimadas, e a Mata Atlântica, com 21 mil, tiveram crescimentos de 62,6% e
86,2%, respectivamente. O Pantanal, com 14,4 mil incêndios, outro bioma
que também registrou níveis negativos nos rios, teve um aumento alarmante de
133%, o que significa que os focos de fogo mais do que duplicaram na região.
Um artigo de
revisão concluiu que as mudanças climáticas pioraram os incêndios florestais.
No caso da Amazônia, o clima mais quente e seco tornou o fogo pelo menos 20
vezes mais provável. Segundo monitoramento do Laboratório de Aplicações de
Satélites Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
99% dos incêndios no Brasil são de origem humana. O tempo quente e seco
contribui para a propagação desse fogo.
<><> 6
– BR-319 nos tribunais
As pressões pelo
asfaltamento do trecho do meio da BR-319 (Manaus-Porto
Velho), assim como o questionamento às violações e irregularidades envolvidas
em todo esse processo, ganharam novos capítulos em 2024. Entre eles, uma
vitória histórica nos tribunais: em julho, uma decisão liminar da Justiça
Federal do Amazonas suspendeu a Licença Prévia (LP n° 672/2022),
concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama) ao apagar das luzes do governo Bolsonaro (e
contrariando o trabalho histórico do próprio órgão).
A suspensão foi
resultado de uma ação civil pública movida pelo Observatório do Clima, que
apontou a desconsideração de dados técnicos, análises científicas e uma série
de pareceres elaborados pelo Ibama ao longo do processo de licenciamento
ambiental, pedindo a anulação da licença. O Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (Dnit/Ministério dos Transportes) e da União
recorreram, solicitando a derrubada da liminar. O pedido foi negado em agosto,
e a suspensão, mantida.
Em outubro, no entanto,
a liminar foi derrubada, quando o Tribunal Regional Federal da 1ª
Região (TRF1) acolheu recurso da Advocacia-Geral da União (AGU). A
disputa continua em 2025, já que recursos já foram interpostos para que a
licença continue suspensa. Especialistas apontam que o asfaltamento do trecho
de 405 km no coração da área mais preservada da Amazônia pode não “somente”
destruir permanentemente o controle do desmatamento, mas também impactar
globalmente o clima de maneira irreversível, como consequência das emissões
de gases de efeito estufa por desmatamento.
<><> 7
– Desmate cai de novo (e agro reage)
Com 31% de queda, a
taxa de desmatamento na Amazônia chegou a 6.288 km2 em 2024. Foi a maior queda
em 15 anos, que finalmente recolocou a derrubada no maior bioma brasileiro nos
patamares pré-impeachment (quando começaram a crescer
descontroladamente, para explodir no governo Bolsonaro). No Cerrado, a
queda foi menor, mas também significativa: foram 26% de redução (derrubando a
taxa de de desmata para 8.174 km2), compensando com folga o aumento de 6%
registrado em 2023.
Os resultados
positivos, que podem ajudar a ministra Marina
Silva (Meio
Ambiente e Mudança do Clima) a enfrentar a artilharia da ala desenvolvimentista
do governo, mostram que a fórmula do PPCDAm (Plano de Ação para
Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal) ainda funciona – quando
o conjunto de políticas públicas é acionado pelo governo. E, principalmente,
mostram que o Brasil pode e precisa fazer muito mais pelo clima, zerando o
desmatamento (legal e ilegal) em 2030, cumprindo as promessas de campanha do
presidente e elevando a régua da ambição climática brasileira.
Quem aparentemente
não gostou dos números foi o agronegócio, que vem reagindo de forma
coordenada para enfraquecer regulações ambientais. Além do rolo compressor na
legislação passado pelo Congresso, com conivência da articulação política
de Lula, as terras indígenas enfrentam um surreal processo de
“conciliação” com seus invasores iniciado por ninguém menos que o STF, que
no ano passado havia feito a coisa certa ao rejeitar a surreal tese do “marco
temporal” inventada pelos ruralistas.
A bola da vez é a
moratória da soja, o acordo voluntário firmado pelo próprio setor 18 anos
atrás para impedir o plantio de soja em áreas de novos desmatamentos
na Amazônia. Depois que Mato Grosso e Rondônia aprovaram leis punindo
financeiramente produtores que participam da moratória, as próprias associações
empresariais que assinaram a moratória agora querem derrubá-la. O argumento é o
de que o pacto teria se tornado supérfluo, já que o país tem um Código
Florestal. As taxas de desmatamento maiores que quatro cidades de São
Paulo ao ano somente na Amazônia sugerem o oposto.
<><> 8
– O Congresso da motosserra
O Congresso mais
antiambiental da história adiantou o presente de Natal da indústria
fóssil e
aprovou, na última quinta-feira (12/12), o projeto de lei das eólicas
offshore.
O PL 575/2021, que deveria regulamentar a instalação dos equipamentos de
energia eólica em alto mar, trouxe de contrabando uma série de itens que
favorecem o lobby do carvão
mineral e
do gás
fóssil.
O texto aprovado no Senado prorroga o funcionamento das térmicas
movidas a carvão mineral, que deveria ser encerrado em 2028, para 2050,
além de prever outros benefícios ao setor que podem encarecer as contas de luz
e aumentar as emissões
de gases de efeito estufa. O texto segue agora para sanção presidencial, e a
expectativa da sociedade civil é que Lula vete os itens.
O retrocesso é
apenas um, entre as várias ameaças que tramitam nas duas casas legislativas e
que, se aprovadas, causarão dano irreversível aos ecossistemas brasileiros, aos
povos tradicionais, ao clima global e à segurança de cada cidadão. O
“novo” Pacote
da Destruição conta,
por exemplo, com a infame “PEC das praias”, menina dos olhos da família
Bolsonaro, que retira a propriedade exclusiva da União sobre os terrenos da
Marinha. A proposta foi deixada de lado após pressão da sociedade civil, mas
agora volta sorrateiramente à pauta do Senado e pode ir
à Comissão de Constituição de Justiça ainda este ano.
Há ainda uma longa
lista de projetos que buscam erodir o licenciamento
ambiental,
colocando toda a população brasileira em risco, os direitos indígenas e o
financiamento da política ambiental, além de beneficiar grileiros e criminosos
ambientais, que seguem avançando nas casas legislativas – e certamente nos
atormentarão em 2025.
<><> 9
– Orange is the new white (House)
A volta
de Donald Trump à Casa Branca pode ser considerada uma das
maiores catástrofes climáticas de 2024. De imediato, a eleição do
negacionista de extrema direita à presidência dos Estados Unidos significa a retirada
do segundo maior poluidor climático do mundo do Acordo de
Paris (outra vez). A cooperação global para o financiamento da ação
climática – ainda mais fragilizada depois do fracasso da COP29 –
amargará a baixa do maior devedor do clima, já que obviamente Trump secará todo
o repasse de recursos para o Sul Global. Mas e se fôssemos sem eles? A
catástrofe pode ser a oportunidade para os países estabelecerem novas bases
para a cooperação, deixando de depender do país que mais atravancou negociações
na Convenção do Clima da ONU. Alô, Luiz Inácio: o Brasil ganha ainda
a oportunidade de assumir a tão desejada liderança global no clima. Basta
querer.
<><> 10
– Fiasco em Baku
A expectativa era
de que a COP29,
no Azerbaijão,
aprovasse a nova meta de financiamento climático (NCQG, na sigla em inglês),
finalmente garantindo que os países ricos pagariam o que devem na conta da
crise do clima. O resultado, no entanto, passou longe disso: com uma
presidência desastrosa para a condução das negociações, os países desenvolvidos
passaram ilesos e escaparam à sua obrigação de financiar a mitigação, adaptação
e as perdas e danos da crise climática nos países em desenvolvimento. O texto
final previu a destinação de magros US$ 300 bilhões por ano até 2035 “de várias
fontes”, ou seja, vale dinheiro privado e empréstimo de banco multilateral. A
reivindicação dos países em desenvolvimento era de US$ 1,3 trilhão, com parte
substancial disso na forma de recursos públicos, que não aumentassem a dívida
de quem já está endividado até o pescoço para pagar, entre outras coisas, pela
adaptação a uma crise que os países pobres não criaram.
O fracasso
multiplica as responsabilidades do Brasil, anfitrião da próxima COP. A
presidência da COP30, em Belém, terá
não apenas que resolver as lacunas e aprovar decisões dignas sobre o
financiamento, mas também reconstruir o espírito de cooperação entre os países,
golpeado em Baku.
Fonte: Observatório
do Clima
Nenhum comentário:
Postar um comentário