quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Moisés Mendes: Podem prender Bolsonaro e seus comparsas e não acontecerá nenhum levante

Até uma certa esquerda mais assustada contribuiu para que levassem a sério uma ameaça. Se prendessem figuras consideradas intocáveis do bolsonarismo, os tios saltariam do zap para as ruas e deflagariam protestos e ações violentas.

Diziam que poderiam prender manés e patriotas do 8 de janeiro, políticos e coronéis, mas não um general. Jamais um Braga Netto. De forma alguma um filho de Bolsonaro. Nunca o pai deles.

Para agregar agravantes à ameaça, contavam com o clima criado pela eleição de Trump. Alexandre de Moraes estaria sob o bafo do fascista americano e ninguém faria movimentos bruscos, porque Trump poderia agir.

Já se sabe que é tudo bobagem. Que não aconteceu nada até agora. E já teve prisão de deputado, de delegado da Polícia Federal, de coronel e de generais. A reação mais forte e mais gritada contra a prisão de Braga Netto partiu de Silas Malafaia.

Mas Malafaia só é ouvido na sua igreja ou em cima de um trio elétrico na Avenida Paulista. Malafaia não tem poder político para acionar fúrias incontroláveis. Não tem voto e perdeu o respeito da extrema direita raiz. Tem fiéis da base bolsonarista, mas hoje isso conta pouco ou quase nada.

Podem fechar o cerco em torno de chefes golpistas civis e fardados, de muambeiros e de nazistas chinelões que fazem gestos com os dedos. Podem asfixiar os grandes empresários financiadores do golpe, e não só os do dinheirinho miúdo, que não acontecerá nada.

Não há força para levante algum. Os tios do zap sabem que não podem contar mais com os militares, com a Polícia Rodoviária Federal e com as PMs. Não têm lideranças nem quadros sequer para uma motociata. Não têm nada que possa segurar uma tentativa de incendiar o país.

Podem gritar no zap e nas redes sociais, mas não podem mais nada além disso. Se Alexandre de Moraes tivesse motivos e argumentos para decretar prisões preventivas em massa, não aconteceria nada.

O único desafio seria arranjar celas especiais para todos eles, com ar-condicionado e TV a cabo. Claro que não há e dificilmente haverá motivo para um grande número de prisões preventivas. Mas, se houvesse, todos poderiam ser enjaulados ao mesmo tempo.

Não aconteceria nada além do berreiro de Malafaia e de alguns que têm mandato e tribuna, mas não são ouvidos nem pelos seus. E o resto continuaria miando baixo e pedindo que o estado democrático de direito seja respeitado. É esse o cenário hoje. 

O golpismo baixou a crista e foi subjugado pela própria incapacidade de reação. Perdeu retórica e grito de guerra por ter ficado sem a bandeira da anistia. E percebeu que os líderes políticos de direita, dos militares, dos jornalões e do empresariado estão cansados de guerra e já entregaram as armas.

Querem se livrar de Bolsonaro, de Braga Netto, de Augusto Heleno, dos grandes financiadores do fascismo e da turma do escalão intermediário. 

Ninguém defende mais ninguém, porque a vida precisa se reorganizar e seguir em frente na direita. Moraes sabe que pode mandar prender quem já vem pedindo para ser preso.

 

¨      Braga Netto, as paranoias de Bolsonaro e o elo com Villas Bôas e o golpe de Temer. Por Plínio Teodoro

A prisão de Walter Braga Netto por obstrução nas investigações sobre a OrCrim golpista de Jair Bolsonaro (PL) traz à tona a articulação entre uma escumalha militar e política que consumou um outro golpe, em 2016, com o impeachment por "pedaladas fiscais" de Dilma Rousseff.

Com trânsito nesse meio golpista, a jornalista Andreza Matais, ex-Estadão e atualmente no Uol, conta em artigo nesta quinta-feira (18) como - e por quem - Braga Netto foi alçado à cúpula dessa horda e manteve Bolsonaro sob a tutela do PMB, o Partido Militar Brasileiro, uma organização clandestina que congrega viúvas da Ditadura que tramam constantemente a retomada do poder.

Segundo a jornalista, foi o general Eduardo Villas Bôas - que se imortalizou com o tuite ameaçando o Supremo Tribunal Federal (STF) em 2018, caso fosse concedida a liberdade a Lula - quem levou Braga Netto a Temer para que fosse alçado ao comando da intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro.

"Braga Netto resistiu em aceitar o cargo, ameaçou ir para a reserva, mas foi avisado por Villas Bôas que não aceitar seria um ato de insubordinação", diz o texto, ressaltando que "área de comunicação do governo Temer não gostou da escolha pelo perfil "sisudo" do general, que não dava abertura para diálogo, mas aceitou por ser uma escolha de Villas Bôas".

Enquanto a Lava Jato avançava para prender Lula e tirar do petista a vitória certa nas eleições de 2018, Temer "afiançou" a relação de Braga Netto com Bolsonaro para dar continuidade ao golpe contra Dilma.

A jornalista afirma que "Braga Netto gozava de rara confiança" de Temer e que à época se insubordinou às ordens do Comandante do Exército para se dirigir "apenas" ao emedebista, alçado à Presidência após derrubar Dilma.

Bolsonaro paranoico

Com a eleição de Bolsonaro, Braga Netto deixou as fileiras militares para entrar, de vez, na política e manter Bolsonaro sob tutela alimentando as paranoias do ex-presidente, segundo a jornalista.

"O militar sabia como ninguém alimentar o lado paranoico de Bolsonaro. Nas palavras de cinco pessoas que integraram o governo, Braga Netto plantava intrigas para provocar dúvidas no ex-presidente e queimar todos que poderiam ocupar seu espaço", diz a jornalista, explicando como Braga Netto tutelou Bolsonaro.

Após ficar um ano na chefia do Estado Maior do Exército, o general entrou para a reserva e foi alçado, em fevereiro de 2020, a ministro da Casa Civil de Bolsonaro, escanteando Onyx Lorenzoni.

Após passar pelo Ministério da Defesa - e afastar definitivamente o também general Hamiltou Mourão de Bolsonaro -, Braga Netto teria articulado um novo golpe, entre colegas de ministério, para se colocar como candidato a vice na chapa de 2022.

O general teria criado a narrativa para alimentar uma das paranoias de Bolsonaro e descartado, ele próprio, a indicação da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, considerada a vice ideal por ser mulher e da bancada ruralista.

"Quem acompanhou o período de perto narra que Bolsonaro foi convencido por Braga Netto de que apenas ele poderia afastar uma suposta traição. A lógica: Tereza é do centrão, grupo com votos suficientes para eventualmente aprovar um impeachment e chegar à Presidência da República. Tereza foi informada pelo próprio Braga Netto de que não seria a candidata a vice", afirma.

Após a derrota nas eleições para Lula, Braga Netto teria se colocado contra um "acordo de paz" com o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, e realizado 55 visitas ao Palácio da Alvorada para alimentar as paranoias de Bolsonaro.

"Ele se descreveu como uma pessoa 'discreta', 'talvez por formação', e que 'não gosta de tirar fotografia'. Mas, na opinião de quem conviveu com ele na campanha e no governo, a discrição perde espaço para o que definem como um perfil autoritário e egocêntrico — adjetivos amparados em declarações do próprio Braga Netto", define a jornalista, resumindo o perfil do general.

¨      Braga Netto pode utilizar prisão em quartel para conspirar com militares, diz ofício

O general Walter Braga Netto pode estar utilizando sua prisão na 1ª Divisão do Exército, na Vila Militar, no Rio de Janeiro, para conspirar contra a democracia. É o que diz requerimento de informações enviado ao Ministério da Defesa por meio de ofício do deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ)

Indiciado pela Polícia Federal (PF) no inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado no Brasil, Braga Netto, apontado como líder de um plano para assassinar autoridades no âmbito da trama golpista, foi preso no último sábado (14), por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por supostamente tentar obstruir a Justiça. 

Por ser um general quatro estrelas, o ex-ministro da Defesa e da Casa Civil no governo Bolsonaro está detido em uma unidade militar que ele mesmo chefiou e em condições privilegiadas. No requerimento de informações encaminhado ao ministro da Defesa José Múcio, Lindbergh Farias questiona como Exército pretende lidar do ponto de vista administrativo com a prisão de Braga Netto. 

“A decisão do ministro Alexandre de Moraes estabelece uma série de condições, como não ter encontro com outros advogados e falar apenas com advogados. Aquele lugar onde ele está preso não pode virar um centro de conspirações”, afirma Lindbergh. 

“Ele tem muita autoridade perante os militares. A preocupação é ele não usar aquele espaço para fazer política”, prossegue o parlamentar petista. 

O deputado ainda sugeriu no ofício que o ministro Alexandre de Moraes transfira Braga Netto a outro lugar para cumprir a prisão, longe de militares hierarquicamente inferiores a ele. “Tivemos o precedente do Mauro Cid, que recebia a visita de seu pai o tempo todo”, alerta Lindbergh. 

“Braga Netto não pode se utilizar do local da prisão para conspirar contra democracia e atrapalhar investigações sobre tentativa de golpe de Estado. Vou apresentar requerimento ao ministro da Defesa para saber como estão controlando as visitas e contatos de Braga Neto na prisão”, arremata o deputado. 

¨      PGR já tem data para denunciar Bolsonaro por tentativa de golpe

Após uma longa investigação que resultou num relatório farto em provas de 884 páginas, e do indiciamento pela Polícia Federal, a Procuradoria-Geral da República finalmente apresentará denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o tornará réu na ação na qual é acusado de ter liderado uma tentativa de golpe de Estado para se manter no poder, no final de 2022.

Paulo Gonet, o procurador-geral da República, deve denunciar o ex-ocupante do Palácio do Planalto em janeiro, conforme noticia a rede de televisão CNN Brasil. Tanto Gonet quanto o ministro Alexandre de Moraes devem abrir mão do período de recesso a que têm direito, assim como o Judiciário e o Ministério Público como um todo, para acelerar o processo e levar o quanto antes Bolsonaro ao banco dos réus.

A avaliação é de que a prisão do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil do governo Bolsonaro, e que foi seu vice na chapa derrotada por Lula (PT) nas urnas, é um episódio que pesará para que o processo ande com mais celeridade, sobretudo porque há outras pessoas detidas entre os 40 indiciados, além de outros personagens que ainda são investigados e que devem ser acrescentados como suspeitos no inquérito.

Gonet já anunciou que não entrará em recesso e que deve ficar em Brasília neste final de ano e no começo de 2025, assim como Moraes, que comunicou o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, de que não usará o período de folga ao qual tem direito para poder agilizar os processos que estão sub sua relatoria.

Inicialmente, o consenso na capital federal é que o relatório seria apreciado pela PGR apenas no retorno do recesso e que a denúncia seria apresentada até o final de fevereiro, ou no máximo nos primeiros dias de março.

¨      Novo advogado de Braga Netto defendeu Dirceu e delatores da Lava Jato

Contratado nesta quarta-feira (18/12) como novo advogado do general Braga Netto, o criminalista José Luis Oliveira Lima tem um histórico de clientes famosos do mundo político.

Conhecido como Juca, o advogado defendeu o ex-ministro José Dirceu durante o processo do Mensalão. Na Lava Jato, foi o responsável por fechar a delação do empreiteiro Leo Pinheiro, dono da construtora OAS.

Na carteira de clientes, o advogado tem ainda Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa do governo Bolsonaro, e o ator e humorista Marcius Melhem, ambos acusados de assédio sexual.

Juca foi instituído como novo advogado de Braga Netto nesta quarta, quatro dias após o general ser preso por obstrução de Justiça no inquérito do golpe. Ele entrou no lugar de Luís Prata, que foi destituído.

 

Fonte: Brasil 247/Fórum

 

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