Moisés Mendes:
Podem prender Bolsonaro e seus comparsas e não acontecerá nenhum levante
Até uma certa
esquerda mais assustada contribuiu para que levassem a sério uma ameaça. Se
prendessem figuras consideradas intocáveis do bolsonarismo, os tios saltariam
do zap para as ruas e deflagariam protestos e ações violentas.
Diziam que poderiam
prender manés e patriotas do 8 de janeiro, políticos e coronéis, mas não um
general. Jamais um Braga Netto. De forma alguma um filho de Bolsonaro. Nunca o
pai deles.
Para agregar
agravantes à ameaça, contavam com o clima criado pela eleição de Trump.
Alexandre de Moraes estaria sob o bafo do fascista americano e ninguém faria
movimentos bruscos, porque Trump poderia agir.
Já se sabe que é
tudo bobagem. Que não aconteceu nada até agora. E já teve prisão de deputado,
de delegado da Polícia Federal, de coronel e de generais. A reação mais forte e
mais gritada contra a prisão de Braga Netto partiu de Silas Malafaia.
Mas Malafaia só é
ouvido na sua igreja ou em cima de um trio elétrico na Avenida Paulista.
Malafaia não tem poder político para acionar fúrias incontroláveis. Não tem
voto e perdeu o respeito da extrema direita raiz. Tem fiéis da base
bolsonarista, mas hoje isso conta pouco ou quase nada.
Podem fechar o
cerco em torno de chefes golpistas civis e fardados, de muambeiros e de
nazistas chinelões que fazem gestos com os dedos. Podem asfixiar os grandes empresários
financiadores do golpe, e não só os do dinheirinho miúdo, que não acontecerá
nada.
Não há força para
levante algum. Os tios do zap sabem que não podem contar mais com os militares,
com a Polícia Rodoviária Federal e com as PMs. Não têm lideranças nem quadros
sequer para uma motociata. Não têm nada que possa segurar uma tentativa de
incendiar o país.
Podem gritar no zap
e nas redes sociais, mas não podem mais nada além disso. Se Alexandre de Moraes
tivesse motivos e argumentos para decretar prisões preventivas em massa, não
aconteceria nada.
O único desafio
seria arranjar celas especiais para todos eles, com ar-condicionado e TV a
cabo. Claro que não há e dificilmente haverá motivo para um grande número de
prisões preventivas. Mas, se houvesse, todos poderiam ser enjaulados ao mesmo
tempo.
Não aconteceria
nada além do berreiro de Malafaia e de alguns que têm mandato e tribuna, mas
não são ouvidos nem pelos seus. E o resto continuaria miando baixo e pedindo
que o estado democrático de direito seja respeitado. É esse o cenário
hoje.
O golpismo baixou a
crista e foi subjugado pela própria incapacidade de reação. Perdeu retórica e
grito de guerra por ter ficado sem a bandeira da anistia. E percebeu que os
líderes políticos de direita, dos militares, dos jornalões e do empresariado
estão cansados de guerra e já entregaram as armas.
Querem se livrar de
Bolsonaro, de Braga Netto, de Augusto Heleno, dos grandes financiadores do
fascismo e da turma do escalão intermediário.
Ninguém defende
mais ninguém, porque a vida precisa se reorganizar e seguir em frente na
direita. Moraes sabe que pode mandar prender quem já vem pedindo para ser
preso.
¨ Braga Netto, as paranoias de Bolsonaro e o elo com
Villas Bôas e o golpe de Temer. Por Plínio Teodoro
A prisão de Walter
Braga Netto por obstrução nas investigações sobre a OrCrim golpista de Jair
Bolsonaro (PL) traz à tona a articulação entre uma escumalha militar e política
que consumou um outro golpe, em 2016, com o impeachment por "pedaladas
fiscais" de Dilma Rousseff.
Com trânsito nesse
meio golpista, a jornalista Andreza Matais, ex-Estadão e atualmente no Uol,
conta em artigo nesta quinta-feira (18) como - e por quem - Braga Netto foi
alçado à cúpula dessa horda e manteve Bolsonaro sob a tutela do PMB, o Partido
Militar Brasileiro, uma organização clandestina que congrega viúvas da Ditadura
que tramam constantemente a retomada do poder.
Segundo a
jornalista, foi o general Eduardo Villas Bôas - que se imortalizou com o tuite
ameaçando o Supremo Tribunal Federal (STF) em 2018, caso fosse concedida a
liberdade a Lula - quem levou Braga Netto a Temer para que fosse alçado ao
comando da intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro.
"Braga Netto
resistiu em aceitar o cargo, ameaçou ir para a reserva, mas foi avisado por
Villas Bôas que não aceitar seria um ato de insubordinação", diz o texto,
ressaltando que "área de comunicação do governo Temer não gostou da
escolha pelo perfil "sisudo" do general, que não dava abertura para
diálogo, mas aceitou por ser uma escolha de Villas Bôas".
Enquanto a Lava
Jato avançava para prender Lula e tirar do petista a vitória certa nas eleições
de 2018, Temer "afiançou" a relação de Braga Netto com Bolsonaro para
dar continuidade ao golpe contra Dilma.
A jornalista afirma
que "Braga Netto gozava de rara confiança" de Temer e que à época se
insubordinou às ordens do Comandante do Exército para se dirigir
"apenas" ao emedebista, alçado à Presidência após derrubar Dilma.
Bolsonaro paranoico
Com a eleição de
Bolsonaro, Braga Netto deixou as fileiras militares para entrar, de vez, na
política e manter Bolsonaro sob tutela alimentando as paranoias do
ex-presidente, segundo a jornalista.
"O militar
sabia como ninguém alimentar o lado paranoico de Bolsonaro. Nas palavras de
cinco pessoas que integraram o governo, Braga Netto plantava intrigas para
provocar dúvidas no ex-presidente e queimar todos que poderiam ocupar seu
espaço", diz a jornalista, explicando como Braga Netto tutelou Bolsonaro.
Após ficar um ano
na chefia do Estado Maior do Exército, o general entrou para a reserva e foi
alçado, em fevereiro de 2020, a ministro da Casa Civil de Bolsonaro,
escanteando Onyx Lorenzoni.
Após passar pelo
Ministério da Defesa - e afastar definitivamente o também general Hamiltou
Mourão de Bolsonaro -, Braga Netto teria articulado um novo golpe, entre
colegas de ministério, para se colocar como candidato a vice na chapa de 2022.
O general teria
criado a narrativa para alimentar uma das paranoias de Bolsonaro e descartado,
ele próprio, a indicação da ministra da Agricultura, Tereza Cristina,
considerada a vice ideal por ser mulher e da bancada ruralista.
"Quem
acompanhou o período de perto narra que Bolsonaro foi convencido por Braga
Netto de que apenas ele poderia afastar uma suposta traição. A lógica: Tereza é
do centrão, grupo com votos suficientes para eventualmente aprovar um
impeachment e chegar à Presidência da República. Tereza foi informada pelo
próprio Braga Netto de que não seria a candidata a vice", afirma.
Após a derrota nas
eleições para Lula, Braga Netto teria se colocado contra um "acordo de
paz" com o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
Alexandre de Moraes, e realizado 55 visitas ao Palácio da Alvorada para
alimentar as paranoias de Bolsonaro.
"Ele se
descreveu como uma pessoa 'discreta', 'talvez por formação', e que 'não gosta
de tirar fotografia'. Mas, na opinião de quem conviveu com ele na campanha e no
governo, a discrição perde espaço para o que definem como um perfil autoritário
e egocêntrico — adjetivos amparados em declarações do próprio Braga
Netto", define a jornalista, resumindo o perfil do general.
¨ Braga Netto pode utilizar prisão em quartel para
conspirar com militares, diz ofício
O general Walter
Braga Netto pode
estar utilizando sua prisão na 1ª Divisão do Exército, na Vila Militar, no
Rio de Janeiro, para conspirar contra a democracia. É o que diz
requerimento de informações enviado ao Ministério da Defesa por meio de ofício
do deputado federal Lindbergh
Farias (PT-RJ).
Indiciado pela
Polícia Federal (PF) no inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado
no Brasil, Braga Netto, apontado como líder de um plano para assassinar
autoridades no âmbito da trama golpista, foi preso no último sábado (14), por
ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por
supostamente tentar obstruir a Justiça.
Por ser um general
quatro estrelas, o ex-ministro da Defesa e da Casa Civil no governo Bolsonaro
está detido em uma unidade militar que ele mesmo chefiou e em condições
privilegiadas.
No requerimento de informações encaminhado ao ministro da Defesa José Múcio,
Lindbergh Farias questiona como Exército pretende lidar do ponto de vista
administrativo com a prisão de Braga Netto.
“A decisão do
ministro Alexandre de Moraes estabelece uma série de condições, como não ter
encontro com outros advogados e falar apenas com advogados. Aquele lugar onde
ele está preso não pode virar um centro de conspirações”, afirma Lindbergh.
“Ele tem muita
autoridade perante os militares. A preocupação é ele não usar aquele espaço
para fazer política”, prossegue o parlamentar petista.
O deputado ainda
sugeriu no ofício que o ministro Alexandre de Moraes transfira Braga Netto
a outro lugar para cumprir a prisão, longe de militares hierarquicamente
inferiores a ele. “Tivemos o precedente do Mauro Cid, que recebia a visita
de seu pai o tempo todo”, alerta Lindbergh.
“Braga Netto não
pode se utilizar do local da prisão para conspirar contra democracia e
atrapalhar investigações sobre tentativa de golpe de Estado. Vou apresentar
requerimento ao ministro da Defesa para saber como estão controlando as visitas
e contatos de Braga Neto na prisão”, arremata o deputado.
¨ PGR já tem data para denunciar Bolsonaro por tentativa
de golpe
Após uma longa
investigação que resultou num relatório farto em provas de 884 páginas, e do
indiciamento pela Polícia Federal, a Procuradoria-Geral da República finalmente
apresentará denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o tornará réu
na ação na qual é acusado de ter liderado uma tentativa de golpe de Estado para
se manter no poder, no final de 2022.
Paulo Gonet, o
procurador-geral da República, deve denunciar o ex-ocupante do Palácio do
Planalto em janeiro, conforme noticia a rede de televisão CNN Brasil. Tanto
Gonet quanto o ministro Alexandre de Moraes devem abrir mão do período de
recesso a que têm direito, assim como o Judiciário e o Ministério Público como
um todo, para acelerar o processo e levar o quanto antes Bolsonaro ao banco dos
réus.
A avaliação é de
que a prisão do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa
Civil do governo Bolsonaro, e que foi seu vice na chapa derrotada por Lula (PT)
nas urnas, é um episódio que pesará para que o processo ande com mais
celeridade, sobretudo porque há outras pessoas detidas entre os 40 indiciados,
além de outros personagens que ainda são investigados e que devem ser
acrescentados como suspeitos no inquérito.
Gonet já anunciou
que não entrará em recesso e que deve ficar em Brasília neste final de ano e no
começo de 2025, assim como Moraes, que comunicou o presidente do STF, ministro
Luís Roberto Barroso, de que não usará o período de folga ao qual tem direito
para poder agilizar os processos que estão sub sua relatoria.
Inicialmente, o
consenso na capital federal é que o relatório seria apreciado pela PGR apenas
no retorno do recesso e que a denúncia seria apresentada até o final de
fevereiro, ou no máximo nos primeiros dias de março.
¨ Novo advogado de Braga Netto defendeu Dirceu e
delatores da Lava Jato
Contratado nesta
quarta-feira (18/12) como novo advogado do general Braga Netto, o criminalista
José Luis Oliveira Lima tem um histórico de clientes famosos do mundo político.
Conhecido como
Juca, o advogado defendeu o ex-ministro José Dirceu durante o
processo do Mensalão. Na Lava Jato, foi o responsável
por fechar a delação do empreiteiro Leo Pinheiro, dono da construtora OAS.
Na carteira de
clientes, o advogado tem ainda Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa do governo Bolsonaro, e o ator
e humorista Marcius Melhem, ambos acusados de assédio sexual.
Juca foi instituído
como novo advogado de Braga Netto nesta quarta, quatro dias após o general ser
preso por obstrução de Justiça no inquérito do golpe. Ele entrou no lugar de
Luís Prata, que foi destituído.
Fonte: Brasil
247/Fórum
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