Bolsonaro,
Mourão e outros reacionários reagem à prisão de Braga Netto
No mesmo final de semana em que o general
reservista Walter Braga Netto foi preso, no
dia 14 de dezembro, o ex-presidente Jair Bolsonaro e o ex-vice-presidente
Hamilton Mourão reagiram à prisão. Ambos descreveram
a prisão como fora das normas legais.
Mourão, que também é general reservista e atualmente
senador, escreveu no X que
“o General Braga Netto não representa nenhum risco para a ordem pública e a sua
prisão nada mais é do que uma nova página no atropelo das normas legais a que o
Brasil está submetido”.
O ex-presidente Jair Bolsonaro seguiu o mesmo tom, mas
evitou citar nominalmente Braga Netto. “A prisão do General”, começou ele, em
tom nada enigmático. “Há mais de 10 dias o Inquérito foi concluído pela PF,
indiciando 37 pessoas e encaminhado ao MP. Como alguém, hoje, pode ser preso
por obstruir investigações já concluídas?”.
Já era esperado que Bolsonaro se posicionaria dessa
forma, uma vez que a prisão de Braga Netto soa como uma ameaça para ele
próprio. O cenário também aponta a tendência de que mais militares reacionários
que tomaram parte na agitação golpista de extrema-direita possam ser
presos, como o general e ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional
(GSI) Augusto Heleno e o ex-comandante do Exército Paulo Sérgio Nogueira.
·
Outros reacionários se posicionam
Para além de Bolsonaro e Mourão, outras figuras
reacionárias também se manifestaram contra a prisão. A senadora de
extrema-direita Damares Alves (Republicanos-DF) disse que a prisão era
injustiça por Braga Netto estar na terceira idade. “O general preso é um senhor
de 67 anos de idade, que tem uma vida inteira de serviços prestados à Pátria.
(…) Estamos diante de mais uma decisão do Poder Judiciário que nos causa
tristeza e indignação”.
O deputado federal Luiz Ovando (PP-MS) disse que “Braga
Netto preso por ‘suposta’ obstrução. Criaram a fantasia do golpe para perseguir
opositores, com Moraes como guardião do regime jurídico-ditatorial”.
Nenhum dos reacionários se prontificou a explicar como
que Braga Netto, envolvido em várias etapas dos preparativos para a tentativa
de ruptura institucional, seria inocente. Dentre as atividades do general estão
a organização de reuniões entre Jair Bolsonaro e o ex-comandantes das Forças
Armadas reacionárias, organização de reuniões, na própria casa, dos kids preto envolvidos nos planos de
ruptura e a aparente participação no desenho do plano “Operação 142”. Braga
Netto também atuou no núcleo de disseminação de ofensas contra os generais que
não queriam embarcar na ruptura institucional, ao chamar, por exemplo, o então
comandante do exército Freire Gomes de “cagão” e “traidor da pátria”.
·
Alguns ficam em silêncio
Apesar de alguns terem se posicionado, outros políticos
preferiram o silêncio. Essa foi a opção de grande parte do Partido Liberal (PL)
de Bolsonaro, que não falaram nada sobre Braga Netto para focar na defesa de
Bolsonaro, segundo informações do portal Correio
Braziliense.
O monopólio CNN entrou
em contato com outros quatro ministros do governo Bolsonaro. Três não
responderam e Ciro Nogueira, o único a dar resposta, foi expresso ao dizer “me
inclua fora dessa”, segundo o jornal monopolista.
·
Crise continua
O general Braga Netto foi o primeiro general de quatro
estrelas a ser preso no Brasil. Longe de significar a solidez das instituições
públicas, o ocorrido aponta para o nível de crise e convulsão que o regime
político atingiu.
Ao que tudo indica, o ato da prisão foi feito sob o
consentimento do Alto Comando das Forças Armadas (ACFA). De
acordo com informações postas em “relatos” ao monopólio de imprensa “Folha de
São Paulo”, o ACFA foi informado ainda na noite de sexta-feira, um dia antes da
prisão, que ocorreria ação da PF contra militares. O atual comandante do
Exército, Tomás Paiva, teve conhecimento às 6h da manhã que o alvo se tratava
do general. Diante de ação premeditada, a cúpula do exército se reuniu para
discutir os cuidados da custódia do militar.
Os generais do Alto Comando das Forças Armadas estão
consentindo com o indiciamento e prisão dos militares reacionários mais
envolvidos na trama golpista de extrema-direita de 2022 como um movimento de,
ao entregá-los, tentar recuperar a legitimidade sobre as imagens das Forças
Armadas reacionárias e continuarem com a ofensiva contrarrevolucionária,
inclusive os planos golpistas em curso de 2015, na forma de um crescente
intervencionismo nas instituições.
Dificilmente a credibilidade será recuperada. Tanto
pela grande participação de militares nas agitações bolsonaristas (26 dos 37
indiciados são militares, sendo 12 da ativa) quanto pela omissão dos então
comandantes frente à agitação de ruptura institucional, visto que eles sabiam
dos planos, e só não embarcaram na ruptura por discordarem quanto ao momento e
à forma, uma vez que o imperialismo norte-americano havia vetado o golpe
declarado.
Quanto a Braga Netto, o general está preso em uma sala
confortável no Comando Militar do Leste, lugar em que trabalhou durante a
intervenção militar no Rio de Janeiro, ocorrida em 2018 durante o governo de
Michel Temer (MDB).
¨ Tarcísio
passa pano para Bolsonaro e diz que golpe foi obra de "2 ou 3 caras"
Demonstrando claros
sinais de constrangimento, o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas
(Republicanos), passou pano para Jair Bolsonaro (PL) sobre a tentativa de golpe
após a prisão do general Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa do
ex-presidente, que estaria obstruindo as investigações.
Sem se pronunciar sobre
a prisão do colega de ministério no ex-governo, Tarcísio fez vista grossa para
o montante de provas colhidas pela Polícia Federal (PF) - incluindo declarações
em reuniões ministeriais em que ele esteve presente - e afirmou que o plano
golpista foi obra de "2 ou 3 caras". Até o momento, a PF já indiciou
40 pessoas na organização criminosa golpista.
"Eu não vi nenhum
elemento que implique Bolsonaro no planejamento, articulação ou liderança
de uma trama golpista. Então, não tem nada que relacione Bolsonaro ao que 2 ou
3 caras pensaram e que, do ponto de vista de Forças Armadas, não eram ninguém
para pensar em nada - e o que foi pensado é altamente reprovável, desarrazoado.
E eu não vejo nada que implique Bolsonaro com essas pessoas", afirmou.
Ainda em defesa do
ex-presidente, o governador paulista disse que, enquanto ministro, "nunca
vi o presidente para mim falar qualquer coisa nesse sentido".
Sob flerte da mídia
liberal e do sistema financeiro para encampar a candidatura da terceira via à
Presidência, Tarcísio tentou desviar da pergunta sobre o tema e apontou
Bolsonaro, inelegível até 2030 e alvo de iminente prisão, como candidato da
ultradireita na disputa contra Lula em 2026.
"Eu não vejo
motivos para a inelegibilidade do Bolsonaro, então para mim o candidato é ele.
Se não for, será quem ele indicar. Para mim, a coisa é muito simples, a unção
de Bolsonaro... Bolsonaro nessa questão será fundamental e é o que vai garantir
consistência para esse grupo e fazer com que se chegue a uma vitória",
afirmou.
"A situação está
difícil, mas quantas vezes já vimos situações sendo revertidas. Ele continua
sendo um grande ator da direita e vai ser em 26, independentemente de qualquer
coisa", emendou.
Sobre a articulação de
sua candidatura à Presidência, costurada por Gilberto Kassab, presidente do PSD
e seu assessor especial no governo paulista, Tarcísio desconversou.
"Eu converso até
pouco [com Kassab sobre o tema]. Mas, eu converso com todo mundo, com o
[governador de Goiás e presidenciável declarado, Ronaldo] Caiado, [o governador
do Paraná] Ratinho, Bolsonaro. E, de certa forma, você não vê ninguém -
obviamente Caiado tem uma posição diferente por circunstâncias dele -, mas não
tem ninguém que diz que tem que ser eu", desviou Tarcísio.
¨ Míriam Leitão comenta prisão de Braga Netto e faz
revelação que deixa golpistas em pânico
A jornalista Míriam
Leitão deu uma informação que deixou os golpistas da operação "Punhal
Verde e Amarelo" mais preocupados ainda do que ficaram com a prisão do
general Braga Netto no sábado pela manhã.
Na hierarquia
do golpe, segundo o rol anotado no Plano da operação, que foi confeccionado
pelo general Mário Fernandes, preso antes de Braga Netto, o ex-vice da chapa de
Bolsonaro só estava abaixo do general Heleno e do principal beneficiário do
golpe, o ex-presidente Jair Bolsonaro, o "Valente Fujão", que
implorou por um golpe de Estado, mas fugiu para os Estados Unidos.
Uma fonte citada
pela jornalista informou que foram apreendidos na operação de prisão de Braga
Netto e de apreensão de material com seu auxiliar e braço direito coronel
Flávio Peregrino, uma quantidade imensa de material com possibilidade de lançar
ainda mais luzes sobre tudo o que aconteceu durante a tentativa frustrada de
golpe.
Braga Netto era o
operacional do golpe, o CEO no organograma da operação "Punhal Verde e
Amarelo".
"O general
Braga Netto continuava, seguia, como disse a minha fonte, seguia buscando dados
sigilosos das investigações. E dessa forma, com a sua rede de contatos, ele
poderia interferir na investigação. Esse é que é o risco. Outro motivo: O fato
de que se descobriu que ele é... levou o dinheiro, 100 mil reais, ele que
entregou, isso o colocava no mesmo patamar dos envolvidos na execução do plano
desse plano de Copa 2022, "Punhal Verde e Amarelo" que nesse momento
estão presos. Então ele fica no mesmo patamar. Eles acham que ele tem também
muito poder e influência e portanto significava ainda, significa ainda um risco
à ordem pública. Foram esses três motivos que me deram na informação que eu fui
buscar. Eu também fui perguntar o seguinte: na conversa lá, quando na delação,
na colaboração premiada do major [na verdade, tenente-coronel] Mauro Cid, ele
diz o seguinte, que ele pegou esse dinheiro com o pessoal do agronegócio. Eu
perguntei se iam investigar o pessoal do agronegócio. A minha informação é que
tem muita informação nova nos telefones celulares apreendidos ontem, cujo
conteúdo já foi captado pela Polícia Federal, já foi captado, já está,
portanto, em análise. E além disso, com o assessor, o coronel, que é assessor
do general Braga Netto, que é o Peregrino, Flávio Peregrino, ele tinha na mão
dele dezenas, a palavra foi dezenas de pendrives, e isso tudo está sendo analisado
nesse momento, eles acham que tudo isso levará a quem exatamente no
agronegócio, né? Quando você fala agronegócio parece que é muito, tem muita
gente séria, tem muita gente boa e tem muita gente, e tem gente que estava
envolvida com isso. Então... Essas informações podem estar em todo esse
conteúdo que foi apreendido. Que outra informação se tem? O que isso leva? Leva
à conclusão de que as investigações continuam. Portanto, ainda que tenha
aqueles 40 indiciados, as investigações continuam porque mais informações estão
chegando."
Com essa quantidade
de material, ficam em pânico não apenas os militares envolvidos, mas também os
apoiadores do agronegócio, que financiaram um golpe que previa assassinar Lula,
Alckmin e Alexandre de Moraes, uma ousadia criminosa jamais vista na História.
¨ Justiça
condena Filipe Martins por gesto racista em sessão do Senado
A Justiça Federal em
Brasília condenou Filipe Martins, ex-assessor especial para Assuntos
Internacionais do governo Jair Bolsonaro (PL), por realizar gesto considerado
racista durante uma sessão no Senado Federal em março de 2021. A sentença foi
proferida pelo juiz David Wilson de Abreu Pardo, da 12ª Vara Federal Criminal,
informa o g1. A decisão baseou-se na Lei de Crimes Raciais, e a
pena imposta inclui restrição de direitos e pagamento de indenizações.
<><> Relembre o
caso
O incidente ocorreu enquanto
Martins acompanhava uma fala do então ministro das Relações Exteriores, Ernesto
Araújo, sobre a aquisição de vacinas contra a Covid-19. Durante a sessão, o
ex-assessor fez um gesto com a mão direita, juntando os dedos polegar e indicador
em formato de círculo, enquanto passava a mão pelo paletó.
O gesto foi imediatamente
associado a um símbolo supremacista branco pelos, pois sua forma remete às
letras "W" e "P" (“white power”, ou poder branco). A
denúncia foi formalizada pelo Ministério Público Federal (MPF), que considerou
a ação um ato deliberado de discriminação racial.
<><> Decisão
judicial e pena
Na sentença de 81 páginas, o
magistrado detalhou a análise das provas apresentadas, incluindo imagens da
sessão. Ele concluiu que Filipe Martins realizou o gesto de maneira voluntária
e consciente, descartando a alegação de que ele estaria apenas ajustando a
lapela do terno.
“O réu realizou
voluntariamente o gesto reputado criminoso pela acusação, não se tratando de
ajuste da lapela do paletó”, afirmou o juiz. Ele também destacou que Martins
olhou diretamente para sua imagem exibida em uma grande tela no plenário,
reforçando a intencionalidade do ato.
Martins foi condenado a dois
anos e quatro meses de prisão em regime inicial aberto, mas a pena foi
convertida para restrição de direitos. Ele deverá:
·
Prestar 850 horas de serviços comunitários;
·
Pagar R$ 1 mil mensais por 14 meses a uma
instituição social;
·
Quitar multa de R$ 8,2 mil;
·
Indenizar a sociedade em R$ 30 mil por danos
morais.
<><> Defesa e
argumentação
A defesa de Martins
argumentou que o gesto não foi intencional e que a breve duração do movimento
não sustentaria a acusação. Também alegou que a perícia das imagens não teria
condições de comprovar qualquer intenção discriminatória.
Contudo, o juiz entendeu que
a análise técnica e a sequência dos gestos captados pelas câmeras evidenciaram
a prática voluntária. A sentença ainda destacou que o alcance do ato foi
amplificado pelo fato de ter ocorrido durante uma transmissão pública, potencializando
seus efeitos discriminatórios.
A defesa de Filipe Martins
informou que recorrerá da decisão.
Fonte: A Nova
Democracia/Fórum/Brasil 247
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