Eleição na
Alemanha: o que cada partido propõe
"É a economia,
estúpido!": o democrata Bill Clinton venceu a eleição americana em 1992 com
esse slogan inoficial de campanha, que poderia muito bem se aplicar à breve campanha
eleitoral,
que agora se inicia, para a eleição antecipada do Bundestag (a câmara
baixa do Parlamento alemão), em fevereiro de 2025, que definirá quem será o
próximo chefe de governo da Alemanha.
Pois nada preocupa mais
os eleitores alemães do que as dificuldades enfrentadas pela economia alemã, em parte como
resultado da guerra na Ucrânia. Muitos têm medo
da inflação, de perder o emprego ou de não conseguir pagar o aluguel.
O assunto está
diariamente nos jornais, como mostra o caso emblemático da crise na Volkswagen, maior montadora
da Alemanha e um símbolo da economia alemã.
Assim, não é
nenhuma surpresa que renda, inflação e emprego ganhem destaque nos programas
eleitorais dos partidos alemães neste início de campanha eleitoral.
<><> CDU/CSU:
menos impostos e refugiados
O bloco de
centro-direita, formado pela União Democrata
Cristã (CDU),
maior partido conservador alemão, e a União Social Cristã
(CSU),
o partido conservador que só existe na Baviera, apresenta um programa eleitoral
que promete reduzir impostos e acabar com a imigração ilegal.
Os conservadores
querem uma proibição imediata da entrada de imigrantes não autorizados.
Qualquer pessoa que venha de um outro país da UE ou do espaço Schengen para
solicitar refúgio deve ser rejeitada já na fronteira.
A União, como é
conhecida a aliança entre CDU e CSU, quer reduzir gradualmente as alíquotas do
imposto de renda e diminuir gradualmente os impostos das empresas para 25%.
A proposta é que
a alíquota máxima do imposto de renda, de 42% (inclui as
contribuições sociais), valha apenas para as rendas mais altas. Hoje essa
alíquota é aplicável a quem tem renda anual superior a 66,7 mil euros, ou cerca
de 5% dos alemães. Até os anos 1990, a alíquota era de 56%.
Em um país onde um
em cada quatro habitantes são aposentados, os conservadores prometem não cortar
as aposentadorias. Também defendem que as pessoas que quiserem continuar
trabalhando além da idade de aposentadoria tenham isenção de impostos para até
2 mil euros que ganharem além do valor da aposentadoria.
O problema: as
ideias ousadas do candidato a chanceler federal da CDU/CSU, Friedrich Merz,
custariam muitos bilhões de euros e dificilmente seriam concretizadas se esses
partidos insistirem em respeitar o freio da dívida, ancorado na Lei
Fundamental (Constituição) durante o governo da ex-chanceler federal Angela
Merkel e que limita o endividamento público anual a 0,35% do Produto Interno
Bruto (PIB).
A União também é
contra a legalização da maconha e planeja revogar a medida se
chegar ao poder, argumentando que a lei introduzida pelo atual governo não
reduz o mercado ilegal nem o consumo.
A aliança também quer
reverter outras reformas do atual governo, como a que encurtou os prazos
para aquisição de cidadania alemã por estrangeiros e facilitou a
obtenção da dupla cidadania, além da lei que facilita a
mudança legal de gênero. Quanto ao aborto, quer mantê-lo da forma como está hoje e é contrária
à descriminalização.
Embora o próprio
Merz não seja muito popular entre o eleitorado, a União lidera com larga
vantagem as pesquisas de intenção de voto, com pouco mais de 30% das intenções
de voto, e tem boas chances de eleger o próximo chanceler federal após a
eleição antecipada de 23 de fevereiro.
<><> Social-democratas:
renda e segurança social
O SPD, liderado pelo
chanceler federal Olaf Scholz, aposta em
melhores salários e fortalecimento da seguridade social. O partido quer alívio
fiscal para 95% dos contribuintes, mas não detalha como quer chegar a isso.
O valor das
aposentadorias é um tema central na campanha do partido, que quer manter o patamar
atual, no qual a aposentadoria equivale a 48% da renda líquida na ativa.
Os
social-democratas querem reformar o freio da dívida para disponibilizar bilhões
de euros para investimentos urgentemente necessários, por exemplo, na renovação
da infraestrutura. O partido também está se concentrando em incentivos fiscais
para empresas que pretendam elevar os investimentos.
Em linha com sua
mensagem aos eleitores de baixa renda, o SPD quer que as pessoas com patrimônio
superior a 100 milhões de euros paguem um imposto sobre fortunas.
Candidato à
reeleição, Scholz anunciou que aumentaria mais uma vez o salário mínimo, que na
Alemanha é por hora trabalhada: "Na campanha eleitoral anterior, prometi
um salário mínimo de 12 euros e cumpri essa promessa. É por isso que estou
lutando por um salário mínimo de 15 euros".
Com aproximadamente
16% das intenções de votos nas pesquisas, o SPD tem grandes chances de integrar
a próxima coalizão de governo.
<><> Partido
Verde: proteção climática socialmente responsável
O Partido Verde, cuja campanha é
liderada pelo vice-chanceler Robert Habeck, está se concentrando na proteção climática socialmente
responsável. Durante os três anos da coalizão com o SPD e os liberais, os
verdes foram frequentemente acusados de sobrecarregar a população com seus
ambiciosos planos de proteção climática. Agora eles estão colocando bem menos
ênfase na redução dos gases do efeito estufa do que na campanha eleitoral de
2021.
Os verdes também
querem reformar o freio da dívida, elevar o salário mínimo para 15 euros,
introduzir subsídios para carros elétricos e propor um novo "fundo dos
cidadãos" para garantir as aposentadorias, que o partido, assim como o
SPD, quer manter no atual patamar de 48% da renda na ativa. Esse fundo também
deve ser alimentado com dinheiro do Estado.
Eles querem um
imposto para bilionários, como disse Habeck numa entrevista ao
tabloide Bild. De acordo com estimativas de especialistas, existem 249
bilionários na Alemanha: "Se você taxasse uma pequena parte da riqueza
deles, teria cerca de 5 bilhões a 6 bilhões de euros", estimou Habeck.
Esse dinheiro poderia ser usado para fortalecer as escolas, sugeriu.
<><> Liberais:
uma nova política econômica
O FDP,
liderado pelo seu presidente, Christian Lindner, está se concentrando na
economia e defende uma política econômica "fundamentalmente
diferente".
Depois de deixarem
a coalizão de governo, os liberais estão apresentando o que chamam de "FDP
puro": entre outras coisas, demandas por menos impostos e redução no
tamanho do Estado caracterizam o programa eleitoral.
O FDP também
defende uma reforma nas aposentadorias, com a introdução de uma aposentadoria
baseada na compra de ações e uma "idade de aposentadoria verdadeiramente
flexível", ou seja, cada um pode decidir quando quer se aposentar, o que
implicaria num valor maior ou menor de aposentadoria.
O FDP também
defende o respeito ao freio da dívida, um dos pontos centrais de discordância
com os dois parceiros de coalizão e que foi apresentado pelo partido como
justificativa para o fim do governo atual.
As pesquisas eleitorais
mostram que o FDP corre o risco de ficar de fora do Parlamento, já que pode não
alcançar o mínimo necessário de 5% dos votos.
<><> A
Esquerda: foco na justiça social
O partido A
Esquerda quer introduzir impostos mais altos para os ricos, incluindo um
imposto sobre herança de 60% para aqueles com uma herança de 3 milhões de euros
ou mais.
O partido também
quer aumentar o salário mínimo para 15 euros e o patamar das aposentadorias
para 53% (dos atuais 48%) da renda líquida na ativa.
Outro ponto defendido
é a melhoria do transporte público em áreas rurais e a proibição de voos para
distâncias inferiores a 500 quilômetros ou que não levem mais do que cinco
horas de trem.
Assim como o FDP, a
Esquerda também corre risco de ficar de fora do Parlamento.
<><> BSW:
conservadora no social, socialista na economia
A Aliança Sahra
Wagenknecht (BSW),
sigla populista de esquerda que leva o nome de sua fundadora, ocupa na
visão de analistas uma posição ímpar no cenário político alemão: esquerdista em
assuntos econômicos, porém mais próxima da ultradireita em questões como
imigração e diversidade de gênero.
A BSW é contra a
exportação de armas para a Ucrânia e as sanções contra a Rússia, quer
desmilitarizar a União Europeia e remover as armas nucleares dos Estados Unidos
do continente, e reivindica uma solução diplomática para o conflito na
Ucrânia.
<><> AfD:
a favor de gás da Rússia, contra imigrantes
Para a eleição de
fevereiro de 20254, o partido de ultradireita AfD apresentou pela primeira vez uma
candidata à chancelaria federal, a copresidente Alice Weidel.
A AfD já anunciou
pretensões de "reformar" e até mesmo de abandonar o bloco e a
zona do euro.
A sigla também quer
deixar o acordo climático de
Paris.
Ela nega que a mudança climática seja causada pela atividade humana e defende a
instalação de novas usinas de energia a carvão e usinas nucleares, além da
retomada da importação de gás natural russo.
A AfD quer ainda
controles de fronteira mais rígidos, que impeçam a entrada na Alemanha de
refugiados que tenham passado por outros países da UE, e defende até mesmo a
detenção na fronteira de solicitantes de refúgio enquanto seus pedidos
estiverem sendo analisados.
Apesar de ser o
segundo melhor colocado nas pesquisas, com 19% das intenções de voto, a AfD tem
baixas chances de integrar uma coalizão de governo, já que, dada a experiência
traumática da Alemanha com o extremismo de direita, é mantida isolada pelos
demais partidos por um cordão sanitário.
¨ Veja quem são os candidatos a chanceler federal
O Bundestag, câmara
baixa do Parlamento alemão, abriu caminho nesta segunda-feira (16/12)
para a antecipação das eleições gerais na Alemanha após reprovar o voto
de confiança apresentado
pelo chanceler federal Olaf Scholz.
Agora, é esperado
que Scholz encaminhe a dissolução do
Parlamento e a realização de novas eleições, previstas para 23 de fevereiro. Ao
menos quatro partidos já indicaram possíveis sucessores ao comando da maior
economia da Europa: o conservador União Democrata
Cristã (CDU),
a ultradireitista Alternativa para a
Alemanha (AfD),
o centro-esquerda Partido Social
Democrata da Alemanha (SPD),
e Os Verdes.
A futura formação
do Legislativo vai influenciar diretamente nessa escolha, já que o chanceler
federal alemão é escolhido pelos
parlamentares.
Eles formam coalizões para obter maioria dos votos e, assim, eleger o novo
representante.
Essas conversas
normalmente são lideradas pela sigla que obtiver a votação mais expressiva, ou
seja, o maior número de cadeiras.
Até o momento, a
CDU aparece disparada na liderança nas pesquisas, com cerca de 30% das
intenções de voto, seguida pela AfD, que oscila em cerca de 19%. As duas siglas
devem expandir suas atuais bancadas e terão peso nas negociações para formação
de alianças. O SPD, de Scholz, está na terceira posição, com 16% a 17%,
seguido, respectivamente, pelos Verdes (11%) e pela sigla populista de esquerda
Aliança Sahra Wagenknecht (8%).
Outras legendas,
como o Partido Liberal
Democrático (FDP,
na sigla em alemão), que foi central para o fim da coalizão de Scholz, e A
Esquerda não chegam a 5% das intenções de voto na maioria das pesquisas, não
atingindo assim o mínimo de votos necessário para integrar o Parlamento.
Veja quem já foi
indicado pelos partidos para disputar o cargo e o que cada um deles defende:
<><> Olaf
Scholz (SPD)
O atual chanceler
federal foi escolhido por
unanimidade pela direção do partido para tentar a reeleição. Apesar de perder
o voto de confiança dos parlamentares, uma nova formação do Legislativo pode
dar nova força de negociação à sigla. A expectativa, porém, é que a sigla não
consiga votos suficientes para liderar uma nova coalizão.
Scholz assumiu a
cadeira em 2021, após 16 anos de domínio da CDU sob a liderança da
ex-chanceler federal Angela Merkel, mas, desde o início do governo, enfrentou
dificuldades em conciliar o interesse dos partidos que compunham a coalizão.
Além da fratura
interna, Scholz chegou a um recorde de impopularidade em seu governo, com apenas 14% de
aprovação.
Recessão e medidas econômicas contribuíram para a maioria da população dizer
que quer novas eleições.
Internamente,
Scholz desbancou seu colega de partido, o ministro da Defesa, Boris
Pistorius, que há algum tempo é apontado como o político alemão mais popular do
país. Ele prometeu, se eleito, manter o apoio à Ucrânia, assegurar empregos no
país e melhorar a qualidade de vida da população mais idosa.
<><> Alice
Weidel (AfD)
A AfD
escolheu Alice Weidel, que é colíder da bancada do partido no Bundestag,
Ela será a primeira
mulher nos quase 12 anos de história da AfD a concorrer sozinha ao cargo
de chanceler federal.
Até agora, o
partido de retórica anti-imigração e crítico ao apoio militar à Ucrânia segue
isolado por um "cordão sanitário" imposto pelos demais membros do
Bundestag, que se recusam a costurar alianças com a sigla dada a experiência
histórica traumática da Alemanha com o extremismo de direita – algumas alas da
AfD são atualmente monitoradas pelo serviço secreto alemão por suspeita de
extremismo. A legenda tem poucas chances reais de fazer parte de um
governo dado o seu isolamento.
Weidel argumenta
que os últimos governos acabaram com "a espinha dorsal da indústria
alemã" e estragaram "tudo o que funcionava". Como solução,
propõe "baixar os impostos e os preços da energia", a reativação de
usinas nucleares e de carvão e a retomada da compra de gás natural – presumivelmente
da Rússia. Recentemente, defendeu o retorno imediato de sírios refugiados ao
seu país de origem, devido ao fim do regime de Bashar al-Assad.
Na economia, uma de
suas inspirações é a ex-premiê britânica Margaret Thatcher, que defendeu
redução de impostos, corte de subsídios estatais e privatizações.
<><> Friedrich
Merz (CDU)
O presidente da
União Democrata Cristã (CDU), Friedrich Merz, será o candidato
conjunto de seu partido e da União Social Cristã (CSU) nas
eleições gerais. Ele desponta como o principal favorito para o cargo. Se o
domínio da CDU se confirmar no Bundestag, a ascensão de Merz a chanceler
deve depender apenas de sua capacidade de negociar uma coalizão com
as siglas menores.
Merz atuou em
conselhos corporativos, incluindo a filial alemã da trilionária BlackRock,
maior gestora de ativos do mundo. Ele ingressou na CDU aos 17 anos e por muito
tempo foi visto como uma figura polarizadora no partido. Merz era rival ferrenho de
Angela Merkel dentro
da legenda, e sofreu diversas críticas ao longo de sua carreira política pela
forma com que se refere a imigrantes.
Em 2009, ele deixou
o Bundestag, retornando apenas em 2021, após a aposentadoria de Merkel. Merz
nunca ocupou um cargo de gestão pública.
Considerado um
"ultraconservador", Merz promete focar seu governo em cortes de
impostos, desregulação da economia e incentivos para empregos. Também defende
uma postura mais incisiva da Alemanha na defesa da Ucrânia.
<><> Robert
Habeck (Partido Verde)
O atual
vice-chanceler federal e ministro da Economia, Robert Habeck, é o candidato dos
Verdes.
Com a legenda em quarto lugar nas intenções de voto, é improvável que o
político de 55 anos se torne o próximo chefe de governo alemão, e sua
candidatura é vista como uma tentativa dos Verdes de assegurar espaço na
próxima coalizão.
Em entrevista à DW, Habeck mostrou-se
profundamente desiludido com a atual situação política da Alemanha, mas
defendeu o papel de seu partido no governo. "Nesta legislatura, nós
'limpamos' a energia, ela está mais verde; na próxima legislatura vamos
torná-la barata. Criamos precondições para a eletromobilidade, postos de
abastecimento; na próxima legislatura automóveis elétricos com que se pode
ganhar dinheiro passarão a ser parte do sistema energético", afirmou.
Ele também defendeu
uma moradia mais acessível. "E vamos apresentar essa oferta, de A a Z, e
aí tenho certeza de que alcançaremos um resultado eleitoral excelente."
Fonte: DW Brasil
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