Orgulho da 'barriga
de chope' é ignorância sobre riscos da gordura visceral
Você tem aquele tio
do churrasco que não abre mão de uma picanha suculenta, uma cervejinha gelada e
o clássico pão de alho com manteiga derretendo? Ou talvez um irmão ou amigo que
está sempre presente num rodízio de fim de semana, exibindo orgulhosamente a
sua famosa "barriga de chope"?
Quem sabe ele até
brinque, apontando para a barriga: "Um homem sem barriga é um homem
sem história!".
Se essa cena soa
familiar, saiba que isso tem outro nome: gordura visceral, e é algo que na
verdade merece bastante atenção.
Os médicos usam o
termo "visceral" porque essa gordura se acumula dentro da cavidade
abdominal (perto da barriga) e pode interferir no funcionamento de diversos
órgãos. Ela é bem diferente da gordura subcutânea (mais comum nos
quadris e coxas) e até mais perigosa.
“A gordura visceral
é mais metabolicamente ativa e prejudicial do que a subcutânea, aumentando os
riscos de síndrome metabólica e doenças cardiovasculares”, explica Caio Victor
Coutinho, nutricionista e conselheiro do Conselho Federal de Nutrição (CFN).
⚠️ Mas atenção: não são apenas a cerveja
ou o chope os grandes vilões. Qualquer exagero no consumo de calorias pode
causar esse efeito, que é mais comum, especialmente entre os homens, devido à
forma como o corpo masculino tende a acumular adiposidade na região abdominal.
Abaixo, entenda por
que isso acontece, quais são os sinais de alerta e como reverter o quadro.
Gordura visceral x
subcutânea
Antes de entender
os riscos da "barriga de chope", é importante conhecer os diferentes
tipos de gordura que podem se acumular no corpo. E existem dois principais: a
gordura subcutânea e a gordura visceral.
A subcutânea é
aquela que fica logo abaixo da pele, podendo ser pinçada entre os dedos. Ela
também é chamada de “gordura mole” e é pouco presente em homens, mas mais comum
nas mulheres devido ao estrogênio, um hormônio que favorece seu acúmulo em
áreas como quadris e coxas.
A
gordura visceral (a da “barriga de chope”), por outro lado, está
localizada mais a fundo, atrás dos músculos abdominais, ao redor de órgãos como
o fígado, estômago e intestinos. E justamente por causa disso ela é mais
perigosa.
Há dois pontos de
atenção a serem considerados.
Embora não seja a
tão perigosa, a GORDURA SUBCUTÂNEA é a mais difícil de eliminar.
No caso da gordura
visceral, o acúmulo está relacionado não apenas ao peso total da pessoa, mas
também à forma como o corpo armazena gordura. Isto é, quando o corpo atinge o
limite de armazenamento de gordura subcutânea, ele começa a depositar
gordura de maneira disfuncional, em lugares onde normalmente não deveria, como
ao redor dos órgãos.
“Ou seja, não é
apenas o excesso de gordura, mas o acúmulo em áreas que normalmente não servem
para essa reserva, como o fígado”, detalha Paulo Augusto Miranda, presidente da
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Esse processo está
relacionado a mudanças na forma como o corpo utiliza a energia que consome, o
que gera um desequilíbrio entre o que é ingerido e o que é gasto. Assim, a
gordura visceral, por ser mais metabolicamente ativa, pode afetar o
funcionamento desses órgãos, levando a problemas mais graves.
“Quando essa
capacidade de armazenamento no subcutâneo chega ao limite e o balanço
energético continua positivo, mudanças metabólicas começam a ocorrer,
resultando em uma adiposidade patológica”, acrescenta Miranda.
Quando prestar
atenção?
Claudia Arouca,
profissional de educação física e presidente da Academia Brasileira de Personal
Trainers (ABPT), explica que um dos principais indicadores para avaliar esse
risco é a relação cintura-quadril (RCQ), uma medida ajuda a
identificar se o acúmulo de gordura visceral está em níveis preocupantes.
📝 SAIBA COMO
MEDIR: Primeiro, meça a circunferência da sua cintura acima do umbigo, e
do quadril na parte mais larga. Em seguida, divida o valor da cintura pelo do
quadril; isto é, se a cintura for 80 cm e o quadril 100 cm, a relação será 0,8.
♀️ Para mulheres:
O ideal é que a
relação cintura-quadril fique abaixo de 0,85.
♂️ Para homens:
O ideal é que a
relação cintura-quadril seja menor que 1,0.
"Valores acima
desses limites indicam maior probabilidade de desenvolver doenças crônicas e
problemas cardiovasculares, como infarto e hipertensão", diz Arouca.
Fora isso, Coutinho
também lembra que é importante procurar um profissional adequado para uma
melhor avaliação do quadro, como um nutricionista, que pode fazer uma avaliação
completa da saúde do paciente, analisando não apenas exames de sangue, mas
também medidas do corpo, como a circunferência da cintura.
Com isso, é
possível também identificar sinais do problema bem no começo. Aliado a isso, o
nutricionista também pode calcular índices, como a quantidade de gordura no
fígado, que são importantes para detectar riscos e tomar medidas preventivas a
tempo.
Fora isso, Miranda
também lembra que é importante procurar um profissional adequado, como um
nutricionista ou endocrinologista, para uma avaliação mais detalhada e
cuidadosa do quadro. Isso porque, além do aumento da circunferência abdominal e
do peso, as outras alterações causadas pelo acúmulo de gordura visceral
geralmente são assintomáticas.
No entanto, se o
aumento de peso for significativo, algumas pessoas podem observar sintomas como
dores articulares, dificuldades no sono, como apneia do sono, entre
outros. Mas, ainda assim, essas alterações não são facilmente detectadas,
o que torna a situação mais delicada.
"É importante
ressaltar que o diagnóstico do excesso de gordura abdominal pode ser feito de
maneira simples e prática. A simples medição da circunferência abdominal ou o
acompanhamento do peso corporal já são formas eficazes de identificar um
possível acúmulo de gordura visceral, tanto em homens quanto em mulheres. Esse
é um ponto essencial, pois o diagnóstico precoce facilita a adoção de
estratégias para prevenir complicações mais sérias", detalha o
especialista.
Riscos associados
O nutricionista e
conselheiro do Conselho Federal de Nutrição (CFN), Caio Victor Coutinho,
explica que quando consumimos álcool, seja ele na forma de chope ou vinho, o
corpo o processa de uma forma específica: ele é primeiro transformado em
acetaldeído no fígado, depois em acetato, um tipo de substância que o corpo usa
para gerar energia.
Isso acontece
porque o etanol (o principal composto do álcool) é oxidado e, nesse processo,
interfere no funcionamento do metabolismo.
Ou seja, o álcool
diminui a capacidade do corpo de queimar gordura de maneira eficiente, o que
acaba fazendo com que ela se acumule na região abdominal, levando à famosa
“barriga de chope”.
Apesar disso,
Coutinho ressalta que não é só o álcool que causa esse problema. Na verdade,
qualquer ingestão excessiva de calorias, principalmente por meio de
alimentos processados ou bebidas açucaradas, pode gerar o acúmulo de gordura
visceral, especialmente na região abdominal.
E como esse tipo de
gordura se acumula ao redor dos órgãos internos, ela não apenas afeta a
estética, mas também tem sérios impactos sobre a saúde.
Ela contribui, por
exemplo, para a doença hepática gordurosa ao promover o depósito de gordura no
fígado. Estudos também mostram que o aumento da adiposidade visceral está
correlacionada com desequilíbrios hormonais em homens e mulheres. — Caio Victor
Coutinho, nutricionista e conselheiro do Conselho Federal de Nutrição (CFN).
Nos homens, ela
pode reduzir a testosterona e aumentar os níveis de estrogênio,
o que impacta a fertilidade. Já nas mulheres, pode interferir na função
ovariana e no equilíbrio hormonal.
Já quando há o
acúmulo de gordura no músculo, isso afeta também a forma como ele responde à
insulina, o que aumenta a resistência ao hormônio. Ou seja, o corpo precisa
produzir mais insulina para controlar os níveis de glicose no sangue, o que
pode levar ao desenvolvimento de diabetes tipo 2.
Movimentar o corpo
e prestar atenção na alimentação
Para ajudar
pacientes que têm dificuldade em perder gordura visceral de maneira
sustentável, o segredo é adotar uma abordagem equilibrada,
combinando mudanças na alimentação com uma reeducação comportamental.
A personal trainer
Claudia Arouca explica que o objetivo é evitar dietas muito restritivas, que
podem levar ao efeito sanfona, e, em vez disso, focar em escolhas
alimentares mais saudáveis e duradouras.
Uma boa estratégia
nutricional é a dieta mediterrânea, que é rica em alimentos frescos e naturais,
como frutas, vegetais, grãos integrais e gorduras saudáveis.
Ao consumir entre 6
e 10 porções diárias de frutas e vegetais (cerca de 500g), é possível
melhorar a qualidade da dieta e garantir a ingestão de nutrientes importantes,
como fibras, antioxidantes e vitaminas.
Isso ajuda na
redução da gordura abdominal e no aumento da saúde geral do organismo. Ou seja,
quanto mais nutritivos forem os alimentos, mais eficaz será o emagrecimento.
Outra parte
importante desse processo é o uso de técnicas da nutrição comportamental. Isso
envolve, por exemplo, o auto-monitoramento da alimentação, ajudando o paciente
a perceber os momentos em que há comportamentos alimentares disfuncionais ou
exagerados. Dessa forma, o paciente consegue tomar consciência dos próprios
hábitos e fazer ajustes.
Outro ponto
fundamental é estabelecer metas realistas e alcançáveis, que permitam mudanças
graduais e consistentes e focar em exercícios físicos. Reconhecer e
recompensar pequenos progressos também é essencial para manter a motivação e
aumentar as chances de sucesso.
Assim, a chance de
o paciente seguir um plano de alimentação a longo prazo aumenta
consideravelmente, evitando o efeito sanfona e promovendo a perda de peso de
forma saudável.
O ideal também é
procurar um profissional de educação física, seja ele de uma academia ou um
personal trainer. Ele fará uma avaliação detalhada para entender a situação
atual e, assim, ajudar a atingir os objetivos de forma mais eficiente, saudável
e rápida. — Claudia Arouca, profissional de educação física e presidente da
Academia Brasileira de Personal Trainers (ABPT).
Fonte: g1
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