Reserva
ovariana: o que é e como ela se relaciona com a fertilidade feminina
No
caso das mulheres, nem sempre o relógio biológico e os planos de vida andam em sintonia.
Isso se dá, porque a fertilidade se relaciona diretamente com a idade -- e à
reserva ovariana.
"À
medida que as mulheres envelhecem, a fertilidade diminui devido a alterações
normais que ocorrem nos ovários. Ao contrário dos homens, que continuam a
produzir espermatozoides ao longo da vida, uma mulher nasce com todos os
folículos contendo óvulos em seus ovários. Ao nascer, há cerca de um milhão de
folículos. Na puberdade, esse número terá caído para cerca de 300.000. Dos
folículos remanescentes na puberdade, apenas cerca de 300 serão ovulados
durante os anos reprodutivos. A maioria dos folículos não é usada pela
ovulação, mas passa por um processo natural de envelhecimento e degeneração
chamado atresia. A atresia é um processo degenerativo que ocorre
independentemente da mulher estar grávida, ter ciclos menstruais normais, usar
anticoncepcionais ou estar em tratamento de infertilidade", explica o
ginecologista e obstetra Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana.
"A
passagem natural do tempo é responsável alterações importantes: uma com relação
à qualidade e outra relacionada à quantidade de óvulos. A quantidade
decrescente de folículos contendo óvulos nos ovários é o que chamamos de ‘perda
de reserva ovariana'", completa.
• Menstruação
e ovulação: qual é a relação?
Durante
os anos reprodutivos, as mulheres têm períodos menstruais mensais regulares
porque ovulam regularmente a cada mês. "Os óvulos amadurecem dentro de
esferas cheias de fluido chamadas ‘folículos’. No início de cada ciclo
menstrual, quando uma mulher está menstruada, um hormônio produzido na glândula
pituitária, localizada no cérebro, estimula um grupo de folículos a crescer
mais rapidamente em ambos os ovários. O hormônio hipofisário que estimula os
ovários é chamado de hormônio folículo-estimulante (FSH). Normalmente, apenas
um desses folículos atingirá a maturidade e liberará um óvulo (é a ovulação!);
o restante gradualmente irá parar de crescer e degenerar”, diz o médico.
“A
gravidez ocorre se o óvulo for fertilizado e se implantar no revestimento do
útero. Se a gravidez não ocorrer, o endométrio é eliminado com o fluxo
menstrual e o ciclo recomeça. Os ciclos de uma mulher permanecerão regulares,
de 26 a 35 dias, até os 30 e os 40 anos, quando ela perceberá que seus ciclos
ficam mais curtos. Com o passar do tempo, ela começará a pular a ovulação,
resultando em períodos perdidos”, completa. Em última análise, os períodos
tornam-se cada vez menos frequentes até cessarem completamente.
• O que
acontece quando há perda de reserva ovariana?
"Como
as mulheres nascem com todos os folículos que terão, o conjunto de folículos em
espera é gradualmente usado. À medida que a reserva ovariana diminui, os
folículos tornam-se cada vez menos sensíveis à estimulação do FSH, de modo que
requerem mais estimulação para que um óvulo amadureça e ovule. No início, os
períodos podem se aproximar, resultando em ciclos curtos, com 21 a 25 dias de
intervalo. Eventualmente, os folículos se tornam incapazes de responder bem o
suficiente para ovular consistentemente, resultando em ciclos longos e
irregulares”, explica Rodrigo.
A
diminuição da reserva ovariana geralmente está relacionada à idade e ocorre
devido à perda natural de óvulos e diminuição da qualidade média dos óvulos que
permanecem. No entanto, mulheres jovens podem ter redução da reserva ovariana
devido ao tabagismo, história familiar de menopausa precoce ou até cirurgia
ovariana prévia. "Também podem ter a reserva diminuída mesmo que não
tenham fatores de risco conhecidos", explica o médico.
• Dá para
saber como está a reserva?
Existem
testes médicos para a reserva ovariana, mas nenhum consegue prever com
assertividade a possibilidade de engravidar. "Esses testes não determinam
se uma mulher pode ou não engravidar, mas podem determinar que as alterações
dos ovários relacionadas à idade começaram. Mulheres com baixa reserva ovariana
têm menor chance de engravidar do que mulheres com reserva ovariana normal na
mesma faixa etária. Nenhum teste único nem qualquer combinação de testes é 100%
preciso", diz o especialista.
Ok,
mas e a qualidade do óvulo? O que isso significa?
As
mulheres se tornam menos propensas a engravidar e com maior risco de perdas
gestacionais quando a qualidade dos óvulos diminui, o que ocorre à medida que o
número de óvulos restantes diminui.
"Essas
mudanças são mais notadas quando ela atinge seus 30 e poucos anos. Portanto, a
idade da mulher é o teste mais preciso da qualidade do óvulo. Uma mudança
importante na qualidade do óvulo é a frequência de anormalidades genéticas
chamadas aneuploidia (muitos ou poucos cromossomos no óvulo). Na fertilização,
um óvulo normal deve ter 23 cromossomos, de modo que, quando fertilizado por um
espermatozoide também com 23 cromossomos, o embrião resultante terá o total
normal de 46 cromossomos. À medida que uma mulher envelhece, mais de seus
óvulos têm poucos ou muitos cromossomos. Isso significa que, se ocorrer a
fertilização, o embrião também terá muitos ou poucos cromossomos. A maioria dos
embriões com muitos ou poucos cromossomos não resulta em gravidez ou resulta em
perda gestacional. Isso ajuda a explicar a menor chance de gravidez e maior
chance de aborto em mulheres com mais idade", conta o especialista.
• Existe
"idade máxima" para engravidar?
Os
melhores anos reprodutivos de uma mulher estão na casa dos 20 aos 30 anos. A
fertilidade já começa a mudar a partir daí, especialmente após os 35 anos.
Apesar disso, os tratamentos de reprodução assistida, orientados por um médico
especialista, que terá o histórico do casal e poderá indicar medicamentos para
estímulo da ovulação, são os mais indicados para mulheres com mais idade, após
os 40.
"Em
última análise, a ovodoação pode ser uma estratégia para mulheres que não
tiveram sucesso com as técnicas ou apresentam insuficiência ovariana prematura,
também conhecida como menopausa precoce. A doação de óvulos, que envolve o uso
de óvulos doados por outra mulher que normalmente tem 20 ou 30 anos, é muito
bem-sucedida. A alta taxa de sucesso com a doação de óvulos confirma que a
qualidade dos óvulos associada à idade é a principal barreira à gravidez em
mulheres mais velhas", finaliza o médico.
Fonte:
Glamour Saúde
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