Mães e
filhos fazem terapia como estratégia para melhorar relações familiares
Foi-se
o tempo em que terapia era recomendada somente aos que sofressem de
determinadas restrições ou diagnósticos. Hoje, o perfil dos pacientes que
buscam o apoio psicológico mudou, e especialistas são procurados para conversar,
ouvir e ajudar aqueles que simplesmente se questionam sobre a vida.
É o
caso de Camila Generoso, 42. Psicóloga, ela começou a fazer terapia ainda antes
de começar a graduação, mas entre idas e vindas, engatou continuamente há uma
década. Para ela, as sessões ajudam principalmente no autocuidado e cuidado com
o próximo.
"Como
profissional, quando atendo um paciente, sei que estou lidando também com
problema de outros familiares próximos a ele, então, de certa forma, quando me
cuido estou cuidando do meu filho também", afirma.
Mãe
de Arthur Generoso, 13, ela conta que vê como um avanço as pessoas se
interessando cada vez mais em cuidarem da saúde mental. "É importante que
entendam que quem faz terapia não é doido. Essa imagem que tínhamos de que a
sessão de terapia funcionava como um castigo para crianças e adolescentes
mudou. É um lugar em que a criança não vai ser julgada, pelo contrário",
completa.
Casada
com um outro profissional da área da saúde mental, ela diz que o filho, que já
passou por algumas sessões de terapia em outras fases da vida, demonstrou
vontade própria em fazer um acompanhamento profissional.
"Ele
pode ter visto esse movimento e se sentiu interessado, principalmente porque
era o único que não fazia terapia em casa", conta Camila.
O
menino começou o acompanhamento aos seis anos, a principio, por indicação da
mãe, mas parou. Hoje, quem escolheu foi ele mesmo. Tímido, ele diz ter sentido
melhora na hora de fazer novos amigos na escola após a escolha. "Sinto que
me ajuda, principalmente na timidez", relata Arthur.
Estudante
do 7º ano do ensino fundamental, ele também gosta de estudar música e artes
marciais, e sente que parte do incentivo vem, justamente, da terapia.
"No
começo, quando fiz das primeiras sessões, até me assustava um pouco. Mas vi que
não precisava ser assim porque a terapia me ajudou a ter mais cabeça",
completa Arthur.
Psicóloga
e psicanalista de parentalidade e maternidade, Amanda Lopes diz que,
independentemente da idade, é interessante que uma pessoa procure terapia
quando quiser questionar suas certezas. No caso das mães, Lopes considera
interessante procurar esse apoio até mesmo antes, se possível, do nascimento do
filho, ou quando a pessoa decide que quer ser mãe.
"É
interessante que essas pessoas possam questionar o por quê querem um filho.
Depois do nascimento também é importante para entender algumas mudanças
corporais e do puerpério", diz Lopes.
O
acompanhamento psicológico é defendido por ela também em outras fases do
desenvolvimento e crescimento desse filho. "Independentemente da época em
que essa mãe procure terapia, para cada fase do desenvolvimento do filho existe
um desenvolvimento da mãe", explica a especialista.
Seja
no nascimento, na primeira infância, ou quando as mães enfrentam o chamado
"ninho vazio", época em que o filho sai de casa, buscar um psicólogo
pode ajudar, segundo Lopes.
A
empresária Miriam Modesto, 45, conta que, quando era mais jovem, decidiu
começar a fazer terapia por problemas relacionados ao trabalho. "Procurei
o serviço mais para desabafar e ter um direcionamento de como agir, e gostei
bastante", diz.
Apesar
de ser apoiada pela família hoje, no começo ela diz não ter sido tão simples.
"Quando a gente conta que está fazendo terapia para quem não entende muito
bem como funciona, acham até que estamos ficando doidas", afirma Miriam.
Dali
em diante, quase 20 anos depois, ela segue fazendo acompanhamento psicológico.
Neste meio tempo, foi atendida por profissionais diferentes. Mais recentemente,
ela voltou a fazer por conta de dilemas gerados com a pandemia e gosta de
abordar, principalmente, temas relacionados à família, como a ausência da filha
que foi fazer intercâmbio.
Mãe
de duas filhas, Miriam diz que a primogênita também se interessou pelo
atendimento. Ao perceber que estava muito ansiosa antes da viagem, ela sugeriu,
despretensiosamente a ideia da terapia. E ela gostou, conta a mãe.
Para
ela, a prática ajudou para além da distância que está geograficamente da filha.
"Foi interessante porque algumas coisas antes de estourar em mim, já
haviam sido tratadas por ela em terapia", relata.
Lopes
explica que, nesses casos, a terapia pode funcionar também como um item
facilitador da relação entre mães e filhos. "Essa mãe, às vezes, não tem
condições de escutar o filho da forma como ele gostaria de ser escutado, e ter
um psicólogo nessa posição pode facilitar essas relações", afirma a
psicóloga.
Isabelly
Modesto, 17, filha de Miriam, se mudou para Iowa, nos Estados Unidos, no
segundo semestre do ano passado, e essa decisão a motivou a procurar um auxilio
profissional. Ter uma terapeuta para conversar, segundo ela, ajudou a entender
qual caminho seguir.
"Foi
bom porque foi a primeira vez que fiquei longe de casa por tanto tempo, então
queria alguém que conseguisse me aconselhar", relata a jovem.
A
terapia funciona como um espaço em que ela se sente segura para expressar seus
sentimentos, segundo ela. "Claro que também me abro com meus pais, mas
prefiro compartilhar os momentos felizes", diz. Ela entende que, por
estarem longe, nas oportunidades em que podem matar a saudade prefere tratar de
outros assuntos e deixar os momentos tristes para compartilhar com a psicóloga.
Além
da relação com os pais, ela diz que a terapia a ajuda a entender melhor a
perspectiva dos outros. "Sinto que antes pensava muito apenas em mim.
Depois de um ano com acompanhamento parece que, quando estou em uma situação
mais complicada, consigo entender melhor o lado do outro também", afirma.
Para
Lopes isso acontece porque a terapia funciona como um auxiliar nesse processo
de autoconhecimento e autenticidade. "É importante lembrar, no entanto,
que essa não será sempre a única indicação, a terapia, às vezes, precisa estar
combinada em um processo multidisciplinar com nutricionista e psiquiatra",
explica.
Uma
das possibilidades de terapia que agradou Isabelly foi uma sessão conjunta com
sua mãe, caso seja necessário. "Em casos de desavenças com meus pais ou
situações que a gente não concorde, ela me deu essa oportunidade", relata.
Esse
tipo de terapia, segundo Lopes, tem a mediação do profissional durante a
conversa de duas pessoas, mas costuma ser indicada para casos mais específicos,
como luto ou quando uma das partes deixa de falar com a outra. "Se a
família tiver condições de fazer, pode ser interessante, dependendo da
abordagem. Mas a terapia individual também possibilita que exista uma mudança
dinâmica nessas relações", completa.
Fonte:
FolhaPress
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