Juízes de
Porto Seguro são investigados por grilagem, fraude processual, enriquecimento
ilícito e agiotagem
As
correições nas serventias extrajudiciais da comarca de Porto Seguro e a
correição extraordinária no Cartório de Registro de Imóveis e Tabelionato de
Notas de Trancoso levantaram suspeitas sobre um possível esquema corrupção na
Costa do Descobrimento baiano, envolvendo juízes, advogados, promotor,
empresários e membros do Poder Executivo municipal.
Com
os indícios, a Corregedoria-Geral de Justiça (CGJ) do Tribunal de Justiça da
Bahia ( TJ-BA) solicitou o afastamento cautelar de três juízes, pedido que foi acatado pelo Pleno em sessão sigilosa na última
quarta-feira (19). Entre os crimes atribuídos aos magistrados estão corrupção,
lavagem de dinheiro, grilagem de terra, fraude processual e agiotagem.
Foram
afastados os juízes Fernando Machado Paropat Souza, titular da 1ª Vara dos
Feitos Relativos às Relações de Consumo, Cíveis, Comerciais e Registros
Públicos; Rogério Barbosa de Sousa e Silva, titular da Vara da Infância e
Juventude e Execução de Medidas Sócio Educativa; e André Marcelo Strogenski,
titular da 1ª Vara Criminal, Júri e Execuções Penais.
Os
magistrados também estão proibidos de acessar o Fórum da comarca de Porto
Seguro, especialmente nas serventias judiciais, de manter contato com
servidores e magistrados da comarca e de acessar as serventias extrajudiciais.
O Pleno do TJ-BA também ordenou o bloqueio de acesso aos sistemas judiciais,
extrajudiciais, administrativos e outros vinculados do tribunal e do token
institucional de cada magistrado.
Parte
das evidências do suposto esquema de corrupção foram obtidas a partir da
análise do aparelho celular do juiz Fernando Machado Paropat Souza. Segundo a
Corregedoria, há a suspeita de que ele atuava de maneira suspeita em processos
judiciais junto com o promotor de Justiça de Porto Seguro Wallace
Carvalho.
A
ata da correição feita pela CGJ aponta que um dos arquivos inspecionados
constata a elevação patrimonial a “pessoas politicamente expostas",
incluindo magistrados e promotor. Conforme o documento, foi identificada a
aquisição de área de 60.000m² por magistrados, promotor de Justiça e advogado,
gerando sociedade em empreendimento imobiliário com 76 lotes individualizados,
cabendo 8 deles a cada um dos juízes. A apuração ainda constatou que o
empreendimento estaria integralmente vendido, com exceção de apenas um lote de
4.000m², esta, uma das 76 partes.
“Ao
efetuar a busca pelo indicador pessoal do Cartório de Registro de Imóveis, a
fim de levantar as matrículas decorrentes, foi encontrada uma quantidade
substancialmente elevada de bens imóveis titularizada pelos juízes no município
de Porto Seguro, em áreas deveras valorizadas”, indica a Corregedoria. Do
patrimônio imobiliário levantado pelas serventias do município de Porto Seguro,
apurou-se, até o presente momento, 101 matrículas em nome dos magistrados da
comarca.
Segundo
a Corregedoria, depoimentos colhidos durante a correição ordinária nas
Serventias Extrajudiciais relataram a suposta prática de grilagem, com a
desconsideração de áreas do Estado da Bahia e da União, de antigos e
tradicionais ocupantes de terras devolutas e de questões de preservação
ambiental; liberação de glebas dentro de matrículas bloqueadas em razão de
decisão em ação discriminatória ajuizada pelo Estado da Bahia; arbitrariedades,
ilícitos ambientais, ajuste de condutas e transações imobiliárias suspeitas,
envolvendo supostos proprietários de imóveis, empresários e autoridades locais,
como membros do Ministério Público, do Poder Judiciário, da Polícia Civil e da
Polícia Militar, além da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, inclusive
mencionados nominalmente.
Em
seu relatório, a CGJ também destaca que o juiz André Marcelo Strogenski,
titular da 1ª Vara Criminal, utilizou de maneira irregular o Sistema
SISBAJUD da 1ª Vara Cível, com aparente indicação de parte e número de
processo inexistentes. Além disso, a sua assessora estaria atuando em processos
nos quais o seu filho é advogado.
Os
fatos apurados apontam outra atitude suspeita de Stogenski, com a
liberação do uso de veículo pertencente ao Poder Judiciário para um réu de um
processo de homicídio em trâmite em outra unidade judicial inclusive com
suspeita inicial de sua utilização no momento do crime e, também, de ser objeto
de negociação particular. O juiz teria, ainda, autorizado viagens para um réu
condenado por evasão de divisas.
Consulta
ao acervo processual da comarca de Porto Seguro verificou a tramitação de
processo judicial com interceptação telefônica inclusa nos autos, onde um
presidiário conversa com sua esposa e afirma que o juiz criminal receberia
dinheiro para proferir decisões favoráveis.
Em
outros depoimentos colhidos e mediante verificação e transcrição de mensagens e
áudios, a Corregedoria observou que juízes e o promotor de Justiça supostamente
praticam agiotagem, utilizando intermediário para realização de empréstimos de
dinheiro a juros.
O
relatório conclusivo dos trabalhos correicionais feito pela CGJ do TJ-BA
apontou para a existência de “caos registral na serventia”, que funcionava, em
grande medida, como “repositório de qualquer documento apresentado, permitindo
a comercialização de imóveis com valores milionários, sem capacidade de
emprestar segurança jurídica quanto ao direito de propriedade, com consignação
da existência de registros de área não especificada, totalmente dissociados da
constante na descrição original, por desmembramentos de áreas superiores às
registradas ou sem identificação de vínculo com a matrícula antecedente, em que
não é possível extrair a mínima especialidade objetiva”
De
acordo com os relatórios, a atuação do grupo provocou aumento do risco da
“aquisição imobiliária em Porto Seguro”; a dispersão de investidores;
insegurança das famílias que possuem seus títulos; ocupação ilegal de terras;
atração de inúmeras pessoas dispostas à prática delituosa de lotear, desmembrar
ou fazer propostas, inclusive sobre terras públicas, em desacordo com a
legislação de regência.
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Posto de combustível
no Centro de SP era usado para lavagem de dinheiro da venda de decisões
judiciais, aponta investigação
Um
posto de combustível na rua Conselheiro Furtado, bairro Liberdade, Centro
de São Paulo, foi usado para
lavagem de dinheiro dos valores obtidos nas vendas de decisões judiciais para o
desembargador Ivo de Almeida, aponta a investigação da Polícia Federal.
O
desembargador Ivo, dois advogados de Ribeirão Preto, interior paulista, e pelo
menos mais quatro pessoas que atuam em diferentes áreas foram alvos de mandados judiciais de busca e apreensão da
"Operação Churrascada" da Polícia Federal na última quinta-feira (20).
De
acordo com a investigação, Ivo é suspeito de vender sentenças judiciais em
processos sob a sua relatoria e em casos que passavam por seus plantões
judiciais. A PF também apura a suspeita de que ele obrigava funcionários
do seu gabinete a darem a ele parte dos salários que recebiam.
Nesta
sexta-feira (21), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decretou a prisão
preventiva do bacharel em direito Wellington Pires por suposto envolvimento no
caso.
Wellington
é apontado como a pessoa que prestava serviços informais ao advogado Luiz Pires
Moraes Neto, auxiliando-o diretamente nas tratativas com representantes do
desembargador Ivo de Almeida para compra das decisões judiciais.
Ao g1,
a defesa do magistrado informou que "embora já tenha requerido, ainda não
obteve acesso aos autos que supostamente sustentaram as medidas cautelares
deferidas pelo STJ".
"Aguarda-se,
assim, a autorização ao total conteúdo das investigações para que a defesa
possa se manifestar e, em consequência, reestabelecer no caso a verdade e a
justiça", afirmou o advogado Alamiro Velludo Salvador Netto.
O
advogado Luiz Pires Moraes informou ao g1 que irá se manifestar
apenas quando tiver acesso aos autos. O g1 também tentou contato com
a defesa de Wellington, mas não obteve retorno.
·
Lavagem de dinheiro em posto
De
acordo com a investigação da Polícia Federal, o posto de combustível que fica a
300 metros do gabinete de Ivo foi usado para efetuar o pagamento dos valores de
proprina relacionados à compra de sentenças.
A
investigação constatou que o posto recebeu diversas transações bancárias, como
o montante de R$ 100 mil no ano de 2017.
Nos
dois CNPJs que o comércio teve, os sócios que aparecem são os mesmos apontados
como os responsáveis por negociar os valores de propina em nome do
desembargador Ivo de Almeida.
A
investigação ainda ressalta que os suspeitos usavam o comércio como ponto de
encontro pessoal para as negociações.
·
Afastamento do desembargador
Após
a divulgação das informações da operação da PF, o STJ afastou o desembargador por um ano. A Corregedoria Nacional de Justiça também instaurou Reclamação
Disciplinar (RD) contra o desembargador.
De
acordo com a decisão do corregedor nacional de Justiça, ministro Luis Felipe
Salomão, a divulgação dos fatos pela imprensa “pode indicar que a conduta do
requerido é contrária aos deveres de independência, prudência, imparcialidade,
integridade profissional e pessoal, à dignidade, à honra e ao decoro,
circunstâncias que justificam a instauração de processo”.
Na
decisão, o ministro Salomão dá prazo de 10 dias para que a presidência e a
Corregedoria Geral de Justiça do Tribunal de Justiça de São Paulo prestem
informações, sobre eventuais pedidos de providências e processos
administrativos envolvendo o desembargador.
Ivo
de Almeida, de 66 anos, é formado em direito pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP). Ingressou na magistratura em 1987 como juiz
substituto em Bauru, interior paulista.
Em
1992, quando foi juiz corregedor dos presídios, Ivo tinha a missão de corrigir
os eventuais erros e os abusos cometidos pelas autoridades penitenciárias
contra os presos.
Em
2 de outubro daquele ano, a Polícia Militar invadiu o Pavilhão 9 da Casa de
Detenção do Carandiru, na Zona Norte de São Paulo, para conter uma rebelião de
detentos.
A
PM foi acusada pelo Ministério Público de executar 77 presidiários. Os outros
34 foram mortos pelos próprios colegas de cela. Ivo chegou a ser ouvido como
testemunha em um dos julgamentos contra os PMs pelo 'Massacre do Carandiru'.
O
magistrado tomou posse como desembargador do TJ em 2013.
“É
o momento de renovar nossos votos, nossos compromissos de bem servir à Justiça
paulista com dedicação, afinco e, sobretudo, com lealdade”, falou Ivo, quando
assumiu há mais de dez anos a 1ª Câmara de Direito Criminal do TJ como
desembargador.
Fonte:
BN
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