João
Carlos Salles: ‘O medo e a esperança’
Lula
declarou não ter medo dos reitores; não foram eles que lhe teriam mordido o
dedo que perdera em uma fábrica. A declaração parece estapafúrdia. Os reitores
não expressam hoje nenhuma resistência especial ao governo, nem se posicionam
como seus principais adversários, como se estivessem na linha de frente do
combate à política do governo para a educação superior. Lula pareceria estar,
assim, chamando para a briga quem está tão somente disposto a colaborar.
Caberia
até duvidar que um político experiente a tenha proferido, sobretudo estando na
condição de presidente – como duvidamos um dia que um ministro da educação
pudesse dizer que as universidades eram lugar da balbúrdia. Na verdade, o
contexto da fala, ao assistirmos o vídeo, dá a entender algo bem diverso. Ele
simplesmente não se constrangeria com reitores, não se incomodaria em
recebê-los e, à diferença do inominável antecessor, já o teria feito mais de
uma vez, não tendo ademais motivo algum para ter raiva dos reitores, que,
afinal, não lhe arrancaram o dedo.
Em
suma, Lula não estava confrontando os reitores, nem os chamava para uma briga.
A fala é bem mais clara e generosa que sua transcrição inquinada, embora a
frase continue sendo infeliz. E não há contexto que a redima por completo,
sendo, ademais, triste a constatação: Lula, que, para tantos de nós, vocaliza a
esperança, passa agora a incluir a palavra “medo” em seu discurso – no caso, um
medo que ele certamente não precisaria nem deveria ter, mas que nos obriga à
reflexão, pois, como já se disse, as palavras não caem no vazio.
Em
sendo assim, outra questão se impõe. As universidades têm motivo para ter medo
de Lula? Parece também que não. Afinal de contas, a comunidade universitária
não se arrepende de, em ampla maioria, ter apoiado sua eleição, nem se
constrange pelos muitos títulos de doutor honoris causa que lhe foram
concedidos. Não esquece, entre diversos aspectos, a expansão das universidades,
o apoio às ações afirmativas; não esquece os recursos destinados às ciências e
à cultura. Além de tudo, é cristalina a certeza de não haver termo de
comparação entre o eventual erro que ele possa cometer em atos e falas e o puro
lixo obscurantista que derrotamos e tudo faremos para que não retorne.
Feita
essa ponderação, temos, contudo, muitos motivos para temer, sim, ameaças que
continuam a tomar corpo inclusive no atual governo. Continua em curso e é
acelerado um processo de destruição da universidade pública tal como a
conhecemos ou, melhor ainda, como a desejamos, enquanto parte essencial de um
projeto de nação soberana e radicalmente democrática. Os sinais são muitos,
alguns antigos, enquanto outros tornam-se agora mais fortes. Vejamos brevemente
alguns desses traços.
A
universidade tem se desfigurado como lugar de produção autônoma de ciência,
cultura e arte, de modo que se amesquinha por muitas formas. Nesse sentido, já
foram feitos alguns importantes diagnósticos, que bem podemos considerar
complementares.
Por
exemplo, ao longo de décadas, Marilena Chauí tem insistido na corrosão interna
da universidade, que ora se transformaria em operacional. Sua reflexão é, sem
dúvida, uma das mais consistentes contribuições intelectuais a esse respeito,
flagrando razões externas e internas à degradação da essência mais virtuosa da
universidade.
A
universidade operacional seria, em suas palavras, “a expressão mais alta do
neoliberalismo”. Enquanto tal, ela promove a substituição da criação acadêmica
pelo simples produtivismo, subordina o interesse geral do conhecimento ao
interesse privado, demole, enfim, o processo de formação, uma vez que
transforma a pesquisa em quase o seu contrário, pois esta, em tal ambiente,
deixa de ser “a busca daquilo que não foi pensado ainda e daquilo que precisa e
pode ser pensado, mas se torna resolução de problemas empresariais”.
Competição,
privatização, rebaixamento de horizontes, tudo isso constrói um cenário
demolidor de uma universidade que deveria ser sobretudo crítica, de modo que,
para nos contrapormos a essa corrente avassaladora, precisaríamos reiterar
nosso compromisso mais radical com a liberdade.
Tendo
em conta que Marilena Chauí é uma referência intelectual que Lula jamais
ignoraria, haveríamos de imaginar que, em tese, sua política para a educação
superior não levaria água para o moinho de tal destruição. Não é, porém, o que
temos visto, sobretudo se tomamos a universidade por seu funcionamento mais
estrutural.
Ao
longo do tempo, tem sido enfraquecida a estrutura administrativa das
universidades. Podemos falar de uma universidade que ora padece os efeitos
deletérios de uma precarização do trabalho – uma terceirização extensiva, que,
por enquanto, só não atinge inteiramente o quadro docente. Não obstante, temos,
sim, uma brutal diferença na carreira que precariza o trabalho dos docentes que
ingressaram mais recentemente na universidade, assim como tem se descuidado da
situação dos aposentados, que veem diminuídos seus rendimentos.
Além
de tal enfraquecimento, o orçamento das universidades tem padecido na última
década uma redução significativa, tanto em recursos de capital (que podem ter
agora alguma reversão com o PAC, mas isso seletivamente e por escolhas não
necessariamente feitas pelas próprias universidades), quanto em recursos
discricionários de custeio. O absurdo atual está no fato de que o orçamento
destinado à gestão dos campi pelas administrações centrais não cresceu e é
flagrantemente insuficiente.
Por
outro lado, têm afluído recursos de diversos ministérios (em especial, do
Ministério da Educação), mas na forma de termos de execução descentralizada
(TEDs). Com isso, o recurso comum não cresce, ao tempo que se amplia o volume
de recursos por meio dos quais a universidade passa a ser contratada.
É
dupla, então, a condenação dos nossos reitores e respectivas administrações
centrais. Por um lado, eles se tornam maus síndicos, uma vez que não têm
recursos para garantir o funcionamento adequado de nossos campi. Por outro
lado, eles passam a fazer a mediação entre os interesses parciais do governo e
os interesses ainda mais particulares de grupos ou indivíduos que são
contratados e devem doravante entregar produtos – cabendo aqui, é claro, ter a
confiança de que tais procedimentos, sendo lícitos como não poderiam deixar de
ser, sejam também corretos, algo que somente um adequado acompanhamento e total
transparência podem garantir.
O
risco na hipertrofia desses dois papéis é claro. A universidade, de forma
brutal, conquanto possa ter um volume significativo de recursos, passa a ser
uma prestadora de serviços e não lugar autônomo de ensino, pesquisa e extensão,
com o agravante de que tais contratações costumam escapar da gestão direta da
universidade e de seus mecanismos de controle, sendo amiúde geridas através das
fundações.
Esses
dois papeis (de síndico e de mediador), salvo melhor juízo, comprometem a
autonomia da instituição, seu brilho e valor, além de amesquinharem o lugar dos
reitores. E não se trata de um mero poder pessoal, que é quase um poder nenhum,
mas sim do simbolismo de uma instituição que é o espaço do pensamento crítico,
dependendo assim para sua proteção e realização de uma efetiva capacidade de
gestão administrativa autônoma da universidade.
Não
posso deixar de mencionar o simbolismo. Não se trata, insisto, do poder
hierárquico do reitor, mas sim da própria expressão de uma instituição cuja
medida é o conhecimento e cujo tempo é a longa duração. Apenas nesse sentido o
cargo de reitor pode ter uma solenidade própria. Tem sido assim em nossa
história e é preciso que assim o seja, de modo que possa resistir também por
seus gestos e por sua palavra a qualquer ataque desferido contra a aura e a
autonomia da universidade e, de modo prático, possa ser defendido todo e
qualquer membro da comunidade que esteja no exercício da produção e transmissão
de conhecimento, com liberdade plena.
Enfraquecida
a administração e reduzido o corpo técnico da universidade, é natural a
dificuldade que as instituições tiveram, por exemplo, para cuidar do volume de
licitações no período do REUNI, assim como a têm ainda para a gestão cotidiana
de obras e manutenção. Agora, porém, fazendo da necessidade virtude, algumas
universidades decidiram passar a gestão de mais recursos para as fundações – o
que, todavia, compromete ainda mais uma capacidade administrativa já abalada.
Assim,
além de cuidarem de um orçamento global de projetos que, em certos casos, é
superior ao orçamento discricionário sob a responsabilidade de suas
pró-reitorias de planejamento e administração, as fundações passam a competir
diretamente com a administração central.
Alguns
podem dizer, amparados em consultas às suas respectivas procuradorias, que tal
passagem de recursos destinados a obras e serviços para as fundações (outrora
restritas ao apoio da pesquisa e da extensão) é algo plenamente lícito. Devemos
lembrar, contudo, os riscos de um procedimento tornado abusivo – à semelhança
do açúcar, que é uma droga lícita, mas cujo consumo excessivo, como bem
sabemos, faz muito mal à saúde.
Aliás,
apesar de sua inanição teórica, o gerencialismo como filosofia administrativa
parece também cada vez mais vigente, sendo desprovido de uma reflexão que vá
além da reiteração dos resultados ou, por vezes, da defesa do conforto mais
individual do emprego. Por vezes, com um discurso de modernização, de
utilização de tecnologias e, sobretudo, de eficiência, vemos bordões liberais
antigos sendo assumidos como se fossem de esquerda, horribile dictu, uma
esquerda neoliberal.
Com
isso, quebra-se em muito o alicerce da cidadania universitária, retirando-se da
instituição as condições de conformação de um espírito de corpo cujo fundamento
em muito depende da presença e do convívio, bem como de certos procedimentos
por vezes morosos, pacientes, como paciente deve ser a vida do conceito.
Parece-nos
óbvio também que o enfraquecimento da administração direta e de sua necessária
orientação por um planejamento associado às atividades finalísticas da
instituição, mesmo quando amparado em suposta licitude e feito em nome da
eficiência, pode causar danos estruturais à autonomia das universidades.
Afinal, se outrora temíamos que as fundações funcionassem como uma espécie de
puxadinho das universidades, cabe temer agora que as universidades se tornem um
puxadinho das fundações.
Em
se consolidando tal processo, veremos esvaziada a relação entre meios e fins da
universidade pública, o modo interno e singular por que se relacionam as formas
de gestão e os interesses da autonomia acadêmica. Com isso, ao fim e ao cabo, o
planejamento será simplesmente determinado pela administração, como se fôssemos
uma repartição pública a mais.
Os
números devem falar mais alto que qualquer consideração abstrata. Que se vejam
os relatórios das universidades e das fundações. Os dados são públicos e
claros, mostrando as distorções de papeis, com a plena vigência de mecanismos
que só podem agradar a quem considera que as universidades não são um valor
como um todo e devem ser apenas solicitadas a colaborar em projetos de
interesse imediato dos governantes ou ainda do legislativo, sem que estejam
garantidos o interesse precípuo da formação, a liberdade de pesquisa, a
equanimidade entre as áreas e, enfim, o fortalecimento de sua representação
coletiva.
A
situação parece-nos, sim, grave e ameaçadora. Tempos atrás, confrontados que
fomos com a situação dos hospitais universitários, foi apresentada (e, em
alguns casos, empurrada goela abaixo) a proposta de transferência de sua
administração para a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH). Às
universidades continuaria a caber a indicação dos superintendentes, bem como,
em tese, teriam a garantia de os hospitais se destinarem não apenas à
assistência, mas sobretudo e condicionalmente à pesquisa e ao ensino.
Tendo
sido correto ou não tal processo, não se pode voltar atrás nesse caso. Criar
uma empresa não era a única forma de atender à exigência do TCU de eliminar a
terceirização que estava se dando via fundações de apoio. O resultado agora não
pode mais ser desfeito. As vantagens de gestão são muitas, os recursos são
deveras mais abundantes e avanços na eficiência se verificaram, ao preço,
todavia, de uma dura realidade que tampouco pode ser desconhecida, como pressão
acentuada da assistência e uma progressiva diminuição da importância dos
quadros remanescentes das universidades.
Entretanto,
aquilo que poderia até ser debatido no caso desses equipamentos específicos, os
hospitais universitários, não pode nem deve jamais estender-se às próprias
universidades. A ocorrência pura e simples da palavra “medo” faz, porém,
despertar muitos fantasmas.
Será
que, nesse contexto de diminuição da aura da instituição e de aprisionamento de
seu orçamento a interesses externos ou parciais, algum iluminado não aparecerá
com solução de uma Empresa Brasileira de Serviços Universitários, uma EBSERU?
Os reitores poderiam talvez tornar-se uma espécie de superintendentes (decerto
indicados por suas comunidades e com uma gratificação de fazer inveja), mas ao
preço de uma subordinação da instituição a princípios de gestão e a interesses
que escapam à autonomia universitária? Não seria a contratação de serviços mais
fácil e generalizada nesses casos, sem controle além dos próprios resultados e
arrumando assim a vida de muitas pessoas?
Se
acaso podia ser discutida uma tal empresa no caso dos hospitais, para as
universidades ela seria o mais puro pesadelo. Que a questão possa ocorrer nessa
forma agora fantasiosa, isso se deve a que talvez já estejamos sorvendo aos
poucos desse fel, de sorte que, mesmo sendo absurdas, propostas equivalentes
(como um todo ou em pedaços) podem vir a sair de dentro de alguma gaveta, na
qual já podem estar sendo curadas.
O
terrível, portanto, é esse cenário de ficção, essa distopia, já não parecer
distante da realidade, ou seja, que tal ameaça, mesmo sendo improvável, tenha
deixado de ser uma mera alucinação. Precisamos, então, combatê-la em sua
origem, em seus mínimos indícios, mesmo enquanto apenas na fantasia; combater
tantos os desvios concretos quanto as mais fantasmagóricas possibilidades,
identificando todos os vestígios ora presentes de enfraquecimento da
administração, sem que fiquemos simplesmente satisfeitos pela eventual
abundância de recursos, caso não estejam garantidos os destinados ao interesse
comum do ensino, da pesquisa e da extensão.
Não
só para tornar-se “operacional”, a universidade tem avançado profundamente na
precarização dos trabalhos, assumindo sua vida ordinária a lógica própria da
terceirização. Em um cenário assim, devemos convir, o programa Future-se pode
ter sido um mero ensaio de amadores. Aliás, em minha experiência na
instituição, nos diálogos que pude ter quando um governo fascistóide tentou
impingir-nos a proposta, identifiquei adeptos do Future-se em lugares os mais
improváveis. Diziam, por vezes, a proposta é um absurdo, mas essa ou aquela
ideia poderia ser aproveitada. E tais adeptos, parece-me agora, agem ainda,
sorrateiramente ou em gestos largos.
Tenho
convicção de que Lula não tem em conta esses aspectos ao admoestar reitores e
grevistas. Em sendo assim, mais que a um cálculo de reposição salarial, mais
que a uma conta orçamentária, precisamos chamar sua atenção para o fato de que
a universidade precisa reagir a ameaças. E Lula tem papel essencial nisso tudo,
caso lembre, como tem tudo para lembrar, que a universidade não é mesmo lugar
de fazer medo, mas sim de trazer esperança e de cultivar a liberdade.
Cabe-nos,
sim, chamar o governo (ao menos, na parte que congrega progressistas que
respeitam a universidade) a combater procedimentos, a recusar mecanismos que
ora tendem a submeter o orçamento da universidade a interesses que escapam ao
controle e ao bem mais comum – não sendo de descartar, inclusive, a
possibilidade de que, em tal cenário desordenado, o uso de alguns recursos se
mostre incompatível com os princípios mais elevados da gestão pública ou do
interesse estritamente acadêmico.
Nesse
momento, é preciso que, para além das justas reivindicações salariais e
orçamentárias, os atores principais da cena universitária coloquem na mesa a
própria natureza e essência da universidade e a defendam. Que a ANDIFES, por
exemplo, brigue por condições para que sua matriz orçamentária possa ser
rodada, e não aceite simplesmente, como se fora uma lei da natureza, que TEDs e
emendas parlamentares se avolumem descontroladamente.
Que
também reponha o debate sobre a lei orgânica e a autonomia da universidade.
Que, com isso, esteja irmanada à mobilização das diversas entidades da educação
e de cada universidade, de sorte que esse debate urgente perpasse nossos órgãos
colegiados e mesmo nossas assembleias. Não há, afinal, vida universitária nem
capacidade de resistência, se a rotina burocrática e os procedimentos
gerenciais assumem o lugar da mobilização democrática de docentes, técnicos e
estudantes, em todas as formas possíveis.
Precisamos
de algum refinamento crítico e muita mobilização coletiva, em uma luta que
também ela é de longa duração. A universidade é lugar de diálogo e crítica, bem
como do permanente ativismo de docentes, técnicos e estudantes. Não deveria ser
um simples emprego, mas sim uma vocação. Com tal empenho, podemos identificar e
combater melhor, para além do imediato, as formas mais mesquinhas de uma
agressiva razão instrumental, que pode assumir as faces do liberalismo, do
fordismo ou do mais abjeto pragmatismo em nossas relações, minando a própria
natureza da instituição.
Não
podemos esquecer. A universidade conseguiu unir-se diante de absurdo
obscurantista do governo anterior. Não pode falhar agora. Nos anos vindouros,
deve resistir aos encantos mais imediatos, em meio a um ambiente mais
progressista, no qual, todavia, também proliferam conservadores, reacionários
e, com grande galhardia, carreiristas interesseiros.
Não
se trata, pois, de resistir apenas às ameaças externas. Devemos combater os
gestos internos de cumplicidade com o absurdo. Afinal de contas, membros de
nossa comunidade podem vir a ser cúmplices de uma destruição com a melhor das
retóricas, cujas justificativas costumam ser típicas, tais como eficiência,
agilidade, mais recursos, economicidade. E dirão ainda, como se fora um
consolo, que os prejuízos atuais serão mínimos ou talvez sejam pagos apenas
pelas futuras gerações. Exatamente as gerações que são o cerne de nosso
compromisso social.
Sejamos
otimistas. Contaremos nessa luta com muitos aliados, inclusive com Lula, se ele
está disposto a se pôr, como é do seu perfil, como um militante da liberdade.
Aliás, podemos bem imaginar: Lula é tão sagaz que, sem querer, em uma fala
desastrada, trouxe à baila algo que deve incomodá-lo inconscientemente. Como
alguém que apostou e aposta nas universidades, talvez ele próprio esteja
decepcionado com quem acaso estiver sendo cúmplice de um mecanismo indesejável
ou da degradação, inclusive salarial, de nosso ambiente de trabalho.
Como
um sindicalista, talvez esteja insatisfeito com algumas manifestações
superficiais ou ostensivas de sabujice que pode ter presenciado. Quem sabe, ao
fim e ao cabo, ele não está, em sua inadvertida sabedoria, incomodado com os
rumos atuais da educação. Deveria estar, com certeza.
Toda
manifestação pública, qualquer o assunto, deve ser sopesada e pode ser bastante
custosa, não nos cabendo a bravata de nos dizermos corajosos. Ao contrário.
Sabemos bem que o medo não diminui a dignidade do ato que se faz necessário.
Não podemos assim deixar de temer o quadro atual nem as implicações de qualquer
fala que indigite mesmo as mazelas mais flagrantes. Apenas não podemos
silenciar, e em nossa voz coletiva desenha-se a promessa, a esperança.
Não
podemos renunciar à nossa condição de professores e de membros da comunidade
universitária; não podemos abrir mão da própria universidade, que, afinal de
contas, é nosso horizonte e nossa razão de ser. Recorrendo a uma bela imagem de
Borges, a universidade é nosso centro, nossa álgebra; e a vida não teria para
nós o menor sentido sem sua permanente defesa.
Fonte:
A Terra é Redonda
Nenhum comentário:
Postar um comentário