terça-feira, 4 de junho de 2024

A condenação do imperialismo

Donald Trump é o primeiro ex-presidente do imperialismo ianque condenado na esfera criminal. Esse é o resultado do julgamento que apurou a denúncia da Promotoria de que o ex-presidente promoveu fraude comercial para omitir um suborno pago a uma atriz pornô, com quem teve um caso; a sentença oficial sairá apenas em 11 de julho. Esse é, inclusive, o caso menos importante que pesa sobre este criminoso, investigado ou acusado ainda de ter arquitetado a famosa invasão ao Capitólio, de 6 de janeiro de 2020, além de ter se apoderado de informações secretas. Isso, todavia, é indiferente: em qualquer caso, Trump pode disputar as eleições e, se vencê-las, governar, ainda que preso.

Donald Trump será o candidato pela máfia do Partido Republicano – todos desistiram da disputa. A outra famiglia Democrata escolherá Joe Biden. Economia e inflação, dois tópicos centrais para 34% dos eleitores estadunidenses, jogam a favor de Trump: 72% dos eleitores consideram as condições econômicas “razoáveis ou ruins”, e a principal preocupação no país é o alto custo de vida (pesquisa do Pew Research Center). Há, ainda, os sucessivos fracassos do governo Biden no plano internacional e tendo frustradas suas tentativas de assegurar estáveis os interesses imperialistas ianques. Por outro lado, as mais de 90 denúncias contra Trump no sistema judiciário desafiará a capacidade dos marqueteiros de modificar a percepção das massas quanto à realidade. Noves fora, o que sobra é o fato de que, até agora, Trump tem ganhado fôlego e ameaça seriamente vencer as eleições – e o veredito de condenação, pelo menos este, não lhe retirou condições.

A crise geral de decomposição sem precedentes do imperialismo, sendo seu epicentro o imperialismo ianque, persiste acidentando sua própria ineludível rota à tumba escura da História: questão de tempo.

No Oriente Médio, o governo ianque fracassa ao tentar conter os arroubos genocidas de Netanyahu, por um lado, e em golpear e derrotar a heroica Resistência Palestina, por outro. Soma-se a isso as tentativas frustradas de conter os Houthis, no Iêmen, e de barrar a influência do expansionismo iraniano na região.

(Consta que o “humanista” Joe Biden, diante da brutal ação genocida das forças sionistas em Rafah, na qual eliminou, num único bombardeio, 45 pessoas no início desta semana com bombas fabricadas pelo EUA, teria afirmado que Israel ainda não ultrapassou a “linha vermelha” estabelecida pelos ianques com aquela ação. Isso diz tudo sobre Biden, tão contumaz em genocídio quanto seu rival Trump).

Na Ásia, Biden assiste ao crescimento das manobras militares do social-imperialismo chinês na sua pugna por retomar Taiwan, o que seria duro golpe no plano estratégico do imperialismo ianque: perder Taiwan significa perder o controle sobre o imperialismo japonês, sobre a península coreana e mesmo exigir um realinhamento das forças naquela região, considerada pelo “Estado profundo” ianque como a mais importante estrategicamente.

Em abril, o governo ianque tentou demonstrar força e anunciou a instalação de mísseis terrestres na região do Indo-Pacífico, nas Filipinas, em resposta à “crescente militarização chinesa”; dias depois, permitiu que o governo de Zelensky use armas norte-americanas em território russo. Em resposta, e buscando também tirar vantagens com seus interesses na Ucrânia, o imperialismo russo anunciou que pode usar meios nucleares para dissuadir o imperialismo ianque, pois tais mísseis podem atingir seus centros de comando, e iniciou, no fim de maio, um exercício militar nuclear. Aqui, é claro que Putin “fala duro” para sentar à mesa de negociação com um trunfo de “desconto” no preço para retalhar a Ucrânia. Por seu turno, o imperialismo alemão, buscando reafirmar sua hegemonia na Europa, concluiu um grande exercício militar na Lituânia (próximo, portanto, da Rússia) e, através de um oficial militar, afirmou: “Estamos prontos a defender cada centímetro de nosso território”, referindo-se aos países-membros da OTAN.

O desenvolvimento da situação mundial, de explosividade das massas e resistências armadas populares e nacionais e do incremento das guerras de rapina sobre a base da crise geral de decomposição do sistema imperialista, revelam de modo inconteste o estágio de senilidade avançado e agudo deste sistema, por mais brilhantes, majestosas e imponentes que ostentam suas fachadas. Ele não deixa, todavia, de significar grave e sério perigo ao mundo, inclusive de confrontos nucleares ou de uma nova grande guerra imperialista mundial. Todavia, não é o mais provável uma guerra mundial agora pois não interessa a nenhuma das superpotências ou potências, já que nenhuma delas concluiu seus preparativos para tal evento e também temem seus desfechos ante a magnitude sem precedentes dos arsenais atômicos das maiores delas. Este sistema, também condenado, segue ainda ameaçando a humanidade progressista. Permanece válido, no entanto, que a tendência histórica e política principal segue sendo a revolução, as lutas populares revolucionárias por libertação nacional nos países oprimidos. Afinal, apenas a libertação das nações oprimidas do jugo imperialista, por um lado, e a passagem do capitalismo ao Socialismo à esfera planetária, por outro, podem deter definitivamente este risco. Há que centrar atenção no avanço das lutas revolucionárias, na revolução mundial e não na guerra imperialista.

 

¨      Velhacas velharias. E a fé. Por Adhemar Bahadian

Semana de velhacas velharias e artimanhas diversas. Começo pelo choro patológico de Trump diante de uma acachapante derrota por um júri popular.

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Não sei se vocês sabem, mas Trump mereceu dois alentados volumes editados pela Associação Psiquiátrica Americana sobre os riscos dos traços doentios de sua personalidade sobre a sociedade americana e para o mundo em geral. Isto foi antes do primeiro mandato, quando Trump ainda não havia soltado a franga, como soltou desde então.

Muito, senão tudo, em Trump é trágico, antes de ser ridículo. Sua arrogância frente a qualquer manifestação, seja de quem for, diante das choramingas, do chove-mas-não molha permanente de suas intervenções, sempre a se considerar um objeto do ódio alheio, já sequer atraem a atenção dos grandes canais de televisão em Nova Yorque.

Foi assim agora, no Trump Plaza, quando apenas a Fox News ficou até o fim da arenga narcisista de Trump, misturada com seus ataques sem base ao sistema judiciário americano. Saíram todos e creio que muito breve Trump estará falando para as paredes, talvez brancas, do nosocômio.

Todos nós devemos agradecer às cadeias (palavra certa neste contexto) americanas por nos pouparem deste histérico-histriônico. Pretendo vê-lo derrotado em novembro. Até lá.

A segunda velhacaria, também já não nos assombra, mas choca por sua deslavada hipocrisia e sua insistência em nos fazer crer na honestidade de seus propósitos.

Na realidade, o tema também está vinculado, ainda que indiretamente ao anterior, pois tem óbvia relação com o objeto oculto da força financeira eleitoral de Trump. Refiro obviamente ao neoliberalismo e seus magnatas, cada vez mais a favor de uma sociedade desigual, na medida em que o lucro da patota mercantil continue a fermentar.

Confira a indecência de seguradoras de saúde particulares a ameaçar a suspensão de tratamento de seus associados com patologias diversas que impliquem tratamentos continuados. A manobra, por enquanto suspensa por negociações com as autoridades, apenas revela o que sempre se soube: que o seguro protege mais o segurador do que o segurado.

Não é por outra razão, que as seguradoras são reticentes em aceitar crianças com espectro de anomalias do desenvolvimento emocional ou intelectual e aumentam sem dó as contribuições de associados acima dos 60 anos, não importa o número de anos que este mesmo associado tenha contribuído com suas mensalidades para os cofres do segurador.

A tendência natural desta política é fazer com que apenas associado com capacidade financeira muito acima da média possa beneficiar-se de uma medicina cujo custo esteja na fronteira da apropriação indébita. Indevidamente.

Mais uma vez estamos navegando nas mesmas ambivalências do raciocínio neoliberal, profundamente antagônico aos preceitos constitucionais inscritos na Constituição de 1988, que, muita gente ilustrada quer ver pelas costas ou pelo menos devidamente decepada de seus direitos de proteção à saude e à educação. Gente finíssima.

O terceiro - e que deixei por último nesta crônica de velhacarias - fato que me chamou a atenção nesta semana, que também viu uma Marcha com Cristo de dimensões absolutamente identificadas com a crença de nosso povo, foi a objeção de parcela substancial da Camara dos Deputados à vacinação obrigatória contra a Covid em nossas crianças de menor idade.

Aqui, permito-me fazer uma advertência aos que me lêem hoje, não costumo escrever sobre o Congresso Nacional. Mas, recentemente o número de vezes em que me defronto com decisões ou votações surpreendentes ou visivelmente incompreensíveis -como a que recentemente permitiu a propaganda inverídica por plataformas de aplicativos durante a campanha eleitoral - me obrigam a dar minha opinião para que o silêncio não pareça consentimento.

Por razões diversas, já do conhecimento de todos, o Congresso Nacional hoje é francamente de natureza no mínimo oposicionista ao Executivo eleito. Até aí tudo bem, tudo normal como disse o oficial de plantão na proa do Titanic ao comandante do navio meia hora antes deste ser rasgado pela quilha de um icebergue.

O que não é normal nem aqui nem na Transilvânia do Drácula é uma obstrução a um programa de vacinação que poderá salvar vidas de crianças inocentes, incapazes de manifestar seu desejo de viver em paz e sem sequelas desde os primeiros anos de vida.

Ouço dizer que o presidente da Câmara tentou tirar o tema de pauta, mas que no final das contas o assunto está sob consideração da Comissão de Constituição e Justiça, a mais decisiva na avaliação da compatibilidade de projetos legislativos com a Carta Magna do país a que todo Parlamentar, aliás, jurou defender no ato de sua posse.

Sinceramente, acho descabida a ideia. Acho surpreendente que dela se cogite como se fosse questão “intra-muros”. Acho um escárnio que se debata o tema sem audiências públicas e sem o contraditório das melhores associações médicas deste país.

Mas acho sobretudo um movimento atemorizador que em tudo e por tudo nos faz lembrar de decisões infaustas tomadas durante a Pandemia da Covid neste país, onde 700 mil famílias perderam entes queridos por falta de vacinação.

Perseverar nesta trilha, sabendo o que hoje sabemos, sobretudo se a motivação desta eventual proibição de vacinar nossas crianças tenha o viés maléfico da política partidária, não hesitaria em dizer que algo muito demoníaco se instala em nossa capacidade de amar.

Amar ao próximo, mandamento maior do cristão. E que deveria ser a bandeira maior de marchas ou passeatas de um povo em busca de melhor destino.

 

¨      A deriva belicista dos líderes que lembra a Guerra do Vietnã. Por Domenico Quirico

Aqui está: a palavrinha foi falada: instrutores, conselheiros, boinas verdes. Parece uma palavra inofensiva. Em vez disso, lembrem-se desta data, 27 de maio. Porque quando a guerra, aquela grande, e não aquela cômoda por procuração ou confortavelmente não beligerante, se intensificar, vocês poderão começar disso para refletir com consternação sobre como começou para nós também. Infelizmente não nos ajudará a sofrer menos.

Dois anos foram desperdiçados para se acertar com as inverossímeis (mas utilíssimos, para eles, os arautos da Vitória Certa) comparações históricas com 1939 e a Segunda Guerra Mundial: Putin como Hitler quer conquistar o nosso mundo, Ucrânia como Polônia, riscos mortais de uma nova Munique se forem ouvidos os vis pacifistas etc., etc.. Como construir uma homeopática descida ao inferno, um Baedeker de guerra total, escrito, claro e distinto, no Vietnã dos anos 1960.

No entanto, tentem negar que aqueles eram tempos emocionantes. Muito diferentes daqueles das lentas digestões biderianas para o qual basta uma prosa simples. Os EUA, e com eles o Ocidente, finalmente tinham como líderes homens brilhantes e enérgicos, não cruéis e não fanáticos, tinham assumido o comando com ousadia, dinâmicos, rápidos e confiantes. Porque não havia mais tempo para esperar, a História nos momentos cruciais não concede tais luxos. Caso se hesite, se pense demais, o mundo, aquele inimigo, avança sem a gente. Sim, houve erros, Cuba, também então; como hoje, Afeganistão, Iraque. Mas, afinal, nada de muito importante, nada de muito grave: um vidro quebrado por uma pedrada, como brincava uma das cabeças-duras kennedianas. Sim: um vidro quebrado. Mas aquela sensação de terem se tronado vulneráveis, não era fácil de eliminar.

Como hoje, a Guerra Fria era mais fria do que nunca. Por isso. O Vietnã e agora a Ucrânia, pareciam o lugar mais adequado para tornar a força credível.

Tudo começou exatamente assim, com o envio dos instrutores militares para Saigon. Hoje muitos o estão anunciando, o furor galicano de Macron na linha de frente. O todo está camuflado com filosofismos xaroposos, minimalistas e fáceis de usar: o que muda, afinal? Foi apenas uma forma de se livrar do incômodo e longo processo de transferir os discípulos, os soldados ucranianos, para a Inglaterra ou a Polônia para os treinar com as novas armas decisivas, que acabarão num instante com a guerra.

O governo Kennedy não percebeu uma verdade muito antiga: quando se começa a discutir o uso da força, os defensores da força estão sempre mais bem organizados, parecem mais numerosos e sabem utilizar a seu favor tanto as armas da lógica, quanto aquelas do medo.

Assim como a água se transforma em gelo, nestes dois anos de guerra a ideia de que a vitória ucraniana fosse possível sem nós acabou se cristalizando até se tornar uma realidade. Não porque fosse verdadeira, nunca o foi, nem mesmo no momento da retirada russa, no início da agressão. Mas porque se tornou real nas mentes de alguns líderes muito poderosos que viam nela enormes vantagens para o seu próprio poder e para consolidar um incerto futuro político. Então, o que nunca existiu e que desde o início pareceu imediatamente frágil e transitório, a vitória ucraniana e a rendição russa com o fim de Putin, foi transformado em algo sólido e estável.

Um país heroico com um exército formado por uma falange tebana que aprendia rapidamente e dispunha de sugestivas capacidades de bricolagem bélica, os drones caseiros, os aposentados com os coquetéis molotov capazes de repelir os tanques russos, generais brilhantes com aparência marcial... E acima de tudo ele, Zelensky, o Grande Encantador. Aquele que foi o líder sul-vietnamita Diem para dar corpo ao trágico erro estadunidense na década de 1960.

É o presidente-star ucraniano que conseguiu, mês após mês, uma imperceptível, mas substancial mudança, a ilusão de que bastassem munições e depois tanques e depois alguns mísseis e os F-16 e... vamos lá, preguiçosos, mais um esforço e pronto. Porque era a ideia de vitória que nos ligava cada vez mais a ele. Dessa forma os protetores começaram a ficar à mercê dos protegidos.

Biden, Macron e, um após o outro, também aqueles que pudicamente continuam a jurar: nunca um soldado na Ucrânia!, se deram conta e se darão conta, às suas custas, que lidar com o complexo militar, industrial (e financeiro), depois que conseguiu se inserir no mercado, é terrivelmente difícil, leva você aonde você não queria ir.

Os belicistas endinheirados, tanto democráticos como autocráticos, têm a ideia de dispor sempre de uma nova arma, de uma estratégia imbatível. A fé deles sobrevive há mais de dois anos apesar dos fatos demonstrarem cada vez mais a sua ineficácia. São crentes que convertem por utilidade ou por mediocridade, aos poucos, até mesmo os políticos. Assim, a diplomacia encosta-se agora silenciosa num canto, miserável e perdida como um chinelo no meio do Saara. Usando de uma maneira inescrupulosa bandos de especialistas não relutantes e às vezes macarthistas para fazer o exame em quem não demonstraria suficiente zelo ocidental, a vitória a todo custo contra "os mongóis" tornou-se o que a opinião pública ocidental, "o povo", quer. Porque essa "é a nossa guerra", não se pode deixar os ucranianos lutarem sozinhos. A primeira etapa são justamente os conselheiros militares.

Os civis continuam a iludir-se de que são eles que controlam a situação, enquanto os novos mastins da guerra, em ternos e uniformes alinhados, dia após dia asseguram a sua posição de cada vez mais amplo controle das decisões na escolha dos fins e na avaliação dos meios. Enquanto eu os políticos perdem terreno, um passo após o outro, sem sequer perceberem que estão perdendo. A mentira tornou-se realidade, os governos ocidentais estão presos nela. A sua política fracassou, mas não podem admitir isso. Porque seria o seu fim político. Talvez poderíamos batizá-la de extensão, em outro tabuleiro de xadrez, da síndrome de Netanyahu.

A ajuda militar aos arrozais da Indochina e nas estepes ucranianas não mudou nada, pelo contrário, vietcongues e russos ganham terreno. Então se explica que a culpa não é das decisões erradas, mas dos sul-vietnamitas e dos ucranianos que se deixam matar rápido demais, erram as contraofensivas, pedem continuamente e depois desperdiçam os presentes. Bastaria algum bom soldado ocidental para ensiná-los a combater melhor a guerra. Depois, quando o primeiro “conselheiro” for morto, porque isso vai acontecer, aí cada soldado morto ocidental acabará por se tornar mais uma razão para que outros morram na Ucrânia. Foi assim no Vietnã.

Quando Kennedy foi morto, “os instrutores” já eram dezesseis mil. Setenta haviam sido mortos. A guerra tinha se tornado infinita e já estava perdida.

 

Fonte: A Nova Democracia/Jornal do Brasil/La Stampa

 

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