The Economist: Brasil, Índia e México estão
enfrentando as exportações da China
Finalmente, parecia a
hora da decolagem da manufatura. Com dificuldades para competir com o poderio
industrial da China, outros mercados
emergentes estavam prontos para se beneficiar: os custos de mão de obra de
seus rivais aumentaram e as crescentes tensões entre a China e o Ocidente
levaram as empresas a procurar novos locais para suas fábricas. No ano passado,
o investimento estrangeiro direto na China caiu para o nível mais baixo em 30
anos.
Mas a China começou a
reagir. Para reverter a desaceleração econômica e consolidar seu controle sobre
as cadeias de suprimentos globais, seus líderes lançaram uma onda de
investimentos em produtos de alta tecnologia, como baterias, veículos elétricos e
outros dispositivos ecológicos.
A fraca demanda
interna por produtos tradicionais, como carros, produtos químicos e aço,
significa que eles estão inundando os mercados globais. O preço médio das
exportações chinesas de manufaturados caiu quase 10% de 2022 a 2023, mas os
volumes de exportação aumentaram para níveis quase recordes.
Em uma recente visita
a Pequim, Janet Yellen, secretária do
Tesouro dos Estados Unidos, disse que o Ocidente não aceitaria uma enxurrada de
produtos baratos. Algumas semanas depois, em 14 de maio, o governo Biden lançou
uma série de tarifas que abrangia de tudo, desde células solares até seringas.
Os veículos elétricos foram atingidos com uma taxa de 100%. Entretanto, a China
tem outras opções para suas exportações, ou seja, mercados emergentes que
valorizam relações amigáveis com ela.
Como resultado, os
formuladores de políticas dos mercados emergentes estão preocupados. “A maior
ameaça do excesso de capacidade chinesa é para os países em desenvolvimento”,
diz Jorge Guajardo, ex-embaixador do México na
China. Em seu país, que se orgulha de seu setor automobilístico, a participação
de mercado dos veículos fabricados na China cresceu de quase nada em 2016 para
um quinto do segmento.
Mas as economias
emergentes também estão criando restrições à importação de produtos chineses,
ao mesmo tempo em que aceleram o impulso para o livre comércio em outros
lugares. Seu sucesso depende da sustentabilidade da abordagem da China, bem
como da destreza de sua própria abordagem.
Comece pelo lado do
livre comércio. Os países com ambições de fabricação estão desesperados para
ter acesso a grandes mercados, onde os próprios líderes estão interessados em
reduzir a dependência da China. Em fevereiro, o Chile assinou
um acordo comercial com a UE. O Mercosul, uma união alfandegária que inclui
Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, assinou um acordo com Cingapura e está
de olho em pactos com o Japão e a Coreia do Sul. Como não conseguiu concluir um
acordo nos sete anos até 2021, a Índia já assinou quatro.
Essa tentativa dos
mercados emergentes de reduzir as barreiras comerciais com o Ocidente está
acontecendo ao mesmo tempo em que elas estão sendo levantadas outras contra a
China. As autoridades veem isso como necessário para proteger os fabricantes
nacionais até que a onda de subsídios da China diminua.
“No final dos anos
2000, as empresas mexicanas pediam proteção e o governo lhes dizia: ‘bem, vocês
precisam aprender a competir’”, diz Guajardo. “Esse não é mais o caso.” O
México aumentou as tarifas de 544 produtos em abril. Ele impôs uma taxa de 80%
sobre determinadas importações de aço.
No entanto, alguns
produtos chineses são tão baratos que têm os preços mais baixos, mesmo com
tarifas altíssimas. Além disso, alguns produtos escapam dos impostos porque são
embalados em terceiros países. É por isso que as barreiras não tarifárias e as
proibições de importação também estão se proliferando.
A Índia lançou
investigações antidumping sobre diversos produtos, inclusive espelhos de vidro
sem moldura e fixadores, o que, segundo ela, protegerá suas pequenas e médias
empresas. O país também apresentou o maior número de casos antidumping entre
todas as nações do mundo. A China está retaliando. Sumant Sinha, chefe da
ReNew, uma empresa indiana de tecnologia verde, diz que a China está até mesmo
bloqueando discretamente o acesso da Índia a equipamentos solares.
Infelizmente, para os
mercados emergentes, a China está agora na fronteira tecnológica da manufatura,
dando outro motivo para evitar antagonizar seus líderes. Em março, a Capsa, a
maior produtora de aço do Chile, decidiu fechar suas usinas, culpando a concorrência
das importações chinesas.
Em 24 de abril, o
governo chileno impôs tarifas antidumping temporárias de 25% a 34%, o que levou
a Cap a suspender sua decisão. Mas a Cap afirma que as tarifas precisariam
permanecer em vigor por mais tempo para manter suas fábricas abertas, algo com
o qual o governo reluta em se comprometer. Até mesmo na Índia, onde as relações
com a China são frias, muitas autoridades reconhecem que o investimento chinês
é crucial para a fabricação.
Uma alternativa melhor
ao protecionismo puro e simples pode ser copiar a estratégia chinesa de
persuadir as empresas a investir localmente. A Tailândia vem cortejando
agressivamente as empresas chinesas de baterias por meio de um esquema de
incentivos, e dois grandes fabricantes de células devem iniciar a produção este
ano. A BYD, fabricante chinesa de veículos elétricos, está construindo fábricas
no Brasil e na Hungria. O investimento estrangeiro direto na China pode ter
despencado, mas o investimento chinês em outros países está em um recorde de
oito anos.
Esse coquetel de
estratégias pode funcionar? Um fator é quanto tempo durará o aumento das
exportações da China. “Ele não pode ser sustentado”, avalia o chefe de um
grande fabricante com fábricas na China e na Índia. Ele acrescenta que os
custos de produção de suas fábricas indianas recentemente se tornaram
competitivos em relação às chinesas, o que significa que uma mudança lenta na
produção é inevitável.
Outros estão mais
preocupados. “Não sei se a China pode fazer isso para sempre. Mas eles têm
feito isso nos últimos 25 anos”, diz Maximo Vedoya, chefe da Ternium, a maior
produtora de aço do México.
Mesmo que a China
reoriente sua economia, os mercados emergentes seriam sábios em não depositar
muita esperança no crescimento da manufatura. Os países ocidentais podem
receber mais de suas exportações, mas somente até certo ponto. O Ocidente está
em meio à própria onda de subsídios para reavivar a manufatura doméstica. E as
tarifas americanas sobre os produtos chineses estão limitadas a apenas algumas
categorias que representam US$ 18 bilhões (R$ 92 bilhões) em importações
atuais; em outras áreas, a concorrência chinesa continuará robusta. A decolagem
da manufatura pode ter de esperar um pouco mais.
¨ Longe da líder China, EUA miram qualidade na relação comercial
com Brasil
Já são 15 anos em que
a China é a maior parceira comercial do Brasil, e a dianteira só aumentou desde
então. Foram US$ 159,5 bilhões em corrente de comércio em 2023, mais que o
dobro dos US$ 74,5 bilhões em transações brasileiras com os Estados Unidos. Sem
ter como competir em escala com Pequim, na esteira do bicentenário das relações
bilaterais entre os países, os americanos têm buscado focar o que chamam de
qualidade dos negócios.
"Ao longo desses
200 anos, essa foi uma constante, com interesses muito grandes dos dois lados e
benefícios para ambos. Brasil e EUA foram além dos negócios, gerando parcerias
em áreas como cultura, tecnologia, educação, ciência", diz Abrão Neto, CEO
da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham).
Para Carlos Gustavo
Poggio, professor de ciência política na Berea College, nos EUA, o peso da
China desafia a hegemonia americana do ponto de vista comercial, mas ressalva:
"Ainda que Pequim seja o maior parceiro, os investimentos diretos dos EUA
são muito maiores."
O estoque de
investimentos americanos no Brasil é de US$ 167 bilhões, um quinto do valor
investido por estrangeiros no país, e o mercado americano representa cerca de
40% do comércio total do Brasil em serviços, especialmente os de alto valor
agregado, segundo a Amcham.
Neto aponta que um dos
resultados da longeva relação entre os dois países é que os EUA são o principal
parceiro econômico em uma visão mais abrangente, que considera intercâmbio de
investimentos e comércio de bens e serviços. Segundo ele, as relações entre os
dois países chegam ao bicentenário com uma situação forte, positiva para os
dois países. Nos últimos cinco anos, por exemplo, a corrente de comércio entre
Brasil e EUA cresceu 16,1%, atingindo seu pico histórico em 2022, com US$ 88,7
bilhões.
Enquanto 70% das
exportações brasileiras para a China se concentram em apenas três produtos
(petróleo bruto, minério de ferro e soja), a pauta comercial com os EUA é mais
diversificada e inclui 49 grupos de produtos que constituem a mesma proporção
de vendas externas.
"É uma pauta que
o Brasil não tem, com a mesma qualidade, com nenhum outro parceiro",
afirma Neto. Produtos como aço, aviões, equipamentos para construção civil,
suco de laranja, motores elétricos e autopeças estão entre os principais itens
exportados para os EUA, evidenciando a diversidade e o valor agregado.
Apesar da perspectiva
positiva apresentada pela Amcham, as relações entre Brasil e EUA também são
influenciadas pelas disputas geopolíticas em nível global. Um ponto central é o
crescimento da influência da China, no que já tem sido chamado de Guerra Fria
2.0. Neste contexto, os acenos do governo brasileiro a Pequim e uma maior
proximidade com o Sul Global são percebidos por alguns como um posicionamento
contra os EUA.
"A política é
parte indissociável da relação entre dois países. É um elemento direcionador
muito importante para a construção de um relacionamento diplomático, político e
econômico forte. Nesses 200 anos, notamos uma estabilidade muito marcante entre
Brasil e EUA", diz Neto.
A ideia de
estabilidade é defendida também por quem estuda os laços bilaterais. Segundo
Poggio, ao longo de dois séculos houve poucos momentos de afastamento ou de
aproximação fora do padrão, ainda que as notícias de disputas circunstanciais
possam dar essa impressão. "Pode haver pequenos altos e baixos, mas nada
que comprometa a solidez da relação", diz.
Às vésperas de uma
eleição presidencial nos EUA, com a possibilidade de o ex-presidente Donald
Trump voltar ao poder e implementar uma agenda mais isolacionista, os
especialistas ouvidos pela Folha dizem não crer em risco para as relações entre
os dois países, especialmente na economia.
"Existem algumas
orientações e relações básicas de política externa que não mudam muito de
governo para governo nem são diretamente afetadas pela política interna",
diz o cientista político Anthony W. Pereira, professor da Florida International
University. "EUA e Brasil têm muitas afinidades culturais, investimento
mútuo nas economias um do outro, uma grande e crescente população brasileira
nos EUA, laços comerciais significativos e posições comuns sobre muitas
questões."
Poggio reforça essa
percepção e afirma que é difícil encontrar questões políticas que possam afetar
os laços econômicos entre os países. "Pouco das relações comerciais entre
os dois países depende de quem é o presidente. É a sociedade, são as empresas
brasileiras e americanas que ajudam a gerar essas trocas. A política não é tão
relevante quanto a sociedade e a globalização como um todo."
¨
Leis aprovadas pela
União Europeia servem de baliza mundo afora
Há um assunto que
causa particular orgulho nos políticos e funcionários da máquina pública
europeia: o chamado efeito Bruxelas.
Trata-se da ideia de
que as leis e regulações aprovadas pela União Europeia têm efeito de conduzir
legislações em outros lugares do mundo. Mais recentemente, esse fenômeno se fez
notar de maneira especialmente forte em algumas áreas, como na delimitação da
esfera de privacidade no mundo digital, nas regras de proteção ambiental e em
políticas antitruste.
O efeito Bruxelas
batizou um livro lançado há quatro anos pela professora Anu Bradford, da
Universidade Columbia. A obra, afirmou ela, "desafia a visão que retrata a
União Europeia como um ator global sem poder e mostra que essa crítica recorre
a uma visão estreita e ultrapassada do que significa atualmente o poder".
O exercício desse
poder desperta fases de febre regulatória, e essas convivem com atritos. Um bom
exemplo é a lei sobre inteligência artificial, aprovada neste ano e alvo de
críticas por supostamente bloquear o progresso tecnológico.
"Não se trata de
limitar a inovação e sim de conhecer os direitos dos cidadãos por cima de
outras questões", rebate a eurodeputada espanhola Ana Collado Jiménez, do
mesmo grupo de centro-direita de Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão
Europeia. "Queremos que o mercado saiba as regras de jogo para que depois
inventem coisas que sejam factíveis."
Outra crítica
frequente é ao tamanho do funcionalismo público continental: cerca de 60 mil
pessoas estão empregadas nos diferentes braços da entidade, com grande
concentração em Bruxelas, onde têm sede os principais órgãos da União Europeia.
São eles: o Conselho
Europeu (que reúne os 27 chefes de Estado ou governo), o Conselho da União
Europeia (que agrega ministros dos 27 países e costuma trabalhar de forma
temática), a Comissão Europeia (o braço que toca o dia a dia do bloco, hoje
comandado por Von der Leyen) e o Parlamento Europeu (o único órgão que tem uma
eleição continental direta).
No caso do Parlamento,
especificamente, as bases são três, em outro exemplo das complicações
burocráticas derivadas dos tratados que colocaram o bloco em funcionamento.
Além das temporadas em Bruxelas, os eurodeputados trabalham três ou quatro dias
por mês em Estrasburgo, na França, e há uma perna administrativa que fica em
Luxemburgo.
- EUA prorrogam até 2025 isenção de tarifas para parte dos
produtos da China
O escritório da
Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês), Katherine Tai, comunicou nesta
sexta-feira, 24, que estenderá a isenção para alguns produtos das tarifas
impostas a itens chineses.
A dispensa da cobrança
estava prevista para expirar em 31 de maio deste ano, mas agora será prorrogada
até 31 de maio de 2025 para alguns itens específicos.
Segundo o órgão, o
objetivo é permitir um “período de transição”, possivelmente para reduzir
impactos sobre empresas americanas.
As tarifas seguem a
legislação prevista na chamada “Seção 301?, que permite ao presidente tomar
medidas apropriadas contra práticas comerciais injustas de outro país.
Ao impor uma rodada de
tarifas contra a China, o governo determinou um processo no qual alguns
produtos podem ser excluídos do esforço retaliatório, muitas vezes por serem em
setores mais sensíveis. No geral, as isenções tendem a recair a produtos médicos
e algumas manufaturas.
Na semana passada, a
Casa Branca anunciou a imposição de tarifas para uma nova rodada de setores
chineses, entre eles o de veículos elétricos.
Fonte: FolhaPress/Agencia
Estado
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