terça-feira, 28 de maio de 2024

The Economist: Brasil, Índia e México estão enfrentando as exportações da China

Finalmente, parecia a hora da decolagem da manufatura. Com dificuldades para competir com o poderio industrial da China, outros mercados emergentes estavam prontos para se beneficiar: os custos de mão de obra de seus rivais aumentaram e as crescentes tensões entre a China e o Ocidente levaram as empresas a procurar novos locais para suas fábricas. No ano passado, o investimento estrangeiro direto na China caiu para o nível mais baixo em 30 anos.

Mas a China começou a reagir. Para reverter a desaceleração econômica e consolidar seu controle sobre as cadeias de suprimentos globais, seus líderes lançaram uma onda de investimentos em produtos de alta tecnologia, como baterias, veículos elétricos e outros dispositivos ecológicos.

A fraca demanda interna por produtos tradicionais, como carros, produtos químicos e aço, significa que eles estão inundando os mercados globais. O preço médio das exportações chinesas de manufaturados caiu quase 10% de 2022 a 2023, mas os volumes de exportação aumentaram para níveis quase recordes.

Em uma recente visita a Pequim, Janet Yellen, secretária do Tesouro dos Estados Unidos, disse que o Ocidente não aceitaria uma enxurrada de produtos baratos. Algumas semanas depois, em 14 de maio, o governo Biden lançou uma série de tarifas que abrangia de tudo, desde células solares até seringas. Os veículos elétricos foram atingidos com uma taxa de 100%. Entretanto, a China tem outras opções para suas exportações, ou seja, mercados emergentes que valorizam relações amigáveis com ela.

Como resultado, os formuladores de políticas dos mercados emergentes estão preocupados. “A maior ameaça do excesso de capacidade chinesa é para os países em desenvolvimento”, diz Jorge Guajardo, ex-embaixador do México na China. Em seu país, que se orgulha de seu setor automobilístico, a participação de mercado dos veículos fabricados na China cresceu de quase nada em 2016 para um quinto do segmento.

Mas as economias emergentes também estão criando restrições à importação de produtos chineses, ao mesmo tempo em que aceleram o impulso para o livre comércio em outros lugares. Seu sucesso depende da sustentabilidade da abordagem da China, bem como da destreza de sua própria abordagem.

Comece pelo lado do livre comércio. Os países com ambições de fabricação estão desesperados para ter acesso a grandes mercados, onde os próprios líderes estão interessados em reduzir a dependência da China. Em fevereiro, o Chile assinou um acordo comercial com a UE. O Mercosul, uma união alfandegária que inclui Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, assinou um acordo com Cingapura e está de olho em pactos com o Japão e a Coreia do Sul. Como não conseguiu concluir um acordo nos sete anos até 2021, a Índia já assinou quatro.

Essa tentativa dos mercados emergentes de reduzir as barreiras comerciais com o Ocidente está acontecendo ao mesmo tempo em que elas estão sendo levantadas outras contra a China. As autoridades veem isso como necessário para proteger os fabricantes nacionais até que a onda de subsídios da China diminua.

“No final dos anos 2000, as empresas mexicanas pediam proteção e o governo lhes dizia: ‘bem, vocês precisam aprender a competir’”, diz Guajardo. “Esse não é mais o caso.” O México aumentou as tarifas de 544 produtos em abril. Ele impôs uma taxa de 80% sobre determinadas importações de aço.

No entanto, alguns produtos chineses são tão baratos que têm os preços mais baixos, mesmo com tarifas altíssimas. Além disso, alguns produtos escapam dos impostos porque são embalados em terceiros países. É por isso que as barreiras não tarifárias e as proibições de importação também estão se proliferando.

A Índia lançou investigações antidumping sobre diversos produtos, inclusive espelhos de vidro sem moldura e fixadores, o que, segundo ela, protegerá suas pequenas e médias empresas. O país também apresentou o maior número de casos antidumping entre todas as nações do mundo. A China está retaliando. Sumant Sinha, chefe da ReNew, uma empresa indiana de tecnologia verde, diz que a China está até mesmo bloqueando discretamente o acesso da Índia a equipamentos solares.

Infelizmente, para os mercados emergentes, a China está agora na fronteira tecnológica da manufatura, dando outro motivo para evitar antagonizar seus líderes. Em março, a Capsa, a maior produtora de aço do Chile, decidiu fechar suas usinas, culpando a concorrência das importações chinesas.

Em 24 de abril, o governo chileno impôs tarifas antidumping temporárias de 25% a 34%, o que levou a Cap a suspender sua decisão. Mas a Cap afirma que as tarifas precisariam permanecer em vigor por mais tempo para manter suas fábricas abertas, algo com o qual o governo reluta em se comprometer. Até mesmo na Índia, onde as relações com a China são frias, muitas autoridades reconhecem que o investimento chinês é crucial para a fabricação.

Uma alternativa melhor ao protecionismo puro e simples pode ser copiar a estratégia chinesa de persuadir as empresas a investir localmente. A Tailândia vem cortejando agressivamente as empresas chinesas de baterias por meio de um esquema de incentivos, e dois grandes fabricantes de células devem iniciar a produção este ano. A BYD, fabricante chinesa de veículos elétricos, está construindo fábricas no Brasil e na Hungria. O investimento estrangeiro direto na China pode ter despencado, mas o investimento chinês em outros países está em um recorde de oito anos.

Esse coquetel de estratégias pode funcionar? Um fator é quanto tempo durará o aumento das exportações da China. “Ele não pode ser sustentado”, avalia o chefe de um grande fabricante com fábricas na China e na Índia. Ele acrescenta que os custos de produção de suas fábricas indianas recentemente se tornaram competitivos em relação às chinesas, o que significa que uma mudança lenta na produção é inevitável.

Outros estão mais preocupados. “Não sei se a China pode fazer isso para sempre. Mas eles têm feito isso nos últimos 25 anos”, diz Maximo Vedoya, chefe da Ternium, a maior produtora de aço do México.

Mesmo que a China reoriente sua economia, os mercados emergentes seriam sábios em não depositar muita esperança no crescimento da manufatura. Os países ocidentais podem receber mais de suas exportações, mas somente até certo ponto. O Ocidente está em meio à própria onda de subsídios para reavivar a manufatura doméstica. E as tarifas americanas sobre os produtos chineses estão limitadas a apenas algumas categorias que representam US$ 18 bilhões (R$ 92 bilhões) em importações atuais; em outras áreas, a concorrência chinesa continuará robusta. A decolagem da manufatura pode ter de esperar um pouco mais.

 

¨      Longe da líder China, EUA miram qualidade na relação comercial com Brasil

Já são 15 anos em que a China é a maior parceira comercial do Brasil, e a dianteira só aumentou desde então. Foram US$ 159,5 bilhões em corrente de comércio em 2023, mais que o dobro dos US$ 74,5 bilhões em transações brasileiras com os Estados Unidos. Sem ter como competir em escala com Pequim, na esteira do bicentenário das relações bilaterais entre os países, os americanos têm buscado focar o que chamam de qualidade dos negócios.

"Ao longo desses 200 anos, essa foi uma constante, com interesses muito grandes dos dois lados e benefícios para ambos. Brasil e EUA foram além dos negócios, gerando parcerias em áreas como cultura, tecnologia, educação, ciência", diz Abrão Neto, CEO da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham).

Para Carlos Gustavo Poggio, professor de ciência política na Berea College, nos EUA, o peso da China desafia a hegemonia americana do ponto de vista comercial, mas ressalva: "Ainda que Pequim seja o maior parceiro, os investimentos diretos dos EUA são muito maiores."

O estoque de investimentos americanos no Brasil é de US$ 167 bilhões, um quinto do valor investido por estrangeiros no país, e o mercado americano representa cerca de 40% do comércio total do Brasil em serviços, especialmente os de alto valor agregado, segundo a Amcham.

Neto aponta que um dos resultados da longeva relação entre os dois países é que os EUA são o principal parceiro econômico em uma visão mais abrangente, que considera intercâmbio de investimentos e comércio de bens e serviços. Segundo ele, as relações entre os dois países chegam ao bicentenário com uma situação forte, positiva para os dois países. Nos últimos cinco anos, por exemplo, a corrente de comércio entre Brasil e EUA cresceu 16,1%, atingindo seu pico histórico em 2022, com US$ 88,7 bilhões.

Enquanto 70% das exportações brasileiras para a China se concentram em apenas três produtos (petróleo bruto, minério de ferro e soja), a pauta comercial com os EUA é mais diversificada e inclui 49 grupos de produtos que constituem a mesma proporção de vendas externas.

"É uma pauta que o Brasil não tem, com a mesma qualidade, com nenhum outro parceiro", afirma Neto. Produtos como aço, aviões, equipamentos para construção civil, suco de laranja, motores elétricos e autopeças estão entre os principais itens exportados para os EUA, evidenciando a diversidade e o valor agregado.

Apesar da perspectiva positiva apresentada pela Amcham, as relações entre Brasil e EUA também são influenciadas pelas disputas geopolíticas em nível global. Um ponto central é o crescimento da influência da China, no que já tem sido chamado de Guerra Fria 2.0. Neste contexto, os acenos do governo brasileiro a Pequim e uma maior proximidade com o Sul Global são percebidos por alguns como um posicionamento contra os EUA.

"A política é parte indissociável da relação entre dois países. É um elemento direcionador muito importante para a construção de um relacionamento diplomático, político e econômico forte. Nesses 200 anos, notamos uma estabilidade muito marcante entre Brasil e EUA", diz Neto.

A ideia de estabilidade é defendida também por quem estuda os laços bilaterais. Segundo Poggio, ao longo de dois séculos houve poucos momentos de afastamento ou de aproximação fora do padrão, ainda que as notícias de disputas circunstanciais possam dar essa impressão. "Pode haver pequenos altos e baixos, mas nada que comprometa a solidez da relação", diz.

Às vésperas de uma eleição presidencial nos EUA, com a possibilidade de o ex-presidente Donald Trump voltar ao poder e implementar uma agenda mais isolacionista, os especialistas ouvidos pela Folha dizem não crer em risco para as relações entre os dois países, especialmente na economia.

"Existem algumas orientações e relações básicas de política externa que não mudam muito de governo para governo nem são diretamente afetadas pela política interna", diz o cientista político Anthony W. Pereira, professor da Florida International University. "EUA e Brasil têm muitas afinidades culturais, investimento mútuo nas economias um do outro, uma grande e crescente população brasileira nos EUA, laços comerciais significativos e posições comuns sobre muitas questões."

Poggio reforça essa percepção e afirma que é difícil encontrar questões políticas que possam afetar os laços econômicos entre os países. "Pouco das relações comerciais entre os dois países depende de quem é o presidente. É a sociedade, são as empresas brasileiras e americanas que ajudam a gerar essas trocas. A política não é tão relevante quanto a sociedade e a globalização como um todo."

¨      Leis aprovadas pela União Europeia servem de baliza mundo afora

Há um assunto que causa particular orgulho nos políticos e funcionários da máquina pública europeia: o chamado efeito Bruxelas.

Trata-se da ideia de que as leis e regulações aprovadas pela União Europeia têm efeito de conduzir legislações em outros lugares do mundo. Mais recentemente, esse fenômeno se fez notar de maneira especialmente forte em algumas áreas, como na delimitação da esfera de privacidade no mundo digital, nas regras de proteção ambiental e em políticas antitruste.

O efeito Bruxelas batizou um livro lançado há quatro anos pela professora Anu Bradford, da Universidade Columbia. A obra, afirmou ela, "desafia a visão que retrata a União Europeia como um ator global sem poder e mostra que essa crítica recorre a uma visão estreita e ultrapassada do que significa atualmente o poder".

O exercício desse poder desperta fases de febre regulatória, e essas convivem com atritos. Um bom exemplo é a lei sobre inteligência artificial, aprovada neste ano e alvo de críticas por supostamente bloquear o progresso tecnológico.

"Não se trata de limitar a inovação e sim de conhecer os direitos dos cidadãos por cima de outras questões", rebate a eurodeputada espanhola Ana Collado Jiménez, do mesmo grupo de centro-direita de Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia. "Queremos que o mercado saiba as regras de jogo para que depois inventem coisas que sejam factíveis."

Outra crítica frequente é ao tamanho do funcionalismo público continental: cerca de 60 mil pessoas estão empregadas nos diferentes braços da entidade, com grande concentração em Bruxelas, onde têm sede os principais órgãos da União Europeia.

São eles: o Conselho Europeu (que reúne os 27 chefes de Estado ou governo), o Conselho da União Europeia (que agrega ministros dos 27 países e costuma trabalhar de forma temática), a Comissão Europeia (o braço que toca o dia a dia do bloco, hoje comandado por Von der Leyen) e o Parlamento Europeu (o único órgão que tem uma eleição continental direta).

No caso do Parlamento, especificamente, as bases são três, em outro exemplo das complicações burocráticas derivadas dos tratados que colocaram o bloco em funcionamento. Além das temporadas em Bruxelas, os eurodeputados trabalham três ou quatro dias por mês em Estrasburgo, na França, e há uma perna administrativa que fica em Luxemburgo.

  • EUA prorrogam até 2025 isenção de tarifas para parte dos produtos da China

O escritório da Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês), Katherine Tai, comunicou nesta sexta-feira, 24, que estenderá a isenção para alguns produtos das tarifas impostas a itens chineses.

A dispensa da cobrança estava prevista para expirar em 31 de maio deste ano, mas agora será prorrogada até 31 de maio de 2025 para alguns itens específicos.

Segundo o órgão, o objetivo é permitir um “período de transição”, possivelmente para reduzir impactos sobre empresas americanas.

As tarifas seguem a legislação prevista na chamada “Seção 301?, que permite ao presidente tomar medidas apropriadas contra práticas comerciais injustas de outro país.

Ao impor uma rodada de tarifas contra a China, o governo determinou um processo no qual alguns produtos podem ser excluídos do esforço retaliatório, muitas vezes por serem em setores mais sensíveis. No geral, as isenções tendem a recair a produtos médicos e algumas manufaturas.

Na semana passada, a Casa Branca anunciou a imposição de tarifas para uma nova rodada de setores chineses, entre eles o de veículos elétricos.

 

Fonte: FolhaPress/Agencia Estado

 

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