quinta-feira, 23 de maio de 2024

Povos Yanomami e Ye’kwana repudiam Comissão composta por deputados bolsonaristas para investigar crise humanitária

Nesta segunda-feira (20), a Hutukara Associação Yanomami (HAY), Urihi Associação Yanomami (URIHI), Associação Parawami Yanomami (Parawami) e Associação Wanasseduume Ye’kwana (Seduume), todas da Terra Indígena Yanomami (TIY) divulgaram uma Nota de Repúdio contra a criação de uma nova Comissão Externa na Câmara dos Deputados, por iniciativa de seu presidente Artur Lira (PP-AL), para investigar supostamente a crise humanitária, no maior território indígena do Brasil. A Comissão é composta apenas por deputados ligados ao governo Bolsonaro que sempre atuaram contra os direitos dos povos indígenas: sete do PL, seis do União Brasil, um do MDB e um do Republicanos.

Outras 78 organizações indígenas, indigenistas, ambientalistas, culturais e de direitos humanos de todo o país subscrevem a carta.

“Manifestamos nosso repúdio e indignação por mais uma ação truculenta da Câmara dos Deputados que, longe de manifestar preocupação e compromisso com nosso povo, pretende utilizar a dor e a morte do povo Yanomami e Ye’kwana para objetivos simulados de disputas políticas e de defesa do garimpo e da mineração em territórios indígenas”, destaca a nota.

Duas Comissões Especiais foram constituídas no Congresso Nacional para acompanhar a situação na TI Yanomami, uma em 2022 e outra em 2023. Ambas concluíram que o descaso e omissão intencional do Estado brasileiro, principalmente durante o governo Bolsonaro, o aumento do garimpo no território e o abandono do atendimento à saúde aos Yanomami e Ye’kwana foram as principais causas da crise humanitária. Em janeiro de 2023 o Governo Federal determinou o estado de emergência. No início deste ano, foi instituída a Casa do Governo em Roraima, com objetivo de assegurar aos povos Yanomami e Ye’kwana melhores condições de saúde, alimentação e proteção.

“Esses parlamentares são contra os povos indígenas do Brasil. Eles nunca deram nenhum apoio para as populações indígenas da terra Yanomami. Queremos respeito às lideranças tradicionais e as associações. Como Yanomami, não vimos nenhum desses deputados defendendo os povos indígenas, eles são contra os nossos direitos, são a favor do marco temporal. O Congresso Nacional é contra os povos indígenas!”, disse o vice-presidente da HAY, Dário Kopenawa.

A criação de uma nova Comissão externa, formada por deputados defensores do garimpo e contrários à demarcação das terras indígenas, como os deputados Nicoletti (UB/RR) e Coronel Fernanda (PL/MT) entre outros, “só pode ser entendida como um escárnio e uma afronta ao sofrimento dos povos Yanomami e Ye’kuana e de todos os povos indígenas do Brasil”, reforçam as organizações que assinam a nota de repúdio.

Na oportunidade, as organizações reforçam as obrigações do Estado brasileiro de adotar todas as medidas necessárias para garantir o direito à vida, à saúde e à proteção de nosso território desses povos. Ao Poder Judiciário declarar, de forma iminente, a inconstitucionalidade da lei 14.701/2023, que instala de forma autoritária o marco temporal e pretende abrir nossos territórios aos interesses insaciáveis de terceiros. Ao Poder Executivo compete intensificar suas ações de combate ao garimpo e desintrusão na TI Yanomami, bem como fortalecer a política de atendimento à saúde de nosso povo. E ao Poder Legislativo cabe cessar sua ofensiva imoral contra os direitos dos povos indígenas e respeitar nossos territórios.

“Estamos revoltados e repudiamos essa comissão nesta nota e queremos que as autoridades respeitem as nossas decisões. Não queremos esses deputados no nosso território. Eles precisam consultar o nosso protocolo de consulta, baseado na Convenção 169 da OIT”, finaliza Kopenawa.

“Não queremos que o sofrimento dos povos Yanomami e Ye’kuana sejam instrumentalizados para disputas políticas indecentes e antidemocráticas ou para defender o garimpo e a mineração nos territórios indígenas. É imoral, ilegal e inaceitável!”, reforça a carta.

 

•                                           A situação precária na aldeia Mbyá-Guarani Guyra Nhendu, em Maquiné (RS)

Apesar dos muitos olhos virados para a situação trágica que o Rio Grande do Sul (RS) está passando neste momento, alguns lugares continuam invisíveis.

Maquiné é um município no Litoral Norte do RS, onde resiste uma densa área de Mata Atlântica. Lá, chove muito e é bastante úmido.

O excesso de umidade frequentemente atinge as plantações e a produção de alimentos, enquanto as chuvas intensas destroem estradas, pontes e acessos, trazendo muitos prejuízos para os moradores.

Esta semana, uma lista das cidades gaúchas mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas (considerando riscos de inundações, desabamentos, entre outros aspectos) colocou o município de Maquiné no primeiro lugar do ranking. Neste momento, mais uma vez, o município encontra-se em estado de calamidade pública.

A aldeia Mbyá-Guarani Guyra Nhendu (Som dos Pássaros) tem sete anos de existência, situada em uma área particular cedida para a permanência da comunidade indígena. A comunidade enfrenta muitas dificuldades de acesso a direitos básicos. Há uma sensação de abandono e falta de apoio. Sua situação urgente decorre principalmente da falta de moradia segura.

Lá vivem cinco famílias, com um total de 21 pessoas de diferentes faixa-etárias. Entre elas estão Júlia Gimenes, de 65 anos, seus filhos, filha, noras e netos, o mais novo tendo agora 2 anos de idade.

A casa onde vivem Júlia Gimenes e sua filha Priscila, de 8 anos, tem sua estrutura comprometida. As paredes e o assoalho estão podres e o telhado está caindo. Quando chove, molha muito dentro. Além disso, a casa fica na encosta do morro e está sujeita a destruição total pelas tempestades e pela água que desce da encosta. Nesta construção, estão guardados os artesanatos tradicionais, fonte de renda da família.

No inverno de 2023, a situação já era de risco. A falta de acesso a moradia digna motivou uma vaquinha online entre amigos e amigos de amigos, para a compra de material e construção de um espaço seguro. Com o valor arrecadado, Gimenes e sua família construíram sua casinha. Mas em janeiro deste ano a casa pegou fogo e, mais uma vez, ela teve que voltar para a casa anterior, que agora se encontra ainda pior do que antes.

Como as edificações são precárias, a intensidade das chuvas traz muitos danos, mesmo que as áreas não sejam atingidas diretamente pelos rios.

A cada chuva, Gimenes tem medo que a casa desabe. Outras moradias da aldeia, que abrigam seus filhos, noras e netos, também são vulneráveis e inseguras. Gimenes afirma ser urgente a construção de três casas na aldeia para acomodar sua família em segurança.

Infelizmente, a ajuda não tem chegado na Guyra Nhendu, que enfrenta também a insegurança alimentar e dificuldade de gerar renda. Boa parte do plantio de alimentos foi perdido em função do clima, e a venda de artesanato, que é única fonte de renda dessa comunidade, fica totalmente paralisada, ampliando ainda mais as dificuldades.

Júlia Gimenes é uma anciã de grande sabedoria, uma biblioteca viva que carrega consigo a cultura guarani. Sua vida em segurança é importante para todo um povo! É urgente que as necessidades de sua aldeia sejam atendidas e é emergencial que sejam construídas três casas na Aldeia Guyra Nhendu.

Esse texto é dirigido às instituições responsáveis pela garantia de direitos indígenas – Funai, MPI, MPF, Sesai – e a todos aqueles que são solidários a essa luta, que compreendem que a causa indígena é a causa de toda a humanidade. Que a Tekoa Guyra Nhendu seja lembrada e as suas necessidades atendidas com urgência!

Para quem puder ajudar, segue o Pix: CPF 014.825.410.17, em nome de Júlia Gimenes.

 

Fonte: Cimi/Brasil de Fato

 

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