O que querem estudantes dos EUA que
protestam contra guerra em Gaza e outros 5 pontos para entender a crise
Dezenas de campi
universitários nos EUA estão ocupados por estudantes que protestam contra a
guerra em Gaza.
Mais de mil
manifestantes foram presos, incluindo dezenas na noite de terça-feira (30/4) na
Universidade de Columbia, na cidade de Nova York.
Muitas universidades
estão tendo dificuldades para lidar com acampamentos nas suas dependências
poucos dias antes das cerimônias de formatura.
• Por que estudantes estão protestando
contra guerra em Gaza?
Desde o ataque de 7 de
outubro perpetrado pelo Hamas e a retaliação de Israel, os estudantes lançaram
comícios, manifestações pacíficas, greves de fome e, mais recentemente,
acampamentos contra a guerra.
Eles exigem que as
suas universidades — que recebem milhões de dólares em doações por ano —
desfaçam seus laços financeiros com Israel.
Isso significa, por
exemplo, vender ações de empresas israelenses.
Os ativistas
estudantis dizem que empresas que fazem negócios em Israel ou com organizações
israelenses são cúmplices da guerra em Gaza. E o mesmo vale para as faculdades
que investem nessas empresas.
As universidades
dependem de doações para seu funcionamento, tais como pesquisas e bolsas de
estudo. Essas doações são normalmente investidas em empresas e ativos.
"O que pedimos é
que a universidade pare de investir fundos naqueles que lucram com o genocídio
em Gaza. E não vamos sair até conseguirmos", disse um estudante da
Universidade da Califórnia, que preferiu não se identificar, à BBC News Mundo
(serviço em espanhol da BBC).
O movimento reflete a
divisão cada vez mais acentuada na sociedade americana sobre o apoio do governo
Joe Biden a um aliado histórico, Israel.
Por meio das
manifestações, eles pedem um cessar-fogo em Gaza e a liberdade para o povo
palestino.
• O que aconteceu na Universidade de
Columbia?
Uma operação policial
na noite de terça-feira removeu os manifestantes de um prédio da Universidade
de Columbia que eles haviam ocupado com um acampamento.
Policiais com
equipamento de choque subiram escadas para entrar no segundo andar do Hamilton
Hall e levar os ocupantes em um ônibus da polícia.
Mais tarde, a polícia
disse que havia expulsado todos os manifestantes do local, encerrando o
impasse, pelo menos por enquanto.
Tudo começou no início
deste mês. Enquanto a presidente da Columbia, Minouche Shafik, testemunhava
perante o Congresso sobre o antissemitismo no campus, centenas de estudantes
armaram tendas no campus, na cidade de Nova York.
As prisões em massa no
dia seguinte não impediram os protestos e desencadearam ações em mais
faculdades nos EUA.
As aulas presenciais
em Columbia foram canceladas. A universidade disse que um salão foi vandalizado
e bloqueado e que a polícia permaneceria até meados de maio para evitar novos
acampamentos.
Minouche Shafik,
presidente da Universidade de Columbia, divulgou um comunicado à imprensa
pedindo “calma”.
Shafik, que assumiu o
cargo em julho passado, afirmou que as "tensões" no campus
"atingiram novos patamares" quando os manifestantes invadiram um
prédio e se trancaram lá dentro.
"Esta escalada
drástica de muitos meses de atividades de protesto levou a universidade ao
limite, criando um ambiente perturbador para todos e elevando os riscos de
segurança a um nível intolerável", acrescenta ela.
Columbia tem uma
"longa e orgulhosa tradição de protestos e ativismo", continuou
Shafik, acrescentando que houve "arrombamento" das portas do Hamilton
Hall.
Segundo ela, houve
conflitos com "funcionários de segurança e pessoal de manutenção e danos a
propriedades".
"São atos de
destruição, não de discurso político", diz.
Shafik pediu que os
alunos possam concluir seus trabalhos acadêmicos e seguir em frente.
"Vai levar algum
tempo para curar, mas sei que podemos fazer isso juntos", afirmou.
<<<< Onde
mais há protestos de estudantes?
A crise em Columbia se
espalhou para universidades em diversas regiões dos EUA:
• Nordeste: George
Washington; Brown; Yale; Harvard; Emerson; NYU; Georgetown; American;
University of Maryland; Johns Hopkins; Tufts; Cornell; University of
Pennsylvania; Princeton; Temple; Northeastern; MIT; The New School; University
of Rochester; University of Pittsburgh
• Costa Oeste: California
State Polytechnic, Humboldt; University of Southern California; University of
California, Los Angeles; University of California, Berkeley; University of
Washington
• Meio Oeste: Northwestern;
Washington University in St Louis; Indiana University; University of Michigan;
Ohio State; University of Minnesota; Miami University; University of Ohio;
Columbia College Chicago; University of Chicago
• Sul: Emory; Vanderbilt;
University of North Carolina, Charlotte; University of North Carolina, Chapel
Hill; Kennesaw State; Florida State; Virginia Tech; University of Georgia,
Athens
• Sudoeste: University of
Texas at Austin; Rice; Arizona State
<<< Qual tem
sido a reação das universidades?
Algumas universidades
estão negociando com manifestantes, enquanto outros estão emitindo ultimatos —
ameaçando chamar a polícia.
Houve um acordo em
Boston entre a Universidade Northwestern e os manifestantes para limitar o
tamanho do acampamento.
Alguns políticos
apelaram às faculdades para que tomem medidas mais fortes contra os
manifestantes, destacando acusações de antissemitismo em alguns destes
protestos.
Estudantes judeus de
vários campi contaram à BBC sobre incidentes que os deixaram desconfortáveis ou
com medo.
Eles variaram desde
cantos e sinais de apoio ao Hamas, um grupo classificado pelo governo dos EUA
como terrorista, até conflitos físicos e supostas ameaças.
• Os protestos estão funcionando?
Há anos que grupos
universitários pró-Palestina apelam às suas instituições para que apoiem o
movimento "Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS)" contra Israel.
Nenhuma universidade
dos EUA se comprometeu com o projeto BDS, mas algumas já cortaram alguns laços
financeiros específicos.
Embora um eventual
boicote de universidades dificilmente tenha algum impacto na guerra em Gaza, os
manifestantes dizem que a atitude ajudaria a expor aqueles que lucram com a
guerra e aumentaria a conscienciatização sobre a questão.
• Por que manifestações estão lembrando
dos protestos contra a guerra do Vietnã?
Manifestações em
Columbia e em outras universidades estão lembrando os protestos no final da
década de 1960 contra o envolvimento dos EUA na Guerra do Vietnã.
Naquela época, diante
das graves atrocidades sofridas pelo povo vietnamita, a opinião pública
americana começou a ficar horrorizada.
Milhares de pessoas
foram presas e houve confrontos violentos com a polícia.
Imagens brutais
chocaram os cidadãos e gradualmente desmantelaram o argumento oficial de que
estava sendo travada uma guerra pela democracia.
Em 1970, quatro
estudantes em Ohio foram mortos, quando a Guarda Nacional abriu fogo contra
manifestantes.
As mortes
desencadearam uma greve estudantil em todo o país e centenas de universidades
foram fechadas.
Mesmo mantendo as
proporções, para muitos especialistas existem paralelos óbvios entre a situação
atual e este acontecimento histórico.
"Os estudantes
estão agora protestando contra Gaza como fizeram aqueles que protestaram contra
a guerra no Vietnã", diz Ananya Roy, diretora fundadora do Instituto
Luskin sobre Desigualdade e Democracia da Universidade da Califórnia em Los
Angeles e professora de Planejamento Urbano, Bem-Estar Social e Geografia.
A força dos protestos
daquele período — junto com o enorme custo da guerra — foi um dos fatores que
explicam por que os Estados Unidos perderam o conflito, apesar da sua
esmagadora superioridade militar.
• A ALIANÇA SECRETA DOS EUA QUE DEFENDEU
ISRAEL DE ATAQUE IRANIANO
EMBORA IRAQUE,
JORDÂNIA E ARÁBIA SAUDITA tenham participado diretamente da defesa de Israel,
interceptando mísseis e drones iranianos e apoiando a operação, nenhum dos
países árabes envolvidos está disposto a admitir publicamente sua participação,
e Washington está ajudando a manter o silêncio. Todas as operações aéreas
“parceiras” em resposta ao Irã agora foram adicionadas à rede de bases
secretas, alianças militares ocultas e armas não reveladas que marcam a região.
Agora, quando a região se encontra diante da possibilidade de uma guerra mais
ampla, a população foi mais uma vez deixada no escuro.
Enquanto mísseis e
drones de fabricação iraniana se dirigiam para Israel na operação do dia 13 de
abril, que durou 12 horas, militares dos EUA estavam posicionados em toda a
região para coordenar a resposta unificada e treinar os parceiros secretos, de
acordo com fontes militares. Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Bahrein
também estavam ligados à rede de defesa aérea e antimísseis liderada pelos EUA,
embora esses países tenham permanecido em silêncio.
Agora, os parceiros
secretos estão fazendo de tudo para negar sua colaboração, ao mesmo tempo em
que passam uma mensagem sutil a Israel (e aos Estados Unidos) de que não serão
tão cooperativos caso o país intensifique a ofensiva.
Vejamos o caso da
Jordânia, um aliado de longa data dos EUA e um dos mais fiéis parceiros
militares norte-americanos na luta contra o Estado Islâmico. Embora reconheça
que os caças F-16 de fabricação americana do reino tenham se juntado aos dos
EUA, Reino Unido, França e Israel para abater drones e mísseis iranianos, Amã
não revelou detalhes específicos sobre a localização dos jatos, nem acima de
qual espaço aéreo estavam ou quando eles dispararam contra alvos. (Como o The
Intercept relatou anteriormente, as aeronaves de ataque F-15E dos EUA operavam
principalmente a partir da Base Aérea de Muwaffaq Salti, na Jordânia. E
combatentes israelenses derrubaram drones e mísseis sobre o território
jordaniano.)
Apesar de seu
envolvimento como eixo central, o ministro das Relações Exteriores da Jordânia
fez um aviso sério, embora genérico, dando a entender que a paciência que
demonstrou em relação a Israel e aos Estados Unidos pode estar diminuindo. Em
14 de abril, o vice-primeiro-ministro e ministro das Relações Exteriores e
Expatriados, Ayman Safadi, disse que a participação da Jordânia “é uma política
firme de que qualquer coisa que represente uma ameaça à Jordânia será
confrontada, porque nossa prioridade é proteger a Jordânia, proteger as vidas
dos jordanianos, proteger os recursos”.
O rei Abdullah II
disse na terça-feira que a “segurança e a soberania da Jordânia estão acima de todas
as considerações”.
Safadi acrescentou que
medidas semelhantes serão tomadas para responder a quaisquer ataques de Israel
contra o Irã. “Vamos interceptar todos os drones ou mísseis que violem o espaço
aéreo da Jordânia para evitar qualquer perigo”, disse ele ao canal de notícias
estatal Al-Mamlaka.
Por iniciativa
própria, a fim de distanciar seu país do crescente conflito, o
primeiro-ministro iraquiano, Mohammed Shia al-Sudani, negou que armas de
fabricação iraniana tenham sido lançadas de dentro das fronteiras de seu país.
As declarações do primeiro-ministro foram feitas depois que as Forças de Defesa
de Israel e a mídia iraniana identificaram Irã, Iêmen, Iraque e Líbano como os
países de origem de drones e mísseis. Na terça-feira (16), o Pentágono declarou
que as armas iranianas eram originadas do Irã, Síria e Iêmen.
“Nós (…) condenamos o
fato de que as armas lançadas contra Israel violaram o espaço aéreo de vários
Estados regionais, colocando em risco a vida de pessoas inocentes nesses
países”, disseram os EUA na ONU, na quarta-feira (17). (O Iraque também hospeda
secretamente baterias de mísseis Patriot superfície-ar, do Exército dos EUA,
que derrubaram alguns mísseis iranianos, como o The Intercept relatou
anteriormente. A presença de mísseis americanos Patriot em solo iraquiano não
era de conhecimento público até sábado.)
Como acrescentou o
ministro das Relações Exteriores da Jordânia, al-Sudani: “O Iraque rejeita o
uso de seu espaço aéreo por qualquer país. Não queremos que o Iraque esteja
envolvido na área de conflito.” Ainda não está claro que medidas Bagdá pode
tomar para proteger seu espaço aéreo.
A Arábia Saudita é um
caso ainda mais estranho. A imprensa israelense informou que “a Arábia Saudita
reconheceu que ajudou a recém-formada aliança militar regional”, segundo uma
reportagem da KAN News, a rádio pública israelense em língua inglesa. Mas a monarquia
saudita refutou a informação. “A Arábia Saudita não esteve envolvida na
interceptação dos recentes ataques iranianos contra Israel, de acordo segundo
fontes informaram ao canal de TV Al Arabiya”, noticiou a Gazeta Saudita. “As
fontes enfatizaram que não houve declarações oficiais emitidas sobre o
envolvimento saudita no combate a esses ataques. Este esclarecimento vem na
sequência de relatos de alguns sites de notícias israelenses que atribuíram
declarações a uma fonte oficial saudita, alegando a participação do Reino na
aliança defensiva que respondeu aos ataques iranianos.”
Alguns relatos dizem
que jatos americanos KC-135 de reabastecimento aéreo circularam no ar sobre o
espaço aéreo saudita no momento do ataque iraniano. Sabe-se que os EUA mantêm
esses postos de abastecimento voadores em solo saudita, na Base Aérea Rei Abdulaziz,
em Dhahran. Outros relatos dizem que a Arábia Saudita fechou seu espaço aéreo
para aeronaves dos EUA durante a operação, exigindo que os EUA se abstivessem
de lançar qualquer contra-ataque ao Irã a partir de seu território.
Os Estados Unidos
venderam baterias de mísseis Patriot e os sistemas de mísseis antibalísticos
Terminal High Altitude Area Defense (THAAD) de longo alcance para a Arábia
Saudita, e posicionaram mísseis Patriot em solo saudita. Mísseis Patriot também
foram vendidos para o Kuwait, Catar, Bahrein e Emirados Árabes Unidos; o
antimísseis THAAD também está em operação ou desenvolvimento nos Emirados
Árabes Unidos, Omã e Catar. O Exército dos EUA implanta suas próprias baterias
de mísseis Patriot no Bahrein, Iraque, Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes
Unidos.
“O secretário [de
Defesa, Lloyd] Austin continua a se comunicar com governantes em toda a região
do Oriente Médio e em outros lugares, para enfatizar que, embora os Estados
Unidos não busquem um acirramento, continuaremos a defender Israel e cidadãos
dos EUA”, disse o porta-voz do Pentágono, major-general Pat Ryder, no dia 16,
recusando-se a nomear quais governantes e referindo-se aos países árabes apenas
como “parceiros na região”.
Quase não houve
cobertura da mídia americana sobre o papel desses vários países árabes na
defesa de Israel, aumentando ainda mais o sigilo imposto pelo Estado. Mas o que
essas nações “parceiras” escolherem fazer para proteger seu espaço aéreo e
soberania, caso Israel decida atacar o Irã, é um fator importante em qualquer
decisão israelense.
“Você tem uma
vitória”, teria dito o presidente americano Joe Biden ao primeiro-ministro
israelense, Benjamin Netanyahu, no domingo. “Fique com a vitória”, pedindo que
Israel se abstenha de novas investidas.
Biden também afirmou
que os EUA não ajudariam Israel em nenhuma iniciativa de retaliação contra o
Irã. Mas, como acontece com a atual guerra em Gaza, e com os relatos sobre a
relutância de Israel em compartilhar planos sobre o ataque à embaixada do Irã na
Síria até poucos momentos antes de ser executado, Israel frequentemente
confirma que os limites impostos pelos EUA não são muito relevantes. Em breve,
os EUA podem ter que decidir de que lado ficar caso os países árabes se
envolvam com aeronaves, drones ou mísseis israelenses.
Fonte: BBC News
Mundo/The Intercept
Nenhum comentário:
Postar um comentário