quarta-feira, 22 de maio de 2024

O caos planejado de Xi e Putin

Em Pequim, o presidente russo, Vladimir Putin, e seu homólogo chinês, Xi Jinping, prometeram uma “nova era” de relações e o fortalecimento de laços militares em face a um EUA “hostil”. Nos anos 70, as manobras táticas de aproximação dos EUA à China arquitetadas por Henry Kissinger aprofundaram as divergências entre a União Soviética e o Partido Comunista Chinês de Mao Tsé-tung e foram cruciais para vencer a guerra fria. A dinâmica agora é reversa: China e Rússia estão mais afastadas do que nunca do Ocidente e cada vez mais unidas em seus esforços por explorar as divergências ocidentais.

A parceria “sem limites” e sem “áreas proibidas de cooperação” anunciada pelos dois em Pequim poucos dias antes da invasão da Ucrânia se fortaleceu. A China compra cada vez mais o óleo e o gás russos, e a Rússia compra cada vez mais manufaturados chineses, e ambos têm praticado exercícios militares conjuntos com mais frequência.

Mas a parceria tem os limites característicos de uma relação entre um suserano e um vassalo. A Rússia depende muito mais da China do que a China da Rússia, e cada dia mais. Hoje, enquanto a China responde por cerca de 33% de todo o comércio russo, a Rússia responde por 4% do comércio chinês. E há áreas proibidas de cooperação. Pequim se recusou a fornecer munição e armas para a guerra na Ucrânia e refreia as ameaças nucleares de Putin.

As exportações de bens de uso dual (civil e militar) chineses, contudo, incrementaram significativamente a produção militar russa. “Quando se trata da indústria de defesa da Rússia, o principal contribuinte neste momento é a China”, disse o secretário de Estado americano, Antony Blinken.

Os EUA vêm tentando demarcar melhor as áreas proibidas de cooperação, impondo sanções a bancos e empresas chinesas envolvidas na venda de tecnologia de uso militar para Moscou. Mas, em privado, Xi e Putin certamente trataram de mecanismos para burlar essas sanções. Hoje, a Rússia é um laboratório para Pequim experimentar infraestruturas financeiras que possam ser usadas em outras nações como um antídoto contra sanções ocidentais.

Não é do interesse de Xi que Putin perca a guerra. Nem que ganhe. Uma guerra longa é ideal para os seus propósitos: desgastar o Ocidente, explorar suas divisões e distraí-lo das ameaças chinesas a Taiwan e outras nações vizinhas.

“Nossa cooperação nos negócios do mundo hoje é um dos principais fatores de estabilização na arena internacional”, trombeteou Putin ao lado de Xi. “Juntos nós sustentamos os princípios de justiça e uma ordem mundial democrática refletindo as realidades multipolares fundadas no direito internacional.” Traduzindo a novilíngua autocrática: ambos seguirão estreitando laços para enterrar a ordem global baseada em regras sob a lei do mais forte, mas Putin à base de choques e ameaças, e Xi através de uma degradação lenta, mas irreversível. Em tese, contudo, o Ocidente é mais forte, militar e economicamente. Só precisa cimentar na prática a sua união e encontrar meios eficazes de impor custos e limites à parceria entre o vassalo russo e o suserano chinês.

¨      Putin e Xi aprofundam “parceria estratégica” em Pequim

O presidente russo, Vladimir Putin, reuniu-se com o presidente chinês, Xi Jinping, em Pequim, na quinta-feira, pela segunda vez em menos de um ano. Para celebrar 75 anos de relações diplomáticas, concordaram em aprofundar a sua “ parceria estratégica ”, reforçando a cooperação militar, económica e energética. A viagem de dois dias é a primeira viagem de Putin ao exterior desde o início do seu quinto mandato, em maio.

“A relação China-Rússia hoje é conquistada com dificuldade e os dois lados precisam valorizá-la e nutri-la”, disse Xi na quinta-feira, com Putin acrescentando que estão trabalhando para criar “uma ordem mundial multipolar mais justa e democrática”.

Os dois líderes divulgaram uma declaração conjunta de 7.000 palavras na quinta-feira abordando tudo, desde a colaboração espacial até a pesquisa de energia nuclear e estratégias para contornar as sanções ocidentais. O documento também sublinhava a oposição russa e chinesa aos Estados Unidos, acusando Washington de tentar perturbar o “equilíbrio de segurança estratégico” da região e comprometendo-se a “contrariar o movimento destrutivo e hostil de Washington no sentido da chamada ‘dupla contenção’ dos nossos países”.

A presença do recém-nomeado Ministro da Defesa russo, Andrei Belousov, e do seu antecessor, Sergei Shoigu, demonstrou o papel central que a guerra da Rússia na Ucrânia desempenhou nas conversações de quinta-feira. Pequim continua a ser um dos parceiros mais próximos de Moscovo, enquanto as nações ocidentais procuram isolar o Kremlin para a sua guerra em Kiev. Desde o início do conflito, a China forneceu à Rússia tecnologia avançada para usos civis e militares e, em Fevereiro de 2023, propôs um plano de paz de 12 pontos que permitiria a Moscovo manter os seus ganhos territoriais na Ucrânia.

“A Rússia teria dificuldades para sustentar o seu ataque à Ucrânia sem o apoio da China”, disse o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, no mês passado, alertando Pequim que “se a China não resolver este problema, nós o faremos”. Os Estados Unidos e a União Europeia criticaram o plano de paz de Xi.

Apesar de muitos tópicos em discussão na quinta-feira, não está claro se os dois líderes debateram uma proposta de gasoduto que redirecionaria o fornecimento de gás russo para a Europa em direção à China. O CEO da Gazprom, Alexei Miller, não viajou com a delegação de Putin esta semana e, em vez disso, reuniu-se com autoridades no Irão . “As perdas da Gazprom demonstram até que ponto a decisão do Kremlin de fechar a torneira do gás para a Europa em 2022 saiu pela culatra”, argumentou a colunista da FP Agathe Demarais .

Ao longo dos reinados dos dois líderes, Xi e Putin reuniram-se mais de 40 vezes , pessoalmente ou virtualmente. Em Fevereiro de 2022, poucas semanas antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, Xi e Putin declararam uma parceria “sem limites”. E no ano passado, o comércio bilateral atingiu um recorde de 240 mil milhões de dólares. Na sexta-feira, Putin visitará a cidade chinesa de Harbin, que já foi o lar de dezenas de milhares de russos étnicos.

¨      Oriente Médio está deixando a órbita dos EUA, dizem especialistas

A visita do presidente russo Vladimir Putin à China reforçou o movimento em direção à criação de um centro de poder na política mundial, e a capacidade dos EUA de influenciarem o mundo em meio a uma alternativa mais atraente está reduzindo, apontam especialistas árabes à Sputnik.

"No Conselho de Segurança da ONU, os americanos têm usado o veto ao longo da história contra qualquer coisa que interfira em sua hegemonia no mundo. Eles usaram o veto contra a maioria das resoluções árabes, que, em sua maioria, sempre foram apoiadas pela Rússia", disse o economista libanês Imad Akoush.

Ele disse que os EUA impedem a cooperação regional com a Rússia e a China, incluindo a implementação da iniciativa chinesa Um Cinturão, Uma Rota, que poderia levar a crescimento econômico para os países árabes, e o acesso à energia barata russa. Além disso, Washington alimenta a crise ucraniana, "o que cortou os laços entre a Rússia e a Europa".

O cientista político argelino Nabil Kaloush destacou também que a Rússia representa uma importante força militar e geopolítica para os países árabes.

"As relações russo-árabes estão caminhando para um desenvolvimento sem precedentes que incluirá os setores de energia, tecnologia, defesa e cultura. A abertura da Rússia ao mundo islâmico facilitará sua aproximação com os países árabes."

"Esse não é o caso da China. Sua peculiaridade é que, após a aproximação econômica, os cidadãos chineses se estabelecem no país com o qual cooperam como um grupo fechado separado. Essa ação da China pode causar alguma preocupação entre os árabes como uma espécie de invasão. A Rússia não faz isso", explica Kaloush.

Enquanto isso, o especialista estratégico Mohammed Saeed al-Raz argumentou que "os países do BRICS", com seu modelo de integração e desenvolvimento econômicos, e o princípio de não interferência, "destruíram o sistema unipolar americano".

"Os EUA estão deliberadamente impedindo a unificação dos países árabes. [Os EUA] são os principais parceiros no atual genocídio dos palestinos em Gaza. Eles precisam dessa guerra para realizar seus próprios interesses coloniais", acrescentou o especialista.

¨      China impõe sanções a 3 empresas dos EUA por venda de armas a Taiwan

O Ministério do Comércio da China anunciou nesta segunda-feira (20) que incluiu as empresas estadunidenses General Atomics Aeronautical Systems, General Dynamics Land Systems e Boeing Defense, Space & Security na chamada "lista de entidades não confiáveis", por sua implicação na venda de armas para Taiwan.

"As empresas mencionadas tendem a ser proibidas de realizar atividades de importação e exportação relacionadas com a China", informou o comunicado.

As subsidiárias da General Atomics, General Dynamics e Boeing Defense também estão proibidas de "realizar novas inversões na China".

Os altos executivos das empresas não poderão entrar em território chinês e seus vistos atuais de trabalho, permanência e/ou residência serão cancelados.

Por último, o comunicado informa que as empresas receberão uma multa cujo valor será o dobro do valor da importação do contrato de venda de armas para Taiwan. Caso o pagamento não seja feito em até 15 dias seguintes à data do anúncio, as organizações estarão sujeitas a multas adicionais.

Em fevereiro, o Departamento de Estado dos EUA aprovou venda de equipamentos de defesa de comunicações para Taiwan estimada em US$ 75 milhões (R$ 370,5 milhões), segundo a Agência de Cooperação de Segurança e Defesa (DSCA, na sigla em inglês) do Pentágono.

A questão de Taiwan é o principal ponto de tensão nas relações entre China e EUA. Taiwan é governada independentemente da China continental desde 1949.

Para Pequim a ilha é uma de suas províncias, já Taiwan afirma que é um país autônomo, mas não chega a declarar independência. Em 1992, uma reunião entre as delegações de Pequim e Taipé, resultou em um acordo sobre o princípio de Uma Só China. Pequim se opõe a qualquer contatos oficiais de Estados estrangeiros com Taipé e considera indiscutível a soberania chinesa sobre a ilha.

 

Fonte: Agencia Estado/O Cafezinho/Sputnik Brasil

 

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