Edson
Monteiro: Empresas estatais - calo ou solução?
O
tempo para um país atingir o estágio de “desenvolvido” depende muito de seus
recursos naturais, como as riquezas existentes em seu solo e subsolo, da
habilidade de seus governantes e da capacidade de organização de seus povos
para investir e transformar esses recursos em atividades produtivas, seja para
consumo próprio e bem estar de sua população ou para comercialização do
excedente da produção para outras partes do mundo,
Ao
longo da história, o Estado Empreendedor passou a induzir o desenvolvimento dos
países, atuando como principal investidor em parques industriais e em
atividades produtivas, bem como de infraestrutura de serviços, por meio de
políticas públicas direcionadas para proporcionar melhores condições de vida
para a população, com desenvolvimento do país a partir da geração de emprego e renda.
E
para cumprir seu papel,
independentemente do estágio em que esteja, o Estado recorre a diversos
modelos organizacionais e societários – empresas públicas, sociedade de
economia mista etc. – em que figura como principal agente e controlador, com
participação societária exclusiva ou compartilhada com outros investidores, conforme a área de atuação, de
modo a garantir alinhamento e controle das atividades desenvolvidas com os planos
de governo e políticas públicas estabelecidas
para atender os anseios e necessidades da população.
Os
resultados auferidos por esses entes estatais, quando instituídos com
finalidade lucrativa, também deveriam ser revertidos para a sociedade, por meio
de dividendos creditados ao controlador — que, somados à arrecadação
tributária, financiam a estrutura do Estado — ou reinvestidos na ampliação da
capacidade produtiva dessas empresas para maior alcance de seus produtos e
serviços.
O
alcance dos objetivos dessas empresas depende fundamentalmente da qualificação
dos gestores que as conduzem e da conexão de suas atividades com a atuação dos
governos. Recomenda o espírito republicano que a escolha dos gestores das
empresas estatais tenha o conhecimento, a experiência e a especialização
profissional como condições essenciais para garantir o cumprimento de seus
objetivos, bem como a sustentação e a continuidade dessas organizações.
Infelizmente
não é o que temos visto por aqui nos últimos tempos! A evolução da famigerada
economia de mercado, voltada para atender exclusivamente os interesses de uma
minoria bem sucedida da Faria Lima e/ou de Wall Street, e as aspirações pela
“mosca azul”, traz a reboque a influência de empresários neo-liberais e de
políticos oportunistas, que sistematicamente chantageiam governantes para
designar seus indicados para cargos nas estatais, sem qualificação adequada,
transformando as empresas estatais em verdadeiros “cabides de emprego”, com
determinação para favorecer interesses de terceiros, ultrajando até mesmo
regras legais e estatutárias vigentes.
Com
isso, a qualidade da gestão fica comprometida, trazendo consigo a ineficiência
e os desvios de finalidades, seja pela falta de continuidade, em razão das
constantes trocas de comando em curto espaço de tempo, seja pela falta de
qualificação dos gestores. O foco na burocracia e a fragilidade “fabricada” na
gestão criam ambientes propícios para a corrupção, favorecendo diretamente
“sócios abutres”, interessados em explorar os negócios com foco no “lucro pelo
lucro”, ou terceiros com interesses espúrios, ao arrepio da legislação e dos
objetivos estabelecidos para atender a sociedade.
No
intuito de transformar esse país no império do neoliberalismo, observamos
movimentos orquestrados para, cada vez mais, desacreditar e desmontar as
estruturas desses entes estatais – muitos com longa história de bons serviços
prestados à sociedade, apoiados em corpo técnico altamente qualificado, e de
extrema relevância na execução de políticas públicas -, sucateando suas
estruturas para facilitar os constantes desvios de recursos ou justificar a
transferência dos negócios para as mãos de grupos econômicos rentistas, a preço
vil, “doando” patrimônio do povo para
riquinhos “necessitados”, para concentrar ainda mais a riqueza.
Não
podemos assistir passivamente a atuação ineficiente de empresas estatais, nem
admitir essa forma irresponsável de dispor do patrimônio público, com privatizações desenfreadas, realizadas com o
apoio de um parlamento sectário, que ocasionam “gaps” na execução de políticas
públicas, pela falta de compromisso desses e de “sócios abutres” para com a
sociedade, principalmente com os mais vulneráveis, e impactos relevantes nos
preços dos produtos e serviços ofertados, que sobem vertiginosamente, enquanto
a qualidade cai a níveis inadmissíveis.
Sabedores
da importância de ter sob comando órgãos operacionais estruturados, com
capacidade de execução de políticas públicas estratégicas para o Estado, só
resta aos governos federal e estaduais darem um “freio de arrumação” nas
empresas estatais, para reorganizar a estrutura do Estado Empreendedor e buscar
eficiência nas empresas estatais, com medidas voltadas para profissionalizar a
gestão, revisar papéis e redirecionar a
forma de atuação, racionalizar custos, valorizar talentos e recoloca-las nos trilhos, para o
bem do Estado Empreendedor desenvolvimentista e da Sociedade, que nada mais é a
patroa.
O
Estado não pode abrir mão da eficiência de seus braços operacionais na execução
de seus programas de governo, voltados para atender os anseios e necessidades
da sociedade. Afinal, empresa estatal não pode ser vista como um calo no pé dos
governos, a ponto de terem que ser extirpadas para resolver seus incômodos!
Quando operadas com ética e profissionalismo, serão sempre solução para o
desenvolvimento do país.
• Privatização
da Sabesp tirará recursos e criará gasto para governo de São Paulo
A
venda da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) vai
transferir para o setor privado uma fonte de recursos do governo paulista ao
mesmo tempo em que criará um gasto extra para o estado. Com a privatização, o
governo deixará de receber periodicamente sua participação nos lucros da
companhia e ainda terá de usar recursos próprios para garantir a prometida
redução de tarifas prevista no negócio.
Essa
redução de tarifas é o principal argumento usado pelo governador Tarcísio de
Freitas (Republicanos) para vender o controle da Sabesp. Tarcísio pretende
privatizar a estatal paulista ainda neste semestre, vendendo ações da empresa
na bolsa de valores.
Detalhes
dessa venda ainda não foram divulgados. O governo tem pouco mais da metade das
ações da Sabesp. Não se sabe ainda ainda quantas ele pretende vender, a que
preço e quanto ele pretende arrecadar.
Tarcísio
já aventou a possibilidade de levantar até R$ 30 bilhões com a venda da Sabesp.
Desse montante, já foi dito que cerca de um terço – ou seja, R$ 10 bilhões –
seriam alocados em um fundo voltado a políticas públicas de saneamento.
Sairiam
desse fundo os recursos para redução das tarifas. O desconto prometido seria de
10% para as tarifas sociais, já subsidiadas; 1% para as residenciais; e 0,5%
comerciais.
Para
o sociólogo Edson Aparecido da Silva, secretário executivo do Observatório
Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento (Ondas), essa seria a primeira
incoerência no processo de privatização da Sabesp. Retirando dinheiro do tal
fundo, o governo paulista assumiria um custo extra para reduzir tarifas sem
afetar o lucro da Sabesp já privada.
"O
governo vai acabar usando recursos que são do contribuinte [que era o dono da
empresa] para reduzir a tarifa", reclamou ele.
• Dúvidas
José
Faggian, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio
Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema), reforça as críticas à ideia do
governo de Tarcísio. Ele também levanta questionamentos sobre a viabilidade do
desconto.
Segundo
Faggian, se o fundo receber os R$ 10 bilhões prometidos e for usado para dar
10% de desconto na conta de água de todos os usuários da Sabesp, não duraria
nem dois anos. "Quem garantiria o desconto depois do uso do
dinheiro?", questionou.
Já
Silva aponta um problema legal. Ele lembra que a Lei de Responsabilidade Fiscal
não permite que governos usem recursos de privatizações para gastos correntes.
O uso do fundo para baratear a tarifa poderia ser proibido, portanto. "A
privatização da Sabesp é um processo cheio de questionamentos à espera de
respostas", afirmou.
• Lucro
O
que já se sabe é que a venda da Sabesp tirará dos cofres do governo valores que
ele recebe periodicamente referentes ao lucro da empresa. De acordo com
Faggian, hoje, os dividendos da Sabesp engordam os cofres paulistas em cerca de
R$ 400 milhões por ano. Esse valor será reduzido na mesma proporção que a
participação do governo da empresa.
O
governo de Tarcísio argumenta que a venda da empresa antecipará esses
pagamentos, abrindo espaço também para investimentos para expansão da rede de
água e esgoto no estado. A meta é universalizar o serviço até 2029, diz o
governo.
Acontece
que a Sabesp, ainda como uma estatal, já tem planos para alcançar essas metas
até 2033, sem a necessidade de privatização.
"A
Sabesp reinveste 75% do seu lucro anual para expansão da rede. Distribui o
restante ao governo e outros acionistas", explicou Faggian. "Se
querem antecipar as metas, é só reinvestir mais do lucro. A empresa tem
capacidade financeira e operacional para isso."
• Contramão
O
secretário executivo do Ondas defende que a solução para a melhoria do serviço
da Sabesp não está na privatização, mas sim numa reestatização completa da
empresa. Segundo ele, sem precisar distribuir dividendos a acionistas, a Sabesp
poderia se voltar completamente à prestação de um bom serviço público em
benefício dos paulistas.
"A
solução é fortalecer a gestão pública na empresa", disse Silva.
Faggian
também defende essa tese. Ele acrescentou que, cumpridas as metas de
universalização da rede de saneamento em São Paulo, o investimento da Sabesp
tende a diminuir muito. Sobraria dinheiro na empresa para uma redução de tarifa
até maior do que a prometida no processo de privatização.
O
sindicalista disse que o Sintaema e outros movimentos sociais já apresentaram
ao governo e à Justiça seus argumentos contra a privatização. Ele disse que a
gestão Tarcísio insiste na venda da empresa. Faggian espera que a Justiça se
atente para os prejuízos e os problemas que a privatização da Sabesp trará à
população.
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Prefeitos de 305 cidades aprovam novo contrato com Sabesp privatizada
Prefeituras
de 305 municípios paulistas aprovaram na tarde desta segunda-feira (20) os
novos contratos de concessão com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de
São Paulo (Sabesp) privatizada. A aprovação ocorreu em votação eletrônica na
primeira reunião do Conselho Deliberativo da Unidade Regional de Água e Esgoto
Sudeste (Urae 1), que reúne 370 dos 375 municípios paulistas operados pela
Sabesp.
Os
prefeitos também aprovaram o regimento interno da unidade, o Plano Regional de
Saneamento Básico, a coordenação do grupo, que será exercida pela secretária de
Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo, Natália
Rezende, e definiram que a Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de
São Paulo (Artesp) será a entidade responsável pela regulação e fiscalização
dos serviços da companhia.
Segundo
o governo do estado, o novo contrato da Sabesp inclui investimentos
obrigatórios solicitados pelos municípios e garantia de cobertura em áreas
urbanas, rurais e informais.
"A
gente acredita que este projeto vai deixar um grande legado para o estado de
São Paulo. Vários legados. O primeiro, e mais importante, a universalização do
saneamento. A gente vai poder de fato sonhar com a despoluição de mananciais
importantes, que é algo que o paulista, em especial o paulistano, sonha há
tanto tempo. A gente vai poder sonhar com o aumento da disponibilidade hídrica.
É impossível mensurar todo o ganho, todas as externalidades que nós vamos
ter", disse o governador Tarcísio de Freitas, ao final da reunião.
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Observatório critica
Representante
do Observatório dos Direitos à Água e ao Saneamento (Ondas) no conselho, Amauri
Pollachi criticou a decisão do governo do estado de privatizar a Sabesp,
destacando as experiências negativas de outros países que passaram para a
iniciativa privada empresas públicas da área de saneamento.
"O
exemplo mais contundente está no fracasso da privatização do saneamento na
Inglaterra. Após 35 anos, as contas de água subiram mais que o dobro da
inflação, as dívidas alcançam 60 bilhões de libras, o equivalente à construção
duas vezes do Eurotunel, e o volume de esgotos lançado em rios e mares é
recorde", disse Pollachi.
Ele
lembrou ainda o papel que a Sabesp vem desempenhando atualmente no Rio Grande
do Sul, auxiliando nos trabalhos de drenagem das águas em Porto Alegre. "A
calamidade no Rio Grande do Sul expôs o papel preponderante da Sabesp pública
na retomada do abastecimento de água e na drenagem de Porto Alegre e
Canoas."
Além
disso, afirmou Pollachi, ficou evidente a ausência das empresas privadas de
saneamento nas ações emergenciais no estado. "A Corsan [Companhia
Riograndense de Saneamento], estatal gaúcha privatizada há um ano, demitiu
cerca de 40% do seu quadro de funcionários."
Modelo
diferente
Segundo
a secretária Natália Rezende, o governo estudou diversos modelos de
privatização pelo mundo e criou um modelo próprio e específico para o caso da
Sabesp. "É [um modelo] totalmente diferente. O nosso modelo não se
assemelha, por exemplo, ao do Rio de Janeiro, não se assemelha ao do Rio Grande
do Sul. É um modelo da Sabesp, é um modelo do estado de São Paulo",
enfatizou.
"Tanto
o regulatório quanto da lógica de prestação de serviços é totalmente diferente
do da Inglaterra. A Inglaterra fez uma privatização de bens. Aqui está falando,
na verdade, de um follow-on [oferta adicional de ações de empresa já listada em
bolsa] de uma empresa que já tem 49,7% do seu capital privado. Então, a gente
está falando de trazer mais investimentos por meio de uma redução da
participação do Estado", acrescentou.
Fonte:
Jornal GGN/Brasil de Fato
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