sexta-feira, 24 de maio de 2024

Cerca de 55% da população argentina está abaixo da linha da pobreza, revela estudo

Um estudo da Universidade Católica Argentina divulgado nesta terça-feira (21) revela que 18% da população argentina vive em situação de extrema pobreza. Os números — resultantes da redução de 50% dos salários ocorrida entre janeiro e fevereiro— representam os piores registros em mais de 20 anos, só comparáveis aos da crise econômica de 2001-2002.

Segundo o levantamento, mais da metade dos argentinos está abaixo da linha da pobreza, ou seja, 55% da população não satisfaz suas necessidades básicas.

De acordo com o Observatório da Dívida Social da instituição, no primeiro trimestre de 2024, a pobreza atingiu 18% das pessoas. Estes são os piores números em mais de 20 anos. Embora o fenômeno venha aumentando há anos, a política econômica de choque implementada pelo governo de Javier Milei foi determinante:

"A desvalorização da moeda foi diretamente transmitida para os preços internos, impactando na qualidade de vida da população", disse Eduardo Donza, sociólogo e pesquisador do Observatório, à Sputnik.

Segundo o especialista, "o pico da pobreza foi alcançado em fevereiro, quando atingiu 58%. Felizmente, a desaceleração da inflação contribuiu para uma relativa queda, estabilizando-se em 55%, valor "muito preocupante", segundo ele.

O contraste entre a linha de pobreza e os rendimentos ajuda a compreender a complexidade do contexto social, destacou ele. Em abril, um lar com quatro pessoas teria que ter renda domiciliar de cerca US$ 690 (cerca de R$ 3,5 mil) para não ser considerado pobre e US$ 310 (R$ 1,5 mil) para não cair na pobreza extrema. No entanto, o salário mínimo foi aumentado em maio para US$ 195 (cerca de R$ 1 mil).

De acordo com as estimativas da Central de Trabalhadores Argentinos (CTA), entre novembro de 2023 e maio de 2024, a remuneração mínima sofreu uma queda de 27,9% em termos reais.

De acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (INDEC), no segundo semestre de 2023, a pobreza atingiu 41,7% da população (cerca de 19,4 milhões de pessoas), enquanto a indigência havia subido para 11,9% (5,5 milhões). Comparado aos valores de 2022, há uma piora nas variáveis: aquele ano encerrou com 39,2% de pobreza e 8,1% de indigência.

·        Um fenômeno estrutural

Segundo o sociólogo, a gradual pauperização das condições de vida da população — que acumula sete anos consecutivos de queda de renda, período que abrange os mandatos de Mauricio Macri (2015-2019) e de Alberto Fernández (2019-2023) — começa a solidificar um "piso" de pobreza cada vez mais alto e difícil de reverter.

"É muito provável que o núcleo duro da pobreza tenha aumentado. A persistência geracional nessa condição é muito prejudicial para a possibilidade de sair dessa situação. Apesar das recuperações esporádicas, um fenômeno estrutural se consolidou", apontou o pesquisador. "A Argentina tem registrado níveis muito altos de pobreza há cerca de 20 anos. A classe média costumava ser motivo de orgulho. Agora, essa classe média só possui capital simbólico, porque o econômico está cada vez menor", destacou o pesquisador.

·        Responsabilidade estatal

Em um contexto de deslegitimação do papel do Estado — sobre o qual Milei prometeu passar uma "motossera" —, imerso em uma crise por falta de recursos, os especialistas levantam a necessidade de reforçar o papel do setor público para conter os "caídos" do sistema.

"O Estado argentino tem uma tradição assistencialista em relação às famílias mais empobrecidas, mas hoje está em xeque, sem propor nenhuma alternativa para superar isso", considerou Donza.

Segundo o especialista, "para reduzir a pobreza é necessário um grande acordo político, mas também econômico: sem acordos de preços, é muito difícil interromper a inércia crescente, e a responsabilidade de coordenar expectativas é do governo".

Diante do drástico ajuste orçamentário apresentado pelo Poder Executivo — refletido na paralisação total da construção de obras públicas ou na virtual interrupção do envio de fundos discricionários para as províncias, a estratégia do governo precisa ser repensada, avaliou o acadêmico:

"A falta de contenção social pode ser um problema futuro. Se continuar a consolidar-se um alto patamar de pobreza, esses valores serão cada vez mais difíceis de reverter. Evitar esse crescimento deveria ser a principal prioridade do Estado", afirmou o pesquisador.

  • Milei faz o que sempre criticou nos outros e para barrar a inflação congela preço do gás de cozinha

O governo da Argentina comandado por Javier Milei decidiu congelar o preço do gás no mês de maio após a desregulamentação do setor gerar uma inflação de mais de 400% em menos de um mês no setor.

Existe uma estimativa que os preços do botijão poderiam crescer mais de 1000% entre março e junho, e o motivo estaria no fim dos subsídios e desregulamentação do setor pelo governo Milei.

Para tentar frear a medida, a gestão ultraliberal que criticou durante meses os subsídios e a manutenção de preços operadas pelos governos kirchneristas.

O Ministério da Economia afirmou que “de forma a consolidar o processo de desinflação levado a cabo pelo Governo, verificado até à data, é razoável e prudente adiar no mês de Maio a aplicação efetiva das atualizações previstas no resoluções das Entidades acima referidas e os aumentos do PEST correspondente à energia elétrica e do PIST ao gás”.

A ideia do governo em atualizar as taxas e desregulamentar o setor era colher mais impostos para o governo argentino manter sua meta de superávit fiscal.

Em janeiro, o preço já havia subido pelo menos 100%. E depois de quatro meses de inflação, foi necessário segurar os preços.

O aumento do gás de cozinha significaria aumento da inflação. O governo quer entregar números rápidos para a população tentando justificar o ajuste fiscal, mas o aumento de preços tem se mantido acima dos 8% ao mês.

O congelamento de preços não costuma ser uma medida eficaz a longo prazo e pode trazer problemas para a economia, criando um mercado paralelo por fora dos valores oficiais.

Além do gás, produtos farmacêuticos e café moído também sofreram aumentos de 100% no valor nominal. Vale lembrar que o governo ainda desvalorizou o peso em 50% e cortou subsídios de outros produtos, o que fez a inflação aumentar e o salário diminuir simultaneamente.

¨      Milei considera um 'disparate' decisão da Espanha de retirar embaixadora da Argentina

O presidente argentino Javier Milei chamou nesta terça-feira (21) de "disparate" a decisão do governo espanhol de retirar "definitivamente" sua embaixadora da Argentina e afirmou que não adotará uma medida similar.

"É um disparate típico de um socialista arrogante", disse Milei a respeito da decisão do primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez. 

Questionado pelo canal LN+ se a Argentina também vai retirar seu embaixador da Espanha, ele respondeu: "Não, de jeito nenhum".

"Isto mancha a imagem internacional da Espanha e (evidencia) como são arrogantes, como acreditam que são o Estado e que ninguém pode dizer nada a eles", disse Milei.

Ao comentar suas declarações em Madri durante o discurso em um encontro de líderes de extrema direita organizado pelo partido espanhol Vox, Milei relativizou a referência à esposa de Sánchez.

"Ele se sentiu mencionado, o que é problema dele, era uma frase que não continha nomes, a partir daí ele fez uma escalada diplomática sem sentido", concluiu.

"Se ele se sentiu mencionado é porque está sujo, a culpa não é minha", acrescentou.

Embora Milei não tenha identificado Sánchez ou sua esposa, Begoña Gómez, com os nomes, as circunstâncias permitiram determinar a quem ele fazia referência.

"As elites globais não percebem o quão destrutivo pode ser implementar as ideias do socialismo (...), mesmo que você tenha a esposa corrupta, digamos, suja-se [sic] e tire cinco dias para pensar sobre isso", disse Milei. 

Nesta terça-feira, ele disse que "Pedro Sánchez tem um complexo de inferioridade em relação a mim" e recomendou "um psicólogo para que amadureça e um bom advogado para Begoña porque ela já tem muitos casos em que é suspeita de tráfico de influência".

Milei considerou que Sánchez "estava procurando um 'choque' com estas características, mas o tiro saiu pela culatra porque ele está ficando como um ridículo".

"O que a Espanha está fazendo em termos diplomáticos é um papelão internacional por culpa de um delirante que acredita ser dono do Estado, o que é bem antidemocrático", acrescentou. 

Milei chamou o governo de Sánchez de "perverso" e o acusou de "pressionar um juiz em um dos casos contra a mulher"

A Espanha já havia convocado sua embaixadora para consultas no domingo, depois que o presidente argentino se recusou a pedir desculpas por suas declarações, como havia solicitado Madri.

"Não vou pedir desculpas em hipótese alguma", disse em entrevista ao canal TN. "O agredido fui eu", afirmou, ao recordar que autoridades do governo espanhol o chamaram de "xenófobo, racista, ultradireitista (...) negacionista da ciência, misógino".

 

Fonte: Sputnik Brasil/Fórum

 

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