Zolpidem: o que é, para que serve e os prós e contras do queridinho do
momento
Nesta coluna vou explicar os prós e os contras
deste medicamento para te ajudar a entender melhor seus benefícios e riscos,
mas direi que é um medicamento que deve ser usado de forma muito limitada.
• Mas
afinal, o que é zolpidem?
Zolpidem é um indutor do sono disponível há décadas
na Europa e há cerca de 10 anos no Brasil. Fazem parte da sua classe de
medicamentos o zolpiclone (Prysma), ambos chamados de droga Z. zolpidem e
zolpiclone, medicações que agem nos mesmos receptores (semelhantes a fechaduras
localizadas nos nossos neurônios) que os benzodiazepínicos (ex: rivotril,
frontal) e também o álcool. Todas essas substâncias têm, portanto, um efeito
depressor (sonolência, rebaixamento de consciência) para o cérebro, ainda que
cada uma delas com suas peculiaridades.
>>>> Veja a seguir as principais
características dessa medicação.
• Eficácia
na indução do sono
Uma das principais “vantagens” (sim, entre aspas)
do Zolpidem é sua eficácia na indução do sono. Muitas pessoas relatam que após
tomar a medicação, experimentam uma rápida sensação de sonolência e conseguem
adormecer em questão de minutos. Isso pode ser um alívio para aqueles que
sofrem de insônia, especialmente em noites de grande ansiedade ou estresse.
• Uso em
casos de insônia aguda
Formalmente, o Zolpidem é indicado para insônias
agudas, ocasionais, não crônicas. E a questão é: quando um problema de insônia
é OCASIONAL? Isto é, quando é breve, esporádico? Raramente, sejamos francos,
mas insônia ainda assim pode acontecer.
Ou seja, o Zolpidem é indicado para o tratamento de
insônia aguda, situações em que a dificuldade de dormir é temporária e
relacionada a um evento específico, como uma prova difícil, viagens com
mudanças de fuso horário ou outros estressores temporários. Nesses casos, a
medicação pode ser, desde que bem acompanhada por um profissional competente,
uma ferramenta eficaz para ajudar as pessoas a recuperarem seu padrão de sono
normal.
• Suposta
alternativa aos benzodiazepínicos
Antes do zolpidem, os benzodiazepínicos (como o
rivotril e o diazepam) já eram prescritos para tratar problemas de sono há
décadas, trazendo muitos problemas aos seus usuários. Uma das promessas do
zolpidem, quando foi introduzido no mercado, era que ele teria menos potencial
de abuso e dependência do que os benzodiazepínicos. Isso tornaria o zolpidem
uma opção mais segura para muitas pessoas que buscam ajuda para dormir.
Infelizmente, isso não se mostrou verdade, e tantos estudos científicos quanto
a nossa prática comprovam: zolpidem causa mais dependência do que os
benzodiazepínicos.
• Potencial
de abuso e dependência
Embora o zolpidem tenha sido inicialmente promovido
como uma alternativa mais segura aos benzodiazepínicos, descobriu-se que ele
também tem um alto potencial de abuso e dependência. Alguns pacientes relatam a
necessidade de aumentar constantemente a dose para obter o mesmo efeito. Há
inúmeros relatos de pacientes que precisam tomar doses extraordinárias, como
10-20 ou até mais comprimidos por dia para obter o efeito desejado de indução
de sono.
E aí chegamos ao nosso maior problema: tolerância.
A tolerância significa a necessidade de doses maiores para um mesmo efeito. E
isso é MUITO comum com zolpidem, e tende a acontecer mais rapidamente do que
com os benzodiazepínicos (ex: rivotril, frontal, lorax), primos dele.
Sob maior estresse e ansiedade, fica mais difícil
dormir. E aí surge a ideia de usar uma dose cada vez maior… E cada vez mais as
boas práticas de sono são abandonadas. Este é o círculo perfeito para o vício
em zolpidem, que descrevi para você abaixo.
• Efeito
de curta duração
O efeito do zolpidem é curto, de poucas horas. Isto
é, pode funcionar como um bom indutor do sono, mas pode não ajudar pacientes
que acordam muitas vezes à noite. Ainda, muitos pacientes acabam seduzidos por
uma rápida indução de sono. Parece ótimo, uma solução para um problema muito
desagradável, mas contém uma armadilha: pode levar ao abandono de hábitos
saudáveis de sono, como uma rotina de relaxamento antes de dormir. A médio e a
longo prazo, consolida-se a dependência inclusive porque o indivíduo, de certa
forma, desaprende a dormir! Inclusive, pode passar a acordar à noite e não
conseguir voltar a dormir sem dose adicional da medicação, gerando doses cada
vez maiores pelo fenômeno da tolerância!
• Sonambulismo
e embriaguez por zolpidem
O zolpidem é conhecido por causar efeitos
colaterais peculiares, como episódios de sonambulismo. Algumas pessoas que
tomam a medicação não conseguem dormir imediatamente e podem se envolver em comportamentos
peculiares, como comer de maneira desorganizada, fazer compras online, postar
nas redes sociais sem se lembrar no dia seguinte e até dirigir nesse estado de
consciência alterada. O potencial para consequências desagradáveis e graves é
infelizmente grande!
• Amnésia
e perda de memória
Além da amnésia temporária que expliquei no item
anterior, muitos pacientes relatam dificuldades de atenção e consolidação de
memória no cotidiano quando em uso de Zolpidem. Já sabemos há décadas que os
benzodiazepínicos (rivotril, frontal etc.) têm esse efeito e não é
surpreendente que também ocorra com o zolpidem.
• Maior
risco para idosos
Os idosos são mais suscetíveis aos efeitos adversos
do Zolpidem. Eles têm um risco aumentado de quedas e problemas cognitivos quando
utilizam essa medicação. Portanto, é recomendável que os sejam monitorados de
perto e tenham um plano para interromper o uso do Zolpidem assim que possível.
• O
zolpidem deve, então, ser proibido?
Penso que não! O zolpidem pode ser recomendado para
uso de curto prazo, geralmente por até quatro semanas. A ideia é que a
medicação seja usada para tratar problemas temporários de sono, como expliquei
no começo desta coluna. Porém, infelizmente não é isso que acontece, e surgem
inúmeros problemas…
Já faz muitos anos que eu não introduzo essa
medicação para um paciente no meu consultório, e todos os dias trabalho para
que os meus pacientes que já vinham tomando o zolpidem se livrarem dele.
Embora seja eficaz na indução do sono e possa ser
uma solução temporária para problemas de sono, é uma medicação com utilidade
limitada e seus riscos de abuso, dependência e efeitos colaterais devem ser
levados a sério. É fundamental que o zolpidem seja usado com cautela, apenas
sob a supervisão de um profissional de saúde, e de acordo com as diretrizes de
uso de curto prazo.
Se você está enfrentando problemas crônicos de
sono, é aconselhável explorar outras opções de tratamento e desenvolver bons
hábitos de sono, assim como o tratamento de transtornos mentais como depressão e
transtornos de ansiedade. É importante lembrar que o tratamento da insônia não
é principalmente através de medicações, mas através de uma série de mudanças a
que chamamos de Terapia Cognitivo-comportamental para a Insônia (TCC-I).
Fonte: Dr. Pedro Rosa, para IstoÉ Bem Estar
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