OMS alerta para "catástrofe de saúde iminente" em Gaza
Uma "catástrofe de saúde pública" é
iminente na Faixa de Gaza, alertou a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta
terça-feira, 31, enquanto prosseguem operações militares terrestres israelenses
e pesados ataques aéreos contra alvos do Hamas no enclave palestino, que vêm
deteriorando cada vez mais a infraestrutura local e provocando deslocamentos em
massa de civis.
"É uma catástrofe de saúde pública iminente
que se aproxima, com deslocamento em massa, superlotação, danos à
infraestrutura de água e saneamento", disse porta-voz da OMS, Christian
Lindmeier.
Um porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a
Infância (Unicef), James Elder, por sua vez, alertou para o risco de crianças
morrerem de desidratação, já que a produção de água no enclave caiu para 5% dos
níveis normais. "Portanto, especialmente as mortes infantis devido à
desidratação são uma ameaça crescente." Há registro de crianças ficando
doentes por beberem água salgada, e 940 estariam desaparecidas em Gaza,
acrescentou Elder.
Lindmeier pediu que se autorize a entrada de
combustível em Gaz, para permitir o funcionamento de uma usina de
dessalinização. Israel impôs um cerco à Faixa de Gaza e recusa-se a permitir a
entrada de combustível, justificando que este poderia ser usado pelo Hamas para
fins militares.
A Agência das Nações Unidas de Assistência aos
Refugiados da Palestina (UNRWA) também alerta para uma grave crise humanitária
no sul de Gaza, onde não haveria ajuda suficiente para suprir as necessidades
dos civis deslocados, enquanto 36 caminhões com insumos aguardam para entrar no
território. O diretor da UBRWA, Philippe Lazzarini, afirmou que a entrega de
ajuda "é uma questão de vida ou morte para milhões".
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu,
descartou na segunda-feira apelos internacionais por um cessar-fogo.
Autoridades de saúde de Gaza ligadas ao grupo Hamas
dizem que mais de 8.300 palestinos foram mortos desde que Israel iniciou
ataques aéreos no enclave, em retaliação à ofensiva terrorista de 7 de outubro,
quando membros do grupo palestino massacram 1.400 pessoas em Israel e fizeram
mais de 200 reféns.
Ainda nesta terça-feira, as autoridades de Gaza
relataram uma explosão num campo de refugiados na cidade de Jabalia, no norte
de Gaza. Acusando os israelenses, o Hamas relatou que a explosão teria deixado
pelo menos 50 mortos e mais de 150 feridos. O número não foi confirmado de
forma independente.
·
Incursões terrestres
Militares israelenses iniciaram operações
terrestres contra Gaza na última sexta-feira, sob um manto de sigilo. Passados
quatro dias, em vez de partir para uma invasão total, eles parecem ter adotado
uma estratégia de avanço fracionado por setores, por enquanto evitando grandes
centros urbanos. Netanyahu falou no sábado de maneira vaga de uma "segunda
fase" da guerra enquanto militares citaram uma "expansão das operações
terrestres".
Segundo a imprensa americana, os Estados Unidos,
principal aliado de Israel, aconselharam o país a evitar por enquanto uma
ofensiva terrestre total em Gaza. Outros fatores também parecem pesar: Israel
tem que lidar com a fronteira com o Líbano, no norte, onde opera o grupo
fundamentalista Hisbolá, muito maior do que o Hamas. A tomada de mais de 200
reféns pelo Hamas parece ser outro complicador para uma ofensiva total.
Nesta terça-feira, tropas israelenses avançaram
sobre a Faixa de Gaza com tanques e buldôzeres blindados. Imagens divulgadas
pelo Exército israelense mostram soldados avançando num cenário de desolação,
entre edifícios reduzidos a pilhas de destroços pelos incessantes bombardeios
efetuados por Israel desde 7 de outubro.
A incursão terrestre das tropas israelenses
permitiu por enquanto o resgate de Ori Megidish, uma soldado israelense que
havia sido sequestrada pelo Hamas. O Exército israelense celebrou a libertação
na segunda-feira, afirmando que a militar apresentou informações de
inteligência que poderão ser utilizadas em futuras operações.
Israel afirmou ter atacado 300 alvos na quarta
noite de operações terrestres em Gaza. Suas forças teriam travado combates
contra membros do Hamas, dentro da vasta rede de túneis construída pelo grupo
sob Gaza.
"No último dia, as IDF [Forças de Defesa de
Israel] juntas atingiram aproximadamente 300 alvos, incluindo mísseis
antitanque e postos de lançamento de foguetes debaixo de poços, bem como
complexos militares dentro de túneis subterrâneos pertencentes à organização
terrorista Hamas", constou de um comunicado militar israelense.
Os membros do Hamas responderam com mísseis
antitanques e disparam de metralhadora, mas "os soldados mataram
terroristas e direcionaram as forças aéreas para ataques contra alvos e
infraestruturas terroristas".
O Hamas, por sua vez, divulgou em comunicado que os
seus membros estariam envolvidos em batalhas ferozes com forças terrestres
israelenses: "A ocupação está empurrando os soldados para a orgulhosa
Gaza, que será sempre o cemitério dos invasores."
<><> Israel confirma ter atacado campo
de refugiados e palestinos afirmam que há dezenas de mortos
Um ataque israelense contra o campo de refugiados
de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, deixou dezenas de mortos e feridos nesta
terça-feira (31/10), segundo autoridades do território palestino.
O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo
Hamas, e o vizinho Hospital Indonésio, para onde a maioria dos feridos foram
transferidos, contabilizaram pelo menos 50 mortes.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros em Ramallah,
na Cisjordânia, indicou posteriormente que o número total de mortos e feridos
ultrapassava os 400, alguns deles mulheres e crianças.
As autoridades palestinas compararam o
acontecimento desta terça-feira com a explosão no hospital Al-Ahli, no centro
da cidade, em 17 de outubro, na qual cerca de 500 pessoas morreram.
Pouco após a explosão, o governo de Gaza,
controlado pelo Hamas, atribuiu a nova explosão a um ataque aéreo israelense.
Israel, que há três semanas iniciou intensos
bombardeios em Gaza após um ataque do Hamas que deixou cerca de 1.400 mortos,
confirmou que caças israelenses realizaram o ataque.
O porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF, na
sigla em inglês), Daniel Hagari, confirmou que o campo de refugiados foi o alvo
do bombardeio e também afirmou que o ataque matou um comandante sênior e causou
o colapso da infraestrutura subterrânea do Hamas.
Ele disse também que o ataque matou vários outros
membros do Hamas que estavam no mesmo prédio do comandante e no subsolo.
Segundo Hagari, o ataque ao prédio levou ao colapso
de outros edifícios, que, segundo ele, tinham "infraestrutura muito
extensa".
"O objetivo dessa infraestrutura era realizar
atividades terroristas contra as nossas forças", diz Hagari, que afirmou
que toda essa infraestrutura entrou em colapso.
Desde 7 de outubro, mais de 8.500 pessoas morreram
em Gaza, segundo as autoridades locais.
·
Grandes crateras
Fotografias divulgadas pela agência Reuters mostram
a devastação no local, com pessoas procurando sobreviventes e retirando corpos
dos escombros.
As imagens mostram grandes crateras de impacto
cercadas por detritos de concreto e aço de edifícios desabados.
Há também fotografias que mostram crianças
aparentemente gravemente feridas ou mortas.
Localizado ao norte da Cidade de Gaza, Jabalia é o
maior dos oito campos de refugiados de Gaza.
Em julho de 2023, 116.000 refugiados palestinos
viviam no local, de acordo com registos da ONU.
Os refugiados começaram a se instalar neste campo
após a Guerra Árabe-israelense de 1948.
É uma área pequena, mas densamente povoada, de
edifícios residenciais que ocupa 1,4 quilômetros quadrados.
Jabalia tinha 26 escolas em 16 edifícios, um centro
de distribuição de alimentos, dois centros de saúde, uma biblioteca e sete
poços de água.
Assim como o campo de Shati, está localizado na
área de onde Israel ordenou que a população saísse o mais rápido possível.
Nesta terça, Hagari afirmou que o Hamas continua a
usar a população civil como escudo intencionalmente "e de uma forma muito
cruel e brutal".
O porta-voz das IDF também reiterou o apelo para
que as pessoas no norte da Faixa de Gaza se dirijam para o sul.
Ø “Gaza se transformou num cemitério para crianças”, diz a UNICEF
A Faixa de Gaza tornou-se um cemitério para
milhares de crianças, disse a agência da ONU para a infância, UNICEF, na
terça-feira, em meio à perspectiva de mais mortes por desidratação.
O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo
Hamas, disse que os ataques mataram mais de 8.500 pessoas, principalmente
civis.
“Nossos temores mais graves de que o número
relatado de crianças mortas se tornassem dezenas, depois centenas e,
finalmente, milhares, foram concretizados em apenas duas semanas”, disse o
porta-voz da entidade, James Elder, em um comunicado.
“Os números são terríveis; supostamente, mais de
3.450 crianças foram mortas; surpreendentemente, esse número aumenta
significativamente a cada dia”, declarou. “Gaza se tornou um cemitério para
milhares de crianças. É um inferno para todos os outros.”
Ele disse que mais de um milhão de crianças que
vivem na Faixa de Gaza também sofrem com a falta de água potável.
“A capacidade de produção de água de Gaza é de
apenas 5% da sua produção diária habitual. As mortes de crianças –
especialmente crianças – devido à desidratação são uma ameaça crescente”,
afirmou.
A UNICEF apela a um cessar-fogo humanitário
imediato, com todas as passagens de acesso a Gaza abertas para acesso seguro,
sustentado e desimpedido da ajuda humanitária, incluindo água, alimentos,
suprimentos médicos e combustível.
“E se não houver cessar-fogo, nem água, nem
medicamentos, e não houver libertação das crianças raptadas? Então, nos
precipitaremos para horrores ainda maiores que afligem crianças inocentes”,
disse Elder.
“Há certamente crianças que estão morrendo e que
foram afetadas pelo bombardeio, mas que deveriam ter tido as suas vidas
salvas”, falou Elder a jornalistas em Genebra, através de videoconferência.
Ele disse que, sem maior acesso humanitário à Faixa
de Gaza, “as mortes causadas pelos ataques poderiam ser absolutamente a ponta
do iceberg”.
O porta-voz da agência humanitária da ONU, Jens
Laerke, acrescentou: “É quase insuportável pensar em crianças enterradas sob os
escombros, mas (com) muito pouca oportunidade ou possibilidade de retirá-las”.
A Organização Mundial de Saúde, OMS, acrescentou
que as pessoas em Gaza não estavam morrendo apenas devido aos bombardeios
diretos.
“Temos 130 bebês prematuros que dependem de
incubadoras, dos quais aproximadamente 61% estão no norte”, disse o porta-voz
da OMS, Christian Lindmeier.
“É uma catástrofe iminente de saúde pública que se
aproxima com o deslocamento em massa, a superlotação e os danos às
infraestruturas de água e saneamento.”
Ø TPI diz investigar possíveis crimes na guerra Israel-Hamas
Procurador do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan anunciou neste domingo (29/10) que a corte investiga
violações relacionadas aos atentados terroristas cometidos pelo Hamas contra Israel, além de analisar eventos em Gaza e Cisjordânia até 2014.
Khan esteve na passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, onde gravou um pronunciamento em que afirma que a obstrução do envio de mantimentos a civis na Faixa de Gaza pode caracterizar um crime de guerra. Mais cedo, no Cairo, ele
declarou que Israel deve fazer "esforços discerníveis" para assegurar
o acesso de civis a alimentos e medicamentos.
"Não deve haver nenhum impedimento a ajuda
humanitária direcionada a civis. Eles são inocentes", reiterou em uma
mensagem publicada no X, antigo Twitter.
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Pressão internacional em
meio a escalada
Pela manhã, a Organização
das Nações Unidas informou que armazéns e centros de
distribuição mantidos pela ONU em Gaza foram invadidos por pessoas em busca de comida.
Em meio à crescente pressão internacional, Israel
anunciou que permitiria a entrada de mais ajuda humanitária no território nos
próximos dias e a abertura de uma segunda linha de abastecimento de água que
havia sido fechada no início do conflito.
Ao fazer o comunicado, um porta-voz militar do país
negou, contudo, que haja escassez de comida e medicamentos, alegando que os
suprimentos estão sendo controlados pelo Hamas.
Também no domingo, o presidente dos Estados
Unidos, Joe Biden, conversou com
o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tendo
ressaltado o direito de Israel à autodefesa de "maneira consistente com as
leis internacionais humanitárias, priorizando a proteção de civis" e a
necessidade de "aumentar imediatamente o fluxo de assistência humanitária
para atender as necessidades de civis em Gaza".
Biden enviou uma mensagem semelhante ao Egito,
opondo-se a um eventual deslocamento de palestinos, que preocupa o país.
Mais cedo, outro emissário da Casa Branca, Jake
Sullivan, afirmou que o fato de o Hamas usar civis como escudo humano "não diminui a
responsabilidade [de Israel] perante a lei internacional de fazer tudo ao
alcance deles para proteger civis".
À noite, a Sociedade do Crescente Vermelho
Palestino (braço da Cruz Vermelha) afirmou que suas equipes em Gaza receberam
24 caminhões em suprimentos pela passagem de Rafah. À agência de notícias Associated
Press, um oficial egípcio informou que 33 veículos carregados de
mantimentos adentraram o território.
Brasil convoca nova
reunião do Conselho de Segurança
Na última sexta-feira, em meio a relatos de
deterioração da situação humanitária em Gaza, a Assembleia Geral das Nações
Unidas (ONU) aprovou, por ampla maioria, uma resolução não-vinculativa em que pede uma "trégua
humanitária imediata" para garantir a
assistência de civis palestinos sitiados no enclave.
O gesto foi recebido com indignação pela diplomacia
israelense, que criticou a ausência de uma condenação ao Hamas. Horas depois,
Gaza ficou sem sinal de internet e telefonia – o sinal começou a ser
reestabelecido neste domingo –, e militares ampliaram a investida contra o Hamas, expandindo as "operações terrestres" e inaugurando a "segunda fase" do
que Netanyahu chamou de "guerra de independência" pela
existência de Israel.
No domingo, militares teriam despejado panfletos
sobre Gaza instruindo a civis sobre como "se render". "Líderes
do Hamas estão te explorando", consta do texto em árabe. "Eles e suas
famílias estão em locais seguros enquanto você morre em vão."
O Brasil, que preside o Conselho de Segurança
da ONU até terça-feira (31/10), tenta negociar uma outra resolução – esta, com
caráter vinculativo – para a crise em Gaza, convocando nova reunião de
emergência do conselho para a tarde de segunda-feira, informou o colunista
Jamil Chade, do UOL. Esforços anteriores nesse sentido foram vetados por
Estados Unidos e Rússia.
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Preocupação internacional
com situação humanitária
Bombas têm sido lançadas sobre o enclave desde que
Israel declarou guerra ao Hamas e impôs um rígido cerco em resposta aos atos
terroristas de 7 de outubro, quando membros do grupo considerado terrorista
pelos Estados Unidos, a União Europeia e vários países ocidentais e que
controla o território palestino massacraram cerca de 1.400 pessoas e
sequestraram mais de 200.
Também Israel se encontra sob fogo constante desde
então, mas tem conseguido interceptar boa parte dos ataques – que têm partido
não só de Gaza, mas também da fronteira com o Líbano e a Síria.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) têm apelado a civis para que deixem "temporariamente"
o norte de Gaza, local onde os militares têm concentrado suas
operações. A inteligência isralense alega que o Hamas tem sabotado esses
esforços, enquanto alguns moradores ignoram os apelos alegando não ter nenhum
lugar seguro para se abrigar.
Parte buscou abrigo em hospitais, como o Al-Quds,
cujas imediações foram bombardeadas neste domingo, segundo relatos. Equipes
médicas permaneceram no local sob o argumento de não ter como transferir
pacientes em situação delicada.
Israel diz que o Hamas se esconde atrás de
infraestrutura civil e usa inocentes deliberadamente como escudo humano. O grupo mantém uma extensa rede de túneis no subsolo de
Gaza e é acusado de desviar apoio humanitário à
região em benefício próprio.
No lado palestino o conflito fez, até agora,
segundo informações das autoridades em Gaza, mais de 8.000 vítimas – esses
dados não podem ser verificados de forma independente.
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Judeus e palestinos têm
sofrido animosidades
Na Cisjordânia, veículos locais informam que tem
havido confrontos entre judeus assentados e palestinos. Líder de ultradireita e
ministro do Interior de Israel, Itamar Ben-Gvir tem acenado com armas gratuitas
a israelenses que vivem na região e em áreas de fronteira.
Um israelense foi preso preventivamente pelas
autoridades na noite de sábado, segundo o jornal Times of Israel,
sob suspeita de cometer atentados contra palestinos.
Na Rússia, na região do Daguestão, a mídia local
informou que o aeroporto de Makhachkala foi fechado por policiais após uma
multidão tentar invadir um avião vindo de Tel Aviv enquanto proferia palavras
de ordem com teor antissemita.
Três milhões de pessoas vivem no Daguestão, a
maioria muçulmana, mas a região abriga cerca de 400 famílias judias, que agora
cogitam se mudar.
Fonte: Deutsche Welle/BBC News Brasil/DCM
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