terça-feira, 7 de novembro de 2023

Milionário ruralista que entrou com pedido de recuperação judicial, diz respeitar PT e agora nega bolsonarismo

O empresário Washington Cinel, que integrava um grupo de empresários em apoio a Jair Bolsonaro durante seu governo, passou a negar que seja bolsonarista, e a defender que (ser de) “direita e esquerda é um negócio muito burro”. O grupo empresarial de Cinel entrou com um pedido de recuperação judicial na Justiça de São Paulo.

À coluna, Cinel rebateu a acusação do Banco Safra de que ele usou o pedido de recuperação judicial como uma “pueril tentativa de blindar” seu patrimônio e “fraudar seus credores”, como mostrou o repórter Luiz Vassallo.

“Foi uma medida necessária (a recuperação) porque a pandemia nos judiou (sic) muito. Hoje temos 18 mil funcionários. Antes da pandemia tínhamos 25 mil. Sabe o que é demitir sete mil funcionários? É muita coisa”, defendeu.

Credor do grupo de Cinel, o banco Safra disse também que o empréstimo de R$ 510 milhões que o empresário tomou com o Banco do Nordeste às vésperas da recuperação judicial serviu para proteger uma fazenda, dada como garantia do negócio, de ser bloqueada na recuperação judicial.

“A fazenda já está tomada”, rebateu Cinel. “Porque está em garantia numa adjudicação fiduciária. A fazenda é a garantia do empréstimo (do Banco do Nordeste). Os outros credores não devem chegar nela porque ela está fora da recuperação judicial. Eu tenho que cumprir um contrato de empréstimo com o Banco do Nordeste. O que eu tenho dela é a posse.”

Além do Banco Safra, o Banco do Brasil também criticou duramente o pedido de recuperação judicial da Gocil, aceito pela Justiça na semana passada. O banco disse que o empresário quer viver uma “vida de luxo e ostentação” às custas de seus credores e buscar “distribuição de renda às avessas”.

Cinel disse não ver motivação política na manifestação do Banco do Brasil que o acusou de querer blindar seu patrimônio.

“Não posso afirmar isso, porque tenho um bom relacionamento com o Banco do Brasil. O Banco do Brasil é um banco profissional. Tem o viés político? Talvez alguém ali dentro, que entrou agora, pode ter falado ‘bate, não sei o quê’. Mas eu sou um cara que me dou bem com a direita, com a esquerda, com o centro. Eles sabem disso.”

O empresário negou ser bolsonarista e disse ter relação com o governo Lula. “Na verdade, eu não conheço (com profundidade) o Bolsonaro. Foi me pedido na época para fazer um jantar para ele. Ele era presidente e fiz um jantar, acabei o conhecendo. Mas hoje se você me perguntar se tenho o celular dele, não tenho”, disse à coluna.

“Eu procuro fazer o bem, não importa a quem, como já fiz também (jantar) para o PT na minha casa. O cara que hoje é de esquerda e direita é um negócio muito burro. Depende do que está no seu coração, do que você quer fazer.”

“Conheço muita gente do PT, respeito. Tem muita gente que eu não gosto, não tem nada a ver, como tem na direita. A nossa empresa é apolítica. Hoje um político pode prometer mil coisas, não tem mais possibilidade, como era antigamente, ‘ah, te arrumo um contrato’. Não tem. Com a Lei de Licitações, publicidade, não tem. Eu estou muito velho para fazer burrada.”

 

       Safra diz que Cinel faz recuperação fake para blindar bens

 

O Banco Safra afirmou à Justiça na quinta-feira (26/10) que o empresário Washington Cinel, dono da Gocil, uma das maiores empresas de segurança privada do país, usou o pedido de recuperação judicial como uma “pueril tentativa de blindar” seu “multimilionário” patrimônio e “fraudar seus credores”.

A instituição financeira põe em xeque se o grupo de Cinel está realmente em crise econômica e questionou créditos contraídos pela empresa às vésperas do pedido de recuperação judicial (RJ).

Como mostrou o Metrópoles, Cinel pediu recuperação judicial com dívidas de R$ 1,76 bilhão à Justiça de São Paulo. O próprio empresário juntou ao processo cédulas de crédito firmadas junto ao Banco do Nordeste (BNB) que chegam à cifra de R$ 510 milhões.

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Do total, R$ 325 milhões foram contratados dois meses antes do pedido de recuperação e R$ 32 milhões foram liberados a apenas oito dias da tentativa de entrar em RJ.

Uma fazenda foi dada como garantia do negócio. Como mostrou a coluna de Guilherme Amado, a fazenda havia sido comprada por Cinel em 2021, por R$ 42 milhões. Mesmo assim, foi avaliada em R$ 325 milhões pelo Banco do Nordeste para firmar uma cédula de crédito na mesma quantia, bastante discrepante do preço original.

O banco Safra afirma que a operação pode ter servido para blindar o patrimônio de Cinel, uma vez que o imóvel alienado em garantia a um banco não pode ser alvo de bloqueios da parte de outros credores, nem incluído na lista de ativos disponíveis para a quitação de dívidas da RJ.

O Safra afirma que “não é impossível cogitar que a cédula em questão tenha sido celebrada com o fito de impedir que os credores eventualmente obtivessem” o bloqueio da fazenda, que fica em Balsas, no Maranhão.

A dívida contraída dois meses antes da recuperação, segundo o Safra, também “corrobora com o cenário de absoluta incerteza quanto à real existência de crise econômico financeira” de Cinel e das demais empresas de seu grupo.

O Safra ainda afirma que a inclusão de um empréstimo do próprio banco no valor de R$ 15 milhões na lista de credores é uma forma de tentar impedir que o Safra, caso o deseje, promova a cobrança individual da dívida.

O banco também ressalta que o grupo alegou que a crise financeira tem relação com a expansão das fazendas e questiona os motivos que levaram à inclusão das empresas de segurança privada de Cinel , como a Gocil, no pedido de recuperação judicial. O banco pede para que a Justiça mande a perícia constatar se há real crise econômica na Gocil.

“A conduta do Sr. Washington desnuda a sua pueril tentativa de blindar seu multimilionário de seus legítimos credores, a qual, por sua vez, configura abuso de direito, na medida em que o Sr. Washington se utiliza, de forma fraudulenta, do pedido de recuperaçao para fraudar credores”, afirma o Safra.

O Banco do Brasil já havia também afirmado, logo no início da recuperação judicial, que Cinel “ostenta uma vida de luxo” e que quer viver às custas de seus credores. O banco pediu à Justiça paulista que obrigue o empresário a explicar seu patrimônio e que seja feita perícia para constatar se ele, de fato, está em crise que justifique a sua recuperação judicial.

•        Ex-PM e jantares com políticos

Washington Cinel foi policial militar em São Paulo e abriu a Gocil nos anos 1980 para prestar segurança privada, após atuar nessa área para a Rede Globo, na região de Bauru. O negócio expandiu-se para 11 estados ao longo dos anos e tem, hoje, 20 mil funcionários. Atualmente, além de vigilância, o grupo oferece serviços como jardinagem, limpeza, entre outros terceirizados a empresas e governos.

Só do governo paulista, a Gocil recebeu mais de R$ 100 milhões no ano passado, prestando serviço de vigilância em estações de trens da CPTM e em unidades habitacionais da CDHU.

Com o passar dos anos, a influência política de Cinel também cresceu. Foi na mansão dele nos Jardins, bairro rico paulistano, que o empresário promoveu o evento que lançou a candidatura de João Doria na eleição para prefeito da capital, em 2016, quando o então tucano e seu amigo foi eleito.

Durante o governo passado, Cinel também se aproximou de Jair Bolsonaro (PL) e foi o anfitrião de um jantar do ex-presidente com empresários paulistas, em 2021. Mesmo alinhado a Bolsonaro, ele não deixou de frequentar o Lide, grupo empresarial fundado por Doria e do qual já foi líder da área de segurança.

BNB diz que repassou R$ 32 milhões em 2023

O Grupo Handz, ao qual pertence a Gocil, afirmou que “seguimos com o nosso processo de Recuperação Judicial com lisura e transparência, dialogando com os credores em respeito a todos os envolvidos”.

O BNB afirmou que “não repassou R$ 510 milhões presentes nas cédulas de crédito às quais o Metrópoles obteve acesso às vésperas do grupo de Cinel entrar em recuperação judicial”.

Segundo o banco, “todo recurso efetivamente repassado pelo BNB somou R$ 188 milhões, sendo que R$ 156 milhões foram creditados em 2022 e R$ 32 milhões, este ano.” Ainda de acordo com a instituição, “todo o processo seguiu rigorosamente os trâmites legais e normativos estabelecidos”.

A reportagem do Metrópoles está baseada em documentos do próprio banco que foram anexados ao processo de recuperação judicial do grupo de Washington Cinel.

•        Dono da Gocil fez manobra para conseguir empréstimo de R$ 510 milhões

O magnata da segurança e da terceirização Washington Cinel conseguiu um empréstimo de R$ 510 milhões no Banco do Nordeste (BNB) dando como garantia uma fazenda que só estava em seu nome devido a um outro empréstimo contraído com os vendedores.

Como mostrou o repórter Luiz Vassallo, Cinel, dono do grupo que controla a Gocil, uma das maiores empresas de segurança privada do país, tem dívidas que somam R$ 1,76 bilhão. Ainda assim, ele conseguiu R$ 510 milhões em um empréstimo no Banco do Nordeste em operação aprovada ainda no governo Jair Bolsonaro, de quem Cinel foi um fiel apoiador.

A fazenda foi comprada por Cinel, em 19 de junho de 2021, da empresa Enforce, controlada pelo BTG e que atua no setor imobiliário, por R$ 42 milhões, com um pagamento previsto em várias parcelas.

Para usar a fazenda como garantia para o empréstimo no BNB, mesmo sem ter quitado o pagamento, Cinel fez uma negociação. Em 27 de julho de 2022, ele entregou ao BTG uma apólice de seguro de R$ 28 milhões, equivalente a sua dívida em aberto naquele momento, para efetuar a transferência da propriedade para o seu nome.

A Enforce aceitou trocar a garantia da propriedade rural pela apólice, mas Cinel continuou devendo. A previsão é que ele terminaria de pagar somente em 2025 as parcelas referentes à compra da propriedade.

•        Juiz minimiza acusações de bancos e abre recuperação judicial da Gocil

O juiz Paulo Furtado de Oliveira Filho, da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Justiça paulista, autorizou a abertura da recuperação judicial do grupo empresarial de Washington Cinel, dono da Gocil, uma das maiores empresas de vigilância privada do país.

A decisão blinda por 180 dias todas as empresas de Cinel de ações de execução de cobranças na Justiça. No despacho, o magistrado minimiza as acusações feitas por bancos de que o pedido de recuperação judicial é fraudulento e de que estaria sendo usado para blindar o patrimônio do empresário.

“Quanto à suposta impossibilidade de processamento do pedido por inexistência de crise por determinadas devedoras, e pelo próprio Washington, tese sustentada por alguns bancos em suas manifestações iniciais, não pode ser aceita”, afirmou Oliveira Filho.

O juiz afirma, no entanto, que “caso detectada alguma fraude, poderá ser responsabilizado civil e criminalmente o seu autor, sem prejuízo” de um eventual “afastamento dos controladorese administradores”. “Não é caso, contudo, de indeferimento da inicial”, afirma.

Segundo Oliveira Filho, a empresa demonstrou as “causas da crise de forma adequada e a necessidade da recuperação, não havendo razão para maior detalhamento, pois os credores podem examinar as demonstrações financeiras e constatar se o diagnóstico da crise pelas devedoras está correto ou não, aprovando ou rejeitado o plano de recuperação a ser apresentado”.

Como mostrou o Metrópoles, bancos contestaram de maneira dura o pedido de recuperação judicial do grupo de Cinel. O Banco do Brasil, que costuma votar contra recuperações, mas raramente parte para o ataque, afirmou que o empresário quer viver uma “vida de luxo e ostentação” às custas de seus credores.

Já o Safra afirmou à Justiça que o empresário usa o pedido de recuperação judicial como uma “pueril tentativa de blindar” seu “multimilionário” patrimônio e “fraudar seus credores”.

O Metrópoles revelou que antes de pedir recuperação judicial, empresas de Cinel contraíram créditos de R$ 510 milhões junto ao Banco do Nordeste (BNB). Uma das cédulas, no valor de R$ 325 milhões, foi firmada dois meses antes do pedido. E parte da verba, no valor de R$ 32 milhões, liberada dias antes de a empresa requerer a recuperação judicial. Uma fazenda foi dada em garantia ao banco, o que pode protegê-la da venda para pagar credores.

A coluna de Guilherme Amado revelou que, apesar de avaliado em R$ 325 milhões pelo banco, o imovel foi comprado dois anos antes por R$ 41 milhões, em um valor bem menor.

Questionado pelo Metrópoles sobre os empréstimos concedidos ao grupo de Washington Cinel às vésperas da recuperação judicial, o BNB afirmou, por meio de nota, que “todo o processo seguiu rigorosamente os trâmites legais e normativos estabelecidos”.

“Vale ressaltar que, em situações de inadimplência e até mesmo nos casos de recuperação judicial, são adotadas as medidas necessárias para assegurar o ressarcimento do banco, em conformidade com as práticas comumente adotadas”, completou.

O BNB afirmou posteriormente que “não repassou R$ 510 milhões presentes nas cédulas de crédito às quais o Metrópoles obteve acesso às vésperas do grupo de Cinel entrar em recuperação judicial”.

Segundo o banco, “todo recurso efetivamente repassado pelo BNB somou R$ 188 milhões, sendo que R$ 156 milhões foram creditados em 2022 e R$ 32 milhões, este ano.” Ainda de acordo com a instituição, “todo o processo seguiu rigorosamente os trâmites legais e normativos estabelecidos”.

Já o Grupo Handz, que controla as empresas de Cinel, afirma que as informações “não procedem”, sem detalhar quais seriam as informações consideras corretas. “O Grupo não pode se manifestar em relação a dados econômico-financeiros devido ao processo de recuperação judicial em andamento”, alegou.

A reportagem do Metrópoles foi baseada em documentos do próprio BNB que foram anexados ao processo de recuperação judicial do grupo de Washington Cinel.

 

Fonte: Metrópoles

 

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