Bahia Sem Fome impulsiona projetos de inclusão social
Conhecida pelas aulas comunitárias de culinária
para adultos e de balé e de artes marciais para crianças, a Associação
Beneficente e Recreativa do Bairro da Felicidade (ABRBF), do bairro de Paripe,
em Salvador, tinha dificuldades para prover seus alunos tanto de ingredientes
para elaborar as receitas quanto de alimentos para os pequenos. Um cenário que
mudou após o início do Programa Bahia Sem Fome.
“As doações não só ajudam nossa cozinha
comunitária, mas também possibilitam que a gente dê lanches para as nossas
bailarinas – e é aí que está a grande importância desse programa para nós,
porque antes não tínhamos comida para as nossas pequeninas”, relata a
presidente da associação, Plicia Sena.
Vinculado à Casa Civil por meio da Coordenação
Geral de Ações Estratégicas de Combate à Fome, o Bahia Sem Fome foi apresentado
em março deste ano e já arrecadou 910 toneladas de alimentos. No início de
outubro, o governador Jerônimo Rodrigues assinou um documento que tornava o
programa um Projeto de Lei (PL).
“Toda política, para ser efetiva, precisa de uma
lei”, afirmou o governador, na ocasião. “Então, nós estamos constituindo a lei
para que a Assembleia possa discutir, debater e votar, fazer os ajustes que
forem bons para o projeto de lei e a gente estabelecer aquilo que é ganho para
o programa”. No último dia 31, a Assembleia Legislativa da Bahia aprovou, por
unanimidade, o Projeto de Lei 25.084, que institui o Programa Bahia Sem Fome e
cria a Rede de Equipamentos Integrados para o Combate à Fome.
O objetivo do programa é dar aos baianos acesso a
alimentos em quantidade e qualidade, buscando reduzir os índices de insegurança
alimentar no Estado, com foco nas famílias extremamente pobres – no campo e na
cidade –, mas também atendendo projetos como os da ABRBF, que não apenas fornece
cursos de salgados para as mães do bairro, como também garante o lanche das 92
meninas que têm aulas no Ballet da Felicidade (@balletdafelicidade).
NOVAS PERSPECTIVAS
A escolha por esse tipo projeto – e aqueles
relacionados a esportes, educação, cultura e afins –, está atrelada à
possibilidade que eles trazem de ligar comunidades, sobretudo os jovens, a
novas perspectivas de vida, explica o doutor em criminologia e professor na
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e da Universidade do Estado da
Bahia (Uneb), Riccardo Cappi. “Se a gente considerar como alvo principal
aqueles jovens que podem ser tentados pela experiência do ingresso no tráfico,
por exemplo, é nessas perspectivas que nasce a possibilidade de ganhar
dinheiro, fazer atividades interessantes e de estar inscrito numa rede de
sentidos e relações”, afirma.
Quando esses projetos chegam às comunidades, tiram
muitos dos moradores de suas zonas de conforto, em especial as crianças, aponta
o professor do Ballet da Felicidade, Bruno Moura. Ele mesmo aprendeu a dançar
em um projeto social muito semelhante ao ABRBF e se sente muito realizado por
hoje ser professor de um. “Em vez de estarem soltas na rua ou em casa, só na
internet, elas estão vindo para este espaço praticar dança, modificando suas vidas,
da mesma forma que a vida de suas mães é mudada com o que aprendem na cozinha
comunitária”, afirma o professor.
“O Bahia Sem Fome ajuda muito as mães, mas também
as crianças”, conta Juliana Carmo dos Santos, que há cerca de um ano é uma das
mães que produzem os salgados do Delícias da Felicidade
(@deliciasdafelicidade01), da cozinha comunitária da ABRBF. “Cada dia aprendo
mais um pouquinho sobre fazer salgados e conheço mais a comunidade. Com os
alimentos que recebemos, podemos fazer os salgados, atender encomendas e
alimentar as meninas que vêm para as aulas de balé. Minha filha é uma delas”.
Coordenador do Bahia Sem Fome, Tiago Pereira aponta
que pessoas e muitos segmentos questionaram essa ação do governo,
principalmente quanto a se “esse seria o papel do estado”, mas afirma que a
equipe “foi muito feliz em conseguir sensibilizar a sociedade”, mostrando a
magnitude do problema da fome. “Desde o início de seu mandato, o Governador
Jerônimo colocou o problema da fome como prioridade, mas além desse comprometimento
político, há a sensibilidade com as pessoas que precisam”, afirma.
O cientista político e professor do curso de
direito do UniFBV Wyden, Pedro Soares, explica que, seguindo nessa linha,
pensar em garantia de direitos – seja de ter alimento na mesa ou de ter acesso
a saúde e educação, por exemplo – é pensar no universo de ações que envolvem o
tópico segurança pública. “É preciso que essa intervenção na garantia de
direitos faça parte de uma agenda de segurança pública: garantia de direitos, ações
de desenvolvimento social e segurança pública”, afirma. “Esses fatores são
transversais e diretamente interligados”.
Fonte: A Tarde
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