quarta-feira, 1 de novembro de 2023

A violenta repercussão na Cisjordânia da guerra em Gaza

A guerra na Faixa de Gaza reflete-se cada vez mais no outro território palestino: a Cisjordânia.

Um total de 122 palestinos morreram de forma violenta na Cisjordânia desde o início do conflito, em 7 de outubro, segundo o Ministério da Saúde da Autoridade Palestina responsável por esta região de 5.600 km² (equivalente à área do Distrito Federal do Brasil), onde vivem quase três milhões de pessoas.

A maior parte das mortes ocorreu em ataques das forças israelenses contra supostos membros do Hamas e da Jihad Islâmica — ambas organizações são consideradas grupos terroristas pelos Estados Unidos e pela União Europeia — embora também sejam frequentes os confrontos entre civis de ambos os lados.

O ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro, no qual membros desta organização mataram 1,4 mil pessoas e raptaram mais de 220, gerou uma dura resposta de Israel, que iniciou uma campanha de bombardeamentos em Gaza que já matou mais de 8 mil pessoas.

E isso gera uma repercussão na Cisjordânia, onde a guerra intensifica a tensão: segundo as Nações Unidas, de janeiro até o início de outubro, cerca de 179 palestinos morreram em incidentes violentos. O ano de 2023 já é o mais mortal no território em duas décadas.

A Cisjordânia tem sido parcialmente ocupada por Israel desde a Guerra dos 6 Dias, em 1967. Os assentamentos israelenses, que são ilegais do ponto de vista do direito internacional, aumentaram nos últimos anos.

·         Choques constantes

Em Jenin, no norte da Cisjordânia, foram realizados na segunda-feira (30/10) os funerais de quatro membros da Jihad Islâmica, mortos por ataques do exército israelense durante a noite.

Os moradores do local disseram à BBC que um ataque de drone israelense atingiu uma casa no centro do campo de refugiados da cidade. Depois, houve uma trocas de tiros entre soldados israelenses e homens armados palestinos.

Na semana passada, outros quatro palestinos morreram num ataque israelense a Jenin. Além disso, foi registrada uma morte na cidade de Kalkilia, também no norte, e outra em Kalandia, ao norte de Jerusalém.

No caso de Jenin, o exército israelense afirma que "terroristas armados dispararam tiros e atiraram explosivos contra as forças de segurança" do país a partir do sobrelotado campo de refugiados.

Nos outros dois episódios, as tropas de Israel alegaram que abriram fogo contra pessoas que atiraram pedras, coquetéis molotov e explosivos improvisados.

Além das operações militares, há constantes confrontos violentos entre civis israelenses e palestinos.

O caso mais recente é o de Bilal Saleh, um agricultor palestino de 40 anos que morreu no último fim de semana devido a um tiro no peito na cidade de Nablus, ao norte de Jerusalém e Ramallah.

Segundo a versão palestina, um grupo de colonos israelenses atacou o homem quando ele estava com a família no olival onde trabalhava. Ele foi alvo de um tiro antes que pudesse fugir.

Os colonos, por sua vez, alegaram que o atirador agiu em legítima defesa quando foi agredido por um grupo de agricultores palestinos, incluindo Saleh, que atiraram pedras contra ele.

A BBC não conseguiu verificar de forma independente o que aconteceu de fato.

·         Alegações de ataques de colonos

Multiplicaram-se os relatos sobre incidentes em que colonos israelenses teriam atacado e confiscado terras e gado de cidadãos palestinos em toda a Cisjordânia.

"Hoje, dezenas de colonos da [colônia de] Yitzhar invadiram as terras de Burin [em Nablus], atacaram agricultores, incendiaram veículos e destruíram ou roubaram equipamentos e produtos", denunciou Yesh Din, uma organização israelense de direitos humanos.

A ONG alegou que "a política israelense que permite e até apoia atos de vingança dos colonos contra palestinos inocentes na Cisjordânia continua".

Esta questão começou a ser outro motivo de preocupação dentro da grave situação humanitária desencadeada pela guerra atual.

O presidente dos EUA, Joe Biden, pediu ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que "a defesa de Israel e dos seus cidadãos esteja em conformidade com o direito humanitário internacional".

Biden disse na semana passada que os ataques de "colonos extremistas" apenas contribuíram para "derramar gasolina" nas chamas do conflito.

"Eles têm que ser responsabilizados. Eles têm que parar agora", disse ele, referindo-se aos ataques dos colonos.

O editor internacional da BBC, Jeremy Bowen, conversou recentemente com representantes de um grupo de ultranacionalistas judeus que dirigem um posto de controle nos arredores de Hebron, no sul da Cisjordânia.

Os seus testemunhos refletem o clima de tensão vivido nas últimas semanas.

"Numa guerra você tem uma arma e um gatilho. E para aqueles que ainda não entendem, estamos em guerra; uma guerra na qual o outro lado não mostra piedade e devemos fazer o mesmo. Não há escolha", disse Meir Simcha, líder do grupo.

·         Como é a Cisjordânia?

A Cisjordânia é o maior dos territórios ocupados por Israel.

Ela se localiza na margem oeste do rio Jordão, e faz fronteira com Israel ao norte, oeste e sul, e com a Jordânia a leste.

O Hamas governa Gaza. E na Cisjordânia, a Autoridade Palestina de Mahmoud Abbas exerce um autogoverno limitado desde os Acordos de Oslo assinados em 1993.

Os acordos conferiam à Autoridade Palestina soberania parcial sobre partes da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, que juntamente com Jerusalém Oriental fariam parte de um futuro Estado Palestino.

Abbas foi eleito pela primeira vez em 2005 para um mandato de quatro anos mas, 18 anos depois, ainda não foram realizadas novas eleições no território.

Embora o presidente tenha o apoio do Ocidente, ele é impopular nos territórios palestinos, algo que se agravou desde o início desta nova guerra.

Abbas opôs-se ao Hamas, o movimento islâmico que nega o direito de existência de Israel e que desde o início rejeitou o processo de paz e a solução de dois Estados.

O Hamas assumiu o controle de Gaza em 2007, depois de vencer forças do partido Fatah, de Abbas.

Anos de negociações para uma reconciliação entre os dois grupos não conseguiram qualquer progresso até o momento.

Entretanto, os assentamentos israelenses — que são considerados ilegais pelo direito internacional, mas não por Israel — continuaram a se expandir pela área.

 

       Exército de Israel avança entre ruínas em Gaza e Netanyahu descarta cessar-fogo

 

As tropas israelenses avançaram nesta terça-feira (31) com tanques e buldôzeres dentro da Faixa de Gaza entre os escombros dos edifícios bombardeados, ao mesmo tempo que prosseguem os combates com os milicianos do movimento palestino Hamas.

As imagens divulgadas pelo Exército israelense mostram os soldados avançando em um cenário de desolação, entre edifícios que foram reduzidos e pilhas de pedras e metal retorcido pelos incessantes bombardeios de represália efetuados por Israel desde o ataque do Hamas em 7 de outubro.

Israel afirmou que atacou 300 alvos na quarta noite de ofensivas terrestres em Gaza, em que suas tropas enfrentaram fogo antitanque e tiros dos combatentes do Hamas, que governa este território palestino desde 2007.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, descartou na segunda-feira os apelos internacionais por um cessar-fogo.

Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, os bombardeios israelenses mataram 8.525 pessoas desde 7 de outubro, incluindo mais de 3.500 menores de idade.

Correspondentes da AFP em Gaza registraram imagens de palestinos escavando os escombros em uma tentativa desesperada de encontrar sobreviventes após os ataques, enquanto outros rezavam ao lado dos corpos dos mortos, protegidos por mortalhas brancas.

Netanyahu ignorou as pressões internacionais para um cessar-fogo por considerar que seria o equivalente a uma “rendição”, depois que prometeu “aniquilar” o movimento palestino devido ao ataque de 7 de outubro em território israelense, que deixou 1.400 mortos, a maioria civis.

No ataque, o Hamas tomou 240 pessoas como reféns, segundo os números atualizados divulgados pelas autoridades israelenses.

A “nova fase” da guerra, anunciada por Israel no sábado, aumenta a preocupação com uma escalada regional do conflito.

O Exército israelense atacou a Síria e na fronteira com o Líbano aumentaram os confrontos com o grupo Hezbollah.

Os rebeldes huthis do Iêmen reivindicaram um ataque com drones contra Israel, enquanto as Forças de Defesa do Estado hebreu anunciaram que interceptaram um míssil lançado da região do Mar Vermelho.

– “Uma questão de vida ou morte” –

O sofrimento dos civis em Gaza provoca críticas e as agências humanitárias da ONU afirmam que o tempo está acabando para muitos dos 2,4 milhões de habitantes do território palestino que está sob um cerco total, sem acesso a fornecimento de água, alimentos, combustíveis e medicamentos.

A ONG Médicos do Mundo denunciou que os profissionais de saúde em Gaza precisam “operar no chão” e realizar cesáreas ou amputações “sem anestesia” por falta de material.

Rizeq Abu Rok, motorista de ambulância do Crescente Vermelho palestino, de 24 anos, contou à AFP que seu trabalho é transportar mortos e feridos, mas que recentemente um bombardeio atingiu um local em que sabia que estavam alguns parentes.

“Encontrei meu pai, estava com um ferimento na cabeça. Entendi imediatamente que estava morto”, disse.

Israel acusa o Hamas de usar os hospitais como bases militares e os civis como “escudos humanos”, o que o movimento islamista nega.

A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) fez um alerta sobre uma grave crise humanitária no sul de Gaza, onde afirma que não há ajuda suficiente para suprir as necessidades sem precedentes e que 36 caminhões com insumos aguardam para entrar no território.

O diretor da UBRWA, Philippe Lazzarini, afirmou que a entrega de ajuda “é uma questão de vida ou morte para milhões de pessoas.

O Patriarcado Ortodoxo de Jerusalém culpou Israel por um bombardeio que atingiu um centro cultural da igreja em Gaza e considerou o ataque de “injustificável”.

– “Um inferno” –

A incursão terrestre das tropas israelenses permitiu o resgate de Ori Megidish, uma soldado que havia sido sequestrada pelo Hamas. O Exército israelense celebrou a libertação na segunda-feira e afirmou que a militar apresentou informações de inteligência que poderão ser utilizadas em futuras operações.

Mas outras famílias vivem uma espera angustiante, sem notícias dos parentes.

Hadas Kalderon, de 56 anos, morava no kibutz israelense de Nir Oz, perto da fronteira com a Faixa de Gaza. Ela conta que durante o ataque 7 de outubro os milicianos do Hamas mataram sua mãe e sua sobrinha. Seu filho de 12 anos e a a filha de 16 foram levados como reféns.

“Não tenho controle nem conhecimento sobre as ações militares. Sei apenas que meus filhos ainda estão lá no meio de uma guerra”, lamenta. “É um desastre, um inferno. Não é possível expressar com palavras”.

O Hamas divulgou um vídeo na segunda-feira que apresentou como os depoimentos de três reféns. Nas imagens, uma das mulheres sequestradas pede ao governo de Israel que aceite uma troca de prisioneiros para obter sua libertação. Netanyahu chamou o vídeo de “propaganda psicológica cruel”.

·         'Vitória é a única opção', diz chefe das Forças Armadas de Israel

As Forças Armadas de Israel divulgaram um áudio enviado pelo chefe do Comando Sul, major-general Yaron Finkelman, às tropas, dizendo que "não pode haver outro resultado além da vitória" sobre o grupo armado palestino Hamas na Faixa de Gaza.

“Estações de Comando do Sul, o comandante está falando. Estamos lançando um ataque ao Hamas e aos grupos terroristas na Faixa de Gaza. Nosso objetivo é um só, a vitória. Não importa quão longa seja a luta, quão difícil seja, não há outro resultado senão a vitória”, diz Finkelman.

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“Lutaremos de forma profissional e poderosa à luz dos valores da a Forças de Defesa de Israel, nos quais fomos criados. O principal deles é manter a missão e lutar pela vitória”, diz ele.

Ele confirmou que as operações terrestres irão procurar terroristas nos túneis do Hamas.

“Vamos lutar nos becos, vamos lutar nos túneis, vamos lutar onde for necessário. Atingiremos o terrível inimigo que está diante de nós”, continua Finkelman.

“Meus irmãos combatentes, os residentes de Be’eri, Sderot, Nir Oz, Kfar Aza e as comunidades ocidentais do Negev, e com eles toda a nação de Israel, estão todos olhando para nós agora. Assim como eu, eles também confiam em você e acreditam em você. Vocês são a geração da vitória”, diz ele.

As Forças de Defesa de Israel (FDI) disseram ter atacado 300 alvos ligados ao Hamas nas áreas ao redor da Faixa de Gaza . Nesta terça-feira (31), os militares ainda divulgaram um vídeo mostrando a atuação das tropas dentro do enclave, na operação terrestre que vendo sendo expandida nos últimos dias.

Nessa segunda (30), o  primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, negou qualquer possibilidade de interromper os bombardeios na Faixa de Gaza.

"Pedir por um cessar-fogo é pedir para Israel se render ao Hamas, se render ao terrorismo, se render à barbárie. Isso não vai acontecer. Senhoras e senhores, a Bíblia diz que há o tempo de paz e o tempo de guerra. Esse é o tempo da guerra", disse.

Na última sexta (27), a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) aprovou, por ampla maioria, uma resolução que determina o cessar-fogo imediato.

O conflito iniciou no último dia 7 de outubro, quando o Hamas lançou um ataque surpresa em território israelita.

 

Fonte: BBC News Brasil/AFP/iG

 

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