Estudo
diz que preço dos alimentos cresceu por fatores internos e sugere ajuda a
pobres, mas com equilíbrio fiscal
Estudo do Centro de
Liderança Pública (CLP), uma organização suprapartidária que busca formas para
enfrentar problemas urgentes do país, avalia que "fatores internos"
desempenharam um papel muito mais relevante no aumento dos preços domésticos de
alimentos no ano passado.
E recomenda transferências diretas aos mais
vulneráveis para combater os seus efeitos, mas sem comprometer o equilíbrio das
contas públicas.
Entre os fatores domésticos que impulsionaram para
cima os preços dos alimentos estão a alta do dólar, que é fruto da ascensão do então
candidato Donald Trump no cenário de sucessão à Casa
Branca, nos Estados Unidos, e também incertezas
sobre as contas públicas, além de fatores climáticos, como
a chuva no Sul, depois a seca e as queimadas no segundo semestre.
O dólar alto pressiona os alimentos porque os
preços desses produtos é cotado em moeda norte-americana. Já os fatores
climáticos adversos diminuem a oferta, encarecendo os produtos. Com a conjunção
desses fatores, os alimentos ficaram 7,7% mais caros no ano passado, segundo
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"Somente no segundo semestre daquele ano
[2024] o índice em dólares começou a registrar aumentos, mas em uma magnitude
menor do que a observada em reais. Essa discrepância indica que os fatores
internos desempenharam um papel muito mais relevante no aumento dos preços
domésticos de alimentos, dado que o comportamento dos preços globais não
justifica a aceleração vista no mercado brasileiro", diz a CLP, no estudo.
E acrescenta: "o fato de o índice de preços em reais ter
ultrapassado significativamente o índice em dólares nos últimos meses reforça
ainda mais tal hipótese".
·
Transferências
aos mais vulneráveis
O estudo da CLP avaliou várias possibilidades de
atenuar a alta dos preços dos alimentos para os mais pobres, e concluiu que
a melhor forma, no
curto prazo, é "fortalecer os instrumentos de proteção social por meio de
transferências de renda, direcionadas especificamente aos grupos mais vulneráveis".
Mas acrescenta que isso deve ser feito com
sustentabilidade fiscal, ou seja, sem prejudicar o bom desempenho das contas
públicas, pois isso poderia pressionar mais o dólar (como aconteceu no fim do
ano passado) e resultar em um "impacto significativo" sobre os preços
dos alimentos.
"A sustentabilidade fiscal desempenha um papel
crucial na estabilidade da taxa de câmbio. Quando o governo apresenta um
desempenho fiscal saudável, reduz-se o risco de insolvência e a necessidade de
financiamento externo, fatores que contribuem para uma valorização do real. Por
outro lado, déficits persistentes ampliam a percepção de risco, resultando em
menor entrada de capitais e maior pressão cambial", avaliou a CLP.
Por
isso, recomendou que o aumento do Bolsa Família tenha contrapartidas em outras
áreas, como, por exemplo, a limitação dos supersalários do setor público.
A CLP avalia ainda, no documento, que há um consenso crescente de que
nenhum modelo isolado é suficiente para lidar com o problema de alta e
volatilidade nos preços dos alimentos.
E afirmou que é preciso "combinar políticas
que assegurem a sinalização de mercado (permitindo que os preços reflitam a
escassez ou abundância relativa dos produtos) com medidas de apoio aos mais
pobres, sem ignorar a necessidade de reformas de médio e longo prazos que
promovam maior competitividade e resiliência em todo o setor de
alimentos".
Veja as alternativas para controlar preços de alimentos
1. Controle Direto de
Preços: segundo a CLP, o controle direto de preços, como o
estabelecimento de tetos para os preços dos alimentos, é uma medida
frequentemente adotada para conter aumentos rápidos e proteger consumidores no
curto prazo. Diz que, no entanto, evidências sugerem que essas políticas são
geralmente ineficazes a longo prazo, pois geram distorções de mercado, podendo
gerar falta de produtos e um mercado paralelo.
2. Subsídios
Tributários: a entidade avalia que a redução de impostos
sobre alimentos, como a eliminação de tarifas de importação ou do imposto sobre
valor agregado (IVA), pode aliviar os custos para os consumidores,
especialmente em momentos de alta nos preços internacionais. Mas avalia que
essas políticas têm um "custo fiscal elevado e, muitas vezes, beneficiam
grupos que não estão em situação de vulnerabilidade".
3. Controle de Estoques: a CLP observou que o gerenciamento estratégico de estoques públicos de
alimentos, com o governo acumulando produtos durante abundância e liberando-os
em cenários de escassez, é uma política amplamente defendida para lidar com a
volatilidade dos preços. Mas ponderou que a eficácia da medida "depende da
capacidade institucional de gerenciar estoques de forma transparente e
eficiente", e que uma "má gestão pode resultar em desperdícios ou
liberação inadequada, exacerbando a volatilidade em vez de mitigá-la".
4. Políticas
Comerciais: a entidade citou a redução de
tarifas de importação ou proibição de exportações, este último fator sendo
negativo pois pode desestimular a produção no longo prazo. "Para evitar
esses impactos adversos, políticas comerciais devem ser calibradas com cuidado,
buscando promover a integração ao mercado global enquanto oferecem suporte
temporário aos consumidores mais afetados".
5. Transferências de
Renda: para a CLP, as transferências diretas aos mais
vulneráveis são amplamente consideradas uma das políticas mais eficazes para
lidar com aumentos de preços de alimentos e citou o reajuste do Bolsa Família.
Mas ponderou: "No entanto,
essa política deve ser usada de modo a não maiores complicações fiscais para o
Governo Federal, preferencialmente com contrapartidas em outras áreas, como
supersalários do setor público".
·
Discussão no governo
O aumento dos preços dos alimentos tem sido um
ponto de preocupação no governo federal desde o ano passado, quando pesquisas
de opinião identificaram que o custo nos supermercados estava impactando
negativamente na avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em janeiro deste ano, Lula convocou ministros da
área para uma reunião, que durou cerca de 4 horas, para debater possíveis ações
governamentais que possam contribuir com a queda no preço dos alimentos no
país.
Naquele momento, o ministro da Casa Civil, Rui
Costa, já havia dito que o
Brasil "não terá tabelamento" de preços nem "fiscal do Lula nos
mercados". Mas admitiu, na ocasião, a possibilidade de
reduzir o imposto de importação para alguns alimentos.
Ele também afirmou que o governo estuda a
possibilidade de reduzir o imposto de importação de alimentos que, por algum
motivo, estiverem mais baratos no exterior que no Brasil. Ao facilitar a importação desses alimentos, o governo contribuiria
para aumentar a oferta do produto e, por consequência, a queda do preço.
Dias havia afirmado que a medida buscaria amenizar
para as famílias mais pobres o aumento no preço dos alimentos.
"A Casa Civil da Presidência da Republica
informa que não existe estudo no governo sobre aumento do valor do benefício do
Bolsa Família. Esse tema não está na pauta do governo e não será
discutido", informou o governo, por meio de nota.
Atualmente, o valor da parcela mínima mensal
recebida pelas famílias atendidas pelo programa Bolsa Família é de R$ 600. O
valor pode ser maior de acordo com a configuração de cada família, como o
número de filhos e a idade das crianças.
🔎A principal regra para receber o benefício é ter renda mensal familiar
de até R$ 218 por pessoa. Para se enquadrar do programa, é preciso somar a
renda total e dividir pelo número de pessoas. Caso o valor fique abaixo dos R$
218, a família está elegível ao Bolsa Família.
¨ Inflação
de alimentos no “celeiro do mundo”. Como combatê-la?
Não é preciso nessa curta nota retomar os
números da potência agrícola do Brasil. Já estão aí os latifundiários e os
empresários do agro em campanha diuturna para nos lembrar da sua força. O agro
é pop afinal. O que os senhores da casa grande precisam explicar é por que
pagamos cada vez mais caro pela comida no país da abundância? E quem lucra com
isso?
O governo Lula tem sido totalmente incapaz
de combater a carestia dos alimentos. O anúncio tímido de um ministro de que
poderia haver controle de preços fez o “mercado” se levantar como uma fera
acuada, que fez o governo retroceder rapidamente. Os fatores econômicos são
apresentados pela grande mídia e setores do próprio governo como leis naturais
contra as quais nada se pode fazer. Mas o que tem de natural em existir fome ao
lado das maiores safras de grãos do mundo?
Muitos fatores explicam esse aumento dos
preços. A valorização do dólar encarece os fertilizantes, efeito ainda piorado
com a guerra da Ucrânia. Também afeta a cotação dos produtos exportados que
acabam tendo os preços internos reajustados junto com o dólar - o que é uma
ofensa, pois sabemos bem como o que vem para nós ainda são produtos de menor
qualidade do que o exportado (o exemplo do café é gritante). Talvez o mais vil
e ardiloso argumento de alguns economistas a soldo de latifundiários com cargo
de ministério na Frente Ampla, seja o de que a inflação é resultado do aumento
do consumo, pois a composição de gasto com alimentação é alta. Traduzindo do
economês, quer dizer que a culpa da inflação é do trabalhador precarizado, que
está comendo um pouquinho mais (enquanto ainda mais de 2 milhões passam fome).
O fator econômico - que não tem nada de
natural - que em última instância explica a fome e a inflação de alimentos no
Brasil não é o dólar, não são os vai e vem das safras. Mesmo com os eventos
climáticos extremos que estamos sofrendo de norte a sul, o agronegócio comemora
seus lucros bilionários. E justamente aí está o problema, da estrutura agrária,
nos latifúndios, da monocultura de exportação, herdados da plantation escravista.
Pois a inflação dos alimentos acima da média não tem outro significado que o de
uma transferência de renda de todos os outros setores para as mãos do
agronegócio exportador.
É essa estrutura que precisa ser atacada,
em dois flancos simultaneamente. Em primeiro lugar é preciso lutar em todas as
categorias organizadas para que o índice de reajuste salarial equipare a
inflação dos alimentos, maior gasto da maioria das famílias brasileiras. Junto
com isso é preciso unificar as lutas da cidade com as lutas do campo, a defesa
dos povos indigenas, a luta dos camponeses por terra e por reforma agrária, a
luta dos e das trabalhadoras rurais nas grandes plantações que sofrem as piores
condições em meio a milhares de denuncias de condições de trabalho analogas a
escravidão. Um dos caminhos para essa unidade, junto com a luta pela reforma
agrária é a estatização de grandes empresas do agronegócio, para que sua
produção seja voltada para os interesses da população e em harmonia com o meio
ambiente. Nada disso é possível sem enfrentar o governo Lula/Alckmin, integrado
pelo próprio agronegócio que lucra com a fome e com a inflação dos alimentos.
¨
Em meio à 'crise dos ovos', americanos adotam criação de
galinhas como alternativa
Uma loja de criação de animais de Houston, nos
Estados Unidos, vendeu recentemente 100 galinhas em quatro dias - um número
que, em tempos normais, é alcançado em três semanas. No entanto, com o preço dos ovos em alta, muitos americanos estão recorrendo à produção dos seus próprios ovos
em casa.
O recente ressurgimento da gripe aviária,
que atingiu os EUA pela primeira vez em 2022, impactou duramente as grandes
granjas avícolas. Mais de 21 milhões de galinhas
poedeiras foram sacrificadas neste ano devido à doença, de
acordo com o Departamento da Agricultura dos EUA. Em dezembro, 13,2 milhões
sofreram o mesmo destino.
Nos mercados, os ovos 'premium' atingiram um preço de mais de US$ 10 (cerca de R$ 57) a
dúzia, e as versões básicas chegaram a US$ 6 (R$ 34) — mais que
o dobro do preço normal. Em Seattle, um restaurante foi assaltado e mais de 500
ovos foram roubados do depósito do local.
A crise fez com que alguns norte-americanos
buscassem uma alternativa: a criação das galinhas em
suas casas.
"Nas últimas semanas, vimos um aumento
dramático na demanda por galinhas, com pessoas querendo comprá-las porque os
preços dos ovos subiram, ou simplesmente porque não há ovos disponíveis",
diz John Berry, de 43 anos, gerente da loja de criação de animais Wabash, de
Houston.
"Nossas vendas de aves dobraram ou até
triplicaram", acrescentou.
Em várias cidades do Texas, como Houston, a criação
de aves no quintal é permitida, desde que as normas de saúde sejam cumpridas.
<><> Criando os ovos em casa
Segundo o gerente da loja Wabash, a maioria de seus
novos clientes está apenas começando na criação. É o caso de Arturo Becerra, de
57 anos, que recentemente comprou 10 galinhas, pelas quais pagou 400 dólares (R$ 2.308),
e gastou outros 20 dólares (R$ 115) em alimentos para os animais.
Na segunda-feira passada (10), ele voltou à
loja. "Vou comprar mais cinco
[galinhas], mas quero comprar outras dez porque a família é grande",
diz Becerra. Todas elas ainda são jovens e devem começar a pôr ovos em algumas
semanas.
"Acho que com um ovo por galinha por dia,
ficarei bem", acrescenta.
Bill Underhill, um empreiteiro da construção de 62
anos e ávido criador de galinhas, também foi às compras para adquirir mais dois
animais.
"Ouvi alguém dizer que os ovos custavam cerca
de US$ 10 a dúzia, então já estava pensando em comprar mais algumas galinhas.
Compro algumas a cada dois meses porque elas eventualmente morrem e param de
botar, então vou manter o fluxo de ovos na minha família", afirma.
<><> Gripe aviária em humanos
Nos Estados Unidos, o vírus está sendo encontrado
não apenas em aves, mas também em vacas leiteiras.
Entre o início do ano passado e o último dia 10 de
fevereiro, 68 humanos também foram detectados com o vírus — um deles, fatal. A
maioria está ligada ao contato conhecido com animais infectados, de acordo com
os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC).
O homem que morreu foi infectado "após
exposição a uma combinação de aves selvagens e um bando de aves não
comerciais", disseram autoridades de saúde.
O CDC diz que o risco de gripe aviária para o
público em geral continua "baixo", mas emitiu diretrizes de segurança
para proprietários de aves. De acordo com o Centro, "pessoas com exposição
ocupacional ou recreativa a aves ou outros animais infectados com este vírus
correm maior risco de infecção".
Berry diz que, uma vez que as galinhas infectadas
são sacrificadas, não há animais de substituição imediatos porque ninguém tem
milhões de galinhas extras para substituí-las.
"Há uma geração de pintinhos esperando crescer
para substituir as que perdemos. Mas, como em qualquer época de escassez, a
demanda aumenta. Os ovos duram muito tempo e, se você puder encontrá-los, você
compra mais, mas seu vizinho também pode fazer isso", diz Berry.
"Parece que levará dois ou três meses para que
as coisas melhorem", acrescenta.
Fonte: g1/Esquerda Diário
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