Estudo da Unifesp
revela que câncer mata mais que doenças cardiovasculares em algumas cidades do
Brasil
Trabalho publicado por
pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), publicado na
revista científica Lancet Regional Health – Americas, em novembro de 2024,
identificou uma mudança no perfil das principais causas de mortalidade em mais
de 700 municípios brasileiros. O câncer se tornou a principal causa de morte nesses
locais, superando as doenças cardiovasculares (que historicamente ocupavam esse
lugar), com uma taxa crescente de mortalidade associada ao aumento de tumores
diagnosticados. Segundo os autores, essa transição epidemiológica reflete uma
mudança contínua, com notáveis disparidades econômicas e regionais.
Na pesquisa, foram
analisados os 5.570 municípios brasileiros no período de 2000 a 2019. Em 2000,
a mortalidade por câncer era inferior à em todos os estados, mas já em 2019,
13% dos municípios apresentaram taxas de mortalidade por câncer superiores às
de doenças cardiovasculares. Os autores mostram também que as taxas de
mortalidade por doenças cardiovasculares diminuíram em 25 dos 27 estados,
enquanto a mortalidade por câncer aumentou em 15 estados. Além disso, uma maior
renda familiar correlacionou-se com uma maior mortalidade por câncer quando
comparada com as decorrentes por doenças cardiovasculares. “Houve uma redução
mais acentuada nas mortes cardiovasculares (de 30% a 60%) do que por câncer (de
20% a 30%)”, analisa Erick Rauber, radio-oncologista e diretor de Comunicação
da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT).
Ainda segundo o
especialista, há a necessidade de políticas públicas de saúde voltadas para a
prevenção e o tratamento do câncer. “A mudança no perfil de mortalidade
representa um desafio para o Sistema Único de Saúde (SUS), uma vez que o câncer
exige estratégias diferenciadas de prevenção e tratamento. Além disso, os custos
elevados para tratamentos de câncer podem sobrecarregar o sistema de saúde,
especialmente em regiões com menor acesso a serviços especializados”, aponta.
O estudo aponta que um dos
indícios para essa mudança é o aumento da expectativa de vida da população,
associada a uma melhor capacidade de monitoramento e tratamento precoce dos
problemas cardiovasculares. “É importante destacar que avanços significativos
no controle de fatores de risco, como hipertensão e tabagismo, além de
melhorias no diagnóstico precoce e no tratamento de doenças cardiovasculares
podem ter contribuído para a diminuição do número de óbitos. Por outro lado, o
câncer apresenta desafios mais complexos para prevenção e tratamento. O aumento
da mortalidade por câncer no Brasil reflete, em parte, a crescente incidência
de tipos de câncer associados ao envelhecimento da população e ao estilo de
vida, como câncer de pulmão, mama e cólon”, explica Erick.
·
É possível baixar o número de casos de câncer
também?
O Instituto Nacional do
Câncer (INCA) estima que o Brasil registrará 704 mil novos casos de câncer em
2025. “Apesar de números altos de estimativa de casos, vivemos uma cenário em
que há exames de rastreamento com foco em diagnóstico precoce, além de várias e
eficazes opções de tratamento como a cirurgia, radioterapia, quimioterapia,
terapia-alvo e imunoterapia. O que complica é o acesso desigual em muitas
regiões do país. Porém, vale destacar que as entidades internacionais já estão
comprometidas em diminuir esses números. A Organização Mundial da Saúde (OMS),
por exemplo, lançou a estratégia global para a eliminação do câncer do colo do
útero”, pontua Rauber.
·
Radioterapia como um dos pilares do
tratamento de câncer
A radioterapia é uma das
principais modalidades de tratamento para o câncer, especialmente eficaz no
combate a tumores localizados ou em estágios iniciais. “Apesar de não ser o
único tratamento viável, a radioterapia utiliza radiação ionizante para
destruir células cancerígenas, danificando o DNA dessas células doentes de
forma que elas não possam mais se dividir e crescer. A radioterapia é
frequentemente combinada com outros tratamentos, como a cirurgia e a
quimioterapia. O uso de técnicas avançadas, como a radioterapia de intensidade
modulada (IMRT) e a radioterapia guiada por imagem (IGRT), tem permitido um
controle mais preciso da radiação, reduzindo os efeitos colaterais e
proporcionando tratamentos mais seguros e eficazes”, finaliza.
¨ Exame
ocular pode ajudar a prever risco de AVC, diz estudo
Um exame ocular pode
ajudar a prever o risco de acidente vascular cerebral (AVC), segundo estudo
publicado neste mês na revista científica Heart, do British Medical Journal. De
acordo com os pesquisadores, é possível calcular a probabilidade de um derrame
por meio do mapeamento da retina com a mesma exatidão de exames tradicionais,
mas sem a necessidade de testes invasivos.
De acordo com o estudo, a análise da retina
feita por fotografias detalhadas do fundo de olho pode ser uma ferramenta
eficaz para prever o risco de AVC. Isso acontece porque a
retina reflete o estado dos vasos sanguíneos no corpo, permitindo identificar
alterações microvasculares associadas a problemas cardíacos e cerebrovasculares
— como o caso de um derrame.
O trabalho usou
parâmetros vasculares da retina que estavam extraídos de imagens do UK Biobank,
um grande banco de dados biomédicos do Reino Unido, usando o Retina-based
Microvascular Health Assessment System, um sistema de análise da
microvasculatura da retina. Essas imagens permitiram avaliar diversos
parâmetros como densidade, calibre e complexidade dos vasos sanguíneos.
Os pesquisadores
acompanharam 45.161 participantes por cerca de 12 anos. Nesse período, foram
registrados 749 casos de AVC. Os dados coletados foram analisados por meio de
modelos estatísticos que levaram em conta fatores de risco tradicionais para
AVC, como idade, pressão alta, colesterol
e tabagismo.
A análise identificou 29
parâmetros vasculares da retina significativos associados ao risco de AVC. A
maioria desses parâmetros estava relacionada à densidade dos vasos sanguíneos,
ou seja, a quantidade de vasos presentes em uma determinada área da retina.
Segundo os
pesquisadores, a diminuição da densidade vascular estava associada a um aumento
de 19% no risco de AVC. Essa associação se manteve mesmo após o ajuste para
fatores de risco para derrame.
Os autores do estudo
defendem que a técnica, já utilizada em clínicas de oftalmologia, pode ser uma
alternativa acessível e menos invasiva para a detecção precoce de riscos
relacionados ao AVC.
“O novo método
apresentado pelo estudo leva em conta a análise de vários pontos observados no
fundo do olho, e, através de uma análise estatística, mostrou que algumas
alterações nessa região ocular tiveram correlação direta com o risco de um AVC,
quando comparado com fatores de risco já conhecidos que podem causar a doença,
como diabetes, pressão alta e colesterol, por exemplo”, explica o cardiologista
Marcelo Bergamo, que não esteve envolvido no estudo, à CNN.
“A diferença está na
maior precisão diagnóstica quando comparado com métodos tradicionais e por se
tratar de um exame não invasivo, de fácil replicação”, completa.
<><> Saúde
ocular e AVC: qual a relação?
O AVC acontece quando os
vasos que levam sangue ao cérebro entopem ou se rompem, provocando a paralisia
da área cerebral que ficou sem circulação sanguínea. Existem dois tipos de AVC,
de acordo com a sua causa:
- AVC hemorrágico:
acontece quando há rompimento de um vaso cerebral, provocando hemorragia.
É responsável por 15% de todos os casos de AVC;
- AVC isquêmico:
acontece quando há obstrução de uma artéria, impedindo a passagem de
oxigênio para células cerebrais, que acabam morrendo. Representa 85% de
todos os casos.
Segundo Bergamo, algumas
doenças crônicas, como diabetes e
hipertensão arterial, causam alterações estruturais nos vasos sanguíneos que
podem ser identificadas no mapeamento da retina, ou fundo de olho. Isso, por si
só, já demonstra um maior risco cardiovascular.
“Agora, com esse novo
estudo, isso foi mostrado também em relação ao risco de AVC, uma vez que foram
avaliados vários critérios que aumentaram, de forma estatisticamente
significativa, a predisposição de um paciente e ter um AVC”, afirma o
cardiologista.
Para o especialista,
utilizar o mapeamento da retina para triagem do AVC é possível, mas o método
deve ser realizado por um profissional que conheça quais parâmetros buscar no
exame de retina.
“O equipamento para
análise de fundo de olho não é caro, a questão é treinamento e capacitação de
quais médicos realizarão os exames e os parâmetros que devem ser avaliados”, observa.
No entanto, Bergamo
reconhece que essa seria uma forma eficiente de identificar precocemente
pacientes com maior risco de AVC, aumentando as chances de uma intervenção
precoce no tratamento.
“Hoje em dia, as metas
terapêuticas para controle de hipertensão, diabetes e colesterol, por exemplo,
em pacientes de alto e muito alto risco, estão cada vez mais baixas. Com essa
triagem, se você identificar esse paciente como de risco maior, a atenção para
os controles de fatores de risco deve ser intensificada para prevenir um
evento”, afirma.
Fonte: Medicinasa/CNN Brasil
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