sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Estudo da Unifesp revela que câncer mata mais que doenças cardiovasculares em algumas cidades do Brasil

Trabalho publicado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), publicado na revista científica Lancet Regional Health – Americas, em novembro de 2024, identificou uma mudança no perfil das principais causas de mortalidade em mais de 700 municípios brasileiros. O câncer se tornou a principal causa de morte nesses locais, superando as doenças cardiovasculares (que historicamente ocupavam esse lugar), com uma taxa crescente de mortalidade associada ao aumento de tumores diagnosticados. Segundo os autores, essa transição epidemiológica reflete uma mudança contínua, com notáveis disparidades econômicas e regionais.

Na pesquisa, foram analisados os 5.570 municípios brasileiros no período de 2000 a 2019. Em 2000, a mortalidade por câncer era inferior à em todos os estados, mas já em 2019, 13% dos municípios apresentaram taxas de mortalidade por câncer superiores às de doenças cardiovasculares. Os autores mostram também que as taxas de mortalidade por doenças cardiovasculares diminuíram em 25 dos 27 estados, enquanto a mortalidade por câncer aumentou em 15 estados. Além disso, uma maior renda familiar correlacionou-se com uma maior mortalidade por câncer quando comparada com as decorrentes por doenças cardiovasculares. “Houve uma redução mais acentuada nas mortes cardiovasculares (de 30% a 60%) do que por câncer (de 20% a 30%)”, analisa Erick Rauber, radio-oncologista e diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT).

Ainda segundo o especialista, há a necessidade de políticas públicas de saúde voltadas para a prevenção e o tratamento do câncer. “A mudança no perfil de mortalidade representa um desafio para o Sistema Único de Saúde (SUS), uma vez que o câncer exige estratégias diferenciadas de prevenção e tratamento. Além disso, os custos elevados para tratamentos de câncer podem sobrecarregar o sistema de saúde, especialmente em regiões com menor acesso a serviços especializados”, aponta.

O estudo aponta que um dos indícios para essa mudança é o aumento da expectativa de vida da população, associada a uma melhor capacidade de monitoramento e tratamento precoce dos problemas cardiovasculares. “É importante destacar que avanços significativos no controle de fatores de risco, como hipertensão e tabagismo, além de melhorias no diagnóstico precoce e no tratamento de doenças cardiovasculares podem ter contribuído para a diminuição do número de óbitos. Por outro lado, o câncer apresenta desafios mais complexos para prevenção e tratamento. O aumento da mortalidade por câncer no Brasil reflete, em parte, a crescente incidência de tipos de câncer associados ao envelhecimento da população e ao estilo de vida, como câncer de pulmão, mama e cólon”, explica Erick.

·        É possível baixar o número de casos de câncer também?

O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que o Brasil registrará 704 mil novos casos de câncer em 2025. “Apesar de números altos de estimativa de casos, vivemos uma cenário em que há exames de rastreamento com foco em diagnóstico precoce, além de várias e eficazes opções de tratamento como a cirurgia, radioterapia, quimioterapia, terapia-alvo e imunoterapia. O que complica é o acesso desigual em muitas regiões do país. Porém, vale destacar que as entidades internacionais já estão comprometidas em diminuir esses números. A Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, lançou a estratégia global para a eliminação do câncer do colo do útero”, pontua Rauber.

·        Radioterapia como um dos pilares do tratamento de câncer

A radioterapia é uma das principais modalidades de tratamento para o câncer, especialmente eficaz no combate a tumores localizados ou em estágios iniciais. “Apesar de não ser o único tratamento viável, a radioterapia utiliza radiação ionizante para destruir células cancerígenas, danificando o DNA dessas células doentes de forma que elas não possam mais se dividir e crescer. A radioterapia é frequentemente combinada com outros tratamentos, como a cirurgia e a quimioterapia. O uso de técnicas avançadas, como a radioterapia de intensidade modulada (IMRT) e a radioterapia guiada por imagem (IGRT), tem permitido um controle mais preciso da radiação, reduzindo os efeitos colaterais e proporcionando tratamentos mais seguros e eficazes”, finaliza.

 

¨      Exame ocular pode ajudar a prever risco de AVC, diz estudo

Um exame ocular pode ajudar a prever o risco de acidente vascular cerebral (AVC), segundo estudo publicado neste mês na revista científica Heart, do British Medical Journal. De acordo com os pesquisadores, é possível calcular a probabilidade de um derrame por meio do mapeamento da retina com a mesma exatidão de exames tradicionais, mas sem a necessidade de testes invasivos.

De acordo com o estudo, a análise da retina feita por fotografias detalhadas do fundo de olho pode ser uma ferramenta eficaz para prever o risco de AVC. Isso acontece porque a retina reflete o estado dos vasos sanguíneos no corpo, permitindo identificar alterações microvasculares associadas a problemas cardíacos e cerebrovasculares — como o caso de um derrame.

O trabalho usou parâmetros vasculares da retina que estavam extraídos de imagens do UK Biobank, um grande banco de dados biomédicos do Reino Unido, usando o Retina-based Microvascular Health Assessment System, um sistema de análise da microvasculatura da retina. Essas imagens permitiram avaliar diversos parâmetros como densidade, calibre e complexidade dos vasos sanguíneos.

Os pesquisadores acompanharam 45.161 participantes por cerca de 12 anos. Nesse período, foram registrados 749 casos de AVC. Os dados coletados foram analisados por meio de modelos estatísticos que levaram em conta fatores de risco tradicionais para AVC, como idade, pressão alta, colesterol e tabagismo.

A análise identificou 29 parâmetros vasculares da retina significativos associados ao risco de AVC. A maioria desses parâmetros estava relacionada à densidade dos vasos sanguíneos, ou seja, a quantidade de vasos presentes em uma determinada área da retina.

Segundo os pesquisadores, a diminuição da densidade vascular estava associada a um aumento de 19% no risco de AVC. Essa associação se manteve mesmo após o ajuste para fatores de risco para derrame.

Os autores do estudo defendem que a técnica, já utilizada em clínicas de oftalmologia, pode ser uma alternativa acessível e menos invasiva para a detecção precoce de riscos relacionados ao AVC.

“O novo método apresentado pelo estudo leva em conta a análise de vários pontos observados no fundo do olho, e, através de uma análise estatística, mostrou que algumas alterações nessa região ocular tiveram correlação direta com o risco de um AVC, quando comparado com fatores de risco já conhecidos que podem causar a doença, como diabetes, pressão alta e colesterol, por exemplo”, explica o cardiologista Marcelo Bergamo, que não esteve envolvido no estudo, à CNN.

“A diferença está na maior precisão diagnóstica quando comparado com métodos tradicionais e por se tratar de um exame não invasivo, de fácil replicação”, completa.

<><> Saúde ocular e AVC: qual a relação?

O AVC acontece quando os vasos que levam sangue ao cérebro entopem ou se rompem, provocando a paralisia da área cerebral que ficou sem circulação sanguínea. Existem dois tipos de AVC, de acordo com a sua causa:

  • AVC hemorrágico: acontece quando há rompimento de um vaso cerebral, provocando hemorragia. É responsável por 15% de todos os casos de AVC;
  • AVC isquêmico: acontece quando há obstrução de uma artéria, impedindo a passagem de oxigênio para células cerebrais, que acabam morrendo. Representa 85% de todos os casos.

Segundo Bergamo, algumas doenças crônicas, como diabetes e hipertensão arterial, causam alterações estruturais nos vasos sanguíneos que podem ser identificadas no mapeamento da retina, ou fundo de olho. Isso, por si só, já demonstra um maior risco cardiovascular.

“Agora, com esse novo estudo, isso foi mostrado também em relação ao risco de AVC, uma vez que foram avaliados vários critérios que aumentaram, de forma estatisticamente significativa, a predisposição de um paciente e ter um AVC”, afirma o cardiologista.

Para o especialista, utilizar o mapeamento da retina para triagem do AVC é possível, mas o método deve ser realizado por um profissional que conheça quais parâmetros buscar no exame de retina.

“O equipamento para análise de fundo de olho não é caro, a questão é treinamento e capacitação de quais médicos realizarão os exames e os parâmetros que devem ser avaliados”, observa.

No entanto, Bergamo reconhece que essa seria uma forma eficiente de identificar precocemente pacientes com maior risco de AVC, aumentando as chances de uma intervenção precoce no tratamento.

“Hoje em dia, as metas terapêuticas para controle de hipertensão, diabetes e colesterol, por exemplo, em pacientes de alto e muito alto risco, estão cada vez mais baixas. Com essa triagem, se você identificar esse paciente como de risco maior, a atenção para os controles de fatores de risco deve ser intensificada para prevenir um evento”, afirma.

 

Fonte: Medicinasa/CNN Brasil

 

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