Antes de virar presidente da Câmara, Hugo Motta comprou gado
do ex-presidente Arthur Lira
A relação entre o atual e o ex-presidente da Câmara dos
Deputados vai além da política e envolve também transações no ramo da pecuária.
Um ano antes de anunciar apoio a Hugo Motta (Republicanos-PB) para sucedê-lo na
presidência da Casa, Arthur Lira (PP-AL) e seu pai, Benedito de Lira (falecido
em janeiro deste ano), venderam 88 cabeças de gado à empresa do parlamentar, a
Agropecuária Tapuio.
As negociações envolveram as fazendas Pantaneiro e
Taquari, que pertencem a Arthur Lira desde 2004 e 2006, respectivamente, apesar
de elas não terem sido declaradas pelo político à Justiça Eleitoral, como revelou o Congresso
em Foco. Desde 2006, Lira não declara também quantas cabeças de gado possui,
embora seja reconhecido como grande criador da raça Nelore, com touros de
superioridade genética.
Considerando o leilão realizado pelo próprio Arthur
Lira, com filhotes negociados a no mínimo R$ 3,9 mil, no mesmo mês e ano da
venda a Hugo Motta, a transação entre os parlamentares pode ter passado dos R$
340 mil.
<><> Por que isso importa?
- As relações entre figuras de poder
antes, durante e após o exercício de cargos importantes devem ser
acompanhadas pelo público e pela imprensa em nome da defesa da democracia.
A informação das três vendas de gado ao atual
presidente da Câmara consta nas Guias de Trânsito Animal (GTAs) – documento
exigido por lei para movimentações de gado, seja entre propriedades do mesmo
dono ou para comercialização – divulgadas pela Agência de Defesa e Fiscalização
Agropecuária do Estado de Pernambuco (Adagro/PE).
De acordo com as GTAs, emitidas no dia 26 de outubro de
2023, 88 bois de até um ano de idade foram transportados das fazendas de Arthur
Lira em Quipapá (PE) e Panelas (PE) para propriedade em Serraria (PB). O nome
do produtor registrado como destinatário dos animais foi a Agropecuária Tapuio,
nome fantasia da empresa Hugo M Wanderley da Nóbrega Ltda.
A Agropecuária Tapuio, aberta em 2019, tem como
atividade econômica principal a criação de bovinos para corte, segundo dados da
Receita Federal, tem Motta indicado como sócio-administrador e possui R$ 100
mil de capital social.
Uma das GTAs mostra que 40 cabeças de gado registradas
no CPF de Arthur Lira saíram da fazenda Pantaneiro, em Panelas, para a fazenda
Tapuio, enquanto outras duas GTAs – uma contabilizando 40 cabeças de gado e
outra, oito – informam que os animais, registrados no nome de Benedito de Lira,
foram transportados da fazenda Taquari, em Quipapá, com o mesmo destino.
O ex-presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira é
proprietário também das fazendas Pedras, Tapera, Paudarqueiro, Padre Cícero e
Santa Maria, localizadas no município de São Sebastião (AL), conforme sua
declaração ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2022, última eleição que ele
disputou.
Já a fazenda Tapuio pertence à família de Hugo Motta desde
março de 2023. Uma reportagem do UOL de outubro do ano passado mostrou que a
propriedade foi adquirida por R$ 2,7
milhões por uma empresa registrada em nome da esposa e dos filhos de Motta, a
Medeiros & Medeiros Ltda. De acordo com o site, a fazenda possui 287
hectares e pertencia ao empresário e ex-senador Raimundo Lira, que doou R$ 40
mil à campanha a deputado federal de Motta em 2022.
A Agência Pública questionou
ao deputado Hugo Motta os valores da compra e se a negociação teve relação com
a disputa pelo comando da Câmara, mas o presidente da Câmara preferiu não
comentar o assunto. A reportagem entrou em contato com Arthur Lira por email e
telefone, por meio de sua assessoria de imprensa, mas até o momento o deputado
não se pronunciou. Em caso de resposta, este espaço será atualizado.
·
Leilão milionário de Lira
reuniu políticos de vários partidos
As GTAs divulgadas pela Adagro Pernambuco foram
emitidas quase 20 dias após Arthur Lira, então presidente da Câmara, ter
realizado um grande leilão na fazenda Santa Maria, em São Sebastião (AL). Foi o
segundo evento do gênero promovido pela D’Lira Agropecuária – empresa da qual ele
é sócio com a esposa, Ângela Maria Gomes de Almeida Lira – e, à época, também
com o pai, Benedito de Lira.
O 2º Leilão Nelore Lira, realizado em 7 de outubro de
2023, atraiu ministros, parlamentares e grandes empresários. “A gente faz
política, mas o Nelore, o agronegócio, a gente faz com coração”, discursou o
anfitrião na ocasião.
Os lances para compra de bezerros de até 12 meses foram
transmitidos no canal da Agreste Leilões no YouTube por mais de quatro horas.
Os valores variaram de R$ 3,9 mil a R$ 4,5 mil e as vendas, que incluíram
também touros e fêmeas, renderam cerca
de R$ 4 milhões a
Arthur Lira.
O nome de Hugo Motta e da Agropecuária Tapuio não foram
citados ao longo da transmissão online. Entre os políticos que arremataram
lances anunciados, além de prefeitos e deputados estaduais, estão os deputados
federais Gilvan Máximo (Republicanos-DF), Vicentinho Júnior (PP-TO) e Félix
Mendonça Júnior (PDT-BA) e o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha
(MDB).
Também estava presente no evento o presidente nacional
do PP, o senador Ciro Nogueira, que foi quem costurou o nome de Hugo Motta para
a sucessão à presidência da Câmara. Lira tinha como preferido para assumir a
cadeira que ocupou por quatro anos o deputado federal Elmar Nascimento
(União-BA) – também presente no leilão.
Em 29 de outubro de 2024, Arthur Lira anunciou apoio ao
deputado do Republicanos para disputar o comando da Câmara. Hugo Motta foi
eleito em 1º de fevereiro de 2025, com 444 votos, dos 513 parlamentares. Com
exceção do Novo, do Psol e da Rede, ele recebeu apoio de todos os
partidos, do PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao PL do ex-presidente
Jair Bolsonaro. Com 35 anos, Motta é o mais jovem deputado na história a ocupar
a presidência da Câmara.
·
Nepo babies na presidência
da Câmara
Assim como Arthur Lira, que herdou os votos do pai em
Alagoas, Hugo Motta faz parte de uma família de políticos, no caso dele, do
sertão da Paraíba.
O primeiro da dinastia foi seu avô, eleito prefeito de
Patos (PB) em 1956. Cinquenta anos depois, o mesmo cargo foi ocupado pela avó,
Francisca Motta (Republicanos), hoje deputada estadual. Desde 2020, o pai,
Nabor Wanderley (Republicanos) ocupa a cadeira do executivo municipal. O avô
materno, Edivaldo Motta, também tem trajetória política, tendo sido vereador de
Patos entre 1987 e 1992.
O caçula da família na política começou a carreira como
deputado federal. Sua primeira eleição foi em 2010, aos 21 anos, sendo até hoje
o parlamentar mais jovem a ser eleito à Câmara dos Deputados. Hugo Motta está
em seu quarto mandato.
Filiado ao MDB entre 2010 e 2018, ele foi um dos
membros da “tropa de choque” do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, à época
do mesmo partido. A filha de Cunha, Danielle da Cunha (União-RJ), hoje deputada
federal, chegou a trabalhar para Motta como assessora
de marketing,
em 2015. A proximidade do atual presidente da Câmara com Cunha é, aliás, outra
semelhança do seu histórico político com o de Lira.
¨
Lula se reúne com Motta e Alcolumbre e indica reforma
ministerial
a fora da agenda oficial, se
dividiu em duas partes distintas e sinalizou um esvaziamento do ministro das
Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), no processo de negociação.
Na primeira parte do
encontro, também participaram o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), e o
ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). O foco foi o impasse das emendas
parlamentares e a tramitação de pautas prioritárias para o governo no
Congresso. Já na segunda etapa, a discussão passou a ser diretamente sobre a
reforma ministerial, com a presença apenas de Lula, Alcolumbre e Motta,
evidenciando que o presidente quer conduzir as mudanças diretamente com figuras
de peso no Legislativo.
O esvaziamento de Padilha é
um dos desdobramentos mais evidentes do atual cenário, segundo relato do
jornal O Globo. Como ministro
da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), ele deveria ser o principal
articulador político do governo junto ao Congresso, mas, diante de resistências
e do risco de perder o cargo, tem tido dificuldades para liderar as
negociações. Integrantes do governo avaliam que a permanência de Padilha é
incerta e que ele pode ser deslocado para o Ministério da Saúde, cargo que
ocupou entre 2011 e 2014, no governo Dilma Rousseff (PT).
Líderes do Centrão,
especialmente aliados de Hugo Motta, reforçam que o novo presidente da Câmara
foi designado para tratar diretamente da reforma ministerial com Lula, evitando
a mediação de Padilha. No Senado, interlocutores de Alcolumbre afirmam que,
independente da fragilidade do atual ministro, o presidente do Senado teria um
papel chave na definição das trocas ministeriais.
Internamente, petistas
também demonstram insatisfação com Padilha. Líderes da legenda acreditam que os
principais acordos no Congresso têm sido conduzidos por outros articuladores,
como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o senador Jaques Wagner (PT-BA) e
o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). A leitura é que Padilha
perdeu espaço e que sua manutenção no cargo poderia prejudicar a relação do
governo com o Legislativo.
A pressão sobre a reforma
ministerial aumentou depois que Lula decidiu manter Alexandre Silveira (PSD) no
Ministério de Minas e Energia, frustrando as expectativas de Alcolumbre, que
esperava ocupar a pasta com algum aliado. O presidente também tem evitado ceder
a pressões por mudanças no Ministério da Agricultura, mantendo Carlos Fávaro
(PSD) no cargo, o que demonstra que a reforma será pontual e conduzida com
cautela.
Com a agenda ministerial se
tornando prioridade, Lula continuará as conversas nos próximos dias.
Fonte: Por Alice Maciel, da Agência
Pública/Brasil
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