domingo, 26 de maio de 2024

Testes nucleares subcríticos dos EUA podem desencadear nova corrida atômica, diz analista

Na última segunda-feira (20), a Administração Nacional de Segurança Nuclear do Departamento de Energia dos EUA informou ter conduzido um teste nuclear subcrítico para coletar "dados essenciais" sobre as ogivas nucleares norte-americanas.

O teste nuclear subcrítico, realizado em laboratório subterrâneo, é o terceiro empreendido pela administração Biden e o 34º a ser realizado desde que os EUA impuseram moratória sobre testes envolvendo explosões nucleares em 1992.

A Administração Nacional de Segurança Nuclear dos EUA informou em comunicado que "depende de experimentos subcríticos para coletar informações valiosas para apoiar a segurança, a confiabilidade e a eficácia das ogivas nucleares [dos Estados Unidos] da América, sem o uso de testes de explosivos nucleares".

"Planejamos aumentar a frequência desses experimentos subcríticos para continuar a coletar dados importantes sobre materiais de armas nucleares, sem a necessidade técnica de um retorno aos testes subterrâneos com explosivos nucleares", disse Marvin Adams, vice-diretor de programas de defesa da Administração Nacional de Segurança Nuclear dos EUA.

De acordo com a especialista em política nuclear, doutora em Estudos Estratégicos Internacionais e especialista em política nuclear, Michelly Geraldo, testes nucleares subcríticos são mais seguros por não gerarem uma explosão nuclear.

"O teste subcrítico não alcança uma reação nuclear em cadeia e sustentada. Ele leva ao rendimento zero, ou seja, sem liberação de energia", disse Geraldo à Sputnik Brasil. "Ele é um experimento realizado em um ambiente controlado, justamente para adquirir dados essenciais e estudar o comportamento das matérias e materiais nucleares, como plutônio e urânio."

O professor aposentado do Departamento de Energia Nuclear da UFMG e delegado da Associação de Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG), Inácio Campos, concorda, e lembra que testes subcríticos são realizados não só para "garantir a segurança e eficácia de ogivas nucleares", como sua "integridade e performance, sem desencadear uma explosão nuclear".

Ainda que a condução de testes subcríticos realizados em laboratórios subterrâneos não necessariamente viole acordos internacionais sobre testes nucleares, como o Tratado de Interdição Parcial de Ensaios Nucleares de 1963 e o Tratado de Interdição Completa de Ensaios Nucleares (CTBT, na sigla em inglês) de 1996, a decisão norte-americana gerou críticas internacionais.

O governador da região de Hiroshima, no Japão, publicou carta aberta endereçada ao presidente dos EUA, Joe Biden, na qual expressa frustração quanto ao teste e reafirma o caráter "desumano" e "imoral" das armas nucleares.

"Senhor presidente [Biden], na Cúpula do G7 em Hiroshima, realizada há um ano, juntamente com outros líderes do G7, o senhor expressou a sua aspiração ao desarmamento nuclear. Isso foi verdadeiramente significativo. Apenas um ano depois, porém, os Estados Unidos realizaram um teste nuclear subcrítico, que decepcionou tremendamente os cidadãos de Hiroshima", escreveu o governador de Hiroshima, Hidehiko Yuzaki.

Para Yuzaki, a realização de testes subcríticos abre as portas para que outros países nuclearmente armados conduzam ensaios, minando esforços internacionais em favor da não proliferação e desarmamento nuclear.

De fato, na segunda-feira (20), a Coreia do Norte condenou os testes subcríticos norte-americanos, afirmando que eles exacerbam as tensões e desestabilizam a segurança internacional. Em resposta, Pyongyang diz considerar medidas para reforçar suas capacidades de dissuasão nuclear – o que poderia implicar na realização de mais testes nucleares.

"Países como o Brasil, que estão vinculados ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, veem esse tipo de ação [dos EUA] como um colapso dos acordos", disse Geraldo. "Por mais que, do ponto de vista técnico, o teste nuclear subcrítico não viole o CTBT, isso pode levar a um aumento na frequência e escala desse tipo de ensaio."

Para Geraldo, o aumento na escala poderia significar, inclusive, que futuros testes nucleares não ficariam restritos ao nível subcrítico, tampouco a laboratórios subterrâneos. Os testes mais danosos à saúde humana são os realizados na atmosfera, com danos significativos para as populações e para o meio ambiente.

"Testes como os dos EUA contribuem para gerar um clima de desconfiança e competição entre os Estados", lamentou Geraldo. "Quando um país realiza um teste subcrítico pode ser percebido pelos demais como uma tentativa de ganhar ou manter uma vantagem tecnológica nuclear."

Além disso, a realização de testes pode ser recebida como uma prova de que o país está modernizando os seus arsenais, ou verificando sua operacionalidade, o que "pode provocar respostas de outras nações, preocupadas com a manutenção do equilíbrio estratégico internacional".

Por outro lado, países nuclearmente armados afirmam que a realização de testes subcríticos configura em uma maneira segura de garantir a manutenção das ogivas nucleares, estacionadas em silos por décadas a fio.

"As armas nucleares também envelhecem, então é necessário garantir que elas estejam funcionando conforme o projetado", notou Geraldo. "E essa é uma das justificativas dos EUA para realizar esses testes."

Para o professor aposentado do Departamento de Energia Nuclear da UFMG, testes são essenciais para a evolução da pesquisa nuclear. No entanto, ele lamentou que as informações sobre explosões nucleares não sejam compartilhadas internacionalmente, o que leva mais países a realizarem ensaios para obter dados essenciais sobre materiais físseis.

"Também temos que lembrar que a tecnologia segue evoluindo, com a possibilidade de desenvolver a fusão nuclear como fonte de energia. A busca de novas alternativas energéticas pode, sim, levar a uma nova onda internacional de testes nucleares", apontou o professor Inácio Campos. "Países que detêm alto nível de tecnologia certamente conduzirão testes para evoluir esse conhecimento."

Ainda que existam justificativas na seara da segurança nuclear e desenvolvimento tecnológico, testes nucleares impõem riscos à saúde humana, ao meio ambiente e à paz e segurança internacionais, apontou a especialista em política nuclear Michelly Geraldo.

"A comunidade internacional busca proibir a realização de testes nucleares por questões evidentes, já que todo teste de certa forma contribui para a proliferação de armas nucleares e incentiva o desenvolvimento dessa tecnologia", disse Geraldo. "Ainda que os testes subterrâneos sejam os mais seguros, toda explosão nuclear libera grandes quantidades de radiação."

A especialista aponta que, para os críticos de testes subcríticos, esses ensaios vão contra a finalidade do tratado CTBT, uma vez que "são uma ferramenta para desenvolver e aperfeiçoar a tecnologia" de armas nucleares, o que, ao fim e ao cabo, vai contra o objetivo do desarmamento.

Nesta segunda-feira (20), a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, comentou a realização dos testes subcríticos dos EUA, afirmando que, de acordo com a interpretação russa, não há violação do Tratado de Interdição Completa de Ensaios Nucleares (CTBT). No entanto, a Rússia "urge Washington a honrar os seus compromissos de proibição de testes nucleares, renuncie à sua política destrutiva em relação ao CTBT e tome medidas imediatas para ratificar o tratado".

·        Força Espacial dos EUA planeja treinar 'cenários militares' no espaço, aponta portal

De acordo com as informações, a Força Espacial dos EUA anunciou uma lista de seis empresas encarregadas de desenvolver protótipos de um campo de treinamento para preparar militares para potenciais ataques a satélites e naves espaciais norte-americanas.

"Este ambiente especializado será crucial para o treinamento de pessoal de serviço, conhecido como guardiões, para defender satélites críticos e outras naves espaciais de ataques eletrônicos", detalha uma declaração da Força Espacial.

"Os satélites dependem de sinais eletromagnéticos para comunicação, navegação e transmissão de dados, tornando-os vulneráveis a interferências eletrônicas e ataques cibernéticos", observou o serviço militar dos EUA.

Seis empresas - Lockheed Martin, Nou Systems, ExoAnalytic Solutions, TMC Design, HII Mission Technologies e Parsons Government Services - receberam contratos de seis meses já no final de fevereiro de 2024.

A instalação faz parte de uma iniciativa mais ampla da Força Espacial dos EUA chamada Infraestrutura de Teste e Treinamento Operacional (OTTI, na sigla em inglês). A OTTI visa criar instalações de treinamento multifuncionais para tropas, simuladores de alta precisão, ferramentas de realidade virtual e aumentada e instalações militares para testes de equipamentos e táticas.

·        'Guerra nuclear', diz ex-fuzileiro naval sobre permissão dos EUA de ataques ucranianos à Rússia

Uma permissão dos EUA de ataques ucranianos na Rússia, usando armas americanas de longo alcance, quase certamente provocaria uma resposta russa, resultando potencialmente em um conflito direto entre Moscou e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), disse à Sputnik Scott Ritter, ex-fuzileiro naval e inspetor de armas da ONU.

A Ucrânia já está atacando instalações energéticas críticas dentro da Rússia, como tanques de petróleo, destacou Ritter.

"Isso está acontecendo, só que não está acontecendo com a conivência do Departamento de Estado [dos EUA] ou do Departamento de Defesa."

Em uma sessão do Congresso norte-americano, o presidente do Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes, Michael McCaul, adicionou lenha ao fogo depois de exibir um mapa da Rússia mostrando as áreas que podem ser atingidas por mísseis ATACMS e foguetes HIMARS.

McCaul então perguntou ao secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, se ele mudará a política de proibição da Casa Branca quanto ao uso de armas para atacar o território russo. Blinken, por sua vez, respondeu: "A Ucrânia terá de tomar e tomará suas próprias decisões, e quero ter a certeza de que receberá o equipamento de que necessita."

Agora, fontes internas da Casa Branca afirmam ao The New York Times que Blinken é a favor desses ataques e teria pedido ao presidente Joe Biden que autorizasse formalmente que os ucranianos usassem armas estadunidenses contra o território russo.

"Está acontecendo com assistência e a facilitação da CIA [Agência Central de Inteligência]: uma guerra secreta. Tudo que 'Tony' Blinken está falando agora é pegar essa guerra secreta e torná-la aberta."

Em resposta, os homólogos de McCaul na Duma e no Conselho da Federação — câmaras baixa e alta do Parlamento russo, respectivamente — criticaram a "loucura" do congressista e a aparente perda do instinto de autopreservação, alegando que a Rússia seria forçada a "tomar medidas duras e rápidas" em resposta a uma agressão tão flagrante.

A representante oficial do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, recomendou a McCaul que o primeiro lugar no "interior russo" a ser alvo de mísseis de longo alcance dos EUA seja a Embaixada americana em Moscou.

Segundo Ritter, esse debate norte-americano constitui mais do que um "jogo de palavras". "Por que ele [Blinken] está fazendo isso? Política interna americana", disse.

"Não terá impacto no campo de batalha. Mas o que faz é permitir que a administração Biden se posicione como se estivesse fazendo algo discernível para lidar com os sucessos russos."

No entanto, diz Ritter, a solução encontrada pela administração norte-americana é "míope". Uma retórica hostil vinda de Washington sobre os ataques à Rússia seria uma "escalada sem precedentes", "um ato de guerra, um ato de agressão que a Rússia não poderia deixar sem resposta".

"Não resolverá os problemas militares que os ucranianos enfrentam. O que fará é criar o potencial perigoso para o tipo de escalada que a administração Biden tem procurado assiduamente evitar — uma que levaria ao confronto direto entre a Rússia, os Estados Unidos e a OTAN."

"Uma escalada que poderá fazer com que esse conflito se afaste da guerra convencional e se transforme na possibilidade — na verdade, na probabilidade de um conflito nuclear."

Legalmente, disse o fuzileiro, a Rússia teria o direito não só de atacar centros de tomada de decisão e lançar locais dentro da Ucrânia, mas também aqueles que facilitam os ataques, incluindo potencialmente "centros de tomada de decisão americanos na Europa".

A Rússia, afirma Ritter, tem a capacidade de intervir de forma decisiva em todas as atividades que ocorrem em solo da OTAN, mas não o faz porque isso levaria a uma escalada. "Portanto, a Rússia evitou fazer isso, apesar de ter todo o direito de fazê-lo."

¨      Putin comenta legitimidade de Zelensky e diz que exercícios nucleares não são uma escalada

A Rússia acredita que a legitimidade de Vladimir Zelensky como presidente ucraniano acabou, disse o presidente Vladimir Putin nesta sexta-feira (24). O líder explicou também que os exercícios nucleares com Belarus "não são uma escalada".

O mandato presidencial de Zelensky expirou em 20 de maio. As eleições presidenciais de 2024 na Ucrânia foram canceladas, com a alegação de lei marcial e mobilização geral, e o presidente ucraniano disse recentemente que a eleição era "inoportuna" agora.

"É claro que estamos cientes de que a legitimidade do atual líder do país acabou", disse Putin, acrescentando que um dos objetivos da conferência de paz na Suíça para os países ocidentais é confirmar a legitimidade de Zelensky.

Moscou, ao retomar os diálogos com Kiev, precisa compreender a legitimidade dos representantes estatais que podem e devem ser tratados como autoridades na assinatura de documentos legais, afirmou o presidente.

Ainda sobre a Ucrânia, Putin afirmou que a Rússia nunca rejeitou as negociações com Kiev.

"No que diz respeito ao processo de negociação, falei muitas vezes sobre esse assunto, e aqui de Minsk gostaria de confirmar mais uma vez que a Rússia nunca rejeitou essas negociações."

O porta-voz presidencial russo, Dmitry Peskov, anunciou hoje (24) que o presidente russo comentou a disponibilidade para negociações em relação à Ucrânia, observando que as tratativas são possíveis para atingir os objetivos alcançados pela operação militar especial na Ucrânia, e que "esses objetivos são claros assim como os fatos".

O líder russo também disse que o exercício nuclear tático conduzido em Belarus esta semana tinha como objetivo garantir que a dissuasão nuclear do Estado da União permanecesse adequada e não deveria ser interpretado como uma escalada.

"Tudo isso acontece rotineiramente. Não estamos escalando nada. Como foi dito antes, tudo precisa ser bem praticado. É o tipo de coisa em que tudo deve funcionar sem problemas", explicou Putin durante a visita a Minsk.

O presidente chegou a Belarus na quinta-feira (23) à noite, para uma visita oficial de dois dias.

Ao mesmo tempo, Putin sublinhou que os exercícios russos envolvendo capacidades de dissuasão nuclear estavam em total conformidade com os compromissos nucleares do país.

"Nada foi violado. Nada fora do comum aconteceu em comparação ao que a OTAN faz", acrescentou.

O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, afirmou no início deste mês que os exercícios nucleares táticos planejados pela Rússia eram uma medida imprudente e perigosa. O chefe da aliança militar disse acreditar que Moscou compreende as consequências de um conflito nuclear.

¨      Conflito ucraniano pode se transformar em um desastre global, alerta presidente sérvio

O presidente sérvio Aleksandar Vucic expressou preocupações de que, se o conflito na Ucrânia não for travado agora, ele se transforme em uma catástrofe militar global.

"Receio que haja pouco tempo para a guerra na Ucrânia parar, espero que seja possível, mas receio que não. Receio que o trem já tenha saído da estação, como eu disse anteriormente, e isso ninguém vai parar. Minha avaliação é que as coisas vão ser muito mais difíceis, muito piores e pode acontecer uma tragédia maior do que foi na Segunda Guerra Mundial", afirmou o presidente sérvio no canal TV Prva ontem (24).

Ele observou que queria estar errado em suas previsões, mas os fatos, construídos "de acordo com a lógica do determinismo de ferro", indicam sobre a aproximação de um conflito mundial global.

"Não se esqueçam, quando uma máquina de guerra se acelera, há um lobby militar e um lobby de armas que exigem escalada, e é difícil parar isso. Por isso, penso que este é o último momento para alguém tentar fazer algo concreto para parar isso, não para transferir a culpa para o outro lado. Se não o fizermos, receio que estejamos caminhando para o desastre", disse Vucic.

Anteriormente, Scott Ritter, ex-fuzileiro naval e inspetor de armas da ONU, disse à Sputnik que uma permissão dos EUA para se realizarem ataques ucranianos na Rússia, usando armas americanas de longo alcance, quase certamente provocaria uma resposta russa, resultando potencialmente em um conflito direto entre Moscou e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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