sábado, 25 de maio de 2024

O futuro Palestino e os Benjamins

Na mesma semana em que o Tribunal Penal Internacional (sigla ICC, em inglês) começou sua busca pelo mandado de prisão do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e do ministro da defesa Yoav Gallant, três países europeus – Irlanda, Espanha e Noruega – anunciam que oficializarão o reconhecimento do Estado da Palestina neste próximo dia 28. O anúncio não vem como surpresa para aqueles que vem acompanhando de perto as repercussões internacionais em relação ao genocídio sionista em Gaza, e também não tem um efeito prático grandioso, sendo muito mais um gesto simbólico de reconhecimento. Mas certamente é um golpe duríssimo contra o sionismo e seu plano colonial na Palestina Histórica. O Estado Sionista não tardou em retirar seus embaixadores dos três países, algo que já deveria ter sido antecipado há muito tempo pelos próprios governos destes países, expulsando os embaixadores sionistas.

O reconhecimento oficial de países ocidentais da União Europeia como Irlanda e Espanha, é um marco simbólico de grande importância. Anteriormente, apenas países do Leste Europeu, Bálcãs e Escandinávia haviam oficializado o Estado Palestino, o que, apesar de ser bem-vindo, não colocava o reconhecimento da Palestina no centro do poder europeu. A economia espanhola vem num otimista crescimento em comparação aos seus vizinhos europeus, e o histórico esforço do povo irlandês contra o domínio e a intervenção britânicos os colocam lado a lado do povo palestino em sua luta contra o colonialismo sionista. Já a Noruega, apesar de não participar da União Europeia, é uma das grandes potências energéticas do globo e possui uma das maiores frotas mercantes. Dos anos de 1970 até hoje, o país retém laços relativamente próximos aos palestinos, e abriga uma missão diplomática palestina em sua capital. Desde outubro de 2023, a Noruega tem rejeitado a agressão sionista em Gaza e o primeiro-ministro norueguês já simbolizou com apoio à Resistência Nacional palestina ao dizer que “os palestinos têm o direito de se defender”.

Isso ocorre menos de 15 dias após a Assembleia Geral da ONU votar em peso (143 a favor, 9 contra) pelo reconhecimento e admissão do Estado Palestino na ONU como Nação Membro, e aproximadamente 1 mês após o Conselho de Segurança falhar neste mesmo reconhecimento, com o veto criminoso e cúmplice ianque. Outros países, como Malta e Estônia, também já acenam com processos de reconhecimento do Estado Palestino.

Deve-se ter em mente que todos estes acontecimentos podem ser diretamente ligados à feroz e justa resistência do povo palestino, especialmente em Gaza, desde outubro 2023. Antes de outubro de 2023, sequer se falava em nos círculos ocidentais sobre o reconhecimento oficial do Estado Palestino, e forçava-se uma conciliação e normalização da região com o Estado Sionista de Israel, através dos Acordos de Abraão, liderados pelo ex-presidente ianque, Donald Trump. Com o lançamento e o sucesso da Operação Dilúvio de Al-Aqsa, orquestrada e liderada pelo Hamas, seguida por uma criminosa e genocida ofensiva sionista ao povo palestino em Gaza, que encontra diariamente uma resistência que se recusa a ceder um só grão de areia do solo palestino aos invasores e colonizadores, a causa justa e anticolonial da Palestina voltou ao centro das atenções do mundo inteiro. Assim como durante as duas grandes Intifadas que inspiraram o mundo dos anos 1980 aos anos 2000, a resistência anticolonial palestina tem levado a juventude de todo o mundo a se erguer em seu apoio, em especial no coração do imperialismo ianque, o grande patrono, padrinho e patrão do colonialismo sionista.

Em relação ao pedido de mandado de prisão a Benjamin Netanyahu e Yoav Gallant, não podemos deixar de celebrar esta possibilidade. Os sanguinários líderes da sana genocida sionista em Gaza serão colocados, caso o mandado seja expedido, na mesma prateleira que outros líderes megalomaníacos como Vladimir Putin. Os países signatários do Estatuto de Roma – que dá o poder legal ao Tribunal Penal Internacional – se verão obrigados a acatar o mandado de prisão a eles. No entanto, ainda que celebremos, é necessário reforçar que, primeiro, estes dois líderes sionistas são apenas dois rostos em uma multidão de líderes, políticos e militares israelenses que não somente verbalizaram suas retóricas genocidas, como participam ativamente do gabinete de guerra israelense e das tomadas de decisões em Gaza. Os ministros de Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir e de Finanças, Bezalel Smotrich; o Contra-Almirante e porta-voz das IDF, Daniel Hagari e o Chefe do Estado-Maior Geral, Herzi Halevi; o presidente de Israel, Isaac Herzog; o representante da Israel na ONU, Gilad Erdan. Todos estes indivíduos são culpados dos mesmos crimes, em menores ou maiores proporções, que Benjamin Netanyahu. Incluindo aquele que agora busca se apresentar como a grande alternativa a Netanyahu, o ex-ministro da defesa, ex-primeiro-ministro alternativo e ex-Chefe do Estado-Maior Geral, Benny Gantz.

Gantz vem tentando se posicionar como uma força moderada em Israel, em oposição ao facínora Netanyahu e sua corte desvairada de nazisionistas. Ele se juntou ao gabinete de guerra como um “ministro sem portfolio”, em uma aliança entre o partido fascista Likud de Netanyahu e seu partido Unidade Nacional, cujo lema é “Israel antes de todos” – soam sinos nas cabeças tupiniquins. Recentemente, Benny Gantz ameaçou renunciar ao seu cargo simbólico e deixar a coalizão caso Netanyahu não dê um fim à guerra em Gaza até 8 de junho. Anteriormente, Gantz já havia pedido por novas eleições, fomentou protestos antigoverno em 2023, o Secretário de Estado dos USA preferiu se encontrar com ele para tratar de negociações de cessar-fogo, e pesquisas indicam que 51% dos israelenses o veem como mais bem preparado para o cargo de primeiro-ministro de Israel.

Mas Benny Gantz pode tentar enganar, que sua verdadeira face permanece exposta. Em seu tempo como Chefe do Estado-Maior Geral, o maior cargo militar em Israel, Gantz comandou as Operações Pilar de Defesa e Margem Protetora, em 2012 e 2014 respectivamente, que juntas deixaram quase 2500 palestinos mortos. Em relação à Operação Margem Protetora, Benjamin (totalmente-não-Netanyahu) Gantz se gabou, orgulhosamente, de ter mandado “partes de Gaza de volta à Idade da Pedra”. E durante seu período como Ministro da Defesa, gerenciou as Operações Guardião nas Muralhas e Amanhecer, em 2021 e 2022 respectivamente, e mais de 90 palestinos foram mortos por colonos sionistas na Cisjordânia (onde não opera o Hamas). Ainda de acordo com o monopólio de imprensa israelense, The Times of Israel, Benjamin Neta… Gantz declarou seis grupos de direitos palestinos como “organizações terroristas” em 2021, incluindo um grupo que luta por direitos de crianças palestinas.

A verdadeira face do sionista Benjamin N… Gantz fica exposta em suas exigências ao atual primeiro-ministro Benjamin (agora sim) Netanyahu para manter seu apoio à coalizão. Entre elas, Gantz exige a desmilitarização de Gaza e extinção do Hamas, a “internacionalização” (isto é, o controle imperialista estrangeiro) de Gaza e a obrigação do serviço militar para todos os israelenses, incluindo os atualmente isentos judeus ultra-ortodoxos. Benjamin Gantz não passa de mais um líder sionista genocida, que mal pode esperar para sujar seus braços até os ombros de sangue palestino com o título de primeiro-ministro o protegendo.

A carreira política de Netanyahu está defunta, enterrada, e não se erguerá jamais como o zumbi que já é. Entre acusações de corrupção e suas ações desesperadas em Gaza, em sua vendeta pessoal contra o líder do Hamas em Gaza que o humilhou, Yahya Sinwar, Netanyahu perdeu o apoio completo do povo israelense, e progressivamente perde o apoio internacional até de seus aliados mais próximos. Mas que fique claro que, saindo Benjamin Netanyahu, o próximo Benjamin de forma alguma solucionará a contradição principal do povo palestino contra seus colonizadores. Caso Gantz assuma, os próximos anos verão a continuação da guerra de baixa intensidade – tão querida pelo imperialismo ianque – de Israel contra os palestinos, com os eventuais massacres e bombardeios indiscriminados que acompanhavam a “paz” anterior ao 7 de outubro.

O mundo anda a largos passos para o reconhecimento do Estado Palestino. Este é o primeiro passo na grande e árdua jornada pela extinção da colonização da Palestina Histórica, através do fim do projeto colonial sionista. As ações heroicas da Resistência Nacional Palestina, com suas armas produzidas em território nacional e suas táticas guerrilheiras contra um dos exércitos mais bem armados do mundo recolocaram a busca pela justiça palestina de volta aos olhos do mundo. Jamais esqueçamos dos nossos mártires e heróis, até que a Palestina seja livre do rio ao mar.

¨      Reconhecimento da Palestina por trio europeu expõe 'grande fracasso' na diplomacia de EUA e Israel

Noruega, Irlanda e Espanha anunciaram planos para se juntarem ao crescente bloco de países europeus que reconhecem a condição de Estado da Palestina.

A Sputnik conversou com especialistas em política do Oriente Médio e no conflito palestino-israelense sobre o que aconteceria a seguir.

Israel chamou de volta seus embaixadores na Noruega, Irlanda e Espanha nesta quarta-feira (22) para "consultas urgentes", convocando enviados em Tel Aviv e ameaçando os países com "graves consequências", depois que o trio anunciou planos para reconhecer formalmente a Palestina como Estado — provavelmente com base em suas fronteiras anteriores a 1967 — a partir da próxima semana.

"Israel não permanecerá em silêncio diante daqueles que minam a sua soberania e põem em perigo a sua segurança", disse o ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, em comunicado após o anúncio do reconhecimento.

"A decisão de hoje envia uma mensagem aos palestinos e ao mundo: o terrorismo compensa", alegou Katz, acusando os três países de "escolherem recompensar o Hamas" com a criação de um Estado após a sua incursão surpresa no sul de Israel, em outubro de 2023.

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, saudou a medida do trio, dizendo que ela ajudará a consagrar "o direito do povo palestino à autodeterminação" e aproximará da realidade uma solução de dois Estados. O Hamas — que não reconhece o direito de Israel à existência — também saudou o desenvolvimento, chamando-o de "um passo importante no caminho para estabelecer o nosso direito à nossa terra" e instando mais países a seguirem o exemplo.

·        'Grande fracasso da diplomacia dos EUA'

"É claro que reconhecer o Estado palestino é um grande passo — é significativo", disse à Sputnik Mehmet Rakipoglu, professor assistente da Universidade Mardin Artuklu, na Turquia.

Rakipoglu acredita que os três países têm estado politicamente fora da órbita dos EUA e de Israel há algum tempo, com alguns, como a Irlanda, a partilhar uma simpatia especial pelos palestinos, com base na sua própria experiência de sofrimento nas mãos do imperialismo britânico.

"Portanto é claro que isso é um grande fracasso da diplomacia dos EUA", cravou o observador.

"Esse é um fracasso normal da diplomacia israelense, não [apenas] nesses países, mas também a nível internacional", disse à Sputnik Ayman Yousef, professor de ciência política e relações internacionais na Universidade Árabe-Americana, na Palestina.

"Terá implicações muito boas para outros países da União Europeia reconhecerem a Palestina. Vemos mudanças drásticas nas prioridades da política externa desses países. Esperamos que países como Bélgica, Malta, Eslovênia e até Grécia e Portugal reconheçam também a Palestina", ponderou Yousef.

·        Israel não tem ninguém para culpar além de si

Israel é o único país culpado pela mudança da opinião mundial contra ele, mesmo entre os seus amigos tradicionais no Ocidente, sublinhou o observador, apontando para a brutalidade das operações israelenses em Gaza, que já mataram ou mutilaram mais de 5% da população da Faixa de Gaza antes da guerra.

"Israel destruiu quase tudo: hospitais, mesquitas, igrejas e universidades, escolas e todas as fundações civis de Gaza. Penso que o nível e a magnitude dessa destruição levaram esses países a mudarem as suas políticas na direção certa. E acho que muitos países da União Europeia começam a pensar que a estabilidade e a segurança no Oriente Médio não serão alcançadas […]. Será uma opção remota se não reconhecerem a Palestina como um país independente e soberano", disse Yousef.

"Israel está falhando não só dentro da União Europeia, mas também nas Nações Unidas, principalmente em convencer outros países. Mesmo nos EUA, há uma enorme oposição às políticas adotadas pelos israelenses — as manifestações estudantis em muitas universidades americanas são apenas um exemplo disso", arrematou o observador à Sputnik.

 

Fonte: A Nova Democracia/Sputnik Brasil

 

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