sábado, 25 de maio de 2024

Mensagens de WhatsApp ajudam idosos atendidos pelo SUS a sair da depressão

O WhatsApp pode ser um recurso poderoso para ultrapassar a barreira da solidão e contribuir positivamente para a melhoria de quadros de depressão em idosos. Foi o que mostrou um estudo realizado com usuários de Unidades Básica de Saúde (UBS) do município de Guarulhos, vizinho à cidade de São Paulo. A pesquisa, realizada por Marcia Scazufca e colaboradores, foi publicada no periódico Nature Medicine.

Scazufca é professora na pós-graduação do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e pesquisadora científica no Hospital das Clínicas.

“Nosso ensaio clínico, randomizado e controlado, envolveu 603 participantes com idade superior a 60 anos, registrados em 24 clínicas de atenção primária [UBS] do Sistema Único de Saúde [SUS], que apresentavam sintomas depressivos significativos. Os participantes foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos. O grupo de intervenção, com 298 participantes, recebeu, por meio do programa ‘Viva a Vida’, mensagens de WhatsApp duas vezes por dia, quatro dias por semana, durante seis semanas, com conteúdos de educação sobre depressão e ativação comportamental. O grupo-controle, com 305 pessoas, recebeu uma única mensagem de caráter educacional. Nenhum dos grupos teve suporte de profissionais de saúde”, conta a pesquisadora.

A média etária dos participantes era de 65,1 anos e a distribuição por sexos foi de 74,8%, para mulheres, e 25,2%, para homens. Scazufca informa que, dos 603 participantes inscritos, 527 (87,4%) completaram a avaliação de seguimento. No grupo de intervenção, 42,4% dos participantes apresentaram melhoria nos sintomas depressivos. Já no grupo-controle, a melhoria foi significativamente menor, de 32,2%. “Este resultado sugere que a intervenção por mensagens móveis foi eficaz no tratamento de curto prazo da depressão em idosos em áreas com recursos limitados de saúde”, diz.

A ferramenta de triagem empregada para selecionar os participantes foi o PHQ-9 (sigla em inglês para Patient Health Questionnaire-9, ou Questionário de Saúde do Paciente-9), amplamente utilizado e validado para avaliar a presença e gravidade dos sintomas de depressão. O PHQ-9 utiliza uma escala de 0 a 27, assim dividida: 0 a 4, ausência de depressão; 5 a 9, depressão leve; 10 a 14, depressão moderada; 15 a 19, depressão moderadamente grave; 20 a 27, depressão grave.

Quanto maior a pontuação, maior a gravidade dos sintomas depressivos. “Convidamos para participar todas as pessoas que tiveram pontuação dez ou mais na avaliação inicial. Nossa amostra inclui, portanto, desde portadores de depressão moderada até portadores de depressão grave”, afirma a pesquisadora.

O programa recebeu o nome de “Viva a Vida” e, considerando o ainda baixo índice de alfabetização da população idosa de baixa renda, os comunicados enviados às pessoas do grupo de intervenção eram mensagens de voz, de três minutos de duração, ou imagens. Não havia mensagens de texto.

Os pesquisadores tomaram o cuidado de usar uma linguagem de fácil compreensão, baseada no modelo dos programas de rádio mais populares. Dois artistas, a Ana e o Léo, liam alternadamente as mensagens, que evoluíram de frases educacionais sobre depressão a incentivos à ativação do comportamento e alertas de prevenção de recaída (alguns exemplos podem ser conferidos no final da reportagem).

“A diferença de pouco mais de dez pontos entre a melhoria dos participantes do grupo de intervenção e dos participantes do grupo-controle talvez pareça pequena, mas, considerando que o programa ‘Viva a Vida’ tem um custo extremamente baixo e o potencial de alcançar uma enorme faixa da população, esses 10% podem significar milhões de pessoas. Além disso, o ‘Viva a Vida’ deve ser visto como um primeiro passo, que pode vir a ser combinado com outras formas de intervenção. É preciso dizer que a grande maioria das pessoas que participaram não recebia antes nenhum tratamento para depressão. Nem estavam diagnosticadas como portadoras desse quadro”, argumenta Scazufca.

E acrescenta que o resultado é especialmente relevante em um país de baixa e média renda, como o Brasil, onde a população idosa está crescendo rapidamente e os recursos de saúde mental são frequentemente escassos. O baixo custo e a fácil implementação do programa fazem com que ele possa ser replicado também em outros países, de condições socioeconômicas semelhantes ou ainda mais precárias, onde o acesso a tratamentos convencionais é limitado ou inexistente. “A continuidade desse tipo de pesquisa poderá fortalecer ainda mais as evidências para a implementação de intervenções digitais em saúde mental, expandindo o alcance do tratamento psicossocial em um contexto global”, enfatiza a pesquisadora.

O estudo recebeu suporte financeiro da FAPESP por meio de diferentes modalidades de apoio concedidas aos vários integrantes da equipe

 

•        Quais são os melhores exercícios para envelhecer bem? Especialistas respondem

 

Para garantir um envelhecimento saudável, um dos fatores essenciais é manter a prática de atividade física. De acordo com o Ministério da Saúde, ser mais ativo na terceira idade pode trazer benefícios como aumentar a energia, a disposição, a autonomia e a independência para realizar as atividades do dia a dia, além de contribuir para a maior socialização.

Além disso, a atividade física pode contribuir para um envelhecimento com maior qualidade de vida, com menos dores nas articulações, nas costas e menor risco de sarcopenia, condição caracterizada pela perda de massa e força muscular.

De forma geral, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que os idosos realizem, pelo menos, de 150 a 300 minutos por semana de atividade física aeróbica de moderada intensidade; ou, pelo menos, de 75 a 150 minutos por semana de atividade física aeróbica de vigorosa intensidade.

No entanto, Marco Túlio, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, ressalta que, para usufruir desses benefícios, é interessante praticar a atividade física ao longo da vida e manter essa prática na terceira idade.

“A atividade física tem vários benefícios importantes. Uma delas é o fortalecimento da saúde óssea, especialmente quando é praticada ao longo da vida”, afirma Túlio. “Ao  envelhecermos, passamos por um declínio da densidade do osso. Com a prática de exercícios físicos, é possível reduzir o ritmo dessa perda da massa óssea, reduzindo o risco de osteoporose, por exemplo. Isso também vale para a sarcopenia”, acrescenta.

Além disso, a atividade física ao longo da vida e na terceira idade também pode ajudar a evitar o declínio cognitivo e o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

“Praticar exercícios físicos é muito importante para o cérebro por oferecer um efeito protetor contra a demência. Além disso, existe uma relação forte da atividade física com a saúde cardiovascular, então, quanto mais cedo a pessoa começar a fazer atividade física, menor o risco de infarto, angina, AVC e outras complicações cardiovasculares”, completa o especialista.

<><> Qual o melhor exercício para um envelhecimento saudável? Conheça boas opções

Segundo Marco Túlio, entre os melhores exercícios físicos para envelhecer com saúde estão o aeróbico (como caminhada ou corrida), a musculação e os exercícios de flexibilidade. “Os exercícios resistidos, como a musculação, são benéficos para o fortalecimento da musculatura, enquanto os de flexibilidade previnem o encurtamento muscular. Já para o cérebro, é importante um mix de todas essas atividades”, afirma.

A seguir, entenda, com mais detalhes, os benefícios desses tipos de atividade e como praticá-las com cuidado na terceira idade.

•        Musculação

A fisioterapeuta Luciana Mastandrea, professora e mestra do Instituto Biodelta, especializado na aplicação de treinamento resistido, explica que, na musculação, é possível controlar as sobrecargas de treinamento.

“Esse é um exercício controlado e terapêutico que pode ser usado, inclusive, para reabilitar e tratar doenças. Nele, controlamos as sobrecargas, as posições confortáveis, a velocidade dos movimentos e os pesos usados, além de controlar a amplitude de movimento para não prejudicar as articulações”, afirma.

Por isso, é fundamental praticar musculação, e qualquer outra atividade física, com o acompanhamento e orientação de um profissional de educação física especializado.

•        Aeróbico

Entre as opções de exercícios aeróbicos importantes para um envelhecimento saudável, uma das alternativas mais acessíveis e seguras é a caminhada, de acordo com Hélena Dalla Bernardina, profissional de educação física especializada em treinamento resistido.

“A caminhada pode ser feita em ambientes internos, com uma esteira, por exemplo, ou ao ar livre. O importante é que, se a pessoa estiver começando, ela inicie aos poucos, e notando se essa atividade não gera ou aumenta as dores na coluna, joelhos e tornozelos”, orienta a especialista. Aos poucos, é possível aumentar a velocidade da caminhada, de forma progressiva.

A hidroginástica também é uma opção de aeróbico popular, segura e de baixo impacto para a terceira idade. “Ela pode melhorar a coordenação motora, a condição cardiorrespiratória e, por ser feita na água, pode ser uma atividade prazerosa para muitas pessoas”, afirma Sandra Nunes de Jesus, profissional de educação física.

Porém, a especialista faz uma ressalva: “O único ponto negativo da hidroginástica é que ela não melhora a massa muscular e nem a massa óssea, dois componentes importantes para o processo de envelhecimento”, diz de Jesus. Por isso, é fundamental associar a atividade ao exercício resistido, como a musculação.

•        Ioga e pilates

Atividades que trabalham a mobilidade e a flexibilidade do corpo, como a ioga e o pilates, também podem ser praticados por idosos. Porém, antes de iniciar uma delas, é importante respeitar as limitações individuais, como aponta Bernardina.

“Idosos que tiverem dor nos ombros, na coluna ou nos joelhos, esses exercícios precisam ser adaptados para essas condições”, afirma a especialista. “Quando isso é respeitado, a ioga pode melhorar a flexibilidade pelo alongamento, reduzir o estresse e aumentar a concentração. Já o pilates oferece benefícios como fortalecimento geral do corpo, além de aumentar o alongamento e melhorar a postura corporal”, elenca.

•        Cuidados importantes durante a prática de exercícios físicos

Para que sejam alcançados os benefícios oferecidos pela atividade física no envelhecimento saudável, é preciso ter em mente alguns cuidados importantes. O primeiro deles é realizar os exercícios com supervisão, orientação e acompanhamento de profissionais qualificados. Para os sedentários, o início da atividade deve ser de leve intensidade, com a evolução gradual e progressiva.

“Também é fundamental saber suas limitações, receber uma avaliação médica com seus diagnósticos. Isso faz toda a diferença na hora que a gente for fazer o acompanhamento durante os exercícios”, orienta de Jesus. “As atividades devem ser adaptadas de acordo com o conforto individual, respeitando as limitações que as doenças decorrentes do envelhecimento possam causar”, acrescenta.

Marco Túlio também enfatiza a importância da avaliação médica antes do início da atividade física, principalmente entre as pessoas que nunca realizaram atividade física antes. “Se o paciente apresentar um risco cardiovascular baixo e não tiver histórico de doenças cardiovasculares, ele pode começar a realizar atividade física sem maiores preocupações”, afirma.

Já quem possui esse risco deve passar por uma avaliação detalhada para saber qual tipo de exercício pode ser o mais indicado para ela. “É importante lembrarmos que a atividade física também é importante para os cardiopatas. Mas esses pacientes devem ser reabilitados para, depois, começar a atividade física, com um cuidado maior e uma programação especial de exercício”, completa o especialista.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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