sábado, 27 de julho de 2024

Sérgio Amadeu sobre bolha ‘nazi-incel’: “Elon Musk já declarou que os protege”

Em reportagem publicada nesta quinta-feira (25), a Revista Fórum revelou o modus operandi de uma rede de perfis no X, antigo Twitter, que propaga apologias ao nazismo e ameaças a variados alvos – geralmente comunicadores de esquerda – de forma sistemática. Enquanto a matéria ia ao ar, o Fórum Onze e Meia entrevistava Sérgio Amadeu, sociólogo e entusiasta do software livre, que comentou o conteúdo da reportagem, apresentado em primeira mão na TV Fórum.

Amadeu se ateve a um detalhe da trama no começo da sua participação, que diz respeito ao fato de esses perfis se vangloriarem de usar VPN, uma técnica que permite ocultar a identidade da conexão, para atuar em impunidade.

Segundo o especialista, a estratégia não é exatamente segura e, tecnologicamente falando, é possível, sim, que a polícia consiga identificar operadores de perfis que cometem tais crimes na internet. O problema, segundo Sérgio Amadeu, é que essa identificação depende da colaboração das plataformas, e no caso analisado pela Fórum, trata-se do X, de Elon Musk, que já declarou que irá proteger este tipo de usuário.

Na conversa com Renato Rovai e Adriana Delorenzo, o sociólogo também fez comentários sobre as noções de “liberdade” da extrema direita, entre outros elementos, que embalam grupos como esse.

•        “Elon Musk os protege”

A pessoa cria um perfil numa rede social, no antigo Twitter, o X, no Facebook, no Instagram, no TikTok… Veja: quando ele cria esse perfil, pode ter usada a VPN. Agora, ele para a rede social, não vai ser um anônimo, muito difícil ele ser um anônimo, porque ele não vai conseguir manter um padrão de segurança de VPN o tempo todo. Vai entrar de um celular, vai entrar de uma outra máquina, ou ele vai tendo o seu perfil detalhado.

Afinal, o que faz a rede social para monetizar, para vender os perfis para quem quer anunciar ou atingir aquele perfil que está dentro de uma amostra que o cara comprou? Por exemplo, a Coca-Cola quer atingir pessoas de média idade que gostam de tais coisas, a rede social tem essa amostra e isso é que dá o dinheiro dela. Então, o tempo todo, ela está com algoritmos tentando identificar que aqueles dois perfis que foram criados, na verdade, são de um só. Então a plataforma reúne, e sabe quem é.

As redes sociais conseguem identificar. E nesse caso de ameaça de morte - que não é uma opinião, nem um mero xingamento, mas algo extremamente agressivo, que gera sofrimento nas pessoas, temor, instabilidade psíquica - a polícia tem condições de acionar o Ministério Público, e dentro de toda a tramitação legal, solicitar esses perfis. E por mais que eles eles acessem o tempo todo de VPN, esses perfis são identificáveis na maioria dos casos, e, portanto, essa rede social, ela não pode colaborar com o discurso de ódio, com a prática neonazista. Não pode colaborar com o fascismo.

O problema é que o Elon Musk já disse que colabora. Ele disse que colabora e que não tem nenhum problema, que isso é liberdade de expressão.

•        A 'liberdade' da extrema direita

Esse caso que vocês reportaram é muito evidente do que é a prática da extrema direita e de qual o conceito de liberdade que eles têm. O conceito de liberdade que eles têm é o conceito de poder realizar qualquer tipo de ato, mesmo que esse ato seja violento, antissocial e criminoso.

Para nós que defendemos a democracia e que sabemos que a liberdade é uma relação social, a liberdade não é algo que dá em árvore, a liberdade não é algo que brota da água, da natureza. A liberdade é inclusive uma palavra criada e um conceito criado dentro de relações humanas, de relações sociais.

Essa liberdade não faria nenhum sentido se alguém fizer um discursos mais ou menos assim: “olha, vem aí um grande objeto celeste, um cometa, e que ele está batendo em todos os asteroides, retirando coisas do lugar, ele é livre”.

Ora, isso não é liberdade. Isso se chama força, isso se chama física, e o que esses caras estão defendendo nas relações sociais é algo muito útil ao neoliberalismo, e muito útil a criar, na verdade, sensacionalismos para as redes sociais.

•        Perigo para alvos vulneráveis

Essa prática de agressão, de expor elementos da vida de pessoas que eles discordam, são muito perigosas para adolescentes, principalmente mulheres, que eles perseguem.

Nesse caso que vocês relataram, eles estão atuando em função da extrema direita, organizados, mas em geral eles têm um preconceito, eles têm uma prática que a gente vê em relatos. Não é a primeira vez que isso acontece, infelizmente não será a última. Se você pega várias matérias em outros países, a própria BBC fez diversas mostrando pessoas que, inclusive, saem das redes digitais e atuam no espaço presencial, fazendo agressões, vamos ver que são esses grupos incels que se transformaram em extrema direita, fascismo e neofascismo.

Esse tipo de ideologia tem essa capacidade de organizar as frustrações e, em vez de tratá-la, transforma a frustração em um elemento contra uma minoria, contra um gênero, contra uma força política, e isso gera esse tratamento odioso. É a técnica da extrema direita, a extrema direita Está acontecendo no mundo inteiro, isso precisa ser combatido, precisa ser denunciado, e também tratado.

•        Combate

Eu acredito que essa conduta é criminosa e precisamos ir além de denunciar perfis nas redes sociais; é necessário alertar o Ministério Público. O MP deveria criar uma área específica para lidar com esses crimes, que geram muitos transtornos, especialmente para as pessoas mais frágeis. Grupos de extrema direita frequentemente usam a violência como parte de sua essência e estratégia.

Eles odeiam a diversidade e a igualdade de direitos, e essa violência está enraizada em suas práticas diárias. Eles não aceitam a felicidade dos outros e distorcem os princípios cristãos para promover sua agenda violenta e hierárquica. É necessário combater esse fascismo interno e a crescente ameaça fascista global, que pode levar a guerras e extermínios, como vimos no passado. Precisamos denunciar e tratar como crime qualquer conduta criminosa, sobretudo as desse tipo.

 

•        Como o autor de 'Lavoura Arcaica' ajudou Lula a fundar uma universidade em região antes dominada por nazistas

Desde seu primeiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou 14 novas universidades federais no Brasil. Todas elas têm sua importância, mas a expansão de uma instituição em específico carrega uma história especial: a criação do campus Lagoa do Sino da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em Buri, no interior de São Paulo.

Nesta terça-feira (23), Lula participou da cerimônia de comemoração dos dez anos do campus Lagoa do Sino da UFSCar ao lado do consagrado escritor Raduan Nassar, autor de obras célebres como "Lavoura Arcaica" e "Um Copo de Cólera". Durante o evento, o presidente anunciou um investimento de R$ 79,3 milhões para a UFSCar, sendo que R$ 13 milhões serão destinados a melhorias no campus Lagoa do Sino.

Hoje com 88 anos, Raduan Nassar doou sua fazenda de 643 hectares em 2011 para que o campus fosse construído. Em 2014, então, durante o governo de Dilma Rousseff, a expansão da universidade foi inaugurada com cursos para atender às demandas da população local, focados em agricultura familiar, segurança alimentar e desenvolvimento territorial.

"Numa tarde, tive o prazer de receber uma ligação do Raduan Nassar, que queria fazer a doação do terreno que, anos depois, se tornaria o Campus Lagoa do Sino da UFSCar. Uma fazenda de 640 hectares que receberia cursos da área agrícola. E estou aqui em homenagem a este importante homem do nosso país", afirmou Lula durante a cerimônia.

“Quando aparece um homem que, aos 75 anos de idade, naquela época, assume a vontade e a responsabilidade de se desfazer de um patrimônio dele, como esse aqui, para que a gente pudesse formar milhares e milhares de meninas e meninos nesse país, para ajudar o país a se transformar num país grande, num país importante, num país competitivo, a gente só tem que dizer graças a Deus, Raduan, Deus te pôs no mundo e você está colocando essa dádiva que Deus te deu para o futuro desse país", prosseguiu o presidente.

Raduan Nassar nasceu em Pindorama, no interior paulista, e estreou na literatura em 1975 com seu famoso livro "Lavoura Arcaica". Depois, emplacou outra obra-prima, "Um Copo de Cólera", em 1978. Ambos foram adaptados para a TV e o cinema e, apesar de ter publicado apenas três romances, o escritor possui reconhecimento internacional e, em 2016, recebeu o Prêmio Camões, o mais importante prêmio literário da língua portuguesa.

Mais de 600 estudantes se formaram ao longo dos dez anos do campus Lagoa do Sino da UFSCar. Os três primeiros cursos de graduação no local foram engenharias agronômica, ambiental e de alimentos. Em 2016, foram inaugurados os cursos de administração e de ciências biológicas, sendo que hoje o campus oferece também programas de pós-graduação em conservação da fauna e conservação e sustentabilidade.

"O sonho concretizado pode ser visto nas transformações que já identificamos a partir de cada estudante que passa por aqui, se forma, tem a sua vida transformada, muda o curso da história da sua família, e segue assim mudando o mundo”, disse a reitora da UFSCar Ana Beatriz de Oliveira.

<><> Educação onde antes já foi lugar de nazismo e trabalho escravo

Outro aspecto que traz ainda mais significado para o campus Lagoa do Sino da UFSCar é o fato de que as fazendas da região, no passado, já pertenceram a empresários ligados ao nazismo e ao integralismo. Além disso, em uma dessas áreas rurais, entre 1932 e 1941, 50 meninos negros, órfãos do Rio de Janeiro, foram submetidos a trabalho escravo.

Esse passado foi rememorado pelo estudante de engenharia agrônoma da UFSCar Murilo Piccoli durante a cerimônia desta terça-feira (23) em Buri.

“É com orgulho que eu digo que um lugar que já foi senzala, hoje é uma universidade pública. As políticas de ações afirmativas pintaram a universidade de povo, permitindo que hoje possamos dialogar e aprender com estudantes negros, indígenas, LGBTQIA+, PCDs, quilombolas, estrangeiros e advindos do ensino básico público”, declarou.

O historiador Sidney Aguilar Filho, autor de uma pesquisa sobre a história dos nazistas e dos meninos escravizados na região e que deu origem ao livro "Entre Integralistas e Nazistas: Racismo, Educação e Autoritarismo no Sertão de São Paulo", também esteve presente na cerimônia e presenteou Lula com um exemplar da obra.

 

•        FASCISMO TRANSFÓBICO: "Meu filho está morto": Elon Musk destila ataque transfóbico à filha Vivian Jenna Wilson

Dono de uma fortuna que ultrapassa R$ 1 trilhão, o bilionário Elon Musk proferiu um ataque transfóbico contra a própria filha, Vivian Jenna Wilson, de 20 anos, que fez cirurgia de redesignação de gênero em 2022, em entrevista ao psicólogo extremista Jordan Peterson, admirador de Adolph Hitler e idolatrado pela ultradireita fascista - incluindo o clã Bolsonaro.

Na entrevista, transmitida pelo site conservador Daily Wire, Musk usou o pronome masculino para dizer que "meu filho, Xavier, está morto", creditando a morte à chamada cultura "woke", que se tornou sinônimo de políticas liberais progressistas sobre feminismo e LGBTQIA+, entre outros.

"Eu perdi meu filho, basicamente. Eles chamam isso de 'deadnaming' por um motivo. O motivo pelo qual eles chamam isso de 'deadnaming' é porque seu filho está morto. Meu filho, Xavier, está morto. Morto pelo vírus da mente 'woke'", disse Musk, referindo-se ao uso do nome civil pelas pessoas transgêneros.

Ao psicólogo extremista, que esteve recentemente no Brasil, o bilionário que financia a campanha de Donald Trump nos EUA afirma que foi enganado, durante a pandemia, para ser convencido a autorizar que a filha tomasse bloqueadores de hormônios da puberdade.

"Fui basicamente enganado para assinar documentos para um dos meus filhos mais velhos, Xavier", afirmou. "Isso foi antes de eu ter qualquer entendimento do que estava acontecendo. A Covid estava acontecendo, então houve muita confusão e me disseram que Xavier poderia cometer suicídio", emendou.

Musk, que está numa cruzada contra uma lei na Califórnia que impede escolas de notificarem pais caso seus filhos se identifiquem como transgêneros, defendeu a "prisão" para pessoas que apoiam os bloqueadores.

"É incrivelmente maligno, e concordo com você que as pessoas que estão promovendo isso deveriam ir para a prisão", disse a Jordan.

Musk ainda colocou como "missão" acabar com os procedimentos de mudança de gênero.

<><> Vivian Jenna

Vivian Jenna é uma dos seis filhos de Musk com a ex-esposa Justine Wilson. Griffin, de 18 anos, é gêmeo de Vivian e, assim como os trigêmeos Kai, Saxon e Damian, de 16 anos, foram concebidos por fertilização in vitro.

Do casamento com a cantora Grimes, Musk tem mais dois filhos com nomes absolutamente estranhos: X AE A-12, de 1 ano, que recebe o apelido de X, e Exa Dark Siderael, cujo apelido é Y, esta última via barriga de aluguel.

 

Fonte: Fórum

 

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