Conheça oito fatores que podem causar
lapsos de memória e saiba como evitá-los
A maioria das pessoas
tem lapsos de memória de vez em quando. Não é difícil encontrar quem comente
que saiu para fazer compras no supermercado, por exemplo, e voltou sem vários
itens. Ou alguém que diga que não se recorda onde deixou os óculos ou as chaves
do carro. Alguém que abra a geladeira, mas não lembre exatamente o que foi
buscar. Ou, ainda, quem esteja conversando e, de repente, fique em silêncio
alguns segundos porque não se recorda daquela palavra óbvia, que deveria estar
na ponta da língua.
Casos assim fazem
parte da rotina de qualquer pessoa, mas o aumento da frequência desses lapsos
de memória tem feito muita gente pensar que pode ter algum problema grave de
saúde envolvido, algo como Alzheimer precoce e até mesmo um tumor.
Na maioria das vezes,
os lapsos acontecem por questões comportamentais mesmo, mas há casos que
requerem o aconselhamento profissional. A Agência Einstein ouviu especialistas
e elencou várias razões que podem causar os lapsos de memória.
1 — Sobrecarga na
rotina e estresse
O cérebro tem a função
de memória de curto prazo, que é a capacidade de manter todas as informações
disponíveis por um curto período de tempo. O processo para transformar essa
memória de curto prazo em uma de longo prazo é complexo. Assim, o excesso de informações
do nosso dia a dia, associado ao acúmulo de estresse, pode deixar o nosso
cérebro sobrecarregado e afetar diretamente a nossa capacidade de memória, que
falha em alguns momentos.
“A sobrecarga na
rotina e o estresse podem ocasionar lapsos de memória à medida que o nosso
corpo produza respostas sistêmicas para esse estresse, inclusive modificações
em certas regiões do cérebro responsáveis pela memória. Os processos cognitivos
são afetados e dificultam a inserção de detalhes e a integração de novas
informações em nossas memórias”, explica o psiquiatra Elton Kanomata, do
Hospital Israelita Albert Einstein.
2 – Ansiedade ou
depressão
Existem, sem dúvida,
casos de lapsos de memória que estão associados a algum problema de saúde,
especialmente ansiedade e depressão, que podem afetar a memória de diferentes
maneiras. Por exemplo: alguém com ansiedade pode ter dificuldade em se
concentrar e processar informações, resultando em lapsos de memória
temporários.
Já uma pessoa com
depressão pode ter a sua capacidade de retenção de informações no cérebro
prejudicadas devido a alterações nos neurotransmissores. “Um exemplo comum é
esquecer compromissos ou detalhes importantes do dia a dia devido a essas
condições”, explica a neurologista Polyana Piza, do Hospital Israelita Albert
Einstein de Goiânia.
O psiquiatra Kanomata
diz ainda que os transtornos mentais comumente expressam sintomas cognitivos,
entre eles, os prejuízos na memória. “Um dos principais mecanismos que levam a
isso se relaciona ao mesmo processo ligado ao estresse em regiões específicas
do cérebro, que podem afetar, a longo prazo, o desempenho cognitivo”, alertou.
3 – Noites maldormidas
Não é de hoje que as
pessoas dormem mal – estima-se que 30% das pessoas tenham algum distúrbio do
sono, como a insônia. Segundo a neurologista Letícia Soster, do Grupo Médico
Assistencial do Sono do Hospital Israelita Albert Einstein, as pessoas frequentemente
não priorizam a qualidade do sono.
“Muitos vão para cama
mais tarde do que precisam. Na cama, olham o celular e outras telas, o que
inibe a produção e a liberação de melatonina. As pessoas acabam dormindo
vencidas pelo cansaço, e não de forma natural, que seria o corpo relaxar e se
preparar para o sono. E elas têm que acordar muito cedo. A consequência é que a
maioria está em privação de sono e isso pode causar dificuldade de
concentração, de lembrar palavras, de compreender um contexto. É o efeito do
cansaço que não foi recuperado”, explica a especialista.
De acordo com a
neurologista, problemas com o sono alteram o mecanismo da atenção. “Muitas
vezes, quando o nosso cérebro não está descansado o suficiente, ele gasta
energia se ocupando em permanecer vígil. A necessidade de o cérebro manter a
vigilância suplanta a capacidade de nos mantermos atentos e pode causar
problemas de memória”, diz.
Além disso, como estão
muito privadas de sono, as pessoas têm episódios de sono muito curtos (chamados
microssonos). “É muito comum que as pessoas em privação de sono deem aquela
‘pescadinha’ às vezes, sem perceber. Quando isso acontece, a informação que ela
estava adquirindo é parcialmente quebrada. Isso faz com que a pessoa não
consiga estar atenta ao que está acontecendo porque ela está preocupada em se
manter acordada. Como a informação não foi armazenada pelo cérebro, causa os
lapsos de memória”, alerta.
Soster ressalta também
que o uso excessivo de telas e mídias sociais deixa o cérebro “destreinado”
para armazenar informações. As pessoas usam muitas mídias ao mesmo tempo, que
estimulam o prazer imediato. Isso é como destreinar o cérebro a ter uma leitura
mais longa e aprofundada. Muito provavelmente, as pessoas com queixas de
memória não estão conseguindo se concentrar em uma leitura. É como se o cérebro
estivesse sendo treinado a ter raciocínios mais curtos, e não mais densos”,
diz.
A especialista reforça
que, se nenhum desses fatores comportamentais estiverem presentes quando
avaliamos o que causa os lapsos de memória, é importante procurar uma avaliação
adequada para ver se não é uma questão mais profunda.
4 – Início da
menopausa
A menopausa é marcada
pela última menstruação, que geralmente ocorre entre os 45 e 55 anos. Nessa
fase, o corpo da mulher passa a sofrer diversas mudanças hormonais e, entre os
sintomas mais clássicos, está, sem dúvida, o fogacho (ondas de calor). Mas eles
não são os únicos – os lapsos de memória e a falta de atenção também são sinais
que se manifestam mais frequentemente do que se imagina.
A queda nos níveis
hormonais se manifesta por meio de diversos sintomas físicos e mentais,
incluindo os transtornos cognitivos, com impacto na memória, na linguagem e até
na orientação de tempo e espaço. Chamados de “névoa mental”, esses sintomas
costumam permanecer por cerca de quatro anos.
“Durante a menopausa,
as mudanças hormonais podem afetar a memória em algumas mulheres. Por exemplo,
elas podem ficar mais dispersas e sem foco, esquecer as palavras no meio da
frase, ter dificuldades para lembrar o que ia dizer ou para concluir o raciocínio,
ter dificuldade em lembrar onde colocaram objetos, esquecer compromissos ou ter
problemas para se concentrar em tarefas mentais”, diz Piza, neurologista do
Einstein.
5 – Alimentação
desregulada
Uma alimentação
inadequada também pode afetar a memória, uma vez que uma dieta pobre em
nutrientes essenciais, como vitaminas do complexo B, ácidos graxos ômega-3 e
antioxidantes são importantes para a saúde cerebral. Somando-se a isso, dietas
ricas em alimentos processados, gorduras saturadas e açúcares podem levar a um
estado crônico de inflamação no corpo, incluindo o cérebro. A inflamação
crônica está associada a danos nas células cerebrais e ao comprometimento da
função cognitiva, incluindo a memória.
“Os ácidos graxos
ômega-3 presentes nos óleos de peixes, compostos polifenólicos (por exemplo,
flavonoides de cacau) e compostos antioxidantes (como as vitaminas A, C e E)
têm sido associados à melhora da memória. Entretanto, mais do que se focar em
um nutriente ou um produto alimentício único, a atenção deve estar direcionada
aos alimentos integrais e padrões alimentares. Em situações cotidianas, os
indivíduos consomem padrões dietéticos que envolvem interações complexas entre
os nutrientes. Assim, não adianta suplementar cápsulas de ômega-3 ou outra
vitamina específica e consumir frequentemente frituras e alimentos
ultraprocessados”, alerta a nutricionista Serena Del Favero, do Hospital
Israelita Albert Einstein.
6 – Déficit de Atenção
e Hiperatividade (TDAH)
De acordo com a
neurologista Piza, adultos com TDAH podem experimentar problemas de memória
devido à dificuldade em manter o foco e a atenção. Por exemplo, eles podem
esquecer compromissos, perder objetos com frequência e ter dificuldade em
lembrar detalhes de conversas recentes. Um exemplo seria uma pessoa com TDAH
que constantemente precisa fazer anotações para lembrar tarefas simples do
cotidiano.
De acordo com o
psiquiatra Kanomata, no caso do TDAH, as falhas na memória decorrem do desvio
da atenção para onde a pessoa deveria estar focada. “Pessoas com TDAH têm
frequentemente dificuldade em manter a atenção ou prestar atenção em detalhes,
se distraem com facilidade. Consequentemente, a qualidade de como as
informações são registradas na memória é comprometida e, no momento da evocação
dessas memórias, se destacam esses lapsos”, explica.
7 – Infecções prévias
Muitas pessoas que
foram infectadas pelo coronavírus passaram a relatar falta de concentração,
esquecimento e sensação de cansaço mental após a infecção. Segundo Piza, alguns
estudos sugerem que a infecção por Covid-19 pode causar problemas cognitivos, incluindo
lapsos de memória, conhecidos como “mente nebulosa” e “névoa cerebral”.
“Há casos de pacientes
que se recuperaram da Covid-19 e relataram dificuldades em lembrar palavras
comuns, nomes de pessoas conhecidas e eventos recentes. Não se sabe ao certo o
mecanismo exato fisiopatológico que leva a esses episódios, mas acredita-se que
seja algo transitório”, diz.
Kanomata ressalta que
qualquer infecção que afete o sistema nervoso central – e não apenas a Covid-19
– pode levar a episódios com lapsos de memória. “Está bem reconhecido na
literatura que a infecção por Covid-19 pode manifestar sintomas neuropsiquiátricos,
inclusive da memória, podendo persistir após a infecção aguda, sendo chamados
comumente de Covid longa. Desses casos, cerca de um terço acaba reportando
queixas com relação à memória de curto prazo”, afirma.
8 – Sinais de algo
mais grave (tumor, Alzheimer precoce)
De acordo com Piza,
lapsos de memória persistentes, especialmente quando acompanhados por outros
sintomas preocupantes ou déficits neurológicos associados, podem indicar
condições mais sérias que precisam ser avaliadas por um especialista.
“Esquecer o nome de
uma pessoa ocasionalmente é normal, mas esquecer nomes de pessoas conhecidas
repetidamente ou não reconhecer pessoas próximas pode ser um importante sinal
de alerta. Além disso, confusão mental, dificuldade em realizar tarefas simples
do dia a dia e mudanças na personalidade são sinais que devem ser avaliados por
um médico neurologista”, frisa.
Kanomata reforça que é
importante sempre investigar as possíveis causas dos esquecimentos frequentes.
“Na consulta, o médico investigará não somente a queixa de esquecimento, como
também outros sintomas que possam estar presentes. O conjunto deles pode confluir
para outros diagnósticos. Além do atendimento clínico, exames complementares
podem ser pedidos pelo médico para auxiliar no processo investigativo”, diz.
• O que fazer para prevenir?
De acordo com
Kanomata, o manejo do estresse pode ajudar muito a reduzir os lapsos de
memória. Isso inclui ter hábitos de vida saudáveis, entre eles evitar o consumo
de álcool, tabaco e drogas, realizar atividade física regularmente e manter uma
alimentação saudável. Além disso, outras estratégias são benéficas, como a
meditação e a acupuntura.
“Nos casos em que se
perde o equilíbrio entre estresse e saúde, é o momento em que podemos estar
diante do comprometimento de nossa saúde mental e a procura por profissionais
especializados deve ser indicada”, diz.
Piza destaca também
que é importante estabelecer algumas estratégias, como organização do tempo,
técnicas de relaxamento e cuidados com a saúde geral. Ela ressalta ser
necessário estimular o cérebro com atividades desafiadoras, como aprender um
novo idioma, praticar instrumentos musicais ou participar de jogos que envolvam
o raciocínio.
Fonte: CNN Brasil
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