Perder uma pessoa amada pode acelerar
envelhecimento, mostra estudo
Perder uma pessoa
amada, como um membro da família, amigo ou companheiro amoroso, pode fazer você
envelhecer mais rápido. É o que mostra um novo estudo feito por pesquisadores
da Columbia University School of Public Health e do Butler Columbia Aging Center.
A pesquisa foi publicada na revista científica JAMA Network Open na
segunda-feira (29).
Os cientistas definem
o envelhecimento biológico como o declínio gradual da saúde funcional das
células, tecidos e órgãos, aumentando o risco de doenças crônicas. Esse tipo de
envelhecimento é medido a partir de marcadores de DNA conhecidos como relógios
epigenéticos.
“Poucos estudos
analisaram como a perda de um ente querido em diferentes estágios da vida afeta
esses marcadores de DNA, especialmente em amostras de estudo que representam a
população dos EUA”, explica Allison Aiello, professora de saúde da longevidade da
James S. Jackson e autora principal do estudo, em comunicado à imprensa. “Nosso
estudo mostra fortes ligações entre a perda de entes queridos ao longo do curso
da vida, da infância à idade adulta, e o envelhecimento biológico mais rápido
nos EUA”.
O estudo sugere que o
impacto do luto no envelhecimento pode ser visto antes da meia-idade e pode
contribuir para disparidades relacionadas à saúde entre grupos raciais e
étnicos.
Para chegar às
conclusões, os pesquisadores usaram dados do National Longitudinal Study of
Adolescent to Adult Health, iniciado em 1994 e 1995. O estudo acompanhou os
participantes desde a adolescência até a idade adulta.
períodos, chamados de
“ondas”. Na primeira onda, foram entrevistados 20.745 adolescentes entre 12 e
19 anos. Desde então, eles foram acompanhados ao longo da vida. A quinta onda
aconteceu entre 2016 e 2018, com 12.300 entrevistas dos participantes originais.
Na última onda, os
participantes foram convidados para um exame domiciliar adicional, em que foram
recolhidas amostras de sangue de quase 4.500 participantes para a realização de
teste de DNA.
O estudo analisou as
perdas sofridas durante a infância e adolescência (até os 18 anos) e na vida
adulta (entre 19 e 43 anos). Os pesquisadores também examinaram o número de
perdas sofridas durante esse mesmo período. Em seguida, dados de envelhecimento
biológico foram avaliados a partir da metilação do DNA do sangue usando
relógios epigenéticos.
Segundo a pesquisa,
quase 40% dos participantes experimentaram, pelo menos, uma perda de ente
querido na vida adulta, entre as idades de 33 e 43 anos. A perda parental foi
mais comum na vida adulta (27%) do que na infância e na adolescência (6%). A
proporção de participantes que relataram uma perda de ente querido foi maior
entre participantes negros (57%) e hispânicos (41%), em comparação com os
brancos (34%).
Ainda de acordo com os
pesquisadores, pessoas que viveram duas ou mais perdas tinham idades biológicas
mais velhas segundo os relógios epigenéticos. Vivenciar duas ou mais perdas na
vida adulta mostrou ter uma relação mais forte com o envelhecimento biológico
do que uma única perda e do que nenhuma perda.
• A idade em que a perda ocorre parece
influenciar no envelhecimento
Segundo Aiello, a
conexão entre a perda de um ente querido e problemas de saúde ao longo da vida
“é bem estabelecida”. “Mas alguns estágios da vida podem ser mais vulneráveis
aos riscos de saúde associados à perda e o acúmulo de perdas parece ser um fator
significativo”, afirma.
Por exemplo, perder um
dos pais ou um irmão na infância pode ser traumático e, consequentemente,
aumentar o risco para doenças relacionadas à saúde mental, como depressão e
ansiedade, além de problemas cognitivos, maiores riscos de doenças cardíacas e
uma maior chance de morte prematura, segundo os pesquisadores. Os riscos também
podem ser maiores quando a perda ocorre no início da vida adulta.
Além disso, perdas
repetidas podem aumentar o risco de doenças cardíacas, mortalidade e demência,
e os impactos podem persistir ou se tornar aparentes muito tempo depois do
evento.
“Ainda não entendemos
completamente como a perda leva à saúde precária e à mortalidade mais alta, mas
o envelhecimento biológico pode ser um mecanismo, conforme sugerido em nosso
estudo. Pesquisas futuras devem se concentrar em encontrar maneiras de reduzir
perdas desproporcionais entre grupos vulneráveis. Para aqueles que vivenciam a
perda, fornecer recursos para lidar e abordar o trauma é essencial”, concluiu
Aiello.
• Somatização: o que é o conjunto de
sintomas físicos agravado pelas emoções
Não é difícil
encontrar pessoas que se queixam há anos de dores que não são detectáveis em
exames de imagem e enfrentam dificuldades para obter um diagnóstico. Saber
diferenciar os sintomas físicos de origem psíquica é um dos grandes desafios
tanto para os médicos quanto para os pacientes. A resposta para esse intrincado
mistério é a somatização, que é uma condição psicossomática que se manifesta
como uma desordem física no corpo, originada ou agravada pelas emoções do
paciente.
A somatização pode
surgir após um trauma, separação, luto, episódio de estresse, entre outras
causas. Geralmente, explicam os especialistas, aqueles que somatizam percebem
apenas os sintomas físicos e não os relacionam a algum transtorno mental.
“Costumo explicar que
a somatização é um termo guarda-chuva que se refere a um conjunto de sintomas
físicos relacionados a algum conflito intrapsíquico, mental ou estresse
vivenciado por uma pessoa que tem dificuldade de falar sobre ou lidar com seus
sentimentos e emoções”, explica o psiquiatra Luiz Gustavo Vala Zoldan,
coordenador médico de saúde mental do Hospital Israelita Albert Einstein.
Ele diz que esse
conflito interno acaba se expressando em sintomas físicos, que podem incluir
dores pelo corpo, como articulares, musculares, de cabeça e abdominais, podendo
até parecer uma gastrite, mas não se limitando a isso.
“A somatização pode
ainda causar taquicardias, dormências, formigamentos em partes do corpo,
distúrbios na fala, alterações na marcha ou até mesmo um tipo de paralisação de
algum membro inferior ou superior”, diz Zoldan.
Conforme a
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com
a Saúde (CID), para ser considerado um somatizador, o paciente deve apresentar
mais de três sintomas, de sistemas orgânicos diferentes, por mais de dois anos.
São eles:
• Dolorosos: dor de cabeça, nas costas ou
articular;
• Gastrointestinais: náusea, diarreia ou
vômito;
• Cardiorrespiratórios: falta de ar,
palpitação, taquicardia ou aperto no peito;
• Neurológicos: lapsos de memória, visão
embaçada/turva ou dificuldade de raciocínio, dormências, paralisias, distúrbios
na fala ou alterações na marcha;
• Sexuais/reprodutivos: baixa libido,
dores na relação sexual ou alterações no ciclo menstrual.
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Somatização: sintomas são reais ou inventados?
O psiquiatra explica
que é muito importante esclarecer que esses sintomas, dores e sensações são
reais, não imaginários.
“É diferente do que
chamamos de simulação ou outros processos. Na simulação, de fato, o paciente
produz algum tipo de sintoma intencionalmente para algum ganho secundário. Já
na somatização, não há nenhum ganho secundário. É basicamente uma resposta do corpo,
como um mecanismo de proteção por não conseguir lidar com uma situação dolorosa
ou estressante. É tudo real: dores, paralisias, formigamentos, espasmos em
partes da musculatura, falta de sensibilidade em áreas do corpo, tudo isso
sendo evidenciado por exame físico e que pode ser mensurado”, afirma.
Apenas aqueles que
passaram ou estão passando por um processo de somatização compreendem o peso
dessa carga, que frequentemente perdura por anos. Esse foi o caso de Maria
Martha da Fé, uma autônoma carioca de 58 anos, que começou a sentir os sintomas
aos 38 e só conseguiu receber o diagnóstico correto aos 45.
A partir do momento em
que começou a sentir episódios de mal-estar, irritabilidade, dores pelo corpo —
inclusive nas articulações –, insônia e ansiedade, ela procurou ajuda médica,
passando por diversas especialidades, como clínico geral, ortopedista, reumatologista
e dermatologista. A autônoma também fez muitos exames, como ultrassonografias,
ressonância magnética e até uma biópsia para investigar um câncer.
“Recebi diversos
diagnósticos como sobrecarga emocional, síndrome de Burnout, fibromialgia,
condropatia patelar (quando as lesões da cartilagem ocorrem na patela do
joelho), abaulamento da coluna (hérnias de disco em estágio inicial), até que
busquei um psiquiatra por indicações desses profissionais. Foram oito anos para
que eu fosse diagnosticada corretamente”, conta a paciente, que participou de
um grupo de apoio.
“Éramos um grupo de
mulheres com a terapeuta. Colocamos ali todos os nossos sentimentos e
preocupações para fora, aprendendo como lidar com nossas dores internas”,
complementa. Ela conta que também foi orientada pelos médicos a praticar
atividades físicas, como musculação, hidroginástica e diversos outros
tratamentos para fortalecer musculatura e articulações, além de trazer
relaxamento.
“Nos últimos anos,
entendi que a somatização dessas dores e inflamações afeta o meu emocional, as
relações sociais e conjugais, além do trabalho. Todo esse processo trouxe um
prejuízo emocional muito grande. Tive que repensar toda a minha vida. É importante
explicar que os sintomas não desaparecem, apenas tratamos do nosso emocional e
conseguimos estabilizar os sintomas”, conta.
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Mecanismo de ‘luta e fuga’
No processo de
somatização ocorre o mecanismo de “luta ou fuga” decorrente da preocupação
excessiva com os sintomas apresentados, o que leva o organismo a liberar uma
série de hormônios.
“Algumas pesquisas já
revelaram que o sistema nervoso simpático guarda uma relação íntima com o
estresse. Essa divisão do sistema nervoso autônomo controla as respostas do
organismo em situações de perigo iminente. Por meio de uma onda de adrenalina e
cortisol, o sistema nervoso simpático faz o coração bater mais rápido, a
pressão arterial subir, a respiração acelerar e as pupilas dilatarem, entre
outros efeitos sistêmicos que preparam o corpo para responder rapidamente em
situações de luta ou fuga”, explica a coordenadora da pós-graduação em
Endocrinologia do Instituto Superior de Medicina (ISMD), Claudia Chang.
<><> Como
deve ser feito o diagnóstico?
Segundo Zoldan, o
diagnóstico correto de somatização é obtido por meio de uma história clínica
bem-feita, uma anamnese psiquiátrica adequada, além de exames físicos e
psíquicos.
“Os exames físicos, em
especial, são fundamentais, uma vez que em casos de paralisias, parestesias ou
mesmo dores é possível perceber incongruências em relação à região paralisada e
que podem sugerir um diagnóstico mais somático. Ainda assim, serão necessários
exames complementares para eliminar a possibilidade de causas orgânicas e
fechar o diagnóstico de somatização”, explica o psiquiatra do Einstein.
O tratamento da
somatização deve ser sempre com uma equipe multidisciplinar, envolvendo a
participação de médicos, psicólogos e psiquiatras. O objetivo é ajudar o
paciente a entender a relação entre os seus sintomas físicos e a sua saúde
mental, além de desenvolver mecanismos de enfrentamento para lidar com o
estresse e as emoções negativas.
“Algumas vezes o
processo envolve ainda a indicação de medicamentos psiquiátricos,
principalmente quando é diagnosticada uma depressão, ansiedade ou outro
transtornos psiquiátricos. Nesses casos, são indicados antidepressivos,
ansiolíticos ou até mesmo antipsicóticos em doses mais baixas. Entretanto, o
tratamento principal da somatização é a psicoterapia, seja através de Terapia
Cognitivo Comportamental (TCC), Terapia Interpessoal (TIP), psicanálise, entre
outras linhas”, ressalta o especialista.
O psiquiatra sempre
orienta seus pacientes diagnosticados com somatização a iniciar o processo de
psicoterapia, cuidar da higiene do sono, buscar novas formas de incluir mais
momentos de bem-estar e atividades prazerosas em seu dia, além de procurar maneiras
diferentes de lidar com seus problemas, com apoio social e rede de proteção.
Outra recomendação
essencial é não ingerir bebidas alcoólicas, drogas ilícitas ou medicamentos por
conta própria, uma vez que isso pode agravar os sintomas da somatização. “Mesmo
que gere uma sensação de melhora provisória, isso pode fazer com que os sintomas
voltem com muito mais força”, alerta Zoldan.
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Atividade física faz parte do tratamento
A prática regular de
atividades físicas também é recomendada, pois o movimento é uma excelente
maneira de lidar com o estresse e as dificuldades da vida. Além disso, aumenta
a produção de endorfina, que, por sua vez, promove uma sensação de bem-estar e
auxilia na gestão do estresse.
“A endorfina é um
hormônio que é produzido pela hipófise anterior em resposta a alguns estímulos,
dentre eles, a atividade física. Assim como outros hormônios e
neurotransmissores, como a serotonina, a ocitocina e a dopamina, possuem ação
em determinadas áreas do cérebro envolvidas no mecanismo de prazer e
recompensa”, explica a endocrinologista Chang. “A partir do momento em que
essas áreas são ativadas, há uma redução no mecanismo de ansiedade e na
ativação corticotrófica (via do cortisol), atenuando os sintomas psíquicos e,
consequentemente, também os físicos decorrentes do quadro de somatização”,
finaliza.
Fonte: CNN Brasil
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