quarta-feira, 31 de julho de 2024

Perder uma pessoa amada pode acelerar envelhecimento, mostra estudo

Perder uma pessoa amada, como um membro da família, amigo ou companheiro amoroso, pode fazer você envelhecer mais rápido. É o que mostra um novo estudo feito por pesquisadores da Columbia University School of Public Health e do Butler Columbia Aging Center. A pesquisa foi publicada na revista científica JAMA Network Open na segunda-feira (29).

Os cientistas definem o envelhecimento biológico como o declínio gradual da saúde funcional das células, tecidos e órgãos, aumentando o risco de doenças crônicas. Esse tipo de envelhecimento é medido a partir de marcadores de DNA conhecidos como relógios epigenéticos.

“Poucos estudos analisaram como a perda de um ente querido em diferentes estágios da vida afeta esses marcadores de DNA, especialmente em amostras de estudo que representam a população dos EUA”, explica Allison Aiello, professora de saúde da longevidade da James S. Jackson e autora principal do estudo, em comunicado à imprensa. “Nosso estudo mostra fortes ligações entre a perda de entes queridos ao longo do curso da vida, da infância à idade adulta, e o envelhecimento biológico mais rápido nos EUA”.

O estudo sugere que o impacto do luto no envelhecimento pode ser visto antes da meia-idade e pode contribuir para disparidades relacionadas à saúde entre grupos raciais e étnicos.

Para chegar às conclusões, os pesquisadores usaram dados do National Longitudinal Study of Adolescent to Adult Health, iniciado em 1994 e 1995. O estudo acompanhou os participantes desde a adolescência até a idade adulta.

períodos, chamados de “ondas”. Na primeira onda, foram entrevistados 20.745 adolescentes entre 12 e 19 anos. Desde então, eles foram acompanhados ao longo da vida. A quinta onda aconteceu entre 2016 e 2018, com 12.300 entrevistas dos participantes originais.

Na última onda, os participantes foram convidados para um exame domiciliar adicional, em que foram recolhidas amostras de sangue de quase 4.500 participantes para a realização de teste de DNA.

O estudo analisou as perdas sofridas durante a infância e adolescência (até os 18 anos) e na vida adulta (entre 19 e 43 anos). Os pesquisadores também examinaram o número de perdas sofridas durante esse mesmo período. Em seguida, dados de envelhecimento biológico foram avaliados a partir da metilação do DNA do sangue usando relógios epigenéticos.

Segundo a pesquisa, quase 40% dos participantes experimentaram, pelo menos, uma perda de ente querido na vida adulta, entre as idades de 33 e 43 anos. A perda parental foi mais comum na vida adulta (27%) do que na infância e na adolescência (6%). A proporção de participantes que relataram uma perda de ente querido foi maior entre participantes negros (57%) e hispânicos (41%), em comparação com os brancos (34%).

Ainda de acordo com os pesquisadores, pessoas que viveram duas ou mais perdas tinham idades biológicas mais velhas segundo os relógios epigenéticos. Vivenciar duas ou mais perdas na vida adulta mostrou ter uma relação mais forte com o envelhecimento biológico do que uma única perda e do que nenhuma perda.

•        A idade em que a perda ocorre parece influenciar no envelhecimento

Segundo Aiello, a conexão entre a perda de um ente querido e problemas de saúde ao longo da vida “é bem estabelecida”. “Mas alguns estágios da vida podem ser mais vulneráveis aos riscos de saúde associados à perda e o acúmulo de perdas parece ser um fator significativo”, afirma.

Por exemplo, perder um dos pais ou um irmão na infância pode ser traumático e, consequentemente, aumentar o risco para doenças relacionadas à saúde mental, como depressão e ansiedade, além de problemas cognitivos, maiores riscos de doenças cardíacas e uma maior chance de morte prematura, segundo os pesquisadores. Os riscos também podem ser maiores quando a perda ocorre no início da vida adulta.

Além disso, perdas repetidas podem aumentar o risco de doenças cardíacas, mortalidade e demência, e os impactos podem persistir ou se tornar aparentes muito tempo depois do evento.

“Ainda não entendemos completamente como a perda leva à saúde precária e à mortalidade mais alta, mas o envelhecimento biológico pode ser um mecanismo, conforme sugerido em nosso estudo. Pesquisas futuras devem se concentrar em encontrar maneiras de reduzir perdas desproporcionais entre grupos vulneráveis. Para aqueles que vivenciam a perda, fornecer recursos para lidar e abordar o trauma é essencial”, concluiu Aiello.

 

•        Somatização: o que é o conjunto de sintomas físicos agravado pelas emoções

Não é difícil encontrar pessoas que se queixam há anos de dores que não são detectáveis em exames de imagem e enfrentam dificuldades para obter um diagnóstico. Saber diferenciar os sintomas físicos de origem psíquica é um dos grandes desafios tanto para os médicos quanto para os pacientes. A resposta para esse intrincado mistério é a somatização, que é uma condição psicossomática que se manifesta como uma desordem física no corpo, originada ou agravada pelas emoções do paciente.

A somatização pode surgir após um trauma, separação, luto, episódio de estresse, entre outras causas. Geralmente, explicam os especialistas, aqueles que somatizam percebem apenas os sintomas físicos e não os relacionam a algum transtorno mental.

“Costumo explicar que a somatização é um termo guarda-chuva que se refere a um conjunto de sintomas físicos relacionados a algum conflito intrapsíquico, mental ou estresse vivenciado por uma pessoa que tem dificuldade de falar sobre ou lidar com seus sentimentos e emoções”, explica o psiquiatra Luiz Gustavo Vala Zoldan, coordenador médico de saúde mental do Hospital Israelita Albert Einstein.

Ele diz que esse conflito interno acaba se expressando em sintomas físicos, que podem incluir dores pelo corpo, como articulares, musculares, de cabeça e abdominais, podendo até parecer uma gastrite, mas não se limitando a isso.

“A somatização pode ainda causar taquicardias, dormências, formigamentos em partes do corpo, distúrbios na fala, alterações na marcha ou até mesmo um tipo de paralisação de algum membro inferior ou superior”, diz Zoldan.

Conforme a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), para ser considerado um somatizador, o paciente deve apresentar mais de três sintomas, de sistemas orgânicos diferentes, por mais de dois anos. São eles:

•        Dolorosos: dor de cabeça, nas costas ou articular;

•        Gastrointestinais: náusea, diarreia ou vômito;

•        Cardiorrespiratórios: falta de ar, palpitação, taquicardia ou aperto no peito;

•        Neurológicos: lapsos de memória, visão embaçada/turva ou dificuldade de raciocínio, dormências, paralisias, distúrbios na fala ou alterações na marcha;

•        Sexuais/reprodutivos: baixa libido, dores na relação sexual ou alterações no ciclo menstrual.

<><> Somatização: sintomas são reais ou inventados?

O psiquiatra explica que é muito importante esclarecer que esses sintomas, dores e sensações são reais, não imaginários.

“É diferente do que chamamos de simulação ou outros processos. Na simulação, de fato, o paciente produz algum tipo de sintoma intencionalmente para algum ganho secundário. Já na somatização, não há nenhum ganho secundário. É basicamente uma resposta do corpo, como um mecanismo de proteção por não conseguir lidar com uma situação dolorosa ou estressante. É tudo real: dores, paralisias, formigamentos, espasmos em partes da musculatura, falta de sensibilidade em áreas do corpo, tudo isso sendo evidenciado por exame físico e que pode ser mensurado”, afirma.

Apenas aqueles que passaram ou estão passando por um processo de somatização compreendem o peso dessa carga, que frequentemente perdura por anos. Esse foi o caso de Maria Martha da Fé, uma autônoma carioca de 58 anos, que começou a sentir os sintomas aos 38 e só conseguiu receber o diagnóstico correto aos 45.

A partir do momento em que começou a sentir episódios de mal-estar, irritabilidade, dores pelo corpo — inclusive nas articulações –, insônia e ansiedade, ela procurou ajuda médica, passando por diversas especialidades, como clínico geral, ortopedista, reumatologista e dermatologista. A autônoma também fez muitos exames, como ultrassonografias, ressonância magnética e até uma biópsia para investigar um câncer.

“Recebi diversos diagnósticos como sobrecarga emocional, síndrome de Burnout, fibromialgia, condropatia patelar (quando as lesões da cartilagem ocorrem na patela do joelho), abaulamento da coluna (hérnias de disco em estágio inicial), até que busquei um psiquiatra por indicações desses profissionais. Foram oito anos para que eu fosse diagnosticada corretamente”, conta a paciente, que participou de um grupo de apoio.

“Éramos um grupo de mulheres com a terapeuta. Colocamos ali todos os nossos sentimentos e preocupações para fora, aprendendo como lidar com nossas dores internas”, complementa. Ela conta que também foi orientada pelos médicos a praticar atividades físicas, como musculação, hidroginástica e diversos outros tratamentos para fortalecer musculatura e articulações, além de trazer relaxamento.

“Nos últimos anos, entendi que a somatização dessas dores e inflamações afeta o meu emocional, as relações sociais e conjugais, além do trabalho. Todo esse processo trouxe um prejuízo emocional muito grande. Tive que repensar toda a minha vida. É importante explicar que os sintomas não desaparecem, apenas tratamos do nosso emocional e conseguimos estabilizar os sintomas”, conta.

<><> Mecanismo de ‘luta e fuga’

No processo de somatização ocorre o mecanismo de “luta ou fuga” decorrente da preocupação excessiva com os sintomas apresentados, o que leva o organismo a liberar uma série de hormônios.

“Algumas pesquisas já revelaram que o sistema nervoso simpático guarda uma relação íntima com o estresse. Essa divisão do sistema nervoso autônomo controla as respostas do organismo em situações de perigo iminente. Por meio de uma onda de adrenalina e cortisol, o sistema nervoso simpático faz o coração bater mais rápido, a pressão arterial subir, a respiração acelerar e as pupilas dilatarem, entre outros efeitos sistêmicos que preparam o corpo para responder rapidamente em situações de luta ou fuga”, explica a coordenadora da pós-graduação em Endocrinologia do Instituto Superior de Medicina (ISMD), Claudia Chang.

<><> Como deve ser feito o diagnóstico?

Segundo Zoldan, o diagnóstico correto de somatização é obtido por meio de uma história clínica bem-feita, uma anamnese psiquiátrica adequada, além de exames físicos e psíquicos.

“Os exames físicos, em especial, são fundamentais, uma vez que em casos de paralisias, parestesias ou mesmo dores é possível perceber incongruências em relação à região paralisada e que podem sugerir um diagnóstico mais somático. Ainda assim, serão necessários exames complementares para eliminar a possibilidade de causas orgânicas e fechar o diagnóstico de somatização”, explica o psiquiatra do Einstein.

O tratamento da somatização deve ser sempre com uma equipe multidisciplinar, envolvendo a participação de médicos, psicólogos e psiquiatras. O objetivo é ajudar o paciente a entender a relação entre os seus sintomas físicos e a sua saúde mental, além de desenvolver mecanismos de enfrentamento para lidar com o estresse e as emoções negativas.

“Algumas vezes o processo envolve ainda a indicação de medicamentos psiquiátricos, principalmente quando é diagnosticada uma depressão, ansiedade ou outro transtornos psiquiátricos. Nesses casos, são indicados antidepressivos, ansiolíticos ou até mesmo antipsicóticos em doses mais baixas. Entretanto, o tratamento principal da somatização é a psicoterapia, seja através de Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), Terapia Interpessoal (TIP), psicanálise, entre outras linhas”, ressalta o especialista.

O psiquiatra sempre orienta seus pacientes diagnosticados com somatização a iniciar o processo de psicoterapia, cuidar da higiene do sono, buscar novas formas de incluir mais momentos de bem-estar e atividades prazerosas em seu dia, além de procurar maneiras diferentes de lidar com seus problemas, com apoio social e rede de proteção.

Outra recomendação essencial é não ingerir bebidas alcoólicas, drogas ilícitas ou medicamentos por conta própria, uma vez que isso pode agravar os sintomas da somatização. “Mesmo que gere uma sensação de melhora provisória, isso pode fazer com que os sintomas voltem com muito mais força”, alerta Zoldan.

<><> Atividade física faz parte do tratamento

A prática regular de atividades físicas também é recomendada, pois o movimento é uma excelente maneira de lidar com o estresse e as dificuldades da vida. Além disso, aumenta a produção de endorfina, que, por sua vez, promove uma sensação de bem-estar e auxilia na gestão do estresse.

“A endorfina é um hormônio que é produzido pela hipófise anterior em resposta a alguns estímulos, dentre eles, a atividade física. Assim como outros hormônios e neurotransmissores, como a serotonina, a ocitocina e a dopamina, possuem ação em determinadas áreas do cérebro envolvidas no mecanismo de prazer e recompensa”, explica a endocrinologista Chang. “A partir do momento em que essas áreas são ativadas, há uma redução no mecanismo de ansiedade e na ativação corticotrófica (via do cortisol), atenuando os sintomas psíquicos e, consequentemente, também os físicos decorrentes do quadro de somatização”, finaliza.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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