ADARY OLIVEIRA: ‘O RETORNO DA REFINARIA DE
MATARIPE PARA A PETROBRAS’
Segundo informações
publicadas no site InvestNews a Acelen passou a sofrer pressão por parte da
Petrobras para que a refinaria de Mataripe retornasse à estatal desde a mudança
do governo. As pressões passavam pela venda de petróleo mais caro e com composição
química inadequada, situações que afetam o resultado do negócio. Na verdade, os
entendimentos entre a Petrobras e a Acelen tiveram início quando o
ex-presidente da Petrobras Jean Paul Prates retornou da Arábia Saudita em
setembro de 2023. O anúncio trazia a informação que a devolução da refinaria
ocorreria ainda no primeiro semestre de 2024, o que não ocorreu.
O assunto tem
despertado a atenção de todos pela importância que tem Mataripe para a economia
da Bahia, sendo a segunda maior refinaria do Brasil, responsável por 14% da
capacidade de refino brasileira e o maior contribuinte individual de ICMS do
Estado. A volta da refinaria para a Petrobras pode ser feita via compra dos
ativos fixos ou compra de participação no capital. Neste último caso a estatal
deverá ter mais de 50% do capital votante, tornando-se controladora da empresa
resultante da negociação. Poderá também ser a operadora da refinaria. Na
exploração e produção de petróleo a Petrobras tem se tornado operadora com
apenas 30% de participação nos consórcios. A permanência do grupo investidor
como sócio da empresa dona da refinaria é um bom negócio por se tornar sócio do
governo, com todas as benesses daí decorrentes.
Desde que assumiu o
controle dessa refinaria a Acelen tem demonstrado vontade de por aqui ficar.
Além do seu bom relacionamento com a comunidade, atendendo a pleitos de
governos municipais, instituições locais de pesquisa, sendo patrocinador dos
dois principais times de futebol da Bahia e investido em novos projetos. Na
recuperação da refinaria, voltando a nível de produção próximo à sua capacidade
nominal, investiu R$ 2 bilhões e, segundo técnicos que trabalham na operação da
unidade, terá de continuar investindo mais. Mereceu aplausos de todos o anúncio
e início de realização de seu Projeto Macaúba no qual pretende investir R$ 12
bilhões para a produção de óleo vegetal. A área de 200 mil hectares, entre
Camaçari na Bahia e Montes Claros em Minas Gerais usada para plantio, demandará
outra unidade industrial para a produção de diesel verde que se localizará nas
proximidades da refinaria. Acrescente-se o projeto de geração de energia solar
para suprimento da refinaria, localizada na região de Irecê, do qual vai
participar acionariamente investindo nele cerca de R$ 500 milhões. Por tudo que
o Mubadala, grupo da Arábia Saudita controlador da Acelen já realizou e está
realizando na Bahia deseja-se que ele continue por aqui, recuperando fábricas,
usando produtos naturais como matéria prima, substituindo energia elétrica
gerada por combustíveis fósseis por energia solar, desenvolvendo novas
tecnologias e valorizando a mão de obra local.
Quando Magda
Chambriard era Diretora Geral da ANP proferiu palestra na Federação das
Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) quando afirmou que o Governo deveria dar
mais atenção à Bahia, onde tudo começou, referindo-se aos negócios de petróleo.
Há uma expectativa muito favorável ao trabalho da nova presidente não só se
unido à Acelen na recuperação das instalações da refinaria de Mataripe, mas
também no fortalecimento do Polo Petroquímico e ampliação dos investimentos em
extração e pesquisa de petróleo, em terra e no mar. Espera-se também que ela
promova a volta da operação das duas fábricas de fertilizantes nitrogenados de
Camaçari, BA, e Laranjeiras, SE, bastando simplesmente que se ajuste o preço da
matéria prima, gás natural, ao preço praticado no mercado internacional. A sua
fala inicial de que vai voltar a operar a Fafen de Araucária (PR) e dar
continuidade à construção da Fafen de Três Lagoas (MT) trouxe redobradas
esperanças para a região e em todos esses casos o preço do gás é determinante
na viabilização desses projetos.
A Petrobras tem outros
problemas que poderia resolver com muita competência na região Nordeste. Além
dos desafios da indústria química e petroquímica, que precisam de apoio para
continuar existindo, o setor de refino em mãos privadas tem aqui na Bahia uma
mini refinaria operando e duas outras de porte médio sendo construídas em
Simões Filho e Ilhéus. A refinaria de Mataripe começou a operar em São
Francisco do Conde em 1950, três anos antes da Petrobras ser fundada. Voltando
a ser controlada pela Petrobras, ou não, ela continuará aqui. O compromisso
maior que deve ter o grupo controlador é seguir investindo na atualização e
manutenção da usina e diversificar suas aplicações financeiras a exemplo do
projeto da Carnaúba e da geração da energia solar. São investimentos de alta
rentabilidade e de imenso valor social.
• ‘A VALE E OS INTERESSES DA BAHIA’. POR
WALDECK ORNÉLAS
A Bahia vive momento
crucial frente a decisões estratégicas quanto a sua infraestrutura e economia.
Neste cenário, a implantação da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL)
integrada ao Porto Sul é uma das variáveis relevantes.
Embora tenha havido a
concessão da FIOL I – Ilhéus-Caetité, e autorização para um terminal de uso
privado (TUP) a ser implantado em Ilhéus, ambos a cargo da Bahia Mineração
(BAMIN), proprietária da mina Pedra de Ferro, em Caetité, volta e meia vêm a
público especulações em torno da eventual falta de capacidade financeira da
empresa para levar adiante o conjunto do empreendimento.
Mais recentemente, as
especulações ganharam cara, quando foi divulgado que autoridades do governo
federal estariam pressionando a Cia. Vale do Rio Doce a adquirir a Pedra de
Ferro. Mas, só a mina ou toda a solução logística mina-ferrovia-porto?
Preliminarmente, é
importante salientar que a Bahia se sente traída pela Vale por, ao logo de 30
anos, sabotar economicamente a sua antiga malha ferroviária, por meio da
subsidiária Ferrovia Centro Atlântica (FCA), em função do interesse exclusivo
na movimentação de minérios e, mais recentemente, grãos. No caso, é de supor-se
que a Vale chegaria para implementar o projeto e não para constituir reserva do
mineral, o que seria uma segunda traição à Bahia.
Se a Vale adquirir
somente a mina, vai escoar a produção pelo sistema ferro-portuário que já a
serve, na região sudeste, principalmente pelo Espírito Santo, agravando ainda
mais a crise econômica baiana. Esta solução implicaria em abandonar a FIOL I e
o Porto Sul, e utilizar o trecho da atual concessão da FCA, de Licínio de
Almeida até Corinto (MG), fazendo sangrar ainda mais a economia baiana.
Do ponto de vista da
Bahia, e por várias razões, este desmembramento não pode ocorrer. O trecho
Ilhéus-Caetité da FIOL, na borda do Oceano Atlântico, é apenas a última perna
de uma ferrovia que deve se estender até o Pacífico, concretizando o sonho da
Ferrovia Transulamericana, tendo a integração FICO-FIOL como primeiro passo.
Se é verdade que o
governo federal atua para que a Vale adquira a Bamin, é indispensável que
condicione a operação à implantação da FIOL I e do Porto Sul. Caso contrário,
será um golpe fatal para a Bahia.
Mas há outros
movimentos a serem observados. Enquanto a FCA se retira do Estado,
paralelamente, a VLI apresentou pedidos de autorização para dois trechos
ferroviários greenfield no Oeste baiano: um de Barreiras até a BR-020, em Luís
Eduardo Magalhães (para um terminal multimodal?), outro, de Correntina a
Arrojolândia, em direção a Mara Rosa (GO).
Registre-se que a VLI
é quem está construindo a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (FICO), trecho
I, de Mara Rosa a Água Boa (MT), com extensão de 383km, como investimento
cruzado, obrigação decorrente da renovação antecipada da Estrada de Ferro Vitória-Minas
(EFVM). Mas a VLI não é concessionária do trecho, a ser licitado.
A VLI também já
manifestou interesse, mediante pedido de autorização, para implantar a FICO II,
de Água Boa a Lucas do Rio Verde (MT). Lucas do Rio Verde tornou-se o pião da
disputa VLI x Rumo pelo domínio do mercado nacional de transporte de grãos,
mediante acesso à região centro-norte do Mato Grosso, onde a Rumo busca chegar
primeiro, por meio de uma concessão estadual, a partir de Rondonópolis (MT).
Na medida em que a
Vale tenha efetivo interesse na concessão de todo o conjunto FICO-FIOL, a ela
interessaria adquirir a mina conjuntamente com a concessão da FIOL I e o Porto
Sul. Este fato poderia estabelecer uma convergência de interesses econômicos entre
a Bahia e a Vale, em torno da implantação do importante Corredor Centro-Leste –
que se configura com a integração FICO-FIOL – devendo converter-se,
posteriormente, no eixo de ligação ferroviária do Atlântico com o Pacífico,
objeto de desejo do Brasil, Peru e China.
Não é de estranhar
pois, que uma eventual aquisição da Bamin pela Vale, desde que compromissada
com a implantação do conjunto mina-ferrovia-porto, possa efetivamente levar à
concretização do projeto, restabelecendo a confiança da Bahia na Vale.
Quanto à Bamin,
explicou, de forma convincente, que a sua dívida decorre de mútuo com o próprio
controlador, mas ainda precisa convencer efetivamente, à sociedade e ao governo
federal, de que os seus compromissos públicos estão sendo cumpridos e que a ferrovia
e o porto serão entregues no prazo previsto, em 2027. Só assim as especulações
sobre a transferência do seu controle acionário poderão ser superadas.
Estranha, por exemplo, que ainda não existam financiamentos contratados com o
BNDES e o Banco do Nordeste, nem enquadramento no Fundo de Desenvolvimento
Regional, gerido pela Sudene. Ou o investimento será todo financiado por
contratos de mútuo?
E o que têm a dizer
sobre esses importantes projetos os agentes públicos incumbidos da sua
fiscalização?
É indispensável que a
ANTT e a ANTAQ, agências reguladoras, respectivamente, dos transportes
terrestres e aquaviários, venham a público informar se estão acompanhando as
atividades de implantação da ferrovia e do porto, se há conformidade com os
atos autorizativos, se os cronogramas de implantação estão em dia, se o ritmo
das obras está adequado e se a população pode contar com a implantação desses
projetos. Não podem é continuar omissas nem silentes.
Apesar de serem órgãos
públicos, são os únicos atores que ainda não se manifestaram. A sociedade quer
ouvi-los.
Fonte: Bahia Econômica
Nenhum comentário:
Postar um comentário