terça-feira, 30 de julho de 2024

Sonha muito acordado? Você pode ter Síndrome do Desinteresse Cognitivo

Você sonha muito acordado? Costuma ficar lento e tende a se desligar facilmente quando está fazendo uma tarefa? Você pode ter a Síndrome do Desinteresse Cognitivo, ou SDC. Em inglês é chamado de CDS (cognitive disengagement syndrome) e, no Brasil, há especialistas que preferem chamar de Síndrome do Desengajamento Cognitivo. Os significados são iguais.

A SDC foi descrita pela primeira vez por psicólogos nas décadas de 1960 e 1970. Eles notaram que algumas pessoas apresentavam essas características de forma mais persistente do que outras.

Mas por que é considerada uma síndrome e não apenas um traço de personalidade peculiar? A distinção está no efeito. Para as pessoas com SDC, o comportamento interfere significativamente na vida diária, no desempenho acadêmico e nas interações sociais.

Embora todos sonhem acordados ocasionalmente, quem experiencia essa síndrome tem dificuldade em manter a concentração em tarefas por períodos prolongados. Não se trata apenas de ser desatento e, muito menos, preguiçoso; trata-se de um padrão persistente que pode prejudicar a capacidade de alcançar sucesso em várias áreas da vida.

Ao contrário do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que inclui hiperatividade e impulsividade, a SDC é caracterizada por um “ritmo cognitivo lento” – o nome anterior dado para a condição. Não é reconhecida como o “transtorno de atenção” descrito no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, que dita a classificação padrão usada por profissionais nos Estados Unidos.

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Entretanto, o crescente número de pesquisas sugere que ela merece mais observação e deve ser analisada separadamente do TDAH. Uma maneira de separar os dois é: se uma pessoa tem TDAH, ela é capaz de se concentrar em algo, mas provavelmente se distrairá e mudará o foco para outra coisa. Quem tem SDC, não consegue se concentrar, ponto final.

•        Como identificamos a SDC?

O diagnóstico é complicado porque não há critérios oficiais. No entanto, alguns psicólogos usam uma combinação de questionários e observações comportamentais para avaliar sinais como sonhar acordado com frequência, ter nebulosidade mental e capacidade de processamento lenta.

Os pais e professores geralmente relatam que as crianças parecem “fora de si” ou demoram mais para responder a perguntas e concluir tarefas. Com velocidade de processamento lenta, absorver informações, entendê-las e apresentar resultado implica um consumo maior de tempo. Não se deve à falta de inteligência ou de esforço – simplesmente, o cérebro destrincha as informações em um ritmo mais devagar.

O suporte e o tratamento para a SDC ainda estão evoluindo. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é comumente usada para ajudar a desenvolver melhores formas de lidar com a situação e melhorar o foco.

Alguns pesquisadores estão explorando o uso de medicamentos estimulantes, semelhantes aos usados para TDAH, mas as evidências ainda são inconclusivas.

Mudanças no estilo de vida, como ter uma rotina de sono mais estável e incorporar exercícios regulares, também são recomendadas para ajudar a controlar os sintomas.

•        Falta de conscientização

Uma das maiores dificuldades é a falta de conscientização, inclusive de alguns profissionais da área de saúde. Por desconhecimento, podem descartar a SDC e impedir que pacientes busquem ajuda e recebam o apoio de que precisam.

Apesar da falta de reconhecimento oficial, estima-se que a SDC possa afetar uma parcela significativa da população. Estudos sugerem que ela pode ser tão comum quanto o TDAH, que afeta cerca de 5% a 7% das crianças. Muitos podem estar experienciando os sintomas sem nem mesmo saber disso.

Compreender a Síndrome do Desinteresse Cognitivo é fundamental pois pode evitar sofrimento e encurtar o caminho para o tratamento correto. Ao reconhecer que o comportamento diferente de determinada pessoa não é apenas uma peculiaridade – ou uma tentativa de mostrar-se descolado demais para se importar com coisas rotineiras -, mas, sim, um indicador potencial de um problema mais complexo, pode-se ajudar a controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida de muita gente.

•        Manter ansiedade sob controle pode reduzir risco de perda cognitiva

Tratar os sintomas de ansiedade com psicoterapia pode ajudar a reduzir o risco de desenvolver demência na velhice, sugere um novo estudo publicado na The Lancet. Os resultados ainda não são conclusivos, mas indicam uma associação entre melhora de qualquer tipo de transtorno de ansiedade com uma menor chance de desenvolver Alzheimer e/ou perda cognitiva, que é quando o paciente não consegue mais fazer atividades básicas do seu dia a dia.

Já faz algum tempo que, com o crescimento dos casos de demência, pesquisadores vêm se debruçando sobre possíveis fatores de risco, inclusive buscando uma relação com as doenças mentais. No caso da depressão, essa associação já está bem estabelecida e agora o objetivo é entender os impactos da ansiedade neste quadro.

Os pesquisadores colheram informações de diversas bases do sistema de saúde britânico e cruzaram dados de quase 130 mil pacientes que passaram por serviços de psicoterapia e que tinham algum distúrbio de ansiedade.

Foram avaliados apenas aqueles com mais de 65 anos, atendidos entre os anos de 2012 e 2019, que não tinham diagnóstico de demência inicialmente. Ao fim do período, aqueles que apresentaram uma melhora nos quadros de ansiedade tiveram menos risco de desenvolver perda cognitiva.

“Este é um estudo interessante que tenta jogar luz sobre essa relação, mas ainda não sabemos se há uma relação causal”, diz a geriatra Ana Cristina Canêdo, da diretoria da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

Alguns fatores, como os biológicos e até o estilo de vida, poderiam explicar essa associação. “A ansiedade tem uma carga de estresse e faz o organismo liberar cortisol, o que traz efeitos negativos no hipocampo, região do cérebro ligada à memória”, explica a especialista.

<><> Limitações

Mas os próprios autores reconhecem que o estudo tem várias limitações e ainda não é possível estabelecer um elo causal entre os dois. Algumas informações não estavam disponíveis nas bases analisadas e podem enviesar os resultados, como nível de educação, risco genético, história familiar, patologias vasculares e uso de remédios psicotrópicos.

Além disso, sabe-se que alguns transtornos comportamentais leves, que poderiam ser confundidos com sintomas de ansiedade, podem ser marcadores precoces de demência quando aparecem na faixa dos 50 anos.

“Mas, na dúvida, a gente precisa sempre tratar os transtornos de saúde mental. A ansiedade é menos diagnosticada e tratada do que a depressão e deve ser rastreada, prevenida e tratada”, orienta a médica.

<><> Sinais de alerta

A pessoa que sofre de ansiedade normalmente é taxada de nervosa ou estressada. Mas quando isso começa a prejudicar a sua vida diária, causando perda funcional e dificuldades no trabalho e nas relações, é hora de procurar ajuda.

Medos excessivos ou pânico podem causar angústia a ponto de impedir a pessoa de fazer o que ela precisa, como sair de casa ou conviver com outras pessoas.

 

Fonte: Por Sofia Barbosa Boucas, para The Conversation/Metrópoles

 

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