Francisco Fernandes Ladeira: Reeleição de
Maduro é uma vitória da luta anti-imperialista
À exceção dos Estados
Unidos, nenhuma eleição presidencial em outro país desperta tanto a atenção dos
brasileiros quanto a venezuelana. No entanto, diferentemente do pleito
estadunidense, onde os dois principais candidatos são praticamente iguais, ou
seja, defendem a nefasta política imperialista, na Venezuela há uma nítida
polarização. Trata-se de uma eleição fundamental não só para os venezuelanos,
mas para todos os povos latino-americanos.
Entre os dois
candidatos favoritos estavam, de um lado, Nicolás Maduro, que, apesar de suas
contradições, representa um projeto de governo nitidamente anti-imperialista;
de outro lado, o vassalo de Washington, expoente da extrema direita, Edmundo
González, cuja vitória poderia transformar Caracas em mero títere do
imperialismo.
Portanto, o chavismo
fora do poder representaria uma grande perda para a resistência contra os
Estados Unidos (o principal inimigo dos povos oprimidos do planeta).
Em suma, se há um
processo eleitoral que representa o tão usado lema "democracia contra o
fascismo", sem dúvida, é o venezuelano. Parafraseando um famoso editorial,
uma escolha muito fácil.
Infelizmente, parte
considerável da esquerda brasileira não entendeu o que está em jogo. Sem uma
agenda geopolítica autônoma, repete de maneira fidedigna todos os clichês,
distorções e fake news sobre a Venezuela divulgados pela mídia hegemônica.
Nesse pleito, a
mentira da vez diz respeito à fala de Maduro, sobre uma possível vitória de
González levar a um "banho de sangue na Venezuela", haja vista que
medidas neoliberais, típicas da extrema direita, que atacam os direitos da
maioria da população, tendem a provocar protestos e confrontos. Além disso, há
o
caráter fascistóide da
oposição ao chavismo e sua violência habitual. Assim, somente a vitória de
Maduro poderia manter a estabilidade no país.
Por outro lado,
segundo o tradicional padrão de manipulação da imprensa hegemônica, a
declaração citada acima se transformou
em ameaça de Maduro em caso de derrota. Ou seja, inverteram o que foi dito.
Equivocadamente, até o
presidente Lula caiu na fake news da grande mídia, ao dizer que Maduro deveria
aprender a ganhar ou perder uma eleição. Deu combustível para a extrema direita
venezuelana.
Em resposta, Maduro
declarou que o sistema eleitoral de seu país é mais confiável do que o
brasileiro, pois, na Venezuela, além da urna eletrônica, o eleitor recebe o
comprovante impresso do voto, confere se está correto e o deposita em uma outra
urna, onde ficam armazenados os votos em papel.
Diante disso,
novamente entrou em cena a manipulação midiática. Além de transformar o
mal-entendido entre Lula e Maduro em uma grave crise diplomática sem
precedentes, surgiu a falaciosa narrativa de que Maduro, assim como Bolsonaro,
insinuou que houve fraude na eleição presidencial brasileira.
Trata-se de uma
estratégia já manjada, feita sob medida para ludibriar e atrair indivíduos mais
ingênuos da esquerda. Nesse sentido, também alega-se que o chavismo, tal como
buscou o bolsonarismo, aparelhou Justiça e Forças Armadas.
Ora, se o chavismo não
promovesse reformas substanciais nesses dois setores, extirpando elementos
pró-imperialistas, muito provavelmente já teria sofrido um golpe de Estado.
Basta lembrarmos de nossos próprios exemplos em 1964 e 2016.
Em contrapartida, os
planos do bolsonarismo para Justiça e Forças Armadas estão ligados a um projeto
de submissão ao imperialismo. Exatamente o oposto ao chavismo.
Com a derrota da
oposição fascistóide, como era de se esperar, surgiu o "argumento" da
"fraude eleitoral", "corroborado" por uma apuração paralela
dos partidários de Edmundo González. Diga-se de passagem, uma prática ilegal.
Algo nos moldes de "Juan Guaidó, Autoproclamado Presidente da
Venezuela".
Também não é novidade.
Nos discursos geopolíticos dos principais veículos de imprensa do Brasil,
eleições em outros países são "limpas" somente quando o resultado os
agrada.
Para encerrar este
texto, uma dica do velho Leonel Brizola. Embora geopolítica seja uma temática
complexa e multifacetada, quando vocês tiverem dúvidas quanto a que posição
tomar diante de qualquer situação, atentem. Se a Rede Globo for a favor, somos
contra. Se for contra, somos a favor!
Apesar da distância
temporal, estas palavras continuam mais atuais do que nunca.
Enfim, o imperialismo
ladra, mas, há duas décadas e meia, a Revolução Bolivariana passa!
• Oposição denuncia fraude sem provas e
anuncia novo Guaidó. Por Antonio Mello
Principal líder da
oposição na Venezuela, a empresária Marina Corina Machado, sem apresentar
provas, declarou que as eleições na Venezuela foram vencidas pelo principal
candidato opositor, Edmundo González.
As eleições na
Venezuela estão sendo acompanhadas por 800 observadores do mundo inteiro, além
da Fundação Carter, do ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter.
Tudo o que existe de
concreto sobre as eleições presidenciais naquele país até o momento é a
declaração do Conselho Nacional Eleitoral, que deu vitória ao atual presidente
Nicolás Maduro, que teria sido reeleito com 51,2% de votos contra 44,2% de
Edmundo González Urrutia.
Corina convocou uma
coletiva de imprensa e citou dados de pesquisas de boca de urna (que são
pesquisas e não votos na urna), que teriam dado vitória a Edmundo. Eles teriam
feito também um "acompanhamento das urnas", sem explicar como isso
foi feito, já que não foram abertas as atas, que indicariam a tal vantagem de
Edmundo.
Enquanto não são
abertas as atas e o acesso dos observadores internacionais à manifestação dos
venezuelanos nas urnas, o que se tem de concreto é a manifestação do CNE e a
contestação da oposição da extrema direita, que age assim em todo o mundo,
sempre que perde as eleições, como o provam Trump e Bolsonaro, por exemplo.
A coletiva de Corina é
parte de uma narrativa que visa desestabilizar a Venezuela e colocar um títere,
como antes tentaram com Juan Guaidó, para entregar a PDVSA, petroleira da
Venezuela, nas mãos das multinacionais no petróleo.
Quando Corina cita
pesquisas de boca de urna, esquece de citar as que deram vitória Maduro. E não diz quais foram as que
indicaram vitória de Edmundo.
Nem precisa. Interessa
para a direita a narrativa que querem impor. Mentir faz parte de seu jogo, como
o prova diariamente nosso maior mentiroso, o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A narrativa de fraude
nas eleições na Venezuela é costumeira, mas nunca foi provada.
• ‘Milei transforma Argentina em porta-voz
de golpe na Venezuela para esconder sua crise’. Por Yuri Ferreira
Nicolás Maduro venceu
as eleições presidenciais da Venezuela. É o que informou o único órgão capaz de
aferir tais resultados, o Conselho Nacional Eleitoral, às 01h09 da madrugada
desta segunda-feira (29).
Antes da divulgação
dos resultados, Mauricio Macri - ex-presidente argentino e apoiador do atual
governo -, Diana Mondino - chanceler de Buenos Aires -, Patricia Bullrich -
ministra de Segurança - e Javier Milei - chefe de Estado -, afirmavam que
Eduardo Urrutía e Maria Corina Machado eram os vencedores da eleição.
Quebraram todo o
protocolo da diplomacia, intrometendo-se em assuntos internos venezuelanos sem
quaisquer provas ou respaldo internacional, para fomentar a narrativa de golpe
e fraude contra a esquerda e em favor da extremista Maria Corina Machado.
Ressaltando: Machado é
membra-fundadora do Fórum de Madrid, organização do neofascismo global
idealizada por Eduardo Bolsonaro e Javier Milei.
Milei clama pelo
"golpe!" e tenta focar a atenção argentina em Caracas. O problema é
que a economia venezuelana apresenta dados muito melhores que a argentina.
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Caracas anda melhor que Buenos Aires
Além de apresentar
crescimento de 30% em 2022, 5% em 2023 e projeção de 4,2% em 2024, sendo a
segunda maior elevação do PIB do continente, a Venezuela conseguiu controlar
sua inflação: foi de 1,5% no mês de abril. O desemprego segue alto, em 12%, mas
caiu 1% em relação ao ano passado.
Em comparação, alta de
preços foi registrada em 4,2% em Buenos Aires no mesmo mês. O PIB deve cair 5%
em 2024. O desemprego cresceu 2% em um mês.
Milei enfrenta
problemas com o agronegócio, com os governadores e com sua própria base,
incluindo sua vice. A bolsa tem caído e o plano de "impressão zero"
parece não agradar ninguém - nem seu amado mercado - para tentar controlar a
inflação.
A escolha de Milei de
ser porta-voz do mais nefasto entreguismo e golpismo é a simples criação de um
espantalho - o chavismo - para esconder sua própria crise e incapacidade de
gerenciar a Argentina.
• Maduro vence na Venezuela e Milei lidera
denúncia de fraude. Por Luiz Carlos Azenha
O presidente da
Venezuela, Nicolás Maduro, foi reeleito neste domingo com 51,2% dos votos,
contra 44,2% de seu principal adversário, o ex-diplomata Edmundo González
Urrutia.
Os dados são oficiais
e foram anunciados pelo Conselho Nacional Eleitoral.
O comparecimento foi
de 59%.
O CNE disse que foi
vítima de um ataque ao sistema de transmissão de dados, mas que apurados 80%
dos votos a tendência da apuração era irreversível.
Maduro tinha, àquela
altura, 5.150.092 votos, contra 4.445.978 de Edmundo.
Partidários de Maduro
se concentraram no entorno do Palácio Miraflores, a sede do governo, onde está
o presidente.
O opositor Leopoldo
López, que comandou os protestos da oposição venezuelana em 2014, publicou no
X, logo depois que os colégios eleitorais fecharam:
Temos de assumir o que
aconteceu e acreditar de verdade: GANHAMOS!!!! Venezuela será livre!!!! Glória
ao Bravo Povo. E as primeiras atas [eleitorais] começam a chegar e ratificam os
resultados da pesquisa de boca de urna: 64% Edmundo 30% Maduro. Não poderão
mudar estes resultados.
López passou a
divulgar, então, vídeos de opositores comemorando a vitória em várias cidades
do país, baseados em resultados locais.
GOVERNO MILEI NA
OFENSIVA
A Plataforma de
Unidade Democrática (PUD), de Urrutia e Maria Corina Machado, está fazendo uma
contagem paralela.
No X, afirmou:
"Denunciamos que o CNE está se negando a nos transmitir dados eleitorais
em vários centros de votação".
O deputado governista
Diosdado Cabello disse com ironia que a contagem dos votos na Venezuela não é
feita pelo Departamento de Estado dos EUA, nem pela ONG Súmate, aliada da
oposição, mas pelo CNE.
Tradicionalmente, a
oposição venezuelana denuncia fraude e promove protestos com apoio de pesquisas
e atores políticos estrangeiros.
O ex-presidente da
Argentina, Mauricio Macri, antes mesmo do anúncio dos resultados, afirmou:
A maioria dos
venezuelanos falou alto e claro: Maduro deve deixar o poder. [...] Apelamos à
comunidade internacional, e especialmente aos países da região, que devem
garantir o compromisso com a democracia, para não permitir que esta ditadura se
perpetue.
A Venezuela denunciou
o cerco à embaixada de seu país em Buenos Aires por um grupo de manifestantes,
que contou com a presença da ministra da Segurança, Patricia Bullrich.
A chanceler argentina
Diana Mondino entrou na ofensiva: "Maduro: RECONHEÇA A DERROTA",
escreveu no X.
O presidente
argentino, por sua vez, postou durante a madrugada:
DITADOR MADURO,
FORA!!! Os venezuelanos optaram por acabar com a ditadura comunista de Nicolás
Maduro. Os dados anunciam uma vitória esmagadora da oposição e o mundo espera
que esta reconheça a derrota após anos de socialismo, miséria, decadência e
morte. A Argentina não vai reconhecer mais uma fraude e espera que desta vez as
Forças Armadas defendam a democracia e a vontade popular.
O chanceler da
Venezuela, Yvan Gil, respondeu chamando Milei de "nazista
nauseabundo". Disse que o povo argentino apresentará a fatura a Milei
"mais cedo ou mais tarde".
BRASIL E EUA
CAUTELOSOS
O ex-chanceler
brasileiro Celso Amorim, que foi a Caracas na qualidade de observador, segundo
um repórter da rede Telesur disse: "Vamos aguardar os resultados finais e
esperamos que sejam respeitados por todos os candidatos".
Amorim manteve contato
durante o dia com observadores do Centro Carter, ligado ao ex-presidente dos
Estados Unidos, e com o painel de especialistas das Nações Unidas.
Mais cedo, uma
mensagem da democrata Kamala Harris no X sugeriu que os Estados Unidos vão
respeitar os resultados.
Ela escreveu:
Os Estados Unidos
apoiam o povo da Venezuela, que expressou a sua voz nas históricas eleições
presidenciais de hoje. A vontade do povo venezuelano deve ser respeitada.
Apesar dos muitos desafios, continuaremos a trabalhar em prol de um futuro mais
democrático, próspero e seguro para o povo da Venezuela.
Maduro vai cumprir
mais um mandato de 6 anos, que começa em 10 de janeiro de 2025.
Durante o domingo, com
a votação em andamento, houve uma guerra de pesquisas de boca de urna feitas
nas primeiras horas da votação.
Duas davam vitória de
Maduro por 11 e 21 pontos de vantagem. Outra, divulgada pelo ex-presidente
mexicano Felipe Calderón, mostrava o candidato da oposição vencendo por 67% a
30%.
Calderón e outros
ex-presidentes de direita denunciaram fraude antecipadamente na Venezuela. Eles
formam o Grupo Liberdade e Democracia.
CHAVISMO SOBREVIVE
Maduro assumiu o
comando do Palácio Miraflores pela primeira vez em 5 de março de 2013, por
causa da morte de Hugo Chávez, a quem serviu como presidente da Assembleia
Nacional, chanceler e vice-presidente.
A Venezuela tem um
sistema eleitoral sui generis: além da votação eletrônica, mais de 50% dos
votos impressos pelas urnas são auditados "a quente", antes do
anúncio oficial.
A vitória de Maduro
garante a sobrevivência do movimento político criado por Hugo Chávez Frias, que
completaria 70 anos neste domingo.
As eleições foram
resultado do chamado Acordo de Barbados, mediados pela Noruega e que contaram
com apoio do Brasil.
Pelo acordo, os EUA
suspenderam parcialmente o bloqueio econômico contra a Venezuela, que soltou
opositores presos.
As sanções foram
retomadas assim que Maria Corina Machado ficou de fora da eleição.
A sobrevivência de
Maduro no poder é atribuída à recuperação econômica parcial do país, que
segundo o FMI terá crescimento do PIB de 4% em 2024.
O grande apelo dos
opositores era a promessa de acabar com o embargo econômico que começou em
2014.
Hoje, a Venezuela é
alvo de 441 medidas de bloqueio dos EUA, 108 do Canadá, 70 do Panamá, 56 da
Suiça, 55 da União Europeia e 36 do Reino Unido.
Fonte: Fórum
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