5 hábitos que reduzem risco de Alzheimer,
segundo a ciência
O Alzheimer é uma
doença neurodegenerativa progressiva e é uma das principais causas de demência.
O transtorno é caracterizado pela deterioração cognitiva e pela perda de
memória, comprometendo as atividades diárias da vida e podendo levar a
alterações comportamentais. No Brasil, a doença afeta 1,2 milhão de pessoas,
segundo o Ministério da Saúde.
As causas para o
surgimento da doença ainda são desconhecidas, mas especialistas e pesquisadores
acreditam que esteja relacionada à genética. Além disso, diversos fatores estão
associados a um maior risco de desenvolver a doença, como a idade, o histórico
familiar, tabagismo, consumo excessivo de álcool e estilo de vida sedentário.
“Nós já sabemos que o
hábito de fumar, de beber álcool diariamente, de ter uma dieta rica em gorduras
trans, frituras, alimentos ultraprocessados e em carboidratos de alta
combustão, como o açúcar, pode promover o estresse oxidativo das células”,
explica Custódio Michailowsky, neurologista do Hospital Nove de julho, à CNN.
Segundo o
especialista, esses hábitos aumentam a inflamação, promovendo o envelhecimento
precoce das células do cérebro e o encurtamento de telômeros (a ponta dos
cromossomos que protegem o DNA das células).
“O Alzheimer, assim
como outras doenças degenerativas, é uma doença do DNA, em que ele vai perdendo
sua capacidade de produzir proteínas para falta de expressão de certos genes, e
isso pode acontecer com o envelhecimento e com os hábitos não saudáveis”, acrescenta.
Por outro lado, existe
uma série de hábitos que podem ajudar a prevenir o Alzheimer, segundo
evidências científicas existentes. Pequenas mudanças no estilo de vida podem
ajudar a proteger o cérebro contra o impacto do envelhecimento e contra o
declínio cognitivo. Veja cinco desses hábitos a seguir:
<><> 1.
Praticar exercícios físicos regularmente
A prática de
exercícios físicos é fundamental para a prevenção de diversas doenças, entre
elas, o Alzheimer. Um estudo publicado em 2023 na Frontiers in Neuroscience e
realizados por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e
pela Universidade de São Paulo (USP) mostrou que exercícios regulares, como o
treinamento de resistência, podem prevenir a doença ou, pelo menos, retardar o
aparecimento dos sintomas.
O trabalho foi feito
em camundongos, mas, segundo os pesquisadores, o exercício reduziu a formação
de placas beta-amiloides no cérebro, um dos principais biomarcadores do
Alzheimer. “Isso confirma que a atividade física pode reverter alterações
neuropatológicas que causam sintomas clínicos da doença”, disse Henrique
Correia Campos, primeiro autor do artigo, em comunicado à imprensa.
Exercício de
resistência envolve a contração de músculos específicos contra uma resistência
externa e é considerado uma estratégia essencial para aumentar a massa
muscular, a força e a densidade óssea, além de melhorar a composição corporal
geral, a capacidade funcional e o equilíbrio.
Porém, outros tipos de
exercícios também podem ajudar a prevenir o Alzheimer, segundo Michailowsky. “A
atividade aeróbica de intensidade moderada ou de alta intensidade também pode
promover a produção de lisina, uma substância encontrada no trato gastrointestinal
que promove a saúde cerebral”, acrescenta.
<><> 2.
Seguir uma alimentação próxima à dieta mediterrânea ou MIND
Se, por um lado,
manter uma alimentação rica em ultraprocessados, gorduras trans e frituras pode
ser um fator de risco para desenvolver Alzheimer, por outro, manter uma
alimentação saudável e antioxidante pode prevenir a doença. Uma das dietas mais
recomendadas para esse fim é a dieta MIND, projetada especificamente para
estimular o cérebro.
“Essa é uma dieta que
reduz o estresse oxidativo e o processo inflamatório do organismo, o que
previne o envelhecimento precoce de todo o organismo. É importante uma dieta
rica em ômega-3 e nutrientes básicos para o cérebro, como selênio, zinco e
alumínio, além de ter alimentos que promovem o aumento da colina, da
fosfatidilserina, importantes no circuito da memória de uma pessoa”, afirma
Michailowsky.
Outro padrão alimentar
interessante para prevenir o Alzheimer é a dieta mediterrânea. Estudos
mostraram que tanto a dieta MIND quanto a mediterrânea reduziram
significativamente o risco de declínio cognitivo.
<><> 3.
Manter a boa qualidade do sono
O sono também é
fundamental para a recuperação da função cerebral, segundo Michailowsky. “Nós
precisamos ter, pelo menos, de seis a oito horas de sono”, orienta o
especialista. Um estudo publicado em 2021 mostrou que dormir menos de seis
horas por noite aumenta o risco de demência em 30% em pessoas com idades entre
50 e 70 anos. O trabalho acompanhou quase 8 mil pessoas por 25 anos.
Além disso, outro
estudo publicado neste ano na revista científica Neurology sugere que pessoas
na faixa dos 30 e 40 anos que sofrem com interrupções no sono têm duas vezes
mais chances de terem problemas de memória e pensamento uma década depois.
Outro estudo mais
recente, realizado por pesquisadores do Imperial College London, mostrou que
pessoas na meia-idade que têm pesadelos com frequência podem ter um risco maior
de desenvolver demência, em comparação com quem não tem.
<><> 4.
Fortalecer o cérebro com atividades cognitivas
Exercitar o cérebro é
tão importante quanto exercitar o corpo. Por isso, fazer a “ginástica do
cérebro”, ou seja, realizar atividades ou tarefas que estimulem e exercitem as
funções cerebrais, é fundamental para promover e fortalecer a cognição.
Alguns exemplos de
atividades que ajudam a exercitar o cérebro são:
• Quebra-cabeças;
• Palavras-cruzadas;
• Jogos de tabuleiro;
• Sudoku;
• Cálculos matemáticos;
• Ábacos.
Além disso, aprender
novas habilidades, como um novo idioma ou tocar um instrumento, também ajudam a
desafiar o cérebro e, consequentemente, exercitá-lo, reduzindo o risco ou
retardando o declínio cognitivo e fortalecendo funções como memória, raciocínio
lógico e concentração.
<><>5.
Manter a boa higiene bucal
Além da saúde física e
cerebral, manter em dia a saúde bucal também parece ser importante para a
proteção do cérebro contra o Alzheimer. Um estudo norueguês, publicado em 2019,
aponta que bactérias que causam gengivite, uma inflamação na gengiva, podem se
mover da boca par ao cérebro, podendo levar à perda de memória e, em casos mais
graves, à demência.
Os autores examinaram
53 pessoas com Alzheimer e descobriram uma enzima tóxica liberada pelas
bactérias em 96% dos casos. Segundo o estudo, o acúmulo dessas bactérias pode
causar uma progressão mais rápida da doença.
No entanto, é
importante ressaltar que o estudo apenas observou uma relação e não determina
uma causalidade. Por isso, não é possível afirmar que a gengivite pode levar à
perda cognitiva.
De acordo com Denise
Tibério, presidente da Câmara Técnica de Odontogeriatria do Conselho Regional
de Odontologia de São Paulo (CROSP), pessoas com a gengiva mais inchada devem
procurar o cirurgião-dentista. “Procurar um profissional e buscar a causa, aprender
a higiene da cavidade bucal, eliminar – quando possível – os fatores de risco,
aumentar as visitas ao profissional para polimento e profilaxia, são todas
ações de enorme importância”, afirma.
• Mudanças climáticas poderão agravar
doenças cerebrais, diz estudo
As mudanças climáticas
poderão afetar negativamente a saúde de pessoas com doenças cerebrais no
futuro, de acordo com um novo estudo publicado na The Lancet Neurology nesta
quarta-feira (15). No artigo, pesquisadores da London’s Global University (UCL)
afirmam que os impactos nas doenças neurológicas podem ser “substanciais” e
enfatizam a necessidade de compreender essas consequências para a vida dos
pacientes.
A conclusão foi feita
após a revisão de 332 artigos publicados em todo o mundo entre 1968 e 2023.
Eles consideraram 19 condições relacionadas ao sistema nervoso, escolhidas com
base no estudo Global Burden of Disease 2016. Entre elas, estão doenças como AVC
(acidente vascular cerebral), enxaqueca, Alzheimer, meningite, epilepsia e
esclerose múltipla. A equipe também analisou o impacto das alterações
climáticas em vários distúrbios psiquiátricos graves, como ansiedade, depressão
e esquizofrenia.
“Há evidências claras
do impacto do clima em algumas doenças cerebrais, especialmente acidentes
vasculares cerebrais e infecções do sistema nervoso”, afirma o professor Sanjay
M. Sisodiya, diretor de genômica na Sociedade de Epilepsia e membro fundador da
Epilepsy Climate Change, em comunicado à imprensa.
“A variação climática
que demonstrou ter efeito nas doenças cerebrais incluía extremos de temperatura
(baixa e alta) e maior variação de temperatura ao longo do dia – especialmente
quando essas medidas eram sazonalmente incomuns”, explica. “As temperaturas
noturnas podem ser particularmente importantes, pois as temperaturas mais
elevadas durante a noite podem perturbar o sono. Sabe-se que o sono
insatisfatório agrava uma série de problemas cerebrais.”
• Pessoas com Alzheimer correm maior risco
A equipe afirma que
pessoas com demência estão mais suscetíveis a danos causados pelas temperaturas
extremas e a serem vítimas de eventos climáticos (como inundações ou incêndios
florestais), uma vez que a deficiência cognitiva pode limitar a capacidade de
adaptar o comportamento às mudanças ambientais.
“A redução da
consciência do risco é combinada com uma menor capacidade de procurar ajuda ou
de mitigar potenciais danos, como beber mais em tempo quente ou ajustar a
roupa”, explicam os pesquisadores.
“Essa suscetibilidade
é agravada pela fragilidade, multimorbidade e medicamentos psicotrópicos.
Consequentemente, maior variação de temperatura, dias mais quentes e ondas de
calor levam ao aumento de internações hospitalares e mortalidade associadas à
demência”, completam.
• Internações hospitalares e risco de
morte estão associados às altas temperaturas
Os pesquisadores
descobriram, ainda, que houve um aumento nas internações, incapacidades ou
mortalidade decorrente a um AVC relacionadas às temperaturas mais altas ou
ondas de calor. Isso também foi observado para transtornos de saúde mental,
principalmente em relação às flutuações diárias de temperatura.
Os autores do estudo
observaram, ainda, que, à medida que os eventos climáticos adversos aumentam em
gravidade — como as enchentes e os incêndios florestais –, as populações estão
sendo expostas ao agravamento de fatores ambientais que trazem riscos à saúde
que não foram previstos em estudos anteriores.
Como resultado disso,
os pesquisadores argumentam que é importante garantir a atualização dessas
pesquisas, considerando não apenas o atual estado das alterações climáticas,
mas também o futuro.
“Este trabalho está
decorrendo em um contexto de agravamento preocupante das condições climáticas e
terá de permanecer ágil e dinâmico se quiser gerar informação que seja útil
tanto para os indivíduos como para as organizações”, afirma Sisodiya. “Além disso,
existem poucos estudos que estimam as consequências para a saúde das doenças
cerebrais em cenários climáticos futuros, o que torna o planeamento futuro um
desafio.”
• Ansiedade climática também eleva os
riscos
A ansiedade climática,
ou “ecoansiedade“, também pode potencializar transtornos psiquiátricos, como a
própria ansiedade e depressão.
“Todo o conceito de
ansiedade climática é uma influência adicional e potencialmente pesada: muitas
doenças cerebrais estão associadas a um maior risco de distúrbios
psiquiátricos, incluindo ansiedade, e tais multimorbidades podem complicar
ainda mais os impactos das mudanças climáticas e as adaptações necessárias para
preservar saúde. Mas há ações que podemos e devemos tomar agora”, afirma
Sisodiya.
Ecoansiedade é um
termo usado para designar o “medo crônico da catástrofe ambiental“, de acordo
com a definição da Associação Americana de Psicologia. Ele começou a ser usado
pela literatura da ecopsicologia na década de 1990, mas tem ganhado maior projeção
com as mudanças climáticas e eventos ambientais adversos recentes.
Fonte: CNN Brasil
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