sábado, 27 de julho de 2024

Mudanças climáticas causam riscos à saúde de 70% dos trabalhadores, diz ONU

Cerca de 70% dos trabalhadores no mundo estão expostos a riscos de saúde relacionados às mudanças climáticas, de acordo com um relatório divulgado na segunda-feira (22) pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), agência da ONU (Organização das Nações Unidas).

O documento afirma que as mudanças climáticas estão impactando a segurança e a saúde de trabalhadores de todas as regiões do mundo. A OIT estima que mais de 2,4 bilhões de trabalhadores estarão expostos ao calor excessivo em algum momento do seu trabalho, de acordo com os dados de 2020, os mais recentes disponíveis.

Além disso, o relatório também estima que 18.970 vidas e 2,09 milhões de anos de vida ajustados por incapacidade são perdidos por ano devido às 22,87 milhões de lesões ocupacionais atribuídas ao calor excessivo. Além disso, segundo o documento, cerca de 26,2 milhões de pessoas no mundo vivem com doença renal crônica associada ao estresse térmico no local de trabalho.

<><> Riscos vão além do calor excessivo

O relatório mostra que outros problemas de saúde de trabalhadores globais, além das condições associadas ao calor excessivo, podem estar relacionados às mudanças climáticas. É o caso de câncer, doenças cardiovasculares, doenças respiratórias, disfunção renal e problemas de saúde mental.

De acordo com o documento, o impacto das alterações climáticas inclui:

•        1,6 bilhões de trabalhadores expostos à radiação UV, com mais de 18.960 mortes anuais por câncer de pele não melanoma relacionado ao trabalho;

•        1,6 bilhões de pessoas expostas à poluição atmosférica no local de trabalho, resultando em até 860 mil mortes anuais relacionadas ao trabalho ao ar livre;

•        Mais de 870 milhões de trabalhadores agrícolas provavelmente expostos a pesticidas, com mais de 300 mil mortes anuais atribuídas ao envenenamento por pesticidas;

•        15 mil mortes relacionadas ao trabalho por ano devido à exposição a doenças parasitárias e transmitidas por vetores.

“É evidente que as alterações climáticas já estão criando riscos adicionais significativos para a saúde dos trabalhadores”, afirmou Manal Azzi, chefe da equipa de SST (Segurança e Saúde no Trabalho) na OIT, em comunicado.

“É essencial que prestemos atenção a esses avisos. As considerações de segurança e saúde no trabalho devem tornar parte das nossas respostas às alterações climáticas – tanto nas políticas como nas ações. Trabalhar em ambientes seguros e saudáveis é reconhecido como um dos princípios e direitos fundamentais da OIT. Devemos cumprir esse compromisso em relação às alterações climáticas, tal como em todos os outros aspectos do trabalho”, completa.

<><> Relatório analisa as atuais respostas dos países para a questão climática no ambiente de trabalho

O relatório também explorou como os países estão respondendo às alterações climáticas, com a inclusão ou revisão de novas legislações, regulamentos e orientações para mitigar o problema nos ambientes de trabalho.

Conforme citado no documento, a legislação brasileira aponta que o trabalho deve ser interrompido nos casos em que a temperatura subir acima de 29,4 ºC, para o trabalho de baixa intensidade; acima de 27,3 ºC, para o trabalho de intensidade moderada; e 24,7 ºC, para o trabalho de intensidade muito alta.

 

<><> Mudanças climáticas podem causar cerca de 500 mil mortes por AVC anualmente

Um estudo publicado na revista Neurology, da Academia Americana de Neurologia, descobriu que as mudanças climáticas podem estar associadas ao aumento da mortalidade e da incapacidade por AVC (Acidente Vascular Cerebral). Em 2019, ocorreram 521.031 mortes por AVC associadas a temperaturas não ideais, segundo a pesquisa.

O estudo não prova que as alterações climáticas causem AVC, mostra apenas uma associação. Os pesquisadores descobriram que as temperaturas não ideais (acima ou abaixo das temperaturas consideradas “ideais” para manter uma taxa de mortalidade baixa) estavam cada vez mais associadas ao AVC fatal ou incapacitante.

De acordo com a pesquisa, a maioria dos AVCs aconteceu devido a temperaturas abaixo das ideais, mas também houve casos em que o derrame esteve associado a temperaturas elevadas.

Diante de temperaturas mais baixas, os vasos sanguíneos de uma pessoa podem se contrair, aumentando a pressão arterial. A hipertensão arterial é um fator de risco para o acidente vascular cerebral. Temperaturas mais altas podem causar desidratação, afetando os níveis de colesterol e resultando em fluxo sanguíneo mais lento, fatores que também podem levar ao AVC.

“As mudanças dramáticas de temperatura nos últimos anos afetaram a saúde humana e causaram preocupação generalizada”, diz o autor do estudo, Quan Cheng, do Xiangya Hospital Central South University em Changsha, China, em comunicado à imprensa. “O nosso estudo descobriu que essas mudanças de temperatura podem aumentar a carga de AVC em todo o mundo, especialmente em populações mais idosas e em áreas com mais disparidades nos cuidados de saúde”, completa.

Para chegar aos dados, os pesquisadores analisaram 30 anos de registros de saúde de mais de 200 países e territórios. Foram examinados o número de mortes por AVC e a carga de incapacidade relacionada ao AVC devido a temperaturas não ideais. Em seguida, os dados foram divididos para uma análise por cada região, país e território. Os pesquisadores também analisaram faixas etárias e gêneros.

Além das mais de 500 mil mortes por AVC associadas às mudanças climáticas, o estudo também descobriu que houve 9,4 milhões de anos de vida ajustados por incapacidade devido ao derrame associado a temperaturas não ideais. “Anos de vida ajustados por incapacidade” representam os anos de vida perdidos devido a morte prematura e anos vividos com a doença.

<><> Maioria das mortes estão relacionadas às baixas temperaturas

Ainda segundo o estudo, 474.002 mortes por AVC, do total analisado em 2019, estavam relacionadas às baixas temperaturas. Além disso, os pesquisadores descobriram que a taxa de morte pela doença devido a mudanças de temperatura foi maior para os participantes do sexo masculino (7,7 por 100 mil), em comparação com as participantes do sexo feminino (5,9 por 100 mil).

Ao olhar para as regiões, a Ásia Central teve a maior taxa de mortalidade por AVC associada a temperaturas não ideais, com 18 por 100.000 habitantes. Ao analisar os dados por país, a Macedônia do Norte teve a taxa de mortalidade mais elevada, com 33 por 100.000.

“É necessária mais investigação para determinar o impacto da mudança de temperatura no AVC e encontrar soluções para abordar as desigualdades na saúde”, afirma Cheng. “A investigação futura deverá ter como objetivo reduzir esta ameaça, encontrando políticas de saúde eficazes que abordem as potenciais causas das alterações climáticas, tais como a queima de combustíveis fósseis, a desflorestação e os processos industriais.”

 

•        Fatores sociais e ambientais podem aumentar risco de derrame, mostra estudo

Pessoas que vivem em áreas com adversidades ambientais — como poluição, tráfego intenso, poucas áreas verdes e maior quantidade de resíduos tóxicos — podem apresentar um risco maior para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e derrame. O achado é de um estudo publicado no final de março no Journal of the American Heart Association.

Além disso, a pesquisa também levou em conta aspectos de vulnerabilidade social, como desemprego, baixa renda, baixa escolaridade, pouco acesso à internet e aos cuidados de saúde, para o desenvolvimento dessas condições de saúde.

“Nosso estudo é um dos primeiros a examinar o impacto de fatores sociais e ambientais em combinação e a analisar a complexa interação entre eles”, afirma o autor sênior do estudo, Sarju Ganatra, em comunicado divulgado à imprensa.

<><> Como o estudo foi feito?

Para chegar aos achados, o estudo utilizou o Índice de Justiça Ambiental — desenvolvido com dados do Gabinete do Censo dos Estados Unidos, da Agência de Proteção Ambiental, da Administração de Segurança e Saúde das Minas e dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças do país — para avaliar as desvantagens ambientais em todos os setores do censo nos Estados Unidos.

A análise descobriu que as pessoas que vivam em bairros mais vulneráveis do ponto de vista ambiental tinham 1,6 vezes mais taxa de artérias bloqueadas e mais do dobro da taxa de AVC (Acidente Vascular Cerebral) em comparação com quem vivia em bairros menos vulnerários ambientalmente.

Além disso, os fatores de risco para doenças cardiovasculares foram mais elevados nas áreas mais vulneráveis, com o dobro da taxa de diabetes tipo 2, taxas 1,8 vezes mais elevadas de doença renal crônica e 1,5 vezes maior incidência de hipertensão e obesidade.

Por fim, o estudo observou que cerca de 30% de todos os residentes dos Estados Unidos com idades entre 18 e 44 anos, 21% dos adultos negros e a maioria dos adultos hispânicos residiam em locais com maior risco ambiental.

“Fiquei surpreso ao ver as ligações estreitas e a interação complexa entre fatores sociais e ambientais nos resultados de saúde. Conseguimos demonstrar o seu ‘duplo impacto’ nos resultados de saúde. E, além disso, ficamos mais surpresos com o fato de que, mesmo após o ajuste para fatores socioeconômicos, os fatores ambientais desempenharam um papel crucial e independente na determinação de várias doenças cardíacas e outros resultados de saúde relacionados”, diz Ganatra.

<><> São necessárias intervenções para reduzir a exposição à poluição, dizem pesquisadores

Para os autores do estudo, os achados mostram que é necessária uma abordagem multifacetada com intervenções para reduzir a exposição à poluição e a criação de políticas públicas que abordem as causas da pobreza, a revitalização urbana, educação pública de alta qualidade, programas de criação de emprego e habitação a preços acessíveis, junto com medidas para garantir o acesso universal a cuidados de saúde de qualidade nos Estados Unidos.

“Nosso objetivo é capacitar a comunidade de saúde para melhor informar os pacientes sobre os fatores ambientais que eles encontram diariamente. Os pacientes, por sua vez, ganham a capacidade de reduzir a sua exposição a condições ambientais prejudiciais, tais como a exposição a produtos químicos nocivos e poluentes atmosféricos para minimizar os perigos para a saúde e mitigar os riscos para a saúde”, afirma Ganatra.

Apesar de o estudo ter mostrado uma forte associação entre fatores ambientais e sociais e doenças cardiovasculares, a pesquisa ainda apresenta limitações por não poder provar causa e efeito devido à natureza do banco de dados utilizado para a análise. Por isso, mais estudos são necessários para reforçar as descobertas.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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