Centro Histórico de Salvador volta a atrair
grandes empreendimentos com desafio na preservação cultural
Vivendo um declínio
nos anos 80 e uma forte decadência que resultou em uma revitalização nos anos
2000, o Centro Histórico de Salvador se ergue como um novo polo de luxo e
sofisticação. Na terceira reportagem da série "Da Decadência Urbana às
Noites de Luxo no Centro de Salvador", o BNEWS aborda a nova onda de
investimentos em hotéis de luxo e restaurantes estrelados que estão
transformando o Centro Histórico de Salvador.
À reportagem, Kelsor
Fernandes, presidente da Federação do Comércio do Estado da Bahia
(Fecomércio-BA), destaca que a movimentação dos novos empresários, que investem
e consideram o Centro como um vetor de investimento, pode levar a uma maior
atenção do Poder Público em relação à infraestrutura, que ainda é precária.
Ele observa que a
Prefeitura já está investindo na região com a chegada desses novos
investimentos. “Acredito que socialmente só tem a melhorar. Com os
investimentos que já existem e os que estão chegando, com a visão da Prefeitura
em melhorar, e com a chegada de hotéis, a fisionomia do Centro de Salvador vai
realmente mudar”, avalia.
Fernandes também
recorda o período de "abandono" pelo qual o Centro Histórico passou e
enfatiza a atual ascensão da região. Segundo ele, a chegada dos novos
empreendimentos está gerando um impacto econômico significativo e transformador
para a localidade.
“O Centro ficou muito
tempo abandonado. Agora, com essa visão de alguns empresários de fora, trazendo
investimentos vultuosos para a região, o Centro vai se tornar um grande local
para investimentos e bons negócios. Quem se antecipar não vai se arrepender”,
comenta o presidente da Fecomércio-BA.
Fernandes também
enfatiza o envolvimento ativo da Fecomércio-BA na revitalização da região.
Segundo ele, a entidade está presente no Centro, no Pelourinho e no Comércio,
onde investiu em um novo prédio para um restaurante do SESC destinado aos
comerciários na Cidade Baixa. Fernandes observa que, com cada parte cumprindo
seu papel, a região central, anteriormente desacreditada, tem potencial para se
transformar em um polo de crescimento, geração de renda e emprego, beneficiando
a economia de Salvador.
Quando questionado
sobre a motivação para investir na região, ele aponta confiança nas
transformações e nos novos investimentos que estão surgindo. “Nós já temos um
restaurante lá, mas queríamos ampliar, vendo os investimentos chegando,
especialmente na região com as mudanças. A Prefeitura fez a Casa da Música e há
outros novos prédios nascendo ali. Acreditamos que o comércio gera negócios e
tende a melhorar a economia da região. Temos unidades do Sesc e do Senac no
Pelourinho e na Rua Chile há alguns anos, e estamos fortalecendo para prestar
melhores serviços, acreditando nos empresários que estão indo para a região”,
explica.
• Restaurantes
Leandro Menezes,
presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes na Bahia
(Abrasel-BA), destaca como essa abrangência da região fez com que a localidade
retornasse aos holofotes dos investimentos.
“Durante muito tempo,
o Centro Histórico foi associado apenas ao Pelourinho. Hoje, além do queridinho
dos baianos e turistas, temos também o charmoso Santo Antônio Além do Carmo e o
pulsante bairro da Saúde. Esse aumento de ofertas e movimentação fez com que a
região voltasse aos holofotes de quem quer se divertir e investir. Na região do
Centro Histórico, temos como associados Di Janela, La Lupa, Cuco Bistrô,
Ulisses e Odayá”, explica.
• Hotéis
Segundo Thiago Sena,
diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira da Indústria de
Hoteis Bahia (ABIH - Bahia), a região ostenta enorme potencial e natural
vocação turística, e seguramente deveria ter mais empreendimentos hoteleiros.
"Nos últimos anos
algumas iniciativas importantes foram tomadas no intuito de acelerar a
revitalização dessas áreas e atrair mais investimentos, a exemplo do Programa
Renova Centro e do Programa de Incentivo ao Desenvolvimento Sustentável e
Inovação (PIDI), que incentiva a requalificação de imóveis existentes e novos
empreendimentos através da concessão de benefícios fiscais", avalia.
Sena destaca também
que, para que essas iniciativas deem certo, é necessário que existam em
conjunto com uma série de outras medidas e projetos para acelerar o processo de
revitalização do Centro Histórico.
• Renovação e Preservação
A renovação dos
empreendimentos no Centro Histórico tem sido bem recebida pelos grandes
empresários que investem na região. Mas
como continuar essa renovação preservando a identidade histórica do Centro? De
acordo com o vice-presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) da
Bahia, a inovação é bem-vinda desde que aliada ao conhecimento dos
especialistas e à história local.
“As novas tecnologias
digitais aplicadas ao espaço urbano e às interações sociais demonstram isso. É
preciso entender a diversidade histórica, social, cultural e econômica que
torna o Centro Histórico único e reconhecido como patrimônio da humanidade pela
Unesco [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultural”,
disse.
Segundo Carvalho, é
possível continuar inovando e atraindo investidores para o Centro sem mexer na
estrutura histórica, um patrimônio local. “Sem dúvidas, mesmo com as
deficiências do Centro Histórico, ainda é um dos principais pontos turísticos
brasileiros. Mas há um longo caminho a percorrer, incluindo a devida
organização de um plano de turismo articulado com órgãos fiscais, turísticos,
de proteção do patrimônio e a academia”, opina.
Questionado sobre
soluções para equilibrar o desenvolvimento econômico com a preservação
cultural, Carvalho afirmou não haver "soluções de última hora ou isoladas
para o patrimônio histórico e urbanismo".
“Esse desenvolvimento
carece de planejamento prévio, que reflita a importância do Centro, atentando
para as questões históricas e turísticas, e dialogando com habitação, educação,
cultura, comércio, saúde, mobilidade, segurança, entre outras. A preservação é
central e requer sistematizações para se afirmar, pois qualquer tecido urbano
degradado ou abandonado é mais vulnerável e difícil de preservar. A legislação
de patrimônio não deve ser vista como obstáculo, mas tratada como qualquer
outra lei, requerendo experiência dos especialistas e integração com as
dimensões socioeconômicas, principalmente as voltadas à habitação”, argumenta.
• O que diz a prefeitura de Salvador?
A Prefeitura de
Salvador foi questionada pela reportagem sobre regulamentações que facilitam ou
dificultam novos empreendimentos e como as autoridades têm gerido essas
mudanças, além de investimentos feitos na região.
De acordo com o
Município, o Centro Histórico de Salvador está recebendo quase R$ 1 bilhão para
a recuperação e construção de diversos espaços. Foi destacado que, além dos
investimentos em recuperação e construção, o programa Renova Centro, lançado
pela gestão municipal, visa fomentar o desenvolvimento urbano, a moradia e a
requalificação das estruturas históricas da região central da capital baiana.
Nos últimos anos,
ainda de acordo com a Prefeitura, a região ganhou novos equipamentos culturais,
como a Cidade da Música, o Arquivo Público, a Casa das Histórias, a Casa do
Carnaval e a reabertura do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab),
todos com investimentos municipais. A Prefeitura também requalificou o Mercado
Modelo e inaugurou a Galeria Mercado, que já se tornou um atrativo para
visitantes. Além disso, estão em andamento as obras da Escola de Artes e
Tecnologia e da Casa de Espetáculos.
A Prefeitura também
destaca que transferiu a sede de secretarias e órgãos municipais para a região,
visando revitalizar o Centro. Cerca de 80% das pastas já se encontram no Centro
Histórico.
A Prefeitura
acrescenta que entre os projetos desenvolvidos pela gestão municipal está o
programa "Renova Centro", que oferece incentivos tributários para
estimular a aquisição, reforma e restauração de empreendimentos na área. Os
benefícios incluem perdão de dívidas de IPTU e TRSD, isenções de ITIV na
aquisição do imóvel, de ISS sobre a prestação de serviços de construção, e de
IPTU e TRSD durante o período das obras. Além disso, há isenção de ITIV e de
IPTU do imóvel residencial por dez anos.
O Município ressalta
que essas iniciativas já mostram resultados positivos. “Além dos novos
equipamentos culturais, que atraem milhares de turistas, e dos investimentos
públicos destinados a melhorar a infraestrutura, também há investimentos
privados em andamento, como a construção de novos hotéis e restaurantes”,
destaca em nota.
A expectativa da
Prefeitura é que esse processo continue a se expandir, acelerando a
revitalização da região do Centro Histórico.
Fonte: BNews
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