sábado, 27 de julho de 2024

Centro Histórico de Salvador volta a atrair grandes empreendimentos com desafio na preservação cultural

Vivendo um declínio nos anos 80 e uma forte decadência que resultou em uma revitalização nos anos 2000, o Centro Histórico de Salvador se ergue como um novo polo de luxo e sofisticação. Na terceira reportagem da série "Da Decadência Urbana às Noites de Luxo no Centro de Salvador", o BNEWS aborda a nova onda de investimentos em hotéis de luxo e restaurantes estrelados que estão transformando o Centro Histórico de Salvador.

À reportagem, Kelsor Fernandes, presidente da Federação do Comércio do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), destaca que a movimentação dos novos empresários, que investem e consideram o Centro como um vetor de investimento, pode levar a uma maior atenção do Poder Público em relação à infraestrutura, que ainda é precária.

Ele observa que a Prefeitura já está investindo na região com a chegada desses novos investimentos. “Acredito que socialmente só tem a melhorar. Com os investimentos que já existem e os que estão chegando, com a visão da Prefeitura em melhorar, e com a chegada de hotéis, a fisionomia do Centro de Salvador vai realmente mudar”, avalia.

Fernandes também recorda o período de "abandono" pelo qual o Centro Histórico passou e enfatiza a atual ascensão da região. Segundo ele, a chegada dos novos empreendimentos está gerando um impacto econômico significativo e transformador para a localidade.

“O Centro ficou muito tempo abandonado. Agora, com essa visão de alguns empresários de fora, trazendo investimentos vultuosos para a região, o Centro vai se tornar um grande local para investimentos e bons negócios. Quem se antecipar não vai se arrepender”, comenta o presidente da Fecomércio-BA.

Fernandes também enfatiza o envolvimento ativo da Fecomércio-BA na revitalização da região. Segundo ele, a entidade está presente no Centro, no Pelourinho e no Comércio, onde investiu em um novo prédio para um restaurante do SESC destinado aos comerciários na Cidade Baixa. Fernandes observa que, com cada parte cumprindo seu papel, a região central, anteriormente desacreditada, tem potencial para se transformar em um polo de crescimento, geração de renda e emprego, beneficiando a economia de Salvador.

Quando questionado sobre a motivação para investir na região, ele aponta confiança nas transformações e nos novos investimentos que estão surgindo. “Nós já temos um restaurante lá, mas queríamos ampliar, vendo os investimentos chegando, especialmente na região com as mudanças. A Prefeitura fez a Casa da Música e há outros novos prédios nascendo ali. Acreditamos que o comércio gera negócios e tende a melhorar a economia da região. Temos unidades do Sesc e do Senac no Pelourinho e na Rua Chile há alguns anos, e estamos fortalecendo para prestar melhores serviços, acreditando nos empresários que estão indo para a região”, explica.

•        Restaurantes

Leandro Menezes, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes na Bahia (Abrasel-BA), destaca como essa abrangência da região fez com que a localidade retornasse aos holofotes dos investimentos.

“Durante muito tempo, o Centro Histórico foi associado apenas ao Pelourinho. Hoje, além do queridinho dos baianos e turistas, temos também o charmoso Santo Antônio Além do Carmo e o pulsante bairro da Saúde. Esse aumento de ofertas e movimentação fez com que a região voltasse aos holofotes de quem quer se divertir e investir. Na região do Centro Histórico, temos como associados Di Janela, La Lupa, Cuco Bistrô, Ulisses e Odayá”, explica.

•        Hotéis

Segundo Thiago Sena, diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Hoteis Bahia (ABIH - Bahia), a região ostenta enorme potencial e natural vocação turística, e seguramente deveria ter mais empreendimentos hoteleiros.

"Nos últimos anos algumas iniciativas importantes foram tomadas no intuito de acelerar a revitalização dessas áreas e atrair mais investimentos, a exemplo do Programa Renova Centro e do Programa de Incentivo ao Desenvolvimento Sustentável e Inovação (PIDI), que incentiva a requalificação de imóveis existentes e novos empreendimentos através da concessão de benefícios fiscais", avalia.

Sena destaca também que, para que essas iniciativas deem certo, é necessário que existam em conjunto com uma série de outras medidas e projetos para acelerar o processo de revitalização do Centro Histórico.

•        Renovação e Preservação

A renovação dos empreendimentos no Centro Histórico tem sido bem recebida pelos grandes empresários que investem na região.  Mas como continuar essa renovação preservando a identidade histórica do Centro? De acordo com o vice-presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) da Bahia, a inovação é bem-vinda desde que aliada ao conhecimento dos especialistas e à história local.

“As novas tecnologias digitais aplicadas ao espaço urbano e às interações sociais demonstram isso. É preciso entender a diversidade histórica, social, cultural e econômica que torna o Centro Histórico único e reconhecido como patrimônio da humanidade pela Unesco [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultural”, disse.

Segundo Carvalho, é possível continuar inovando e atraindo investidores para o Centro sem mexer na estrutura histórica, um patrimônio local. “Sem dúvidas, mesmo com as deficiências do Centro Histórico, ainda é um dos principais pontos turísticos brasileiros. Mas há um longo caminho a percorrer, incluindo a devida organização de um plano de turismo articulado com órgãos fiscais, turísticos, de proteção do patrimônio e a academia”, opina.

Questionado sobre soluções para equilibrar o desenvolvimento econômico com a preservação cultural, Carvalho afirmou não haver "soluções de última hora ou isoladas para o patrimônio histórico e urbanismo".

“Esse desenvolvimento carece de planejamento prévio, que reflita a importância do Centro, atentando para as questões históricas e turísticas, e dialogando com habitação, educação, cultura, comércio, saúde, mobilidade, segurança, entre outras. A preservação é central e requer sistematizações para se afirmar, pois qualquer tecido urbano degradado ou abandonado é mais vulnerável e difícil de preservar. A legislação de patrimônio não deve ser vista como obstáculo, mas tratada como qualquer outra lei, requerendo experiência dos especialistas e integração com as dimensões socioeconômicas, principalmente as voltadas à habitação”, argumenta.

•        O que diz a prefeitura de Salvador?

A Prefeitura de Salvador foi questionada pela reportagem sobre regulamentações que facilitam ou dificultam novos empreendimentos e como as autoridades têm gerido essas mudanças, além de investimentos feitos na região.

De acordo com o Município, o Centro Histórico de Salvador está recebendo quase R$ 1 bilhão para a recuperação e construção de diversos espaços. Foi destacado que, além dos investimentos em recuperação e construção, o programa Renova Centro, lançado pela gestão municipal, visa fomentar o desenvolvimento urbano, a moradia e a requalificação das estruturas históricas da região central da capital baiana.

Nos últimos anos, ainda de acordo com a Prefeitura, a região ganhou novos equipamentos culturais, como a Cidade da Música, o Arquivo Público, a Casa das Histórias, a Casa do Carnaval e a reabertura do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), todos com investimentos municipais. A Prefeitura também requalificou o Mercado Modelo e inaugurou a Galeria Mercado, que já se tornou um atrativo para visitantes. Além disso, estão em andamento as obras da Escola de Artes e Tecnologia e da Casa de Espetáculos.

A Prefeitura também destaca que transferiu a sede de secretarias e órgãos municipais para a região, visando revitalizar o Centro. Cerca de 80% das pastas já se encontram no Centro Histórico.

A Prefeitura acrescenta que entre os projetos desenvolvidos pela gestão municipal está o programa "Renova Centro", que oferece incentivos tributários para estimular a aquisição, reforma e restauração de empreendimentos na área. Os benefícios incluem perdão de dívidas de IPTU e TRSD, isenções de ITIV na aquisição do imóvel, de ISS sobre a prestação de serviços de construção, e de IPTU e TRSD durante o período das obras. Além disso, há isenção de ITIV e de IPTU do imóvel residencial por dez anos.

O Município ressalta que essas iniciativas já mostram resultados positivos. “Além dos novos equipamentos culturais, que atraem milhares de turistas, e dos investimentos públicos destinados a melhorar a infraestrutura, também há investimentos privados em andamento, como a construção de novos hotéis e restaurantes”, destaca em nota.

A expectativa da Prefeitura é que esse processo continue a se expandir, acelerando a revitalização da região do Centro Histórico.

 

Fonte: BNews

 

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