Migração para os EUA: 'Trump não é um fator
de pânico'
Quem tem medo de
Donald Trump retornar à Casa Branca? Na América Latina, ao que parece, não
muitos. A eleição dos EUA aparentemente
está tendo pouco impacto na migração .
"Não é 100%
irrelevante quem está na Casa Branca, mas é bem isso", disse Benjamin
Schwab, oficial de programa para o México com a Misereor. A organização de
ajuda católica apoia uma série de organizações parceiras locais no México que
fornecem assistência social e jurídica a famílias de refugiados da América Latina .
Na avaliação de
Schwab, "o candidato presidencial Trump não é um fator de pânico em termos
de migração". Afinal, as pessoas já têm experiência de Trump como
presidente dos EUA. Embora tenha sido repetidamente anunciado, é bem sabido que
o governo Trump — no
governo de 2017 a 2021 — não concluiu o tão alardeado
muro ao longo da fronteira EUA-México e, apesar das promessas de Trump, o
México não contribuiu para pagar nada do que foi construído.
<><>
Imigração para os EUA atinge recorde histórico
"Nem mesmo Trump
conseguiu fechar a fronteira", disse Schwab. "A lição que aprendemos
é que não é possível fechar a fronteira sul dos EUA 100%. Isso apesar de ser
uma das fronteiras mais militarizadas e mais bem protegidas do mundo."
De acordo com uma
pesquisa realizada em junho pelo Pew Research Center, um instituto de pesquisa
não governamental dos EUA, havia cerca de 46 milhões de imigrantes vivendo nos
EUA em 2022, cerca de 13,8% da população total dos EUA.
A pesquisa Pew
descobriu que 77% desses 46 milhões de imigrantes estavam nos EUA legalmente. O
maior grupo nacional, 10,6 milhões de pessoas, era do vizinho do sul do país,
o México , constituindo 23% do total.
<><> O
"limite" de travessia de fronteira tornará o acesso ao asilo mais
difícil
Números recentes da
Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA mostram que, embora sua
retórica seja mais branda , o
presidente Joe Biden também adotou uma abordagem
restritiva à imigração. O relatório da agência mostra que as recentes medidas
de segurança para proteção de fronteiras resultaram em uma redução de 29% nas
prisões por travessia ilegal de fronteiras em junho, em comparação com o mês
anterior.
A especialista em
México Indi-Carolina Kryg, do Instituto Alemão de Estudos Globais e de Área,
também acha que Biden e a
vice-presidente Kamala Harris estão
buscando uma política de imigração rigorosa .
Houve um grande número de deportações dos Estados Unidos, ela disse, e o acesso
ao asilo se tornou mais difícil.
"Há um limite no
número de travessias regulares de fronteira que podem ser feitas a cada dia
para solicitar asilo", ela explicou. "A fronteira deve ser fechada
para requerentes de asilo se houver uma média semanal de 2.500 travessias de fronteira
não autorizadas por dia."
De acordo com Schwab,
os democratas estão tentando enviar uma mensagem durante a campanha eleitoral
de que estão fazendo algo sobre o aumento da imigração. No entanto, ele
acrescentou, essas medidas não fazem diferença para os chamados fatores de
atração — as razões pelas quais as pessoas migram para os EUA em primeiro
lugar.
Êxodo da Venezuela
impulsiona migrantes
Esses
"fatores" incluem reunificação familiar e crises em países como Venezuela ou Haiti . Refugiados de países asiáticos ou
africanos também estão cada vez mais indo para o México e tentando entrar nos
Estados Unidos de lá.
De acordo com o último
Relatório de Migração Mundial da Organização Internacional para Migração, 10%
de todos aqueles que cruzaram o que é conhecido como Darien Gap em 2022
vieram de países africanos ou asiáticos. O Darien Gap é uma região de selva com
cerca de 100 quilômetros (cerca de 62 milhas) de largura, que atravessa a
fronteira entre o Panamá e a Colômbia.
No entanto, de acordo
com o relatório da OIM, 6 milhões dos 7 milhões de refugiados venezuelanos ao
redor do mundo encontraram refúgio em países vizinhos da América Latina, como
Colômbia, Peru, Chile, Brasil e Equador — não nos Estados Unidos.
O especialista em
México Kryg prevê que as crises atuais na América Latina continuarão a
estimular mais pessoas a migrarem para o norte.
"Enquanto as
pessoas estiverem fugindo da violência e da pobreza, e não houver maneiras
legais suficientes de entrar nos Estados Unidos, não vejo fim para essas
travessias irregulares de fronteira", disse ela.
¨ Novos ataques misóginos e racistas contra Kamala sugerem
desespero de Trump
A intensidade dos
ataques misóginos e racistas contra Kamala Harris surpreende até os pessimistas
observadores da política americana. A eleição, até há dias definida pela idade
avançada de dois homens brancos, virou a disputa de um idoso declarado culpado
de estuprar uma jornalista contra a filha de um economista jamaicano e de uma
cientista indiana que, à época em que foi promotora, colocou vários patifes
como Trump na cadeia.
Sem noção de vergonha,
sentimento hoje extinto entre a ultradireita, os capangas de Donald Trump e
seus simpatizantes da mídia escolheram a nova Geni e começaram a apedrejar a
vice-presidente com insultos de cunho sexual e étnico.
DIFAMAÇÃO
Ela teria dormido com
poderosos para chegar ao topo (mentira: Harris namorou publicamente o
ex-prefeito de San Francisco quando ele já estava divorciado da mulher); a
advogada, duas vezes vencedora da difícil eleição para procuradora-geral do
estado quase nação da Califórnia que, em seguida, elegeu-se senadora, teria
virado vice de Joe Biden como uma empregada DEI (acrônimo para diversidade,
equidade e inclusão).
É o cúmulo dizer que a
nativa californiana não poderia se eleger presidente porque seus pais nasceram
no exterior (a Constituição garante: qualquer pessoa nascida nos EUA pode se
candidatar). Repetir o “birtherismo” que tentaram com Obama, nascido no Havaí,
parece desespero.
A hostilidade havia
começado já na campanha Biden-Harris de 2020, e o vice da chapa de Trump deixou
uma trilha de migalhas de pão digitais para provar.
MAIS
IMPOPULAR
Como J.D. Vance é o
candidato a vice mais impopular desde 1980, é possível que ele tire mais jovens
e minorias de casa para votar contra republicanos arrotando chocalhos raciais
como acusar a democrata de “não sentir gratidão” por viver nos Estados Unidos.
Um eleitor negro ouve
esse comentário e arrasta até a avó de 90 anos para as urnas.
Como o destrambelhado
Trump sofre de incontinência verbal e seu vice é um consumado lambe-botas,
ambos não param de facilitar novos comerciais da campanha democrata. Nesta
semana, Trump anunciou triunfal num comício que “Kamala não será a primeira
mulher presidente”.
MAIS
BAIXARIAS
Ele erra a pronúncia
—Kâmala— e se refere a ela como Kamála para humilhá-la pela origem imigrante. E
ainda arrematou, “não vamos ter uma presidente socialista, especialmente se for
mulher”.
Um vídeo ridículo de
J.D. Vance voltou a circular, no qual ele diz que a nova geração democrata,
mencionando nominalmente Harris, a deputada latina Alexandria Ocasio-Cortez e o
secretário de Transportes gay Pete Buttigieg, não passa de um bando de estéreis
criadoras (no feminino) de gatos.
Harris tem dois
enteados com o marido Doug Emhoff, Buttigieg adotou gêmeos e Ocasio-Cortez está
noiva.
O fato é que 2024 não
é 2016, quando Hillary Clinton enfrentou uma artilharia de misoginia
escatológica como nenhuma outra política de projeção nacional nos EUA.
PELA
VAGINA
2016 foi a campanha do
áudio em que Trump se vangloriou de agarrar as mulheres pela vagina.
Nestes oito anos, as
mulheres americanas se organizaram melhor, disputaram e venceram mais eleições
e estão em pé de guerra contra a volta da criminalização do aborto, cortesia da
jurássica Suprema Corte.
Kamala Harris espera a
baixaria que virá nos próximos cem dias. Mas uma filha de imigrantes, escoltada
ainda criança para a escola no fim da segregação racial, não vira promotora se
fica facilmente intimidada.
¨ Kamala reduz distância para Trump em nova pesquisa do NY Times
Nos Estados Unidos, o
crescimento da candidatura de Kamala Harris esquentou o plano principal da
disputa na medida em que encurtou a distância em relação a Donald Trump. Uma
pesquisa do New York Times/Siena College confirmou o cenário de equilíbrio na
disputa pela Presidência dos Estados Unidos.
Entre eleitores
registrados, Donald Trump aparece com 48% das intenções de voto, contra 46% de
Kamala Harris. No universo de eleitores prováveis, os índices são,
respectivamente, de 48% e 47%. Em ambos os casos, há empate técnico, uma vez
que a margem de erro é de 3,3 pontos percentuais para eleitores registrados e
de 3,4 pontos para eleitores prováveis.
CENÁRIO
POSITIVO
Trata-se de um cenário
mais positivo para os democratas em comparação com a sondagem do início de
julho, na qual o presidente Joe Biden aparecia seis pontos atrás de Trump entre
eleitores prováveis, logo após um debate televisivo desastroso para o democrata.
Considerando apenas os eleitores já registrados, a vantagem de Trump sobre
Biden no pós-debate era de nove pontos. Trump já é oficialmente o candidato do
Partido Republicano à Casa Branca, enquanto Kamala ainda precisa ser nomeada
formalmente pelo Partido Democrata – o que deve acontecer até o início de
agosto.
As eleições nos
Estados Unidos não são decididas por maioria simples de votos, mas por um
colégio eleitoral formado a partir da votação dos candidatos em cada um dos 50
estados. Ou seja, ter o maior número de eleitores nem sempre é suficiente para
a vitória. Em 2016, por exemplo, Hillary Clinton somou 48% do voto popular, mas
Trump, com 46%, foi eleito após vencer em estados-chave no colégio eleitoral.
APOIO
Kamala Harris subiu
rapidamente nos índices e mostra a força da sua personalidade nos primeiros
momentos que já se travaram após a sua indicação por Joe Biden. Ela conta
inclusive com o apoio do ex-presidente Barack Obama, que se manifestou
publicamente nesta sexta-feira.
O ex-presidente e
Kamala publicaram o mesmo vídeo em seus perfis na rede social X (antigo
Twitter). A gravação mostra a pré-candidata recebendo uma ligação de Obama e
sua esposa, Michelle. Vale lembrar que Biden também publicou um vídeo em que
mostra um telefonema para convidar Kamala para ser sua vice nas eleições de
2020.
¨ Fala de vice contra "solteironas com gatos" castiga
campanha de Trump
O senador J.D. Vance
mal completou dez dias como vice na chapa republicana de Donald Trump e já se
viu no centro de uma tempestade de críticas feitas por celebridades, políticos
democratas e até fãs da cantora Taylor Swift, após uma entrevista concedida por
ele em 2021 voltar a viralizar nesta semana.
Na ocasião, ao falar
num programa do canal de direita Fox News, Vance descreveu os EUA como um país
que sofria nas mãos de "um bando de mulheres amarguradas que têm gatos em
vez de filhos".
Na mesma entrevista,
Vance identificou seus rivais democratas como o principal veículo de dominância
dessas "amarguradas" que, segundo ele, "estão infelizes com suas
próprias vidas e com as escolhas que fizeram, e por isso querem deixar o resto
do país infeliz também".
<><> Vice
sob pressão
A repercussão das
falas também ocorre em meio a uma eleição na qual o voto feminino pode ser
crucial. Nas eleições legislativas de 2022, os republicanos conseguiram apenas
26% dos votos entre mulheres de 18 a 29 anos, contra 72% dos democratas.
A controvérsia,
segundo vários jornais americanos, tem ajudado a alimentar dúvidas entre vários
estrategistas e ativistas republicanos se Trump fez mesmo a escolha certa ao
indicar Vance, de 39 anos, como vice. Tudo isso num momento em que a rival
campanha democrata ficou reenergizada com a ascensão de Kamala Harris.
"Se você tivesse
uma máquina do tempo, se voltasse duas semanas atrás, será que [Trump] teria
escolhido JD Vance novamente? Eu duvido", disse o comentarista de direita
Ben Shapiro.
Alguns estrategistas
republicanos também admitiram ao site Politico que Vance teve uma "semana
difícil" e que a indicação era mesmo "arriscada".
Paralelamente,
usuários de redes sociais desenterraram um outro vídeo - também de 2021 - no
qual Vance defende, em uma palestra, que pais com filhos tenham direito a mais
votos do que eleitores que não formaram famílias.
"Se você não tem
um investimento tão grande no futuro deste país, talvez não deva ter a mesma
voz", disse Vance, que é casado e tem três filhos. O republicano também é
radicalmente contra o aborto, mesmo em casos de incesto e estupro.
Ainda na entrevista à
Fox News, nomeou seus exemplos de "democratas sem filhos", entre eles
a atual vice-presidente Kamala Harris, que na semana passada foi endossada pelo
presidente Joe Biden como candidata para substituí-lo na disputa à Casa Branca
neste ano.
Vance ainda citou a
deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, e o atual ministro dos Transportes
dos EUA, Pete Buttigieg.
Harris tem dois
enteados com seu marido, Doug Emhoff. Buttigieg e seu marido, por sua vez,
adotaram gêmeos logo depois que a entrevista de Vance foi ao ar, em 2021.
<><> Onda
de repúdio
Após os comentários de
Vance ressurgirem nas redes, as atrizes Jennifer Aniston e Whoopi Goldberg e a
ex-secretária de Estado Hillary Clinton engrossaram o coro de críticas contra
Vance.
"Não acredito que
isto venha de um potencial vice-presidente dos Estados Unidos", disse
Aniston em publicação no Instagram. "Rezo para que a sua filha tenha a
sorte de ter os seus próprios filhos um dia. Espero que ela não tenha de
recorrer à fertilização in vitro (FIV) como segunda opção, porque você também
está tentando impedir isso", completou a atriz.
Recentemente, Vance
votou para bloquear uma legislação proposta por parlamentares democratas para
garantir acesso à FIV em todo os EUA.
Aniston, que não tem
filhos, revelou em 2023 que chegou a tentar um tratamento de fertilidade para
realizar o seu desejo de ser mãe, mas que não conseguiu engravidar.
Nas redes sociais, fãs
da cantora Taylor Swift, que não tem filhos e tem três gatos, também se
juntaram ao coro contra Vance. "É ousado, para alguém que busca votos,
focar em 'mulheres solteiras com gatos e sem filhos' quando a líder das
Mulheres Com Gatos e Sem Filhos é Taylor Swift", publicou a escritora
britânica Caitlin Moran na rede X.
A atriz e
apresentadora Whoopi Goldberg, por sua vez, dirigiu-se a Vance durante o
programa The View: "Há pessoas que querem ter filhos e não podem. Como se
atreve?". Hillary Clinton, que também dirigiu críticas, reagiu com
sarcasmo na sua conta na rede social X: "Que cara normal e simpático, que
com certeza não odeia que as mulheres tenham liberdade."
<><> Defesa
de maridos violentos?
Os comentários de
Vance têm sido explorados pela campanha de Kamala Harris. Na semana passada, os
democratas já haviam resgatado outra declaração de Vance feita em 2021, na qual
ele criticou a simplificação do processo de divórcio nas últimas décadas como
um "truque da revolução sexual" para permitir que as pessoas
"trocassem de cônjuges como trocam de roupa íntima".
Vance afirmou que o
divórcio, mesmo quando dissolvia casamentos infelizes e violentos, acabou por
ser prejudicial para crianças desses relacionamentos.
A fala acabou sendo
interpretada por adversários de Vance como uma defesa de maridos violentos.
"JD Vance diz que as mulheres devem permanecer em casamentos violentos
'pelo bem de seus filhos'", apontou uma mensagem da campanha de Kamala
Harris no X neste sábado (27/07), acompanhada do vídeo. Vance afirmou que o
comentário foi tirado do contexto.
Uma análise no jornal
Washington Post apontou que a fala original tinha mais nuances, e que ele se
referiu a "casamentos violentos" e não "maridos violentos",
levando em conta que Vance presenciou e sofreu violência doméstica na infância.
Mas, na prática, segundo o jornal, é compreensível que a fala tenha sido
interpretada como um argumento para que esposas se submetam a maridos
violentos, já que as estatísticas mostram que a violência doméstica afeta
desproporcionalmente as mulheres.
<><> Vance
dobra aposta
Na sexta-feira, Vance
tentou defender as falas contra "mulheres amarguradas sem filhos".
"Obviamente, foi um comentário sarcástico. As pessoas estão se
concentrando muito no sarcasmo e não na substância do que eu realmente disse
(...) e a substância do que eu disse, me desculpe, é verdade", disse ele
ao podcast da jornalista Megyn Kelly.
Vance também tentou se
reposicionar como um defensor dos pais, descrevendo seus comentários como uma
crítica aos democratas, que, segundo ele, executam medidas prejudiciais para
famílias. "Eu sei que a mídia quer me atacar e quer que eu recue, mas o
que eu disse é que ter filhos, ser pai ou mãe, muda sua perspectiva de uma
forma muito profunda".
Ainda na entrevista,
Vance disse: "Não tenho nada contra gatos". Esse último comentário
não passou despercebido nas redes sociais. "Vance esclarece que seu
problema não é com os gatos, mas com as mulheres", debochou no X a
jornalista americana Laura Rozen.
Fonte: Deutsche Welle/FolhaPress
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