Menino que
sonha em ser padre constrói a própria igreja aos 13 anos no Paraná
Lucas
Gordia Andrade tem 17 anos, é de São João do Triunfo, nos Campos Gerais do
Paraná, e sonha em ser padre. O jovem entrou para o seminário neste ano, mas o
desejo do sacerdócio o acompanha desde pequeno.
Ele
conta que brincava de rezar missas desde quando estava na pré-escola e, aos
seis anos de idade, colocou na cabeça que queria ter a própria igreja. Os pais
apoiaram a ideia e, quando ele tinha 13 anos, o ajudaram a construir uma capela
no terreno da própria casa.
A
Capela Sagrado Coração de Jesus e Nossa Senhora da Conceição tem cerca de oito
metros de altura, cinco metros de comprimento e 2,5 metros de largura. O espaço
é aberto à comunidade de Faxinal dos Ferreiras, área rural onde está
localizado.
Inspirada
no estilo neogótico, a capela foi construída a partir das ideias de Lucas e dos
investimentos da família do adolescente.
Pedreiros
que são amigos da família foram construindo a estrutura conforme as orientações
do jovem, que lembra com carinho da inauguração.
"Foi
um dia que se iniciou no nervosismo e terminou numa alegria muito bonita. Foi
um dia muito especial, porque a capela ainda não estava terminada, não tinha
nem piso, estava no chão bruto, mas ver que estava se construindo, ver que
estava se realizando o sonho que eu tinha desde pequeno foi muito bom",
afirma.
A
primeira celebração foi restrita à família, que se reuniu para orar no espaço.
Desde então, a partir do final de 2020 diversas novenas foram realizadas no
local. A primeira Santa Missa ocorreu em outubro de 2023, com o vigário da
paróquia da cidade.
No
início de 2024 Lucas entrou para o Seminário Propedêutico São João Paulo II, em
União da Vitória, no sul do Paraná.
Ele
estuda em regime de internato e, por isso, a administração e cuidados da capela
estão sob a responsabilidade dos pais do menino. Sempre que pode visitá-los o
jovem aproveita para contemplar o sonho realizado.
• Mais igrejas na família
Os
pais de Lucas são agricultores e realizaram o sonho do filho construindo a
capela no próprio terreno.
Eles
estimam que gastaram cerca de R$ 30 mil na construção, que também contou com a
ajuda de familiares. O avô materno, por exemplo, doou tábuas de cedro para a
construção do altar e colocou a mão na massa durante a obra.
"Quando
o pedreiro começou a construir a gente foi se envolvendo, ajudando ele nas
ideias que ele tinha. E para não encarecer a mão de obra o meu pai ficou
ajudando o pedreiro", conta Emiliane Gordia Andrade, mãe de Lucas.
Não
houve projeto prévio; a construção foi sendo feita conforme as ideias do jovem
e a experiência dos profissionais.
De
acordo com a prefeitura de São João do Triunfo, não há a necessidade de
aprovação de projetos e alvarás de construção para edificações localizadas na
zona rural da cidade, conforme o Código de Obras do Município.
Lucas
conta que não se inspirou em nenhuma igreja específica, mas, sim, no estilo
arquitetônico neogótico, que surgiu na Europa no século 18.
"Eu
tentei, através dos arcos, janelas e portas e também da parte do forro e da
cobertura, imitar igrejas góticas, que têm torre alta, que aponta para cima,
para o alto, e uma cobertura mais alta para que conseguisse fazer o forro
detalhado [...] A questão dos detalhes o pedreiro que foi colocando em prática
na construção. Fomos nós dois os 'arquitetos'", conta.
A
capela possui apenas a área para orações. O nome do espaço foi inspirado em
devoções do próprio Lucas.
Ele
conta que tanto a cidade onde fica a capela, São João do Triunfo, quanto a
cidade onde ele nasceu, a vizinha Palmeira, têm devoções especiais pelas
figuras religiosas.
• Fé desde o berço
O
interesse pela religião vem de família - e Lucas não foi o primeiro a ter a
própria capela. Os avós do pai dele, Emerson Lucas Distefano Andrade, também
construíram uma igreja décadas antes.
"O
meu bisavô Jorge também tinha uma capela que pertencia à família. E aí, por
conta que a comunidade não tinha capela, ela foi cedida para a Mitra
[diocese]", lembra Lucas.
Os
pais do adolescente lembram que desde pequeno ele tinha interesse pelos ritos e
imagens da igreja católica.
"Em
todo lugar que nós saíamos ele comprava uma imagem de Nossa Senhora, de santos,
de Jesus. Não queria brinquedo, queria imagens. Ele tem centenas!", lembra
Emerson.
A
mãe, Emiliane, também conta que, mesmo não tendo acesso à internet na época, o
filho sabia o nome de todos os santos.
"Já
com uns 12 anos, ele comprava imagens em branco para pintar, tanto é que na
capela têm duas imagens - uma do Sagrado Coração de Jesus e uma da Nossa
Senhora - que ele mesmo pintou", revela.
• A caminho do sacerdócio
No
início deste ano Lucas entrou para o seminário, com o desejo de se tornar padre
- o primeiro da família. Até lá, serão necessários pelo menos sete anos na
instituição.
Ele
está na fase inicial - o propedêutico, que define como um "enamorar da
vocação".
"É
um ano de propedêutico, dois anos de filosofia e quatro anos de teologia. Aí
tem um estágio pastoral, que acontece durante o curso de Teologia, e na
pastoral tem um estágio que é feito antes de ser ordenado diácono. Depois
trabalha em alguma paróquia e, enfim, chega à ordenação sacerdotal",
explica.
O
regime é de internato, com um final de semana de folga no mês. Lucas quer ser
pároco e avalia que, "um padre que cuida do seu povo é um padre que
realmente entendeu o que é a vocação sacerdotal".
Para
os pais, a saudade aperta, mas o sentimento também é de orgulho pela escolha do
filho.
"A
gente fica com uma sensação de perda. Ele sempre estava aqui junto, nunca ficou
muito tempo longe... Mas nós sempre apoiamos as decisões dele e só temos que
agradecer a Deus por ter esse menino de ouro na nossa vida", afirma
Emerson.
Lucas
quer ser pároco e "salvar almas", como define.
"Eu
acho que um padre que cuida do seu povo é um padre que realmente entendeu o que
é a vocação sacerdotal", afirma.
Fonte:
g1
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