Em 10
anos, 1% mais rico faturou 19 vezes PIB do Brasil
A última década foi
próspera para o 1% mais rico do planeta, que conseguiu aumentar suas fortunas
em 42 trilhões de dólares (R$ 236,6 trilhões) – o equivalente a mais de 19
vezes o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que em 2023 foi de 2,17
trilhões de dólares, segundo dados do Banco Mundial. O valor é ainda 34 vezes
superior ao reunido no mesmo período pelos 50% mais pobres do mundo.
Os dados são da Oxfam
e foram divulgados nesta quinta-feira (25/07), mesma data em que ministros das
Finanças do G20 se reúnem no Rio de Janeiro para
discutir a taxação dos super-ricos.
Descontada a inflação,
a ONG afirma que o 1% mais rico enriqueceu em média 400 mil dólares na última
década, enquanto que a metade mais pobre do mundo acumulou 335 dólares no mesmo
período.
A entidade alerta que
os bilionários "têm pago uma taxa de imposto equivalente a menos de 0,5%
de sua riqueza" em todo o mundo enquanto o mundo mergulha em "níveis obscenos" de desigualdade, com o resto do planeta disputando "migalhas".
"A parcela da
renda do 1% mais rico nos países do G20 aumentou em 45% ao longo de quatro
décadas, enquanto as taxas máximas de imposto sobre suas rendas foram reduzidas
em aproximadamente um terço", afirma a Oxfam, atribuindo a queda na
arrecadação junto aos mais ricos ao que chamou de "guerra contra a
tributação justa". Segundo ela, impostos sobre a riqueza respondem hoje
por menos de oito centavos de cada dólar arrecadado em receita tributária nos
países do G20.
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Ministros das Finanças do G20 reunidos no Rio de Janeiro
O Brasil, que ocupa a
presidência rotativa do G20, grupo que reúne 80% do PIB global – e, segundo a
Oxfam, quase quatro em cada cinco bilionários –, fez da taxação dos super-ricos
uma prioridade em seu mandato e tenta avançar em reuniões nesta quinta e sexta-feira
com uma proposta para combater a evasão de impostos entre bilionários.
"Essa semana será
o primeiro teste de fogo para os governos do G20. Eles têm a vontade
política para estabelecer um padrão global que coloque as necessidades da
maioria antes da ganância de uns poucos da elite?", questionou o chefe de
política de desigualdade da Oxfam International, Max Lawson.
França, Espanha,
África do Sul, Colômbia e a União Africana apoiam a agenda brasileira, mas não
os Estados Unidos, que são a maior economia do planeta. A Alemanha já sinalizou
apoio à proposta no passado, mas enviou um representante à reunião desta quinta
do Ministério das Finanças, gerido pelo liberal Christian Lindner (FDP), que
dispensou a ideia taxando-a de "irrelevante".
Secretária do Tesouro
americano, Janet Yellen afirmou nesta quinta que seu país não vê necessidade de
negociar um acordo internacional nesse sentido, mas que apoia a taxação
progressiva, em que ricos pagam mais e pobres, menos. "É muito difícil
coordenar política fiscal globalmente", declarou a jornalistas no Rio.
"Pensamos que todos os países deveriam se assegurar de que seus sistemas
fiscais são justos e progressivos."
O economista francês
Gabriel Zucman, que presta consultoria tributária ao G20, calcula que a taxa de
impostos para bilionários equivalha a 0,3% de suas riquezas. Em um relatório
recente encomendado pelo G20, o especialista recomendou a imposição de um
tributo sobre 2% das fortunas.
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Brasil ousou na presidência do G20 e superou ceticismo sobre taxação de
super-ricos, diz Haddad
Questionado sobre
a resistência de algumas autoridades sobre a realização de um
acordo global sobre a taxação dos chamados
super-ricos, Haddad apontou que a inclusão desses mecanismos na declaração não
impede que alguns países já comecem a tomar providências.
O ministro ainda
ressaltou que esta é uma “conquista de natureza moral”, que busca a justiça
fiscal e combater a evasão.
“É trabalhoso, mas o
Brasil não se furtou a ousar na presidência do G20. Contra o ceticismo
manifestado por todo mundo no começo do ano, temos um primeiro passo,
reconhecido pelos 20 membros”, reforçou Haddad.
“Já é de conhecimento
de todos os ministros que [a proposta de taxação dos super-ricos] foi aclamada.
É uma discussão que está na ordem do dia, no mundo inteiro”, aponta.
O documento, que deve
ser o primeiro do tipo feito em consenso pelo G20 desde 2021, foi apresentado
em reunião realizada em um hotel na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, e deve
ter a parte técnica e a redação revisadas.
Segundo Haddad, a
decisão é histórica, já que se trata da primeira declaração do G20 sobre
cooperação tributária.
“Vinte países terem
concordado em se debruçar em um tema proposto pelo Brasil é algo de natureza
ética que precisa ser comemorado.
Nós ficamos
satisfeitos com o apoio recebido. Praticamente todos os participantes fizeram
questão de enfatizar a liderança do Brasil no G20”, comemorou.
Mas o ministro da
Fazenda indica que esse é o começo de um “processo mais amplo”, e que os
próximos passos vão depender de uma participação maior da academia, de
estudiosos e de organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas
(ONU).
“Proposta merece a
atenção devida e mobilização dos organismos internacionais, e do próprio G20,
para que mesmo quando Brasil deixar presidência [do grupo], esse tema não perca
centralidade”, concluiu Haddad.
A proposta do Brasil –
que preside o grupo das 20 maiores economias do mundo neste ano – é de cobrar um imposto de 2% sobre fortunas acima de US$ 1 bilhão. A expectativa de arrecadação é de US$ 250 bilhões anualmente, sobre a fortuna de 3.000 indivíduos.
O ministro afirmou
ainda que há membros do G20 com preferências por outras soluções para o combate
à pobreza e a fome, mas ao final da reunião realizada nesta quinta, todos
concordaram que o assunto esteja na agenda internacional.
“As pessoas se
desarmaram para o debate”, afirmou Haddad.
Mais cedo, durante a
primeira reunião de ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais do
G20, a secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, afirmou que os Estados
Unidos apoiam a tributação progressiva de acordo com a decisão de cada país, mas
afirmou que não considera oportuno tentar negociar um acordo global sobre a
tributação dos super-ricos.
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Alguns bilionários continuam evadindo sistemas tributários e jogam Estados uns
contra os outros, diz Haddad
O ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, parabenizou nesta quinta-feira (25) o esforço internacional
pela taxação dos super-ricos, em discurso durante o 3º encontro entre ministros
das Finanças e presidentes de Bancos Centrais do G20.
“Vários países,
incluindo o Brasil, estão se esforçando para fortalecer sua capacidade fiscal,
ao mesmo tempo em que procuram atender as aspirações legítimas de suas populações
por justiça social e serviços públicos de alta qualidade”, disse Haddad.
“Enquanto isso, alguns
poucos bilionários continuam evadindo os nossos sistemas tributários, jogando
os Estados uns contra os outros, utilizando brechas para evitar o pagamento da
sua justa contribuição em impostos, e minando capacidades das autoridades
públicas”, enfatizou o ministro da Fazenda.
A expectativa é de que
o encontro resulte em uma declaração em conjunto, entre essas autoridades do
G20, endossando um mecanismo de taxação progressiva.
De acordo com a
secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda e coordenadora
da trilha de finanças do G20, Tatiana Rosito, todas as propostas apresentadas pelo Brasil na área tributária
estarão nos documentos finais da reunião,
incluindo o plano para uma taxação mínima global sobre os super-ricos.
Haddad enfatizou que a
declaração final será um documento histórico. “É a primeira vez que nós,
ministros da trilha de Finanças do G20, falamos em uníssono sobre uma série de
questões relativas à cooperação tributária internacional, desde o progresso na agenda
de BEPS até a transparência tributária, incluindo a tributação dos
super-ricos”, pontuou Haddad.
A “agenda BEPS” (Base
Erosion and Profit Shifting, em português Erosão de Base e Transferência de
Lucros) mencionada por Haddad se refere a essas políticas de transferência de
renda.
“Devemos tributar mais
os ricos e menos os pobres, melhorando a eficiência global e a legitimidade
democrática do sistema tributário”, apontou o ministro da Fazenda.
A proposta do Brasil –
que preside o grupo das 20 maiores economias do mundo neste ano – é de cobrar um imposto de 2% sobre fortunas acima de US$ 1 bilhão. A expectativa de arrecadação é de US$ 250 bilhões anualmente, sobre a fortuna de 3.000 indivíduos.
“Seguindo em frente,
devemos unir esforços para construir uma convenção-quadro ambiciosa nas Nações
Unidas, sempre com o apoio inestimável da União Africana,
concluir a agenda BEPS, e avançar no sentido de um imposto mínimo global
coordenado sobre os bilionários”, concluiu Haddad.
¨ Falta de imposto sobre fortunas custou EUR 380 bi à Alemanha
Os mais ricos da
Alemanha tinham seu patrimônio taxado em
1% ao ano – até 1996, a partir de quando o imposto deixou de ser arrecadado. De
1997 até 2023, essa renúncia já custou ao Estado alemão mais de 380 bilhões de
euros, constata uma análise publicada na terça-feira (02/07) pela Netzwerk
Steuergerechtigkeit (Rede Justiça Tributária) e a ONG de desenvolvimento Oxfam.
A quantia equivale a
80% do orçamento federal previsto para 2024, de 477 bilhões de euros.
Paralelamente, desde 2001 a fortuna dos 100 alemães mais ricos foi acrescida em
460 bilhões de euros.
"Uma maioria
esmagadora da população na verdade é a favor da reintrodução do imposto, mas ao
mesmo tempo teme a evasão fiscal dos ricos", afirmam os autores Michaela
Alka e Christoph Trautvetter, da Netzwerk Steuergerechtigkeit, sediada em Berlim.
<><> Sem
medo de evasão fiscal
Sob o título Sem
medo de evasão fiscal, o estudo examina com que leis o Estado alemão tem
procurado impedir esse comportamento, nos últimos 100 anos. Desde a introdução
do imposto de migração, em 1972, ficou caro para os super-ricos simplesmente
transferir o local de residência pessoal para o exterior, pois "devem
entregar na fronteira um terço do patrimônio total acumulado na Alemanha".
Alka e Trautvetter dão
um exemplo: se Susanne Klatten, grande acionista da BMW e mulher mais rica de
Alemanha, decidisse mudar de país, isso lhe custaria cerca de 6,5 bilhões
de euros.
Pouco antes da
implementação da lei, sete bilionários alemães abandonaram o país. Os
legisladores reagiram a tentativas de fuga posteriores, como a da família
Porsche em 2010, fechando lacunas. "Hoje a migração não tributada só é
possível se o patrimônio permanece na Alemanha, sujeito a impostos",
explica o estudo.
Também a transferência
de empresas ou partes delas pode ficar cara. Categorias fiscais pouco
conhecidas do público, como o "imposto de saída" (Entstrickungsbesteuerung ou exit
tax) ou a tributação da transferência de funções, resultam em os
proprietários "deverem ceder quase a metade de seu patrimônio
acumulado" no país.
A sonegação de
impostos clássica também ficou mais difícil desde a entrada em vigor do
intercâmbio de informações automático, que permite ao fisco nacional obter
dados de mais de 100 países sobre as contas bancárias locais de contribuintes
alemães.
A conclusão da análise
conjunta da rede Steuergerechtigkeit e Oxfam é que o temor de que, com a
reintrodução do imposto sobre grandes fortunas, os bilionários abandonariam a
Alemanha, não é fundamentado. Tampouco há motivo para recear que a medida
resulte numa perda de postos de trabalho locais.
<><> Culpa
do governo conservador cristão-neoliberal
No geral, os autores
dão boa nota à legislação tributária nacional: "Nas últimas décadas, a
Alemanha estabeleceu regras abrangentes e exemplares no âmbito internacional
que dificultam seriamente, se não impedem, a evasão fiscal." Portanto, a
reintrodução de um imposto sobre grandes fortunas é "não só possível, como
urgentemente necessária".
A possibilidade de
tributar fortunas está expressamente prevista no Artigo 106 da Lei Fundamental
(Constituição) alemã, cabendo as quantias arrecadadas aos respectivos estados
federados.
Mas em 1995 o Tribunal
Constitucional Federal considerou incompatível com a Lei Fundamental a forma
como o imposto estava sendo recolhido, até então. Entre outros pontos, os
juízes criticaram a base de avaliação como obsoleta e, portanto, baixa demais
para a tributação de imóveis.
A coalizão
governamental da época, formada pela União Democrata Cristã (CDU) e Social
Cristã (CSU) e o Partido Liberal Democrático (FDP), posicionou-se contra as
exigências do tribunal de uma reavaliação e em tributação imobiliária mais
severa. Como justificativa, citaram a elevada alíquota fiscal máxima, de 53% –
hoje limitada a 45%.
Consequentemente, o
governo conservador cristão-neoliberal liderado Helmut Kohl suspendeu a
cobrança do imposto sobre fortunas. A lei concernente, contudo, nunca foi
revogada.
Em 1996, último ano de
aplicação do imposto, recolheu o equivalente a 4,6 bilhões de euros. O
presente cálculo se baseia na hipótese de que as arrecadações se manteriam na
média dos últimos anos antes da suspensão. Nesse caso, até 2023 a quantia anual
estaria em cerca de 30 bilhões de euros, somando, pelo menos, um total de
380 bilhões de euros.
Fonte: Deutsche Welle/CNN
Brasil
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