Trump desperdiçou a chance de se apresentar
sob nova roupagem
Indicado formalmente
como candidato republicano, cinco dias após sobreviver a um atentado, Donald
Trump lançou notas de emoção e apelos pela união do país no discurso de uma
hora e meia que encerrou a convenção do partido. Mas essa versão moderada,
prometida como uma espécie de renascimento político, durou pouco.
“A discórdia e a
divisão em nossa sociedade devem ser curadas. Nós nos erguemos juntos ou
desmoronamos. Estou concorrendo para ser presidente de todo a América, não de
metade da América, porque não há vitória em vencer por metade do país”,
ponderou no início do discurso.
O ex-presidente,
contudo, voltou rapidamente ao modo habitual: saiu do roteiro programado
por sua campanha e improvisou, destilando pelo menos 21 informações falsas, segundo a contagem rápida de um repórter da CNN. Começaram os
ataques aos democratas e ao governo Biden, cujo nome foi citado apenas uma vez.
O tom modulado na voz
não disfarçou o teor virulento da mensagem, padronizado em seus comícios. Trump
demonizou os imigrantes ilegais, a inflação no atual governo, o sistema
judicial e repetiu as denúncias de fraude nas eleições de 2020.
“Se os democratas
querem unir o país, deveriam parar a caça às bruxas que venho sofrendo há oito
anos. Sou eu quem está salvando a democracia para o povo do nosso país.”
O ex-presidente queria
perpetuar a onda solidária gerada após a tentativa de assassinato na
Pensilvânia. Em clara vantagem, os republicanos se mostraram unidos em torno do
trumpismo na convenção do partido, em descompasso com os adversários
democratas, que parecem erodir em torno da candidatura de Biden.
Pela primeira vez
desde sábado, Trump descreveu detalhadamente como escapou do atentado e
arrancou lágrimas na plateia silenciosa e fascinada que o ouvia no estádio em
Milwaukee. Beijou o capacete do bombeiro Corey Comperatore. “Eu não era para
estar aqui. Eu me senti muito seguro porque tinha Deus ao meu lado. Estou aqui
hoje só por conta da graça de Deus.”
O momento de
consternação se dissipou com os costumeiros elogios ao seu governo e à forma de
administrar o país. Trump se gabou por se dar bem com o ditador Kim
Jong-un e com o premiê Viktor Orbán, da Hungria, representante da extrema
direita na Europa. Referiu-se a Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara, como
maluca. Prometeu fechar fronteiras no primeiro dia de seu mandato e
acabar com guerras na Ucrânia e no Oriente Médio com apenas uma ligação.
Trump desperdiçou a
chance de se apresentar sob nova roupagem, para atrair indecisos nos
estados-pêndulo. No primeiro discurso após o atentado, prevaleceram as queixas
e os ataques de sempre.
¨ Em discurso, Trump diz que divisão nos EUA precisa ser 'curada',
mas ataca imigrantes e adversários
Em sua primeira fala
após ser alvo de um atentado, o ex-presidente Donald
Trump afirmou em a divisão nos Estados
Unidos precisa ser curada. No entanto,
depois de adotar um tom moderado na primeira parte discurso, o republicano
atacou os democratas em diversas oportunidades e disse, sem citar provas, que a
imigração provocou aumento na criminalidade.
Pela quarta noite
consecutiva de convenção, nesta quinta-feira (18), Trump apareceu com um
curativo na orelha direita, que ficou machucada após o atentado de sábado (13).
Antes do discurso, o
Partido Republicano divulgou trechos do texto que seria lido por Trump. No
entanto, o ex-presidente improvisou em vários momentos. Ele também evitou citar
o nome de Joe Biden, se referindo a ele como "atual administração".
Trump já foi
oficializado como candidato do Partido Republicano na eleição presidencial
marcada para novembro. O vice na chapa será J.D. Vance, atual senador por
Ohio.
A campanha do
ex-presidente disse que ele resolveu escrever um novo discurso após o ataque.
Já era esperado que o texto divesse um tom mais conciliador e presidencial.
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Atentado
Trump relembrou o
atentado que sofreu na Pensilvânia, no sábado (13). Ele afirmou que está será a
única vez que ele comentará o assunto, por ser "muito doloroso".
Ele agradeceu ao povo
norte-americano pelo apoio dado após o ataque e afirmou que ficou a menos de um
centímetro da morte.
Trump relatou que
estava falando sobre um gráfico de imigração, quando se virou. Em seguida, ele
ouviu um barulho de tiro e viu sangue ao levar a mão à orelha.
O ex-presidente
agradeceu aos agentes do Serviço Secreto pela proteção e disse que sentiu a
presença de Deus após o atentado.
"Se eu não
tivesse virado a cabeça naquele momento, aquele assassino teria atingido o seu
alvo. E nós não estaríamos juntos aqui hoje. [...] Tive Deus do meu lado."
Trump disse que fez um
aceno ao público para demonstrar que estava bem e resolveu pedir para que as
pessoas lutassem.
O ex-presidente também
relatou que conversou com as duas vítimas que se feriram no atentado. Em
seguida, Trump levantou o capacete do bombeiro Corey Comperatore, que morreu no
ataque, e fez uma homenagem. O republicano anunciou ajuda financeira à família.
"Apesar de um
ataque tão hediondo, nos unimos esta noite mais determinados do que nunca.
Nossa determinação está intacta e nosso propósito permanece o mesmo: entregar
um governo que sirva ao povo americano."
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União
No início do discurso,
Trump defendeu a união, afirmando que todos são cidadãos de um mesmo país. Ele
também disse que a eleição presidencial será sobre como resolver os problemas
enfrentados pelos Estados Unidos.
"Estou
concorrendo para ser presidente de toda a América, não da metade. Não há
vitória em ganhar por metade da América."
O republicano também
fez um aceno à diversidade, citando até mesmo o partido democrata e imigrantes.
"A cada cidadão,
seja jovem ou velho, homem ou mulher, democrata, republicano ou independente,
negro ou branco, asiático ou hispânico, estendo a vocês uma mão de lealdade e
amizade."
No entanto, logo em
seguida, Trump disse que o Partido Democrata usa a Justiça dos Estados Unidos
como arma e alegou que sofre um "caça às bruxas" por parte dos
opositores.
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Imigração
No discurso, Trump
prometeu fronteiras seguras, se for eleito. Ele afirmou que reestabelecerá a
lei e a ordem, além do patriotismo. Além disso, o ex-presidente ligou a
imigração ao aumento da criminalidade nos Estados Unidos, sem citar provas.
"Temos uma crise
de imigração ilegal. Uma invasão massiva em nossa fronteira sul que espalhou
miséria, crime, pobreza, doença e destruição em comunidades por todo o nosso
território."
Esse tipo de discurso
do ex-presidente já foi refutado outras vezes. Pesquisadores afirmam que a
proporção de crimes violentos cometidos por imigrantes irregulares não é maior
do que a taxa registrada entre cidadãos norte-americanos.
Trump prometeu ainda
fechar a fronteira com o México e finalizar a construição de um muro entre os
dois países. A obra foi iniciada na gestão dele, entre 2017 e 2021.
O ex-presidente disse
que as cidades dos Estados Unidos estão "inundadas de imigrantes
ilegais", e que os americanos estão sendo "expulsos".
"Eles
[imigrantes] estão vindo de prisões e cadeias, de instituições mentais e
asilos, e terroristas em níveis nunca antes vistos."
Trump prometeu a maior
operação de deportação da história do país.
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Economia e inflação
Trump fez críticas à
gestão do presidente Joe Biden. Ele afirmou que os preços subiram durante o
governo democrata e que trabalhos foram cortados.
Em seguida, o
ex-presidente prometeu redução nos impostos e em custos para a produção de
energia.
"Sob meu plano,
os rendimentos vão disparar, a inflação vai desaparecer, os empregos vão voltar
com força total, e a classe média vai prosperar como nunca antes."
Ele também afirmou que
acabará com a política de incentivo à produção e uso de carros elétricos. Trump
classificou leis ambientais adotadas recentemente como "ridículas".
Trump também afirmou
que vai trazer de volta o "sonho americano" e que os Estados Unidos
estão a beira de uma nova "era dourada".
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Guerra na Ucrânia e no Oriente Médio
Trump disse que o
planeta está se encaminhando para a Terceira Guerra Mundial e prometeu acabar
com as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio.
O ex-presidente disse
que vai trazer paz e estabilidade para o mundo e afirmou que nenhum conflito
foi iniciado durante a gestão dele.
Além disso, o
republicano criticou gestões anteriores, incluindo a do republicano George W.
Bush. Ele afirmou que, nos mandatos passados, a Rússia promoveu invasões em
outros países.
Trump também
classificou a retirada das tropas dos Estados Unidos do Afeganistão, durante o
governo Biden, como "desastrosa".
"Encorajados por
aquele desastre, a Rússia invadiu a Ucrânia. Israel sofreu o pior ataque de sua
história. Agora a China está cercando Taiwan, e navios de guerra e submarinos
nucleares russos estão operando a 60 milhas de nossa costa, em Cuba."
Ao se referir à Coreia
do Norte, Trump disse que conseguia lidar com o líder Kim Jong-un enquanto era
presidente. Os dois chegaram a se reunir, em 2019.
"É bom conviver
com alguém que tem muitas armas nucleares”, disse. "Ele [Kim] também
gostaria de me ver de volta. Acho que ele sente minha falta", afirmou.
Já em relação ao
conflito no Oriente Médio, ele prometeu que o Hamas pagará um "preço
alto" se os reféns mantidos pelos terroristas não forem libertados até que
ele assuma a presidência.
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Trump promete criar 'Domo de Ferro' nos EUA; conheça como funciona
O ex-presidente Donald
Trump prometeu criar um "domo de ferro", como o de Israel, para proteger os Estados Unidos de ataques.
Trump discursou no encerramento da convenção que o oficializou como como
candidato a presidente dos EUA pelo Partido Republicano, que terminou na madrugada de sexta-feira (19). As eleições
acontecem em 5 de novembro.
O domo de ferro é um
escudo que intercepta foguetes inimigos e é usado por Israel há mais de 35
anos.
"(...)
Construiremos um sistema de defesa antimísseis Iron Dome para garantir que
nenhum inimigo possa atacar a nossa pátria. E este grande Iron Dome será
construído inteiramente nos EUA. Israel tem um Iron Dome. Eles têm um sistema
de defesa antimísseis", disse Trump.
Ele disse que o
ex-presidente Ronald Reagan, que governou o país entre (1981 e 1989, queria um
sistema de defesa assim quando presidiu os EUA, mas que na ocasião não havia
tecnologia para fazê-lo.
🔍 Desenvolvimento: As pesquisas para a instalação de um
sistema de defesa aérea começaram há mais de 35 anos.
- À época, Israel assinou um contrato com os Estados Unidos
para participar de um projeto de defesa estratégica.
- Segundo o Ministério da Defesa de Israel, em 1986 foi
tomada a decisão para o desenvolvimento de um sistema que pudesse atender
as necessidades de segurança do país.
- Ferramentas de defesa foram criadas nos anos seguintes, a
partir das pesquisas. No entanto, o desenvolvimento do atual "Domo de
Ferro" começou em 2007.
✅ Início das operações: Foi apenas em março de 2011 que o
sistema se tornou operacional.
- Antes disso, o escudo passou por diversos testes, sendo
aprovado.
- Em abril de 2011, o Domo de Ferro derrubou um míssil
lançado contra uma cidade do sul do país.
- Desde então, novos testes foram feitos, com ataques
interceptados.
💥 Como funciona: Basicamente, o sistema conta com
diversos instrumentos de monitoramento, como radares, que conseguem identificar
ataques inimigos.
- Quando um ataque é identificado, a tecnologia calcula a
trajetória do foguete inimigo e verifica se uma área urbana será
bombardeada.
- O sistema, então, lança um míssil interceptor que explode o
artefato inimigo ainda no ar.
- A ferramenta é móvel, podendo funcionar e ser instalada em
qualquer lugar do país.
- As baterias com os mísseis interceptores podem ser
instaladas em veículos militares, por exemplo.
🪖 Eficiência: Segundo o Ministério da Defesa, o Domo de
Ferro consegue interceptar cerca de 90% dos ataques inimigos. O sistema
continua em evolução, com apoio dos Estados Unidos.
¨ 'Trump volta a ser Trump': veja a análise do discurso do
ex-presidente em convenção republicana
O ex-presidente Donald
Trump discursou durante a convenção
republicana que o oficializou como candidato à Casa Branca nesta quinta-feira
(18). Durante a fala, ele pregou a união, mas atacou adversários e criticou
imigrantes.
O discurso de Trump durou cerca de uma hora e meia e foi transmitido pelo g1. Veja abaixo a
análise da fala do ex-presidente pelos comentaristas da GloboNews.
·
Guga Chacra
O jornalista Guga
Chacra afirmou que "Trump voltou a ser Trump" durante o discurso. Ele
ressaltou que o ex-presidente improvisou diversas vezes, o que empolgou o
público republicano que estava presente na convenção.
"Ele não
conseguiu durar nem uma hora e meia com aquela tentativa de ser um Trump
diferente, um Trump mais sereno, um Trump mais disciplinado", afirmou.
Para Guga, Trump usou
termos pesados para se referir à imigração nos Estados
Unidos, o que pode estimular a xenofobia entre os
eleitores.
Além disso, segundo o
jornalista, Trump aproveitou o atual contexto geopolítico para dizer que o
mundo era mais estável quando era presidente.
"Ele usa esse
momento de fragilidade na situação mundial para se colocar como um grande
estadista, como um líder da geopolítica, e dando a entender que todos o
temem."
·
Marcelo Lins
Marcelo Lins afirmou
que Donald Trump saiu do script várias vezes. Ele disse que o ex-presidente
falou de união em alguns momentos, mas não poupou ataques.
"Ele falou vários
números que são difíceis de verificar, quando não são claramente falsos:
centenas de milhares de mortos por conta dos imigrantes ilegais, gente que vem
de hospícios, de prisões e tudo mais", disse.
Para o jornalista, o
discurso funciona em termos de marketing político, mas faltaram propostas
claras de governo.
"Me parece que
ele consolida a base de eleitores que ele já tinha, o que pode ser suficiente
para ele, mas não amplia."
·
Sandra Coutinho
Sandra Coutinho diz
que Trump usou histórias fantasiosas contra os imigrantes
Para a correspondente
Sandra Coutinho, Trump centrou as críticas mais duras aos imigrantes. A
jornalista disse que o ex-presidente usou histórias fantasiosas ao relacionar a
imigração com o aumento da criminalidade no país.
"O que as
estatísticas mostram é que a criminalidade está caindo nos Estados Unidos,
mesmo com o aumento da imigração. Fico pensando que tipo de ressonância esse
discurso tem entre os imigrantes latinos", afirmou.
Fonte: g1
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