sábado, 20 de julho de 2024

Trump desperdiçou a chance de se apresentar sob nova roupagem

Indicado formalmente como candidato republicano, cinco dias após sobreviver a um atentado, Donald Trump lançou notas de emoção e apelos pela união do país no discurso de uma hora e meia que encerrou a convenção do partido. Mas essa versão moderada, prometida como uma espécie de renascimento político, durou pouco.

“A discórdia e a divisão em nossa sociedade devem ser curadas. Nós nos erguemos juntos ou desmoronamos. Estou concorrendo para ser presidente de todo a América, não de metade da América, porque não há vitória em vencer por metade do país”, ponderou no início do discurso.

O ex-presidente, contudo, voltou rapidamente ao modo habitual: saiu do roteiro programado por sua campanha e improvisou, destilando pelo menos 21 informações falsas, segundo a contagem rápida de um repórter da CNN. Começaram os ataques aos democratas e ao governo Biden, cujo nome foi citado apenas uma vez.

O tom modulado na voz não disfarçou o teor virulento da mensagem, padronizado em seus comícios. Trump demonizou os imigrantes ilegais, a inflação no atual governo, o sistema judicial e repetiu as denúncias de fraude nas eleições de 2020.

“Se os democratas querem unir o país, deveriam parar a caça às bruxas que venho sofrendo há oito anos. Sou eu quem está salvando a democracia para o povo do nosso país.”

O ex-presidente queria perpetuar a onda solidária gerada após a tentativa de assassinato na Pensilvânia. Em clara vantagem, os republicanos se mostraram unidos em torno do trumpismo na convenção do partido, em descompasso com os adversários democratas, que parecem erodir em torno da candidatura de Biden.

Pela primeira vez desde sábado, Trump descreveu detalhadamente como escapou do atentado e arrancou lágrimas na plateia silenciosa e fascinada que o ouvia no estádio em Milwaukee. Beijou o capacete do bombeiro Corey Comperatore. “Eu não era para estar aqui. Eu me senti muito seguro porque tinha Deus ao meu lado. Estou aqui hoje só por conta da graça de Deus.”

O momento de consternação se dissipou com os costumeiros elogios ao seu governo e à forma de administrar o país. Trump se gabou por se dar bem com o ditador Kim Jong-un e com o premiê Viktor Orbán, da Hungria, representante da extrema direita na Europa. Referiu-se a Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara, como maluca. Prometeu fechar fronteiras no primeiro dia de seu mandato e acabar com guerras na Ucrânia e no Oriente Médio com apenas uma ligação.

Trump desperdiçou a chance de se apresentar sob nova roupagem, para atrair indecisos nos estados-pêndulo. No primeiro discurso após o atentado, prevaleceram as queixas e os ataques de sempre.

¨      Em discurso, Trump diz que divisão nos EUA precisa ser 'curada', mas ataca imigrantes e adversários

Em sua primeira fala após ser alvo de um atentado, o ex-presidente Donald Trump afirmou em a divisão nos Estados Unidos precisa ser curada. No entanto, depois de adotar um tom moderado na primeira parte discurso, o republicano atacou os democratas em diversas oportunidades e disse, sem citar provas, que a imigração provocou aumento na criminalidade.

Pela quarta noite consecutiva de convenção, nesta quinta-feira (18), Trump apareceu com um curativo na orelha direita, que ficou machucada após o atentado de sábado (13).

Antes do discurso, o Partido Republicano divulgou trechos do texto que seria lido por Trump. No entanto, o ex-presidente improvisou em vários momentos. Ele também evitou citar o nome de Joe Biden, se referindo a ele como "atual administração".

Trump já foi oficializado como candidato do Partido Republicano na eleição presidencial marcada para novembro. O vice na chapa será J.D. Vance, atual senador por Ohio.

A campanha do ex-presidente disse que ele resolveu escrever um novo discurso após o ataque. Já era esperado que o texto divesse um tom mais conciliador e presidencial.

<><> Atentado

Trump relembrou o atentado que sofreu na Pensilvânia, no sábado (13). Ele afirmou que está será a única vez que ele comentará o assunto, por ser "muito doloroso".

Ele agradeceu ao povo norte-americano pelo apoio dado após o ataque e afirmou que ficou a menos de um centímetro da morte.

Trump relatou que estava falando sobre um gráfico de imigração, quando se virou. Em seguida, ele ouviu um barulho de tiro e viu sangue ao levar a mão à orelha.

O ex-presidente agradeceu aos agentes do Serviço Secreto pela proteção e disse que sentiu a presença de Deus após o atentado.

"Se eu não tivesse virado a cabeça naquele momento, aquele assassino teria atingido o seu alvo. E nós não estaríamos juntos aqui hoje. [...] Tive Deus do meu lado."

Trump disse que fez um aceno ao público para demonstrar que estava bem e resolveu pedir para que as pessoas lutassem.

O ex-presidente também relatou que conversou com as duas vítimas que se feriram no atentado. Em seguida, Trump levantou o capacete do bombeiro Corey Comperatore, que morreu no ataque, e fez uma homenagem. O republicano anunciou ajuda financeira à família.

"Apesar de um ataque tão hediondo, nos unimos esta noite mais determinados do que nunca. Nossa determinação está intacta e nosso propósito permanece o mesmo: entregar um governo que sirva ao povo americano."

<><> União

No início do discurso, Trump defendeu a união, afirmando que todos são cidadãos de um mesmo país. Ele também disse que a eleição presidencial será sobre como resolver os problemas enfrentados pelos Estados Unidos.

"Estou concorrendo para ser presidente de toda a América, não da metade. Não há vitória em ganhar por metade da América."

O republicano também fez um aceno à diversidade, citando até mesmo o partido democrata e imigrantes.

"A cada cidadão, seja jovem ou velho, homem ou mulher, democrata, republicano ou independente, negro ou branco, asiático ou hispânico, estendo a vocês uma mão de lealdade e amizade."

No entanto, logo em seguida, Trump disse que o Partido Democrata usa a Justiça dos Estados Unidos como arma e alegou que sofre um "caça às bruxas" por parte dos opositores.

<><> Imigração

No discurso, Trump prometeu fronteiras seguras, se for eleito. Ele afirmou que reestabelecerá a lei e a ordem, além do patriotismo. Além disso, o ex-presidente ligou a imigração ao aumento da criminalidade nos Estados Unidos, sem citar provas.

"Temos uma crise de imigração ilegal. Uma invasão massiva em nossa fronteira sul que espalhou miséria, crime, pobreza, doença e destruição em comunidades por todo o nosso território."

Esse tipo de discurso do ex-presidente já foi refutado outras vezes. Pesquisadores afirmam que a proporção de crimes violentos cometidos por imigrantes irregulares não é maior do que a taxa registrada entre cidadãos norte-americanos.

Trump prometeu ainda fechar a fronteira com o México e finalizar a construição de um muro entre os dois países. A obra foi iniciada na gestão dele, entre 2017 e 2021.

O ex-presidente disse que as cidades dos Estados Unidos estão "inundadas de imigrantes ilegais", e que os americanos estão sendo "expulsos".

"Eles [imigrantes] estão vindo de prisões e cadeias, de instituições mentais e asilos, e terroristas em níveis nunca antes vistos."

Trump prometeu a maior operação de deportação da história do país.

<><> Economia e inflação

Trump fez críticas à gestão do presidente Joe Biden. Ele afirmou que os preços subiram durante o governo democrata e que trabalhos foram cortados.

Em seguida, o ex-presidente prometeu redução nos impostos e em custos para a produção de energia.

"Sob meu plano, os rendimentos vão disparar, a inflação vai desaparecer, os empregos vão voltar com força total, e a classe média vai prosperar como nunca antes."

Ele também afirmou que acabará com a política de incentivo à produção e uso de carros elétricos. Trump classificou leis ambientais adotadas recentemente como "ridículas".

Trump também afirmou que vai trazer de volta o "sonho americano" e que os Estados Unidos estão a beira de uma nova "era dourada".

<><> Guerra na Ucrânia e no Oriente Médio

Trump disse que o planeta está se encaminhando para a Terceira Guerra Mundial e prometeu acabar com as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio.

O ex-presidente disse que vai trazer paz e estabilidade para o mundo e afirmou que nenhum conflito foi iniciado durante a gestão dele.

Além disso, o republicano criticou gestões anteriores, incluindo a do republicano George W. Bush. Ele afirmou que, nos mandatos passados, a Rússia promoveu invasões em outros países.

Trump também classificou a retirada das tropas dos Estados Unidos do Afeganistão, durante o governo Biden, como "desastrosa".

"Encorajados por aquele desastre, a Rússia invadiu a Ucrânia. Israel sofreu o pior ataque de sua história. Agora a China está cercando Taiwan, e navios de guerra e submarinos nucleares russos estão operando a 60 milhas de nossa costa, em Cuba."

Ao se referir à Coreia do Norte, Trump disse que conseguia lidar com o líder Kim Jong-un enquanto era presidente. Os dois chegaram a se reunir, em 2019.

"É bom conviver com alguém que tem muitas armas nucleares”, disse. "Ele [Kim] também gostaria de me ver de volta. Acho que ele sente minha falta", afirmou.

Já em relação ao conflito no Oriente Médio, ele prometeu que o Hamas pagará um "preço alto" se os reféns mantidos pelos terroristas não forem libertados até que ele assuma a presidência.

<><> Trump promete criar 'Domo de Ferro' nos EUA; conheça como funciona

O ex-presidente Donald Trump prometeu criar um "domo de ferro", como o de Israel, para proteger os Estados Unidos de ataques.

Trump discursou no encerramento da convenção que o oficializou como como candidato a presidente dos EUA pelo Partido Republicano, que terminou na madrugada de sexta-feira (19). As eleições acontecem em 5 de novembro.

O domo de ferro é um escudo que intercepta foguetes inimigos e é usado por Israel há mais de 35 anos.

"(...) Construiremos um sistema de defesa antimísseis Iron Dome para garantir que nenhum inimigo possa atacar a nossa pátria. E este grande Iron Dome será construído inteiramente nos EUA. Israel tem um Iron Dome. Eles têm um sistema de defesa antimísseis", disse Trump.

Ele disse que o ex-presidente Ronald Reagan, que governou o país entre (1981 e 1989, queria um sistema de defesa assim quando presidiu os EUA, mas que na ocasião não havia tecnologia para fazê-lo.

🔍 Desenvolvimento: As pesquisas para a instalação de um sistema de defesa aérea começaram há mais de 35 anos.

  • À época, Israel assinou um contrato com os Estados Unidos para participar de um projeto de defesa estratégica.
  • Segundo o Ministério da Defesa de Israel, em 1986 foi tomada a decisão para o desenvolvimento de um sistema que pudesse atender as necessidades de segurança do país.
  • Ferramentas de defesa foram criadas nos anos seguintes, a partir das pesquisas. No entanto, o desenvolvimento do atual "Domo de Ferro" começou em 2007.

Início das operações: Foi apenas em março de 2011 que o sistema se tornou operacional.

  • Antes disso, o escudo passou por diversos testes, sendo aprovado.
  • Em abril de 2011, o Domo de Ferro derrubou um míssil lançado contra uma cidade do sul do país.
  • Desde então, novos testes foram feitos, com ataques interceptados.

💥 Como funciona: Basicamente, o sistema conta com diversos instrumentos de monitoramento, como radares, que conseguem identificar ataques inimigos.

  • Quando um ataque é identificado, a tecnologia calcula a trajetória do foguete inimigo e verifica se uma área urbana será bombardeada.
  • O sistema, então, lança um míssil interceptor que explode o artefato inimigo ainda no ar.
  • A ferramenta é móvel, podendo funcionar e ser instalada em qualquer lugar do país.
  • As baterias com os mísseis interceptores podem ser instaladas em veículos militares, por exemplo.

🪖 Eficiência: Segundo o Ministério da Defesa, o Domo de Ferro consegue interceptar cerca de 90% dos ataques inimigos. O sistema continua em evolução, com apoio dos Estados Unidos.

¨      'Trump volta a ser Trump': veja a análise do discurso do ex-presidente em convenção republicana

O ex-presidente Donald Trump discursou durante a convenção republicana que o oficializou como candidato à Casa Branca nesta quinta-feira (18). Durante a fala, ele pregou a união, mas atacou adversários e criticou imigrantes.

discurso de Trump durou cerca de uma hora e meia e foi transmitido pelo g1. Veja abaixo a análise da fala do ex-presidente pelos comentaristas da GloboNews.

·        Guga Chacra

O jornalista Guga Chacra afirmou que "Trump voltou a ser Trump" durante o discurso. Ele ressaltou que o ex-presidente improvisou diversas vezes, o que empolgou o público republicano que estava presente na convenção.

"Ele não conseguiu durar nem uma hora e meia com aquela tentativa de ser um Trump diferente, um Trump mais sereno, um Trump mais disciplinado", afirmou.

Para Guga, Trump usou termos pesados para se referir à imigração nos Estados Unidos, o que pode estimular a xenofobia entre os eleitores.

Além disso, segundo o jornalista, Trump aproveitou o atual contexto geopolítico para dizer que o mundo era mais estável quando era presidente.

"Ele usa esse momento de fragilidade na situação mundial para se colocar como um grande estadista, como um líder da geopolítica, e dando a entender que todos o temem."

·        Marcelo Lins

Marcelo Lins afirmou que Donald Trump saiu do script várias vezes. Ele disse que o ex-presidente falou de união em alguns momentos, mas não poupou ataques.

"Ele falou vários números que são difíceis de verificar, quando não são claramente falsos: centenas de milhares de mortos por conta dos imigrantes ilegais, gente que vem de hospícios, de prisões e tudo mais", disse.

Para o jornalista, o discurso funciona em termos de marketing político, mas faltaram propostas claras de governo.

"Me parece que ele consolida a base de eleitores que ele já tinha, o que pode ser suficiente para ele, mas não amplia."

·        Sandra Coutinho

Sandra Coutinho diz que Trump usou histórias fantasiosas contra os imigrantes

Para a correspondente Sandra Coutinho, Trump centrou as críticas mais duras aos imigrantes. A jornalista disse que o ex-presidente usou histórias fantasiosas ao relacionar a imigração com o aumento da criminalidade no país.

"O que as estatísticas mostram é que a criminalidade está caindo nos Estados Unidos, mesmo com o aumento da imigração. Fico pensando que tipo de ressonância esse discurso tem entre os imigrantes latinos", afirmou.

 

Fonte: g1

 

Nenhum comentário: